O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU publica, em parceria, com os alunos de Ciências Econômicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, campus São Leopoldo, artigos relacionados à estrutura do mercado de trabalho gaúcho, em especial na Região Metropolitana de Porto Alegre -RMPA e do Vale do Sinos.
Este artigo discorre sobre as faixas salariais e mercado de trabalho no Rio Grande do Sul. Os alunos, ao longo do texto, mostram ao leitor importantes dados em ao grau de desigualdade do mercado de trabalho no estado e as possíveis forças atuantes na determinação dos níveis de faixa salarial serão analisadas.
Resumo: O objetivo geral do estudo em questão foi esboçar uma linha a respeito da trajetória das faixas salariais bem como do nível de emprego no estado do Rio Grande do Sul e suas Regiões Funcionais de Planejamento (RFPs), e, a partir disso, analisar as forças atuantes na determinação dos níveis salariais do estado. Ademais, a influência do mesmo na delimitação das faixas salariais quanto aos servidores públicos será considerada. Serão explanados dados específicos do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio dos Sinos e, por fim, perspectivas relativas às faixas salariais no Estado, considerando sua conjuntura econômica. Os dados estatísticos foram extraídos da Fundação de Economia e Estatística e o período de análise foi entre 2008 e 2015. Tanto para as faixas salariais, como para o nível de emprego, a concentração dos melhores indicadores ocorre nas RFPs 1, 3 e 9, no eixo norte-nordeste do estado.
1. Introdução
O artigo se propõe a determinar como se distribuem as faixas salariais, avaliando qual é o grau de desigualdade do mercado de trabalho no estado do Rio Grande do Sul. Para tal, far-se-á uso dos dados estatísticos da Fundação de Economia e Estatística do estado. Ademais, para avaliar como se chegou ao nível de renda vigente no estado, as possíveis forças atuantes na determinação dos níveis de faixa salarial serão analisadas.
2. Resultados e discussão
2.1 Trajetória das faixas salariais e do emprego no Rio Grande do Sul
2.1.1 Faixas salariais
A divisão para a contagem das faixas salariais na população do Rio Grande do Sul se dá pelas Regiões Funcionais de Planejamento (RFPs), que são as grandes regiões que o estado utiliza para implantar políticas afins, de tal forma que em cada uma dessas RFPs existem indicadores socioeconômicos e características similares.
Remuneração média (em salários mínimos) das RFPs do Rio Grande do Sul em 2015
Conforme o gráfico acima exposto, infere-se que a remuneração média com mais representatividade a respeito da população detentora de cada faixa de salário mínimo se dá na RFP 1, na qual estão regiões importantes como a Região Metropolitana e o Vale do Rio dos Sinos. Em seguida, ganha destaque a RFP 3, composta por regiões como a Serra e as Hortênsias. Após, a terceira região mais expressiva com relação às faixas salariais é a RFP 9, com regiões como a Produção e a região Norte. De acordo com o Relatório sobre o Mercado de Trabalho do Rio Grande do Sul (FEE, 2015) , o trabalhador gaúcho, entre 2001 e 2013, teve um aumento de renda, em média, 38,6% acima da inflação superando a variação constatada no Brasil, que foi de 34,0%. O percentil 25 de rendimentos (aquele que separa os 25% de trabalhadores que ganham menos) passou de R$ 485,00 para R$ 800,00 no Rio Grande do Sul, apresentando um aumento real de 65,1% (preços de setembro de 2013). (FEE, 2015).
2.1.2 Nível de emprego
Assim como na análise das faixas salariais, o número de vínculos empregatícios se concentra na RFP 1, tanto em 2008 quanto em 2015. Em seguida, a RFP mais importante na análise do emprego é a RFP 3, e, por fim, a RFP 9, no período analisado. A seguir, apresentam-se os dados para os anos de 2008 e 2015.
Número total de vínculos empregatícios (ativos) das RFPs do Rio Grande do Sul – 2008 e 2015
Em 2008, a RFP 1 concentra a maior parcela de vínculos empregatícios de todo o estado, correspondendo por cerca de 50% da população do estado empregada. Para no ano de 2015, a RFP 1 continua concentrando a maior parcela do indicador, com 48,8% do total do estado.
Em 2008, a segunda RFP mais importante quanto aos vínculos empregatícios é a RFP 3, com 14,5% da população do estado empregada. Para o ano de 2015, essa participação é de 13,8%.
Por fim, a RFP 9 é a terceira região mais representativa do estado, correspondendo por cerca de 7,7% da população do estado empregada, em 2008. Para o ano de 2015, essa participação é de 8,2%.
Ademais, infere-se do gráfico que houve diminuição do número de vínculos empregatícios nas duas principais RFPs do estado, a 1 e a 3, que, em 2008, concentravam 64,9% do total da variável e, em 2015, tiveram essa proporção reduzida para 62,6%.
2.2 Forças atuantes na determinação dos níveis salariais no Rio Grande do Sul
No fim de março de 2018, os deputados do Rio Grande do Sul aprovaram o Projeto de Lei do Poder Executivo, reajustando em 1,81% o valor do salário mínimo regional para a menor categoria de trabalhadores (faixa 1), ficando em R$ 1.196,47, enquanto que para a maior categoria (faixa 5) o valor do piso é de R$ 1.516,26. Existem 5 pisos salariais com suas categorias profissionais. Estão abrangidos todos os trabalhadores que não são integrantes de uma categoria profissional organizada e não possuem lei, convenção ou acordo coletivo que lhes assegure piso salarial, de acordo com a Lei publicada em 04/04/2018 .
Com relação a categorias específicas, como a dos professores, o reajuste para esta categoria, em 2018, é de 6,81% acima do piso salarial anterior a 28/12/2017, de tal forma que o valor passa de R$ 2.298,80 para R$ 2.455,35 aos educadores com jornada de 40 horas semanais. No entanto, o governo gaúcho não cumpre a lei federal de pagar o vencimento básico nacional (R$ 2.455,35, em valores de 2018) e de calcular benefícios de progressão de carreira com base nesse valor. De acordo com a Gaúcha ZH, atualmente, o valor básico pago a um professor estadual por uma jornada de 40 horas é de R$ 1.260,20, de acordo com a Secretaria Estadual da Educação (Seduc).
A estratégia da Secretarial Estadual da Fazenda (Sefaz) é pagar um abono chamado de completivo, de forma que o contracheque dos docentes atinja o mínimo imposto pelo governo federal. Hoje, 31.614 professores na ativa e aposentados recebem o complemento do Estado. Com o reajuste no piso anunciado pelo MEC, o Piratini terá de desembolsar em 2018, para cada matrícula, R$ 1.195,15 nesse sistema de abono. (GAÚCHA ZH) .
Quanto às forças dos trabalhadores no sentido de reajustar o salário mínimo, se destacam as centrais sindicais, que, em reunião com o governo de José Ivo Sartori (MDB), defenderam o pleiteio do reajuste de 5,5% para as cinco faixas do salário mínimo regional de 2018, supracitadas de maneira sintética. O índice se baseia no valor percentual de reajuste do salário mínimo nacional para 2018, calculado em 3,42%, e resgata a diferença histórica de 1,28% acima do salário mínimo nacional, quando o piso regional foi criado no governo de Olívio Dutra (PT), em 2001.
Ainda é válido ressaltar que existe a pressão por parte dos delegados da Polícia Civil que desde 2015 visa à paridade no reajuste de subsídios com carreiras jurídicas, de tal forma que os delegados da Polícia Civil pleiteiam pelo recebimento do mesmo reajuste de 9% oferecido a membros do Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado e Defensoria Pública. Além disso, outra categoria importante, a dos bancários, também demanda 5% de aumento nos salários bem como a manutenção de direitos.
2.3 Influência do Estado na delimitação das faixas salariais quanto aos servidores públicos
O vencimento básico é a retribuição pelo exercício do cargo público. O valor do vencimento é fixado em lei, o qual obedece a normas preconizadas da Constituição Federal. O estado encarrega-se de colocar um teto no valor dessa remuneração do servidor público e a partir disso encarrega-se de honrar os compromissos com os servidores, tanto de salários como de direitos como 13º, férias, entre outros.
Atualmente o governo do estado do Rio Grande do Sul, em função das suas elevadas dívidas com a União, adotou um modelo de parcelamento dos salários dos servidores públicos. Este parcelamento iniciou-se em 2015, sendo que até metade de 2017 não havia muito critério na ordem dos servidores que seriam contemplados primeiro e nem critério no valor a ser depositado em cada parcela, variando de 650 até 350 reais cada parcela. A partir de setembro de 2017, o governo do estado decidiu que seriam pagos os servidores que menos recebiam por primeiro, sendo que esses servidores teriam maiores chances de receber o pagamento integral antes dos demais.
2.4 Perspectivas relativas às faixas salariais no Estado dada a conjuntura econômica do mesmo
O estado do Rio Grande do Sul entra em 2018 com uma dívida três vezes maior que os outros estados da região Sul, com suas rendas comprometidas em mais de 60% com a folha salarial dos servidores. As receitas do estado tiveram redução após o início da crise que vem atingindo todo o Brasil e com isso o estado que já tem um caixa apertado não teve condições de manter normal o pagamento dos servidores públicos. Mesmo assim, com o país precariamente estabilizado, o estado precisa criar novas receitas para pagar os aumentos para, no mínimo, manter o salário real. Isso, por sua vez, complica qualquer decisão que o estado venha a tomar.
Com esses problemas graves o estado vem apenas administrando as dívidas e se tornou refém da negociação da dívida com a União, impossibilitado de dar aumentos, ajudar no desenvolvimento e ainda tem que cumprir diversas sansões da União para tentar uma verdadeira solução para a dívida.
Autoria de:
Marcelo Sangiogo
Nícolas Fernando Hernandez Hoffmann
Raniéri Mansur Plain
Referências Selecionadas:
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Endividamento de Estados e Municípios. Disponível em: http://www4.bcb.gov.br/fis/dividas/lestados.asp. Acesso em: 13 de junho de 2018.
FETRAFI-RS. Bancários gaúchos querem 5% de aumento real nos salários e a manutenção dos direitos. Disponível em: http://www.fetrafirs.org.br/noticias.php?id=11793. Acesso em: 02 de junho de 2018.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. FEEDADOS. Disponível em: http://feedados.fee.tche.br/feedados/#!pesquisa=0. Acesso em: 31 de maio de 2018.
FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Relatório sobre o mercado de trabalho do Rio Grande do Sul. Disponível em: https://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2015/04/20150504relatorio-sobre-o-mercado-de-trabalho-do-rio-grande-do-sul-2001-13.pdf. Acesso em: 01 de junho de 2018.
GAÚCHA ZH. Governo Sartori: parcelamento de salários chega a 28 meses. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2018/04/governo-sartori-parcelamento-de-salarios-chega-a-28-meses-cjfsf4kwh08lc01phic5f968f.html. Acesso em: 11 de junho de 2018.
GAÚCHA ZH. Piso salarial dos professores terá reajuste de 6,81% em 2018. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/educacao-e-emprego/noticia/2017/12/piso-salarial-dos-professores-tera-reajuste-de-681-em-2018-cjbqlhkm503wm01p99nevhcpn.html. Acesso em: 01 de junho de 2018.
GUIA TRABALHISTA. Reajuste Salarial. Disponível em: https://trabalhista.blog/tag/reajuste-salarial/. Acesso em: 02 de junho de 2018.
LEIS MUNICIPAIS. Lei nº 5819 de 07 de novembro de 2003. Disponível em: https://leismunicipais.com.br/estatuto-do-servidor-funcionario-publico-rio-grande-rs. Acesso em: 11 de junho de 2018.
WEB INFORMADO. Estados mais endividados do Brasil. Disponível em: http://webinformado.com.br/estados-mais-endividados/. Acesso em: 13 de junho de 2018.
A PEC 33/2012 está na mira do presidente eleito, Jair Bolsonaro. A proposta aponta alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Entre elas, a proposição da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, entende necessária a análise das realidades implicadas a esta medida, em vista de justificar posicionamentos. A partir dessa realidade, sistematizou dados do panorama do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo e da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul, programas que buscam a integração, reintegração e ressocialização de vários jovens e adolescentes em conflito com a lei. Além disso, entrevistamos a representante da Unisinos no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Profa. Dra. Rosangela Barbiani para entender quais os impactos que tal medida pode causar na realidade destes jovens.
O número de adolescentes e jovens no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo em 2016 era de 26.450, segundo os dados do Ministério dos Direitos Humanos. A população atendida pelo sistema no Rio Grande do Sul representava 5% do total nacional, ou seja, 1.348 jovens e adolescentes, ficando na quinta colocação entre as demais unidades federativas. São Paulo, o primeiro colocado, possuía 9.572 jovens e adolescentes em atendimento, representando 36% do total. De todos acolhimentos feitos no país, 47% eram relacionados a roubo, 22% ao tráfico, 10% a homicídio e 3% relativos a crimes de furto. Para o estado gaúcho, dos 1.348 jovens atendidos, 50,2% estavam relacionados aos crimes de roubo, 7% ao tráfico, 17% a homicídios, 10% relativos a tentativas de homicídio e apenas 1% acolhidos por crimes de furto.
A população de jovens e adolescentes da região Sul que participaram do programa em 2016 representava 10% do total nacional, e os jovens acolhidos no estado do Rio Grande do Sul, sozinho, representavam 53% da região Sul, conforme se observa nos infográficos abaixo.
Infográfico: Total de adolescentes e jovens no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo por UF (2016)
Infográfico: Total de adolescentes e jovens no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo na Região Sul (2016)
Infográfico: Número de jovens e adolescentes por atos infracionais no Brasil e RS (2016)
Em entrevista ao Observasinos, Profa. Dra Rosangela Barbiani do Programa de Pós Graduação de Enfermagem e Curso de Serviço Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos- Unisinos se posicionou em relação às possíveis implicações da diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos, mencionando que “as instâncias responsáveis pela construção, deliberação e controle das políticas públicas de proteção à criança e ao adolescente em todos os níveis, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente - Conanda e o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente do Estado do Rio Grande do Sul - Cedica-RS, vêm, há anos, publicamente manifestando sua posição contrária a qualquer iniciativa legislativa que vise a redução da idade penal ou ampliação do tempo de cumprimento da medida socioeducativa de internação, tendo em vista os impactos deletérios que tais mudanças podem acarretar para todo o tecido social.
Entre os principais impactos, destaca-se a exposição do adolescente à convivência com adultos no sistema penitenciário, aumentando sobremaneira sua vulnerabilidade a todo tipo de cooptação e violência dentro e fora do sistema. Ademais, considerando que a raiz da violência está na crescente ocupação dos territórios vulneráveis pelo crime organizado, se reduzida a idade penal, o risco de adolescentes e jovens pobres serem aliciados e recrutados cada vez mais cedo é iminente.
Portanto, diante da fragilidade da proteção familiar, comunitária e da falta de políticas públicas que garantam direitos sociais básicos de adolescentes e jovens, reduzir a idade penal é tornar ainda mais desprotegidos aqueles que deveriam ser prioridade absoluta de cuidado da sociedade e do Estado”.
Para os dados até 04 de setembro deste ano, o Rio Grande do Sul contabilizou 1.307 jovens acolhidos, isto é, 41 a menos que no ano de 2016, sendo 25,7% com idade entre 12-16 anos, 32,7% com 17 anos e 41,7% entre 18-20 anos. Em relação à escolaridade, destacam-se 23% dos jovens e adolescentes com o 7º ano do ensino fundamental, 20% com o 6º ano, 14% com o 8º ano, 13% com o 1º ano do ensino médio e 10% com o 5º ano do ensino fundamental.
Infográfico: Faixa etária da população de jovens atendidos pelas unidades socioeducativas do RS (2018)
Infográfico: Escolaridade dos jovens e adolescentes acolhidos pelas unidades socioeducativas do RS (2018)
No ano de 2016, o estado sul-rio-grandense registrava 23 das 477 unidades de atendimento socioeducativo espalhadas pelo Brasil, representando 4,8% do total nacional. Dessas 23 unidades, 21 eram exclusivamente masculinas e apenas 2 exclusivamente femininas.
Em confronto com os dados expostos, a professora frisa a importância do sistema socioeducativo e acrescenta que “no Brasil, o atendimento dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas é regulado pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - Sinase (Lei 12.594/2012), ainda em fase de consolidação. Tem como eixo central o processo socioeducativo e de inserção social do adolescente, no seu contexto familiar e comunitário, visando o fortalecimento dos vínculos familiares, em geral já rompidos, a inserção comunitária e a ressignificação de valores. O sistema de responsabilização especial aplicado aos adolescentes é diferente em razão de sua condição peculiar de desenvolvimento físico e psíquico e de sua maior vulnerabilidade. Este tratamento diferenciado aos adolescentes segue diretrizes internacionais e nacional (por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA) cuja doutrina da proteção integral os reconhece como sujeitos de direitos inerentes à pessoa humana. Assim sendo, as medidas de responsabilização pelos atos infracionais têm caráter pedagógico e representam o compromisso da sociedade e do estado em oportunizar o desenvolvimento integral do adolescente, a educação para a vida em sociedade e a superação das circunstâncias que o levaram a cometer o ato infracional”.
Infográfico: Número de unidades de atendimento socioeducativo no Brasil (2016)
A Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul - Fase acolhe hoje em suas unidades da capital cerca de 581 jovens em conflito com a lei, apesar de sua capacidade ser de apenas 436 jovens e adolescentes. A unidade de acolhimento POA I recebe destaque pelo maior número de jovens que a sua capacidade – são 79 a mais; logo, as instalações que foram planejadas para atender 62 jovens, hoje possuem 141. A unidade de Novo Hamburgo também atende mais jovens que sua capacidade, 79; isto é, são 169 acolhidos, sendo que os prédios são projetados para 90 jovens e adolescentes.
Em relação às informações sobre o programa socioeducativo da Fase, a professora complementa que “os dados da Pesquisa de Indicadores de Saúde de Adolescentes no RS-PISA, ligada ao PPG Enfermagem Unisinos, indicam que há mais de uma década São Leopoldo é o município com a maior proporção de adolescentes e jovens em regime de privação e restrição de liberdade na Fase. Em 2016, seus índices superaram até mesmo o município de Porto Alegre. Enquanto a capital do Estado alcançou a taxa de 25,76 internados por 100.000 habitantes, em São Leopoldo esse índice foi de 39,70”.
Infográfico: Unidades de atendimento socioeducativo de Porto Alegre (2018)
Infográfico: Número de Internos na unidade de atendimento socioeducativo de Novo Hamburgo (2018)
Por fim, a Profa. Dra. Rosangela enfatiza que “o encarceramento de adolescentes e jovens não solucionará a violência do país, cujas raízes encontram-se na histórica desigualdade social que aniquila com as possibilidades de vida digna e ascensão social da maioria da população brasileira, sobretudo a jovem. Portanto, soluções simplistas como a redução da idade penal representam uma dupla e grave violação dos direitos humanos e apenas reforçam a criminalização da pobreza. Esforços deveriam ser dirigidos à qualificação do sistema socioeducativo, tanto no sentido de prover condições dignas ao trabalho da socioeducação e a seus trabalhadores, quanto na organização logística e funcional das unidades socioeducativas, quanto às condições dignas de atendimento aos socioeducandos, conforme as diretrizes do Sinase”.
O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU publica, em parceria, com os alunos de Ciências Econômicas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, campus São Leopoldo, artigos relacionados à estrutura do mercado de trabalho gaúcho, em especial na Região Metropolitana de Porto Alegre -RMPA e do Vale do Sinos.
Este artigo discorre sobre as disparidades salariais observadas entre homens e mulheres na região metropolitana de Porto Alegre - RMPA e no Vale dos Sinos. Os alunos, ao longo do texto, mostram ao leitor importantes dados em relação ao hiato salarial e participativo entre homens e mulheres nos postos de trabalho das regiões supracitadas.
Os dados mostram que há uma diferença estrutural na taxa de participação masculina se comparada à feminina. Ademais, o rendimento real das mulheres em 2017 correspondeu a 89% do rendimento dos homens e apenas 34,39% do total de trabalhadores que recebiam mais de 7,01 salários mínimos eram mulheres, enquanto essa proporção entre homens era de 65,61%.
Por fim, o artigo nos convida a refletir sobre a rigidez estrutural e o peso de constructos socioculturais enraizados que acabam sobrepujando as punições e diretrizes cunhadas por lei. Assim, o texto termina com algumas alternativas e ações capazes de reverter esse quadro nefasto no mercado de trabalho gaúcho.
1 Introdução.
O presente artigo tem como objetivo apresentar as principais características do mercado de trabalho gaúcho, com foco nas disparidades salariais observadas entre homens e mulheres na região metropolitana de Porto Alegre - RMPA e no Vale dos Sinos. Para tanto, além desta introdução, foi feita uma breve caracterização do mercado de trabalho gaúcho nos anos recentes, com foco nos municípios da região metropolitana de Porto Alegre. Após, foram apresentados dados acerca das disparidades salariais entre homens e mulheres na RMPA e no Vale dos Sinos e propostas alternativas para a redução dessas desigualdades. Por fim, foram apresentadas as considerações finais.
2 O mercado de trabalho gaúcho nos anos recentes.
Com uma população de 11.286.500 habitantes distribuídos em uma área de 281.748,5 km² (FEE, 2016), o Rio Grande do Sul é um dos estados com maior participação econômica no Brasil, ocupando a quarta posição no produto interno bruto entre os 27 entes federados da nação. Tal caracterização é refletida em um dinâmico mercado de trabalho, que sofreu de forma bastante intensa com a crise econômica nacional a partir de 2015.
Segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre - PED-RMPA, que analisa dados do mercado de trabalho para 34 municípios gaúchos, a taxa de desemprego na região, após a mínima recente de 5,6% de desempregados em relação à população economicamente ativa, atingiu 12,8% em dezembro de 2017, o que explicita a lenta e frágil retomada econômica em curso no Brasil, que se reflete fortemente no Rio Grande do Sul. Nesse último período, a população economicamente ativa da região foi de 1,8 milhão – soma de 1,6 milhão de ocupados e 239 mil desempregados. Desse total de empregados, a maioria trabalha no setor de serviços: 53,3% e 24,4% na indústria de transformação e na construção.
Com relação ao rendimento médio real dos assalariados na região metropolitana de Porto Alegre, a PED-RMPA divide-os em quatro grupos: o quarto do total com menores rendimentos, os dois quartos intermediários e o quarto superior, que absorve as remunerações mais altas da região. Com dados de janeiro de 2018, em ordem crescente, os rendimentos reais obtidos pelos quatro blocos de assalariados foram os seguintes: 1) R$ 1.044,00; 2) R$ 1.342,00; 3) R$ 1.753,00; 4) R$ 3.765,00. Além disso, a variação do rendimento obtido em janeiro de 2018 em comparação com o mesmo mês de 2017 demonstra que a base da pirâmide salarial – isto é, composta por aqueles com menores rendimentos – viu sua remuneração aumentar em 9,4%, ao passo que o grupo de maior remuneração observou queda de 1% na mesma base comparativa.
Em linhas gerais, são essas as características básicas observadas recentemente no mercado de trabalho gaúcho, em especial nos municípios que compõem a região metropolitana de Porto Alegre.
3 Disparidades salariais entre homens e mulheres.
O gráfico abaixo mostra a taxa média anual da participação no mercado de trabalho gaúcho, dividida entre homens e mulheres. É possível observar que durante todo o período 2013/2017, a participação masculina foi superior à participação feminina.
Fonte: FEE
A partir do ano de 1998, a linha de baixo faz um movimento que parecia indicar o início de um estreitamento entre as linhas, apontando uma maior participação feminina no mercado de trabalho. No entanto, ela permaneceria constante pelos próximos 9 anos, voltando a crescer em 2008, e logo em seguida retraindo novamente. Podemos inferir que os momentos de crescimento econômico são favoráveis à ampliação da participação da mulher no mercado de trabalho, mas não alteram a sua proporção entre os gêneros de maneira significativa.
O ano com maior participação das mulheres no mercado de trabalho gaúcho foi 2008, correspondente a 51,4%, enquanto a melhor taxa de participação foi no ano de 1997, correspondente a 42,3%. Ao longo dos anos analisados, não se pode dizer que houve um crescimento da taxa de participação feminina, mas observa-se a ocorrência de uma variação positiva de 1,14%, comparando-se a taxa média de 1993 com a de 2017.
A respeito dos salários, dentro do modelo de participação abordado acima, apresentamos o gráfico a seguir, que nos mostra os rendimentos médios reais por sexo, na Região Metropolitana de Porto Alegre no período 2000/2017.
É possível observar que os rendimentos, tanto feminino quanto masculino, acompanham o movimento do desempenho da economia. Nossas pesquisas indicam que o rendimento real das mulheres em 2017 correspondeu a 89% do rendimento dos homens. Analisando por setores de atividade econômica, a maior redução ao longo do período apresentado está no setor de Serviços (-2.7%), seguido por “Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas” (-2.6%).
No que diz respeito ao Vale dos Sinos, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos (ObservaSinos), em maio de 2017 e utilizando dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), desenvolveu importante levantamento acerca das disparidades salariais entre homens e mulheres na região. Segundo a pesquisa, apenas 34,39% do total de trabalhadores que recebiam mais de 7,01 salários mínimos eram mulheres, enquanto essa proporção entre homens era de 65,61%. Na base da pirâmide salarial, isto é, entre aqueles que recebiam até um salário mínimo, a participação feminina no total era maior: 54,87%. A maior discrepância entre os recebimentos salariais se dá na faixa entre dois e quatro salários mínimos: apenas 33,33% dos rendimentos nesse intervalo são obtidos por mulheres.
Assim sendo, a pesquisa demonstra claramente uma relação inversa entre os níveis salariais e a proporção feminina na obtenção desses salários: quanto maiores os rendimentos, maior o protagonismo dos homens no recebimento dos mesmos.
Por fim, vale destacar que, nesse estudo, os municípios analisados foram: Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Portão, Novo Hamburgo, Campo Bom, Estância Velha, Araricá, Nova Hartz, Sapiranga, Dois Irmãos e Ivoti, sendo o período de análise os anos entre 2012 e 2015.
4 Alternativas para redução das desigualdades salariais entre homens e mulheres.
Para apresentar alternativas para redução das desigualdades salariais, é necessário entender as causas dessa disparidade. Primeiramente, destaca-se que a igualdade salarial é um direito garantido, através da CLT:
[...]Art. 461. Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) [...]
Apesar disso, esta lei não é fiscalizada, o que resulta na discriminação da mulher no mercado de trabalho, seja por conta do gênero, questões históricas ou até mesmo uma penalidade pelo ônus da maternidade, que exige que a mulher interrompa sua carreira mais frequentemente que o homem. Independente da razão, o fato é que a mulher vem desempenhando seu papel de forma secundária na economia, conforme destaca o quadro a seguir.
Fonte: G1 Notícias. Acesso em 13 jun. 2018
Essa diferença fica mais clara conforme vai aumentando o grau de escolaridade, uma vez que mesmo em situações onde as mulheres têm mais experiência e nível de especialização que os homens, elas permanecem com um salário menor que o sexo oposto.
Seria utópico apresentar soluções de nível macroeconômico, pois a discriminação de gênero é profundamente enraizada na sociedade capitalista moderna em que vivemos, e é necessária uma reestruturação completa das nossas instituições para enfrentá-la. Portanto, devemos iniciar no nível microeconômico para atingir o nível macroeconômico, ou seja, através de iniciativas aplicadas nas empresas, como políticas de incentivo fiscal para aquelas que cumprem a lei e/ou penalizações mais efetivas para aquelas que descumprem. Ademais, as políticas internas devem incentivar a mulher a conciliar a maternidade com o trabalho, e não criar um ambiente conflituoso entre ambos.
Considerações finais.
Conclui-se, portanto, que o Rio Grande do Sul acompanha o cenário nacional e apresenta diferença considerável nos salários dos homens e das mulheres. De acordo com o Boletim Informe Mulher e Trabalho, publicado pela FEE em 2015, sabe-se que a mulher possui maior escolaridade e ocupa mais postos que exigem maior especialização no mercado de trabalho do Rio Grande do Sul. Isso aponta para uma real discriminação de gênero, visto que mesmo quando a mulher é mais qualificada, ela permanece com a menor remuneração.
Para que haja alteração desse quadro, que na teoria deveria ser punido por lei, é necessária uma profunda mudança sociocultural no país e no estado. A equiparação salarial entre os gêneros deve ser pauta constante, e soluções devem ser aplicadas na prática, como a remuneração por nível de escolaridade ou a fiscalização periódica de folhas de pagamento.
Autoria de:
Daniel Consul de Antoni
Priscila Ferreira
Stéfani Torres
Tatiane Enzweiler
Referências selecionadas:
FEE – PED, Série Histórica Mensal.
Disponível em: https://www.fee.rs.gov.br/publicacoes/ped-rmpa/serie-historica-mensal/. Acesso em: 01 jun. 2018.
Mulheres e trabalho: evidências da desigualdade no Vale dos Sinos.
Disponível em: http://www.ihu.unisinos.br/observasinos/vale/trabalho/mulheres-e-trabalho-evidencias-da-desigualdade-no-vale-do-sinos. Acesso em: 01 jun. 2018.
Preocupados com as transformações do mundo do trabalho e a incidência da Revolução 4.0 no futuro da educação da região do Vale do Sinos, o ObservaSinos e representantes da Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha reuniram-se, na última quarta-feira (14/11), para organizar uma integração de trabalho entre as duas instituições.
A demanda, proposta pelos representantes da Escola Técnica Liberato, vem da necessidade de repensar, propor reformulações e novos cursos para a instituição, dada a nova conjuntura nos modelos de trabalho e também as necessidades apresentadas pelas mudanças nos postos de trabalho.
Além disso, se debateu a importância da utilização de dados para a implementação de políticas públicas de educação e trabalho nos municípios do Vale do Sinos e o contato com diversas frentes que tenham interesse em participar. Para isso, utilizou-se o Especial do Trabalho Vale do Sinos 2003-2017, série histórica que reúne dados sobre o mundo do trabalho em diversos tópicos. Também ficou encaminhada a realização de um seminário nos próximos meses para dialogar possíveis ações futuras de parceria entre o ObservaSinos e a Fundação Escola Técnica Liberato.
O terceiro trimestre de 2018 apresentou resultado negativo entre admissões e desligamentos no Vale do Sinos. O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rios dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, acessou a base de dados disponibilizada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED, em busca das movimentações do mercado de trabalho da região no terceiro trimestre deste ano.
Foram contratados 33.325 trabalhadores na região, ao passo que 34.129 foram desligados de seus respectivos postos de trabalho, contabilizando um saldo negativo de 804.
Canoas se destaca pelo maior saldo negativo, sendo 7.792 contratados e 8.467 demissões, resultando em 675 postos de trabalho a menos para o trimestre analisado. Novo Hamburgo registrou um saldo negativo de 368 (7.071 admissões e 7.439 desligamentos), seguido de Esteio com -344 (1.482 contratados e 1.826 demitidos) e Nova Hartz com -266 (362 admissões e 628 demissões).
Infográfico: Número de admissões e demissões no Vale dos Sinos
São Leopoldo, por outro lado, contratou mais do que demitiu. Foram registradas 6.269 admissões e 5.403 desligamentos, resultando um saldo positivo de 866 trabalhadores, o maior da região. Sapucaia do Sul, em seguida, registrou 104 contratações a mais (1.697 admissões e 1.593 demissões). Os municípios que também apresentaram resultados positivos foram Araricá (20), Campo Bom (32), Ivoti (22), Nova Santa Rita (7) e Sapiranga (49).
Infográfico: Saldo de trabalhadores no Vale dos Sinos no terceiro trimestre de 2018
Além do estado gaúcho, o Brasil e o Vale do Sinos também apresentam dados que revelam o envelhecimento da sociedade. O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rios dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, acessou bases de dados públicas para analisar as movimentações demográficas entre 2001 e 2016.
O Vale do Sinos recebe destaque por duas tendências demográficas: a observável diminuição da população de crianças e adolescentes e o movimento ascendente da população idosa nos primeiros anos deste milênio. Em 2001, as pessoas com idade entre 0 e 14 anos representavam 27% do total populacional da região (330.072 crianças e adolescentes para 1.219.132 habitantes). Em 2016, por mais que esse corte etário ainda tenha sido o maior entre os demais, houve uma queda para 20% (281.224 crianças e adolescentes para 1.377.755 habitantes). Por outro lado, a população com 65 anos ou mais passou de 5,3% em 2001 (64.662 idosos) para 8,5% (116.820 idosos) do total da população do Vale do Sinos em 2016, segundo a Fundação de Economia e Estatística - FEE.
Da mesma forma, enquanto a população do Rio Grande do Sul na faixa etária de 10 a 14 anos apresentou uma queda percentual de 19,3% se comparados os anos de 2001 e 2016 (2.654.965 em 2001 para 2.141.096 em 2016), a faixa etária de 65 anos ou mais apresentou um aumento de 61,4% para os mesmos anos analisados (767.026 em 2001 para 1.238.221 em 2016), de acordo com os dados da FEE. Ademais, em 2060, o número de habitantes sul-rio-grandenses com mais de 65 anos será 2,3 vezes maior que aquele projetado para este ano. São 1.384.631 idosos em 2018 para 3.173.585 em 2060, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Por fim, o Brasil segue a mesma tendência nos dados concernentes à projeção da população, registrando uma queda percentual de 24,5% para a faixa etária de 0 a 14 anos se comparados os anos de 2018 e 2060 (44.507.410 crianças e adolescentes em 2018 para 33.597.781 em 2060), e um aumento de 202% (19.227.832 em 2018 para 58.181.930 em 2060) na população idosa com 65 anos ou mais para os anos supracitados.
Seguem abaixo os infográficos com mais detalhes referentes às movimentações demográficas destas regiões nos últimos anos, bem como as projeções populacionais:
Infográfico: Composição da população do Vale dos Sinos por faixa etária
Infográfico: População dos municípios do Vale do Sinos por faixa etária para o ano de 2001
Infográfico: População dos municípios do Vale do Sinos por faixa etária para o ano de 2016
Infográfico: População do Vale dos Sinos por sexo 2001
Infográfico: População do Vale dos Sinos por sexo 2016
Infográfico: População com até 19 anos no Vale do Sinos para o ano de 2001
Infográfico: População com até 19 anos no Vale do Sinos para o ano de 2016
Infográfico: Projeção populacional do Rio Grande do Sul por faixa etária 2010-2060 segundo o IBGE
Infográfico: População do Rio Grande do Sul por faixa etária (2001-2016)
Infográfico: Composição da população do Rio Grande do Sul por faixa etária para os anos de 2001 e 2016
Infográfico: População do Rio Grande do Sul por sexo (2001-2016)
Infográfico: Projeção Populacional do Brasil por faixa etária (2010-2060)
Uma movimentação observável no mercado de trabalho é a queda da contratação de jovens para o primeiro emprego a partir do início desta década. Para elucidar, em 2010 haviam sido empregados 6.787 jovens entre 18 e 24 anos, passando para 3.637 em 2017, isto é, uma variação negativa de 46,41%.
Desde a sua criação, o Observatório das realidades e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos tem como foco a investigação e ação do mundo do trabalho e dos trabalhadores. No mês de maio de 2018, quando completou dez anos de existência, o ObservaSinos preparou uma série de ações para memorar o seu trabalho de sistematização, análise e publicização de dados sobre as realidades do Vale do Sinos.
Uma destas ações é o Especial do Trabalho Vale do Sinos. A série histórica do ObservaSinos abordará seis grandes temas sobre o trabalho entre os anos de 2003 e 2016, período de grande movimentação e transição econômica, política e social no Brasil. Os dados analisados são dos 14 municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento - Corede do Vale do Rio dos Sinos, região de atuação do Observatório.
Os temas abordados no Especial do Trabalho são:
O recorte temporal deste Especial do Trabalho é diferente dos demais, pois o Ministério do Trabalho e Emprego começou a divulgar dados sobre cor, raça e etnia através da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS somente no ano de 2006. Os dados ainda são bastante limitados; não é possível, por exemplo, ter uma análise completa por municípios de determinadas informações. Além disso, os dados não permitem fazer cruzamentos entre escolaridade e salários conjuntamente.
Clique aqui para conferir a última análise do Especial do Trabalho Vale do Sinos com a tematização sobre o primeiro emprego no Vale do Sinos.
A Ecofeira Unisinos, que ocorre todas as quartas-feiras em frente ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em São Leopoldo, acolheu mais uma realização do Círculo Cultural em suas atividades realizadas no intervalo do almoço. O Círculo é coordenado pelo prof. Dr. Telmo Adam, da Escola de Humanidades da Unisinos.
O objetivo do evento é exercitar e contemplar as várias dimensões artísticas, estéticas e poéticas no contexto acadêmico, buscando o envolvimento dos estudantes, professores e demais trabalhadores da Universidade.
O evento conta com um espaço para mostrar as diferentes formas culturais, como poesia, música, contação de histórias, excerto de literatura, dança, teatro e muito mais. Um evento aberto para todos que possam expor a sua arte para o público, onde quem está passando pelo local acaba vendo de longe, ouvindo a melodia e aos poucos vai se chegando.
A música inicial foi “América Latina”, do compositor Dante Ramon Ledesma, que tem um grande significado no momento atual do Brasil, trazendo uma reflexão sobre os acontecimentos passados e presentes relacionados às ameaças à democracia.
Aos poucos as pessoas, mesmo com timidez, iam fazendo parte do Círculo. Evlyn Zilch e Marilene Maia cantaram a música “Aquarela”, do cantor Toquinho. Regina Silva, uma das feirantes da Ecofeira, entoou a canção da Família.
As apresentações artísticas abrilhantaram a atividade do Círculo (Fotos: IHU)
A segunda parte teve uma composição chamada “Para não dizer que não falei de flores”, do músico Geraldo Vandré, e junto teve um canto de esperança, “Faz escuro, mas eu canto”, do Thiago de Mello. Duas expressões que fizeram resistência em meio à Ditadura Militar no Brasil em 1964. Os ventos para Thiago não foram nada favoráveis. Na ocasião em que esteve preso, deparou-se com um de seus versos escritos na cela: “Faz escuro, mas eu canto/ Porque a manhã vai chegar”. Era o sinal de que sua luta incessante pelo respeito à vida humana encontrava eco e precisava ser levada adiante.
Telmo conclamou a todos para apostarmos na democracia e no país. Guilherme Tenher Rodrigues, que teve sua primeira participação no Círculo, recitou poema criado em tempo de desesperança.
O próximo Círculo Cultural será no dia 28 de novembro, às 13h, junto à Ecofeira. Participe e mostre suas artes!
Acompanhe aqui a programação com as atividades da EcoFeira para o mês de novembro.
A imaturidade da cultura democrática no Brasil aponta para um caminho que ameaça a liberdade do país, que é marcado pelo aumento da desigualdade e o enxugamento de políticas públicas pautadas pelo bem-estar social da população. Este foi um dos debates presentes na oitava edição do Seminário Observatórios, que foi realizado nos dias 22 e 23 de outubro na Unisinos em Porto Alegre.
Em 2018, o tema do evento foi democracia, desigualdades e políticas públicas e deu continuidade ao trabalho da Rede na promoção do estudo e debate sobre o papel dos Observatórios Sociais, suas metodologias e impactos. O evento iniciou com a apresentação dos trabalhos recebidos através de edital do próprio Seminário. Ao todo foram 30 trabalhos apresentados, que tinham como objetivo aprofundar o tema do evento através dos eixos: Observatórios, Democracia, Desigualdades, Políticas públicas e Dados e informação.
Na sequência foi feito o reconhecimento das experiências dos Observatórios no cenário atual e apresentado um breve quadro com o perfil da Rede de Observatórios, que hoje é composta por 22 observatórios com atuação em diferentes temas, políticas e territórios. Conforme o coordenador do Observatório de Segurança de São Leopoldo, Cléber da Silva, fazer este apanhado ajuda na avaliação e divulgação do trabalho da Rede. “Muita gente não sabe o que é um observatório. Temos que debater e expor mais este conceito para a população”, afirma.
Em meio à exposição e os debates da atual conjuntura dos observatórios, foram apontados seus desafios para a continuidade do trabalho, que é impactado especialmente pela redução no investimento à pesquisa e às políticas públicas. Um dos alertas é feito por Ricardo César, que coordena o Observatório de Políticas Públicas da Região do Comperj/IFRJ e participa pela terceira vez do seminário, buscando alternativas de resistência ao enxugamento das instituições. “Temos tentado atuar na forma em que exista uma coesão de resistência. Vamos entrar em um momento político que, independente do resultado das eleições, é muito difícil pela onda conservadora e transformada em neofascismo. Desse ponto de vista, enquanto instituto federal, corremos o risco de deixar de existir concretamente, mas, independentemente disso, o que vemos como única alternativa possível é montar uma postura de resistência”, revela.
Outra atividade destacada pela Rede foi o lançamento do Glossário dos Observatórios, que tem como propósito reunir os conhecimentos e as referências para o trabalho dos observatórios. Um dos integrantes da Rede, Guilherme Horstmann, destaca que o Glossário é um instrumento para o trabalho não só dos observatórios, mas também para pesquisadores e para a sociedade. Pretende-se que o Glossário seja uma ferramenta para subsidiar o trabalho em torno da construção do conhecimento, da análise e do debate sobre as realidades e as políticas públicas.
Para debater o tema principal do VIII Seminário Observatórios, foram convidados professores e pesquisadores que trabalham com indicadores e estão comprometidos com a afirmação do desenvolvimento pautado pelo bem-estar social e a construção de políticas públicas que possam combater as desigualdades.
Um deles foi o prof. Dr. Paulo de Martino Jannuzzi, que é professor do Programa de Pós-Graduação em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE. Jannuzzi, que participou dos dois dias de seminário, apontou diversas perspectivas de avanços no bem-estar social nos últimos 30 anos. Em meio a esta análise histórica, ele apresenta o questionamento “O que não podemos deixar de fazer neste tempo?” E se pauta por três perspectivas: não podemos esquecer a relação da tríade (desigualdades, democracia e políticas públicas) na constituição histórica do Estado de Bem-Estar nos países desenvolvidos; não podemos esquecer a experiência brasileira na articulação virtuosa da tríade; não podemos deixar de aprimorar as políticas e defender os valores republicanos que nos trouxeram até aqui.
O prof. Dr. Paulo de Martino Jannuzzi falou sobre os desafios enfrentados no serviço com dados e informação (Foto: Lucas Schardong/ IHU)
O sociólogo defende que o Brasil constituiu, em pouco tempo, um sistema de políticas complexas, firmando um pacto progressista que teve impactos significativos sobre a sociedade brasileira, especialmente sobre os segmentos sociais mais pobres. Ele também afirma que “o Brasil percorreu apenas um terço do caminho, de forma acelerada, com ganhos significativos” e que “o ritmo em que se deu tal processo, no contexto heterogêneo de realidade socioeconômica, de capacidade de gestão e contextos político-institucionais no vasto território nacional, acabou potencializando problemas típicos de implementação de Políticas e Programas Públicos”, destaca.
Neste sentido o professor destaca que as dificuldades das implementações de políticas públicas precisam ser diagnosticadas, sistematizadas e reconhecidas. Para Jannuzzi, a partir disso é possível “viabilizar o aprimoramento dessas Políticas e Programas, seja por uma conjuntura, ou perspectiva permanente, de escassez de recursos públicos, pelas disfuncionalidades geradas ou ainda pela perda de legitimidade/adesão da sociedade ao projeto de Estado e Sociedade idealizados na Constituição de 1988”.
As conferências completas do prof. Paulo de Martino Jannuzzi podem ser acessadas em Desigualdades, democracia e políticas públicas no cenário brasileiro contemporâneo e Painel - Dados e informação: desafios para o Brasil contemporâneo.
O debate promovido no Seminário foi ampliado com as presenças de outros dois Observatórios, um com atuação na esfera nacional e outro com presença latino-americana.
O Observatório Fiscal Federal da Argentina foi representado pela coordenadora institucional Carina Petri, que apresentou o seu trabalho e trouxe perspectivas de funcionamento de um observatório de fora do Brasil. Petri revela que o nascimento do Observatório se deu em 2016, com o objetivo de “contribuir para a reversão da situação financeira e fiscal da Argentina, condição essencial para o desenvolvimento econômico sustentável e a competitividade na economia”, destaca.
Carina Petri, coordenadora do Observatório Fiscal Federal da Argentina (Foto: Lucas Schardong/ IHU)
Assim, ela acredita que o trabalho do Observatório possa contribuir para o desenvolvimento econômico e que isso deva garantir benefícios para todas as famílias e grupos sociais de todas as províncias e regiões do país. Com isso ela reafirma a missão do Observatório, que é de “gerar um instrumento institucional privado para o bem público que, através da análise abrangente dos indicadores de política financeira e fiscal nos três níveis de governo, contribua para o debate sobre as reformas necessárias na matéria e a participação da sociedade”.
O Observatório da Formação em Gestão Social/UFBA foi apresentado pela profa. Dra. Rosana de Freitas Boullosa. Ela detalhou o funcionamento do observatório, que reúne uma Rede de Pesquisadores em Gestão Social formada por diversas universidades do Brasil. O Observatório atua em três perspectivas: a pesquisa de base a partir de projetos coletivos, a sistematização do conhecimento sobre Gestão Social e a produção/difusão de produtos específicos.
profa. Dra. Rosana de Freitas Boullosa do Observatório da Formação em Gestão Social/UFBA (Foto: Lucas Schardong/ IHU)
Boullosa também destaca os eixos trabalhados pelo Observatório enquanto tecnologia social. “Desenhado como uma tecnologia social, buscou e vem buscando oferecer um espaço dialógico e sincrônico (online) para discussão, sistematização, consolidação e expansão do campo da Gestão Social, a partir de três eixos de observação e análise: (1) Inovação, (2) Ensino- aprendizagem e (3) Avaliação”.
A professora ainda faz um alerta para a atual conjuntura, que pode afetar diversas instituições de ensino e acabar fechando o observatório. “Temos que ter uma estratégia de enfrentamento das novas políticas que virão. A conjuntura futura preocupa no sentido das políticas públicas e que reverbera em grande quantidade na educação. Não dá para parar de observar e ser um observatório”, alerta.
O painel com Carina Petri e a profa. Rosana de Freitas Boullosa pode ser acessado aqui.
Como é de praxe, ao final de cada Seminário de Observatórios, busca-se construir coletivamente uma Agenda comum de trabalho para o futuro dos Observatórios e da sua Rede, que inclui a projeção do Seminário para o ano seguinte.
A Rede de Observatórios reafirmou o seu pacto com a democracia e com a informação transparente dos processos sociais e da vida societária pautada pela garantia dos direitos. Assume também o compromisso com avaliação das políticas públicas, em vista da sua implementação para a construção do desenvolvimento do Estado e da Sociedade fundados na igualdade, na justiça e no bem comum. Para tanto, é fundamental envolver e valorizar a participação e o controle social da população e, em especial, daquela historicamente excluída e invisibilizada nos processos de distribuição das riquezas.
O fortalecimento da Rede foi assumido pelo compromisso coletivo no acesso, análise e publicização de dados e indicadores, contextualizando os cenários conjunturais e estruturais dos diferentes territórios, estado e país. A conclusão do Glossário como ferramenta para o trabalho e a realização do IX Seminário Observatórios estão agendados para 2019. A Rede também se comprometeu com a ampliação dos debates com outros observatórios, já que foram mais uma vez identificados como tecnologias sociais potencializadoras da democracia, especialmente neste tempo de tantas ameaças.
Conheça um pouco do VIII Seminário Observatórios na voz dos participantes aqui.
Ao longo de 2018 o ObservaSinos trabalhou na criação e publicação do Especial do Trabalho Vale do Sinos. A série histórica do ObservaSinos aborda grandes temas sobre o mundo trabalho entre os anos de 2003 e 2016, período de grande movimentação e transição econômica, política e social no Brasil. Os dados analisados são dos 14 municípios do Conselho Regional de Desenvolvimento - Corede do Vale do Rio dos Sinos, região de atuação do Observatório.
Em uma parceria com a Beta Redação, do curso de Jornalismo da Unisinos, o Especial do Trabalho expandiu sua região de análise para Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Os dados coletados e as matérias produzidas foram uma realização dos alunos da editoria de Economia, que utilizaram os tópicos do Especial do ObservaSinos como fio condutor.
A Beta Redação é um projeto de integração de diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em seis editorias. O objetivo da Beta Redação é proporcionar aos jornalistas em fase final de formação uma vivência intensa da realidade profissional, fomentando a experimentação e o exercício crítico do Jornalismo, em contato direto com o público.
Porto Alegre registrou 13,7 acidentes de trabalho a cada 1 mil trabalhadores em 2016
A reportagem é de Aline Santos, Amanda Büneker, Eduarda Moraes, Verônica Torres Luize, Victória Freire, publicada plea Beta Redação, 19-09-2018
O Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho-RS divulgaram, no início deste ano, uma pesquisa inédita sobre a saúde do trabalhador gaúcho em 2016. O estudo abrangeu as categorias de trabalhadores autônomos e também informais. Um dos dados de maior relevância é o número de mortes em decorrência de acidente de trabalho, 506, o qual é contrariado pelas estatísticas oficiais do INSS de 2016, que apontaram apenas 139 mortes, cerca de um terço do resultado obtido pelo estudo. A contradição dos números deixa claro que a subnotificação de acidentes de trabalho é um grande problema para o monitoramento e produção de dados na área.
Existe uma grande dificuldade dos órgãos públicos fiscalizadores em produzir dados realistas sobre a saúde e segurança do trabalhador, pois além da população que se encontra em situação de trabalho informal, ainda tem a não Comunicação do Acidente de Trabalho (CAT) pelo empregador.
Na capital gaúcha, Porto Alegre, os dados oficiais do Ministério da Previdência Social apontam o registro de 11.266 acidentes de trabalho em 2016. O número está em queda desde 2014, quando teve seu último pico, com 11.751 registros.
Infográfico: Registro de acidentes de trabalho por ano em Porto Alegre
Os índices de registros de acidentes de trabalho foram apresentando crescimento constante até 2007, com 12.185 registros em Porto Alegre. O ano de 2010 foi de maior registro, com 12.213 casos.
Infográfico: Número de trabalhador por ano em Porto Alegre
Nos anos seguintes houve uma queda, reduzindo para 10.693 registros no ano de 2012, e depois os números voltaram a subir. Se compararmos os números de acidentes com o número de trabalhadores, a partir de 2014, nota-se que a queda do índice de acidentes de trabalho acompanha uma baixa no número de trabalhadores. Ou seja, o percentual de acidentes não diminuiu. O gráfico mostra um grande elevação do número de trabalhadores, em Porto Alegre, de 2009 a 2014. Em 2016 o índice regressa para o mesmo número de 2010. O ano que apresentou menor índice de trabalhadores foi 2007, com 665 mil pessoas ocupadas.
Infográfico: Número de registros de acidentes de trabalho a cada mil trabalhadores de Porto Alegre
Os dados do número de registros de acidentes de trabalho a cada mil trabalhadores apontam que a proporção de acidentes foi maior em 2007 com 18,77 acidentes por mil trabalhadores. E a menor proporção foi registrada em 2012, com 12,20 por mil trabalhadores.
No entanto, não há como medir a real dimensão dos acidentes de trabalho, pois no Brasil o cenário de subnotificação dessas situações, por parte das empresas, é um tema recorrente de pesquisas e demonstra um problema no sistema de saúde e segurança do trabalhador. Conforme apontado pelo Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Porto Alegre, reduzir essa prática é o principal desafio deste setor atualmente.
Diversos estudos estimam altas porcentagens de negligência nas notificações, muitos embasados no cruzamento de dados divulgados pelas entidades públicas. Segundo uma pesquisa publicada no livro Saúde e segurança do trabalho no Brasil, cerca de 4,9 milhões de trabalhadores acima de 18 anos sofreram acidentes de trabalho no Brasil em 2013. O número é 7 vezes maior que o registrado pelo INSS. A divergência dos dados demonstra que muitos dos acidentes em decorrência do trabalho são ocultados pelas empresas, mesmo com a obrigatoriedade do registro por parte do empregador no sistema de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), controlado pelo INSS.
Os pesquisadores apontam como principais motivadores da subnotificação o padrão de gestão predatória, que visa o lucro acima de tudo, inclusive, do trabalhador; a hierarquia de acidentes e lesões, onde as de menor visibilidade, como as doenças ocupacionais, tendem a ser ocultadas; e a migração do setor da indústria para o de serviços, que em geral apresenta os acidentes considerados como ocultáveis.
Infográfico: 10 lesões mais frequentes em acidentes de trabalho no município de Porto Alegre
Em Porto Alegre, os registros de contusão e esmagamento são os que mais aparecem. Com 12.374 ocorrências no período de 2012 a 2017, esse é um dado geral sem determinação de setor trabalhista. Em contrapartida, os dados de luxação têm poucos casos no mesmo período, com 10.47 registros.
Infográfico: 10 atividades com maior incidência de acidentes de trabalho em Porto Alegre
Entre as atividades com mais registros de acidentes de trabalho, os dados disponíveis mostram que a área hospitalar é a que possui maior incidência em Porto Alegre, mais de 20 mil acidentes registrados em 5 anos. No entanto, de acordo o Centro de Referência Regional em Saúde do Trabalhador, que registra os atendimentos de acidentes de trabalho, o setor com mais ocorrências de acidentes é a construção civil.
Conforme Rober Martins, coordenador de engenharia da segurança e membro do Sindicato dos Hospitais e Clínicas de Porto Alegre, a área da saúde está mais propensa ao registro de acidentes do que a construção civil. Sua constatação parte do princípio de que há muita gente envolvida no ramo. Ele explica que, a cada cinco pacientes, exige-se a presença de um profissional. Apenas na Santa Casa, são 7.500 trabalhadores contratados.
“Para entender essa questão dos acidentes de trabalho, precisamos antes falar do pano de fundo do atendimento hospitalar, que é a prestação de serviços para pessoas”, afirma. A quantidade de riscos ocupacionais aos quais esses colaboradores ficam expostos é alta. Dentre as lesões comuns estão as ósseo-musculares. Sobrecarga e repetição de esforços físicos, como aqueles exigidos ao movimentar os pacientes, acabam rendendo cervicalgias e hérnias para quem os executa.
De acordo com o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT) Rogério Uzun Fleischmann, um dos fatores que podem ser responsáveis pelo alto índice de notificações de acidente de trabalho nas atividades hospitalares é o Protocolo de Exposição a Materiais Biológicos do Ministério da Saúde, que torna mais rigoroso o registro de acidente, principalmente quando há lesão perfurocortante.
“O número de notificações é alto, mas a gente não pode concluir que a área hospitalar é a que mais acidenta. O que acontece é que eles notificam mais. Inclusive, nos próprios hospitais a taxa de notificação para outros acidentes e adoecimentos é menor. Se pegarmos, por exemplo, a área de adoecimento por problemas de lombalgia ou pelos esforços que eles fazem para levantar pacientes, a notificação é muito menor do que com esses acidentes de lesões perfurocortante”, explica o procurador.
Ao sofrer um acidente de trabalho, o profissional deve comunicar para a sua liderança imediata. Realiza-se o registro e o acidentado parte para atendimento. Quando o ocorrido envolve material biológico, busca-se, primeiramente, identificar a sua procedência. O paciente no qual o instrumento foi utilizado passa, então, por um teste, no intuito de identificar doenças como hepatite e HIV. Em casos positivos, o profissional exposto ao risco toma um coquetel profilático fornecido pelo Ministério da Saúde. Nas vezes em que a origem do material não é descoberta, o profissional recebe os medicamentos da mesma forma por precaução. Tudo isso deve ocorrer em uma janela de, no máximo, quatro horas.
E não só os médicos, enfermeiros e fisioterapeutas estão vulneráveis dentro do ambiente hospitalar. Acontecem, por exemplo, situações em que o descarte indevido de materiais acaba lesionando auxiliares de serviços gerais.
Outro problema típico das atividades hospitalares é a sobrecarga emocional. Conviver diariamente com a enfermidade e o sofrimento alheio incorre no adoecimento psíquico. O estresse e a depressão surgem enquanto distúrbios mentais frequentes.
É preciso, de acordo com Rober Martins, conhecer a epidemiologia da área na qual cada empregado atuará para mitigar os riscos inerentes. Todo o funcionário deve passar por um treinamento funcional após sua admissão, a fim de ser informado sobre as melhores práticas da atividade que desempenhará.
O risco biológico implicado aos trabalhadores da saúde, em função do contato com pacientes e materiais não esterilizados, dá direito ao adicional de insalubridade. O percentual da compensação salarial é determinado pela Normativa Reguladora nº15 do MPT, podendo variar entre 10% e 40% do salário mínimo, conforme o grau de hostilidade do ambiente organizacional. Já aqueles profissionais que atuam sob perigo iminente de morte, a exemplo da medicina nuclear, recebem um adicional de periculosidade calculado em 30%.
(Foto: Verônica Torres Luize/Beta Redação)
Juliana Volpato, técnica em segurança do trabalho da empresa Volpato — uma empresa brasileira especializada em segurança no trabalho, que está há mais de duas décadas no mercado — , conta que há grande subnotificação dos acidentes de trabalho na área da construção civil. Normalmente, as empresas não notificam boa parte dos acidentes que ocorrem diariamente, sejam eles graves ou não. A lei nº 8.213/91 determina, no artigo 22, que todos os acidentes devem ser comunicados. Se houve acidente de trabalho, ou seja, acidente que trouxe lesão corporal ou perturbação funcional, deve ser emitida a CAT.
A técnica ainda ressalta que muitos pequenos acidentes dificultam o trabalho dos empregados e não são relatados por conta do nível de ferimento, como casos de unha arrancada, esmagamento, tombos, tropeços e escorregões. São acidentes leves, que não resultam em morte, mas reduzem a capacidade de realizar plena do trabalho.
Com 20 anos de experiência, atendendo mais de 800 empresas, Juliana estima que ocorre ao menos um acidente a cada obra por dia, mas a maioria não é notificado. Segundo a profissional, na maioria dos acidentes o funcionário é apenas examinado e liberado, ou em caso de ferimento pequeno, como arranhões, cortes ou machucados menores em geral, são colocados curativos e escondidos pelos equipamentos de proteção individual. “Quando um funcionário corta a mão superficialmente, é colocado um curativo e a luva de proteção para que ele volte a trabalhar”, explica Juliana.
“As empresas têm por hábito não notificar os acidentes menores e que não terminam em morte por conta dos riscos e investimentos em obras. Um acidente grave pode embargar uma obra e pará-la por anos”, comenta.
Por isso que, segundo Juliana, a esperança para a área de segurança do trabalho está sendo a obrigatoriedade do preenchimento do Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obrigações Fiscais Previdenciárias e Trabalhistas (e-social) pelas empresas. O Sistema foi instituído pelo decreto nº 8.373/2014 do governo federal e será obrigatório para todas as empresas e serviços públicos a partir de 2019.
O banco de dados deve ter todas as informações da empresa e do funcionário, com laudos, exames e relatórios de ferimentos. A maioria das notificações é apenas de acidentes que resultam em afastamento ou morte. No sistema devem ser referidos afastamentos, atestados, exames de visão e audição, além de relatar os treinamentos e os riscos a que cada funcionário está exposto, ruídos, químicos, baixas ou altas temperaturas.
Ministério Público do Trabalho atua em caso de denúncias por fata de notificação do acidente de trabalho. (Foto: Divulgação/FEESSERS)/p>
Segundo o procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Rogério Uzun Fleischmann, a empresa que não notifica o acidente de trabalho comete ato ilegal, podendo ser penalizada. “Trata-se de ilegalidade que atrai autuação pelo Ministério do Trabalho e autuação do MPT, com possibilidade de condenação em dano moral coletivo. Bem como o médico responsável, ademais, tratando-se de doença de notificação compulsória, fica sujeito à condenação criminal, na forma do art. 269 do Código Penal”, explica o procurador.
Fleischmann ainda destaca que o trabalhador, quando a empresa não notifica o acidente, não busca a notificação em si, mas a estabilidade decorrente do acidente e indenização por dano moral ou material. “No caso de trabalhador informal, se considerarmos o autônomo que não recolhe contribuição previdenciária, não tem amparo. Se considerarmos informal o trabalhador que trabalha sob vínculo de emprego sem registro de Carteira de Trabalho, esse pode buscar o reconhecimento do vínculo na Justiça do Trabalho e, reconhecido o vínculo, alcançar seus efeitos”, esclarece.
No Rio Grande do Sul existe um projeto desenvolvido pelo MPT chamado Verdade na Saúde, no qual há uma conscientização nas unidades de saúde públicas e privadas dos municípios para que elas cumpram a obrigação de notificar acidentes e doenças relativas ao trabalho. “Expedem-se recomendações aos Municípios e às unidades de saúde, realizam-se audiências coletivas e fiscaliza-se o cumprimento das recomendações. Em caso de descumprimento, instaura-se inquérito civil em face do resistente. Outro projeto diagnostica óbitos a partir de múltiplas fontes, demonstrando que as CATs emitidas representam percentual baixíssimo no total de óbitos ocorridos”, completa.
A discrepância presente entre os números apresentados pelo INSS e o que é observado e estimado por especialistas, atrapalha a produção de informações essenciais para a formulação de políticas públicas. A falta de indicadores precisos sobre o tema dificulta a visão das necessidades da sociedade e a fiscalização dos serviços de segurança e saúde do trabalhador é prejudicada.