16 Outubro 2024
Em 2021, a irmã Nathalie Becquart se tornou a primeira mulher a votar em uma Assembleia Geral dos Bispos quando o Papa a nomeou subsecretária do Sínodo, encontro episcopal cuja segunda sessão começou em 2 de outubro de 2024.
A informação é de Carol E. Harrison, publicada por National Catholic Reporter, 15-10-2024.
Becquart é, nas palavras da imprensa católica, "a face e a voz do Sínodo", até mesmo um ícone sinodal. Ela descreve a sinodalidade como "tomar um café juntos" − o que encoraja muitos católicos a esperarem que sua Igreja se repense de maneiras menos hierárquicas. Com sua nomeação, o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, comentou: "Uma porta foi aberta".
Grech não mencionou, mas as mulheres católicas têm batido nessa tecla há mais de um século. Becquart e as outras 53 participantes femininas da Assembleia Geral, tanto leigas quanto religiosas, seguem uma longa tradição de mulheres católicas que analisaram, de maneira coerente e muitas vezes crítica, a governança da Igreja.
No Sínodo atual, cujo objetivo é abordar "comunhão, participação e missão" na Igreja, o papel das mulheres está na pauta. Mas as mulheres católicas historicamente encontraram maneiras de se dirigir e falar sobre a liderança eclesiástica, mesmo quando foram excluídas de suas deliberações.
Em 1869, quando o Papa Pio IX convocou o Concílio Vaticano I, ninguém pensou em convidar mulheres, mas elas estavam lá mesmo assim.
O Vaticano I foi a primeira assembleia geral de bispos desde a Reforma. Seu resultado mais significativo – e polêmico – foi a proclamação da infalibilidade papal, consolidando a visão da Igreja como uma monarquia absoluta. Críticos, tanto dentro quanto fora da instituição, condenaram a afirmação de que o papa, sozinho, sem o conselho dos bispos, poderia determinar a doutrina. As mulheres que testemunharam o concílio, especialmente aquelas que publicaram relatos do evento, foram críticas eloquentes dessa Igreja centralizada.
Muitas leigas bem-educadas e influentes viajaram a Roma em 1869 para testemunhar o rumo que a Igreja tomaria. Elas organizaram salões onde bispos trocavam notícias à noite, após as sessões do concílio. Elas correspondiam-se com amigos ausentes e eram nós em uma rede de católicos que se opunham à infalibilidade.
Quando o padre alemão Ignaz von Döllinger escreveu uma crítica devastadora da infalibilidade de seu escritório em Munique, ele se baseou em parte nas informações enviadas de Roma por sua amiga, Charlotte von Leyden, de 27 anos. Sobrevivendo aos padres conciliares do Vaticano I, ela deu a última palavra em 1907, quando publicou o capítulo sobre Roma papal para a emblemática "Cambridge Modern History".
A imprensa católica conservadora ridicularizou essas mulheres implacavelmente como intrometidas desorientadas. O Vaticano I deixou de lado o laicato de ambos os sexos, mas as mulheres que reivindicaram uma voz nos assuntos eclesiásticos pareceram especialmente impertinentes para os bispos que apoiaram a infalibilidade. Desafiando a injunção de São Paulo para que as mulheres permanecessem em silêncio na Igreja, elas desafiaram a autoridade clerical e a lógica de uma Igreja que falava com uma única voz.
O Vaticano II começou em 1962 da mesma forma que o Vaticano I: uma assembleia totalmente clerical e masculina.
As mulheres inicialmente buscaram influência de maneira semelhante. Todas as noites, a jornalista belga Betsie Hollants fazia uma sopa e abria sua casa para os padres conciliares. O caldo de sopa e o vinho tinto eram baratos, ela recordou, mas criavam encontros amistosos que a mantinham informada sobre o concílio. Respondendo ao pedido das mulheres para participar formalmente, porém, um cardeal desdenhoso teria sugerido que elas "tentassem novamente no Vaticano III ou IV".
Conforme o concílio avançava, a ausência de mulheres parecia cada vez mais incongruente. Douglas Horton, pastor protestante americano convidado como observador, notou o "ar de artificialidade" de uma assembleia sem mulheres. Na segunda sessão, em 1963, Mildred Horton e outras esposas de observadores não católicos puderam assistir a alguns eventos, mas nenhuma mulher católica estava presente. Quando a imprensa católica recebeu a Comunhão, um guarda suíço impediu fisicamente que a única jornalista mulher se aproximasse do altar.
O Papa João XXIII havia declarado o aggiornamento − a atualização da Igreja − como a ordem do dia, mas esses incidentes fizeram muitos questionarem se o aggiornamento era possível sem as mulheres.
Os sinais de mudança chegaram na quarta sessão, em setembro de 1964, quando o novo papa, Paulo VI, nomeou 23 mulheres auditoras: 10 religiosas e 13 leigas. Elas participaram das sessões preparatórias, especialmente aquelas que diziam respeito aos leigos, onde eram, segundo Paulo VI, "especialistas em vida".
Nenhuma mulher chegou a falar aos padres conciliares; seus esforços para fazê-lo foram rejeitados, mas sua presença nas reuniões preliminares foi significativa. Em um debate sobre o casamento, por exemplo, Luz María Alvarez-Icaza − mexicana que, junto com seu marido, José, era auditora − informou os clérigos reunidos que estava confiante de que suas mães os haviam concebido em atos de amor, não de desejo animal. Uma das mudanças mais significativas que surgiu do Vaticano II foi a reavaliação do sexo conjugal. Enquanto a Igreja antes via o sexo entre marido e mulher como um controle da natureza essencialmente pecaminosa da humanidade, os novos ensinamentos o descreveram como uma expressão positiva de amor.
Os documentos produzidos pelo Vaticano II dizem relativamente pouco sobre as mulheres, o que foi uma vitória para as auditoras. Muitas delas desconfiavam da visão dos padres conciliares sobre as mulheres como uma espécie separada, até mesmo estrangeira.
A teóloga australiana Rosemary Goldie, ouvindo as descrições extravagantes do teólogo francês Yves Congar sobre o papel das mulheres, disse a ele: "Você pode cortar as referências às mulheres como flores e luz... Não precisamos de nada disso. Tudo o que queremos é ser tratadas como seres humanos completos".
"As mulheres não são 'uma categoria' na Igreja", afirmou a irmã americana Mary Luke Tobin: "Homens e mulheres são a Igreja".
Graças a essas 23 madres conciliares, os ensinamentos do Vaticano II sobre as mulheres estão, na maior parte, incorporados ao seu tratamento mais amplo da dignidade humana, e não segregados em capítulos separados sobre a natureza feminina.
Quanto importa que 54 mulheres com direito a voto tenham substituído as anfitriãs, escritoras e auditoras do Vaticano I e Vaticano II? Provavelmente, não saberemos por muito tempo − décadas, pelo menos.
Revolução é improvável. Muitos católicos apoiam a permissão para que as mulheres atuem como diáconas − ministras que podem desempenhar algumas, mas não todas, as funções de um padre. Essa possibilidade, no entanto, está fora da pauta do Sínodo, encaminhada a uma comissão para estudo posterior. A ordenação de mulheres ao sacerdócio parece incrivelmente distante.
Pode ser, no entanto, que as 54 vozes femininas ensinem a Igreja a falar das (e para as) mulheres como iguais. Ou pode ser que essas vozes desapareçam em meio à cacofonia dos quase 400 participantes. Como o Papa Francisco lembra a conservadores e progressistas, o Sínodo não é um parlamento. Os votos são contados, mas como um passo em direção ao discernimento da verdade, e não como um momento de decisão.
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O Sínodo dos Bispos está abrindo um pouco mais a porta para as mulheres católicas − mas elas estão batendo há mais de 100 anos. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU