22 Junho 2023
"O Sínodo abordará questões de grande importância para o futuro da Igreja, o esforço para construir uma metodologia de trabalho que permita um trabalho construtivo e frutífero foi enorme (até mesmo apenas para elaborar os documentos a partir de uma quantidade de materiais sem precedente)", escreve Giacomo Costa, presidente da Fundação Cultural San Fedele e diretor da revista Aggiornamenti Sociali, em artigo publicado por Settimana News, 21-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Durante a coletiva de imprensa para apresentação do Instrumentum laboris (IL) da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, coube ao padre Giacomo Costa, consultor da Secretaria Geral do Sínodo, a tarefa de explicar qual será a metodologia dos trabalhos da assembleia do próximo mês de outubro de 2023. Reproduzimos sua intervenção.
Minha tarefa agora é apresentar a vocês o método de trabalho que seguiremos durante a Assembleia Sinodal de outubro de 2023.
O quadro de referência para o desenvolvimento da assembleia continua sendo obviamente a Constituição Apostólica Episcopalis communio (EC), em particular os artigos 13-18. A metodologia proposta está, portanto, em continuidade com a das Assembleias mais recentes, com algumas variações. Em parte devem-se a razões práticas, ligadas ao aumento do número de membros. Aumenta o número de bispos: cerca de vinte a mais do que na última Assembleia Geral Ordinária (2018), dado o crescimento do número de bispos no mundo. E aumenta o número dos não bispos, após a extensão da participação aprovada pelo Papa Francisco em abril. No total, são esperados cerca de 370 membros, excluindo especialistas, enquanto em 2018 havia 267 padres sinodais, mais cerca de cinquenta ouvintes.
Mas as variações são principalmente necessárias para atender as mudanças significativas no processo sinodal e, em particular, o fato de chegarmos à Assembleia Sinodal depois de uma longa fase de consulta e escuta, que permitiu às sete Assembleias continentais expressar uma série de prioridades.
Entre elas, surgiu com uma clareza surpreendente o desejo de continuar usando o método da conversação no Espírito para a escuta e o discernimento em comum, que marcou profundamente a fase consultiva do caminho sinodal.
A conversação no Espírito pode ser descrita como uma oração compartilhada em vista de um discernimento comum, para a qual os participantes se preparam com a reflexão e a meditação pessoal. Eles darão em dom uns aos outros uma palavra meditada e alimentada pela oração, não uma opinião improvisada na hora. No entanto, a conversação fica incompleta se as diferentes vozes não se articulam e não se colhem os frutos do encontro, num dinamismo missionário que aponta para a ação.
A conversação no Espírito é tanto mais fecunda quanto mais todos os participantes nela se empenham com convicção, compartilhando experiências, carismas e ministérios a serviço do Evangelho. A partir dessas contribuições, o discernimento ajudará a identificar os passos concretos que o Espírito Santo convida a Igreja a realizar para crescer em comunhão, missão e participação.
A experiência da fase de consulta mostra como a conversação no Espírito abre “espaços” onde abordar juntos também temáticas controversas, sobre as quais na sociedade e na Igreja é mais frequente o confronto, pessoal ou pelas redes sociais, do que o diálogo. Em outras palavras, a conversação no Espírito nos oferece uma alternativa viável às polarizações.
A dinâmica da conversação no Espírito articula três passagens fundamentais, a serem explicitadas nas diversas situações. A primeira é dedicada à tomada de palavra de cada um, a partir de sua experiência relida na oração durante o tempo de preparação. A segunda passagem visa a construção de vínculos: cada um toma a palavra para expressar o que mais o tocou durante a escuta e quando sentiu o Espírito Santo fazer ressoar sua própria voz; isso é possível quanto mais cada um cultivar a familiaridade com o Senhor, através da meditação da Palavra e da vida sacramental, crescendo assim na capacidade de reconhecer a Sua voz.
Finalmente, na terceira etapa, sempre sob a orientação do Espírito Santo, identificam-se os pontos-chave que se manifestaram durante a conversação e recolhem-se os frutos do trabalho comum, em vista da passagem à ação; em particular, o objetivo é chegar a um consenso inclusivo, no qual cada um possa se sentir representado, sem descuidar os pontos de vista marginais nem negligenciar os pontos em que emerge um dissenso, que não deve ser eliminado, mas submetido ao discernimento.
Resulta assim claro que a Assembleia Sinodal é chamada a viver um processo espiritual de busca da vontade de Deus e não o dinamismo dos órgãos parlamentares, em que o confronto termina com uma votação que divide maioria e minoria. Oferece a oportunidade de escutar os irmãos e as irmãs em Cristo e, através deles, o Espírito que, como repete o Papa Francisco, é o autêntico protagonista. Quem nunca teve a experiência, pode sentir dificuldade para entender esse dinamismo, que é um ponto qualificador da metodologia de trabalho.
Os trabalhos da Assembleia serão estruturados em cinco segmentos, seguindo o desenvolvimento do IL, com a introdução, em relação ao passado, de alguns momentos de oração comum e algumas celebrações litúrgicas, para além da oração com que se abre e se fecha cada sessão.
No primeiro segmento dos trabalhos, a Assembleia tratará da Seção A do IL, intitulada “Por uma Igreja sinodal. Uma experiência integral” e expressa a compreensão vivida da sinodalidade amadurecida durante a fase de consulta. O objetivo será aprofundar as características fundamentais e o modo de proceder de uma Igreja sinodal.
O fruto desse trabalho constituirá o horizonte dentro do qual abordar os três temas prioritários surgidos da fase de consulta e apresentados na Seção B do IL, que os expressa vinculando-os aos três termos centrais do Sínodo: comunhão, missão e participação.
Conforme explicado pelo n. 44 do IL, a mudança na ordem em que aparecem os três termos, com a missão no lugar central, radica-se na consciência dos vínculos que os unem, amadurecidos na primeira fase.
Em particular, comunhão e missão se entrelaçam e se espelham um no outro. Somos levados a superar uma concepção dualista, em que as relações internas à comunidade eclesial são o domínio da comunhão, enquanto a missão diz respeito ao ímpeto ad extra. Finalmente, a participação só pode ser compreendida na relação com comunhão e missão que a participação pode ser entendida, e por isso só pode ser abordada posteriormente. Por um lado, representa uma instância de concretude que torna mais sólidas comunhão e missão, por outro encontra nas duas primeiras uma orientação finalista que as impede de se transformar no frenesi da reivindicação dos direitos individuais.
Cada questão prioritária (B1-B2-B3) será desenvolvida em um segmento específico da Assembleia, graças ao trabalho nas Fichas recém-apresentadas pelo card. Hollerich.
As Fichas de trabalho - cinco para cada questão prioritária - que compõem a segunda parte do IL. São pensadas como ajuda prática para facilitar o trabalho de grupos (circuli minores). Cada Ficha oferece uma pergunta para o discernimento, precedida de uma contextualização baseada sobretudo nos documentos finais das Assembleias sinodais e seguida de uma série de sugestões para a oração, a reflexão pessoal e o trabalho de grupo.
Essas sugestões articulam diferentes perspectivas e dimensões da vida da Igreja, mantendo o vínculo com a experiência do Povo de Deus recolhida na fase de escuta. Assim, as Fichas de trabalho não são tratados sobre um tema, nem capítulos de um livro a ser lido sucessivamente. Cada um é uma espécie de portal de entrada para tratar a questão prioritária à qual está associada e também pode ser abordada sem ter que considerar as outros.
O objetivo do trabalho na Seção B é identificar os passos concretos que o Espírito Santo nos chama a realizar para crescer como Igreja sinodal e elaborar propostas em diversos níveis, do local ao universal.
A organização dos trabalhos em segmentos não elimina a conexão entre as duas seções. A experiência sinodal do Povo de Deus abordada na Seção A representa o horizonte dentro do qual situamos a discussão das questões prioritárias levantadas na Seção B. É necessário manter a tensão entre a visão de conjunto e a identificação dos passos a serem dados. Estes últimos dão incisividade e concretude à visão de conjunto, enquanto a visão de conjunto nos ajuda a manter a coesão e a evitar nos perdermos nos detalhes.
O último segmento do trabalho será dedicado a colher os frutos e formulá-los em um texto que os torne comunicáveis e, no que diz respeito às propostas mais concretas, também exequíveis no espaço temporal que separa as duas sessões (2023 e 2024). As votações permitirão reunir o consenso que essa formulação recebe.
Não se trata de uma conclusão. Entre as duas sessões continuaremos a caminhar juntos nas Igrejas e entre as Igrejas, a reler essa experiência do Povo de Deus e a promover os aprofundamentos necessários, especialmente do ponto de vista teológico, canônico e pastoral. O objetivo das duas sessões continua sendo apresentar ao Santo Padre propostas concretas de crescimento como Igreja sinodal.
Para isso, é importante identificar quais bloqueios estão criando obstáculo ao caminho e aprofundar as questões sobre as quais ainda não amadureceu um suficiente consenso. O ano que separa as duas sessões será de fundamental importância para experimentar como enfrentá-las e oferecer ulteriores elementos para o discernimento da assembleia de outubro de 2024.
Uma última palavra diz respeito ao local onde se realizará a Assembleia sinodal. É no Vaticano, claro, mas se trata da Sala Paulo VI. É grande o suficiente para acomodar todos os participantes, enquanto na nova Sala do Sínodo caberiam apenas os Membros e não os Especialistas. Mas, sobretudo, a Sala Paulo VI pode ser arrumada com mesas nas quais se podem sentar grupos de cerca de dez pessoas, agilizando a passagem entre sessões plenárias e trabalhos de grupo e sobretudo facilitando a dinâmica da conversação no Espírito. Assim, quem tem em mente as imagens das Assembleias sinodais anteriores, prepare-se para se surpreender ao ver aquelas de outubro de 2023.
Não posso concluir sem começar por agradecer o trabalho que vocês estão fazendo e farão em outubro: o Sínodo abordará questões de grande importância para o futuro da Igreja, o esforço para construir uma metodologia de trabalho que permita um trabalho construtivo e frutífero foi enorme (até mesmo apenas para elaborar os documentos a partir de uma quantidade de materiais sem precedente).
Mas, para dar frutos, esse esforço precisa ser comunicado, ser posto em circulação. Portanto, obrigado ao Dicastério para a Comunicação e à Sala de Imprensa pelo apoio – continuaremos a aproveitar disso! – assim como Thierry Boaventura e seus colaboradores na Secretaria do Sínodo e em várias partes do mundo. E obrigado a todos vocês também pelo seu trabalho.
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A metodologia da Assembleia Sinodal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU