Sinodalidade e empoderamento das mulheres na Igreja em debate no IHU

Tema será abordado por Maria Bingemer em mais um encontro do Ciclo de Estudos 'O (não) lugar das mulheres: o desafio de desmasculinizar a Igreja'

Arte: Imagem: Praising © Mary Southard www.ministryofthearts.org/ Used with permission

Por: João Vitor Santos | 03 Julho 2024

Desde o início do pontificado de Francisco, em março de 2013, muitos conceitos têm vindo à luz para se pensar outros modos de ser Igreja, ou de ser Igreja em nosso tempo. Um dos primeiros conceitos que voltaram a ser debatidos recentemente foi o de pastoralidade, com alguns até criticando ao afirmarem que Mario Bergoglio não era teólogo e sim pastor.

Em 2015, ao avaliar o novo papado na edição 465 da revista IHU On-Line, o teólogo e historiador John O’Malley (1927-2022) respondeu a esta crítica expressando que a pastoralidade é um elemento da teologia, ainda que não fosse necessário aproximar as duas coisas para conferir importância ao conceito. E foi além: “Como bem se sabe, ele [Francisco] é um tanto cético em relação a abstrações, especialmente em situações pastorais. A concretude de seu vocabulário sugere essa orientação, por exemplo, o 'cheiro das ovelhas'”.

 

No entanto, se olharmos com mais atenção, veremos que a ideia de pastoralidade nos conecta a um pastor que cuida de seu rebanho e das ovelhas que o seguem, quase cegamente. O pastor as coloca no redil, elas vão. Chama-as, elas saem. Escolhe o caminho e elas o seguem. Mas o pontificado de Francisco segue os movimentos de uma Igreja em saída – aliás, ideia que ele mesmo traz à tona – e hoje quase não se ouvem mais as discussões acerca da pastoralidade. Pode ser porque assimilamos o conceito, só que também é verdade que uma outra ideia do “papa do fim do mundo” tem levantado poeira nos círculos eclesiais, e especialmente clericais, e causado muito alvoroço: a sinodalidade.

Embora carregue consigo características de um pastor, o líder religioso de uma Igreja sinodal não escolhe caminhos ou determinar a hora de entrar e sair. Seguindo no conceito de Francisco, ele promove o debate, escuta, traz à pauta temas espinhosos. Desta fervura de ideias caminhos são vislumbrados. O método e o processo é tão importante quanto o resultado. E lá vinham experiências como o Sínodo para a Amazônia, que agora completa cinco anos de sua realização.

 

Mas, claro, como uma instituição milenar e patriarcal, a Igreja – ou os homens da Igreja – se debate com essa tal sinodalidade. Afinal, o que há de ser isso? Como assim descentralizar decisões? Pois Francisco, apesar de toda a oposição insiste e convoca até um Sínodo sobre a Sinodalidade em que toda a Igreja, e até quem não professa a fé católica, é convidado a refletir. Um fluxo ainda muito experimental e cheio de pontas, mas que deságua num Sínodo dos Bispos com suas grandes sessões em Roma, uma em 2023 e outra em 2024.

 

E se é para abrir as janelas e arejar a Igreja, assuntos que estavam empoeirados no escuro aparecem. Um deles é a própria necessidade de desclericalizar a Igreja, mas também a emergência de desmasculinizar. Afinal de contas, as mulheres no século XXI já galgaram espaço que, no âmbito eclesial ainda estão intocados. Não é à toa que foram chamadas para a primeira sessão deste grande sínodo em Roma. Presentes nas mesas de trabalho, foram chamadas a serem vozes ativas nas discussões. Mas será que foram ouvidas? Será que elas se sentiram à vontade para realmente falarem o que pensam em uma corte tão masculina? Estaríamos mais próximos de, como na Igreja primitiva, vermos a voz ativa das diáconas?

“Há agora mais visibilidade das mulheres em cargos de liderança e isso cria um fato eclesiológico: as mulheres já não são apenas passivas, ocupam espaços e fazem-no muito bem”, afirma a teóloga Maria Clara Lucchetti Bingemer. “Isso poderia abrir um futuro em que mulheres diáconas ou mesmo sacerdotes seriam concebíveis. Se for introduzido o ofício de diácona, o processo será desenvolvido de forma cuidadosa e amigável, como sempre acontece na Igreja”, completa a teóloga brasileira.

Maria Clara Luchetti Bingemer foi uma das chamadas a esse processo e participou dos encontros em Roma. Agora, diante deste horizonte de provocação a pensar caminhos que desmasculinizem a Igreja de nosso tempo, ela irá proferir a palestra intitulada Sinodalidade e empoderamento das mulheres na Igreja. Avanços, entraves, perspectivas. O evento será online, gratuito e com transmissão ao vivo a partir das 10h, pelas redes do IHU.

 

Saiba mais sobre Maria Clara L. Bingemer

Formada em Comunicação Social pela PUC-Rio (1975), mestra em Teologia pela mesma instituição (1985) e doutora em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Gregoriana (1989), Maria Bingemer leciona no Departamento de Teologia da PUC-Rio. Por dez anos dirigiu o Centro Loyola de Fé e Cultura da mesma universidade. Por quatro anos foi avaliadora de programas de pós-graduação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Maria Clara L. Bingemer (Foto: Vida Nueva)

Por seis anos foi decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Sistemática, atuando principalmente nos seguintes temas: Deus, alteridade, mulher, violência e espiritualidade. Tem pesquisado e publicado sobre o pensamento da filósofa francesa Simone Weil. Atualmente, seus estudos e pesquisas vão na direção do pensamento e escritos de místicos contemporâneos e da interface entre Teologia e Literatura.

Em fevereiro de 2024, foi nomeada pelo Papa Francisco consultora para a Secretaria Geral do Sínodo sobre a Sinodalidade.

Publicações do IHU com Maria Clara Lucchetti Bingemer

Artigos do IHU com Maria Clara Lucchetti Bingemer

Comentários do Evangelho do IHU com Maria Clara Lucchetti Bingemer

Outras conferências

A fala da professora Maria Clara compõe o Ciclo de Estudos O (não) lugar das mulheres: o desafio de desmasculinizar a Igreja iniciado em 15 de maio de 2024.

O Ciclo se estenderá até 10 de julho, quando as professoras Lusmarina Campos Garcia, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB, Nancy Cardoso, da Universidade Metodista de Angola, e Márcia Maria de Oliveira, da Universidade Federal de Roraima, irão encerrar o Ciclo de Estudos com o debate Desmasculinizar a liderança na Igreja. O protagonismo das mulheres no cristianismo.

 

Confira as atividades já realizadas no Ciclo de Estudos

 

 

 

 

Leia mais