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Raio X do emprego no Vale do Sinos em 2016

Sexta, 17 de Novembro de 2017

Com o propósito de delinear os aspectos do mercado de trabalho no útimo ano, a partir dos vínculos empregatícios formais ativos em dezembro de 2016, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, sistematizou os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS.

Pautando os últimos quatro anos, houve uma contração de 9,1% no número de vínculos ativos de 2013 para 2016, o que representa uma queda média anual de 2,4%. De 2014 a 2015 foi observada uma diminuição de 3,9% dos postos de trabalho no Vale do Sinos, e de 2015 a 2016 a taxa seguiu negativa (2,7%), embora menor em relação ao período anterior. 



Arte: Nadine Steffen

O município de Nova Santa Rita, continuamente, ao longo dos quatro anos, registrou expansão do mercado de trabalho, em um total de 28,7%. Portão mostrou aumento expressivo no número de vínculos em 2014, mas já em 2015 o número voltou a ser semelhante ao que era em 2013; entre os anos a taxa de crescimento de postos foi de 4,1%. Em Campo Bom, apesar da movimentação anual, em 2016 havia apenas seis vínculos a menos que em 2013.

Já os outros onze municípios do Vale do Sinos apresentaram contração do mercado de trabalho acima de 4,4% nos últimos anos, que foi o caso de Sapiranga. Em Canoas observou-se uma contração de 18,9%, em Esteio de 14,7%, em Sapucaia do Sul de 11,5% e em Araricá de 10,9%.

Expandindo a análise para os cinco setores da economia, verifica-se que em 2016 o setor de serviços abrigava 40,4% dos trabalhadores formais do Vale do Sinos, seguido dos setores de indústria com 33,9%, comércio com 21%, construção civil com 4,5%, e agropecuária com 0,2%. Essa participação dos setores no número de vínculos foi também observada no ano anterior.

 



Arte: Nadine Steffen

Em 2013, o setor de serviços abrigava 37,8% dos trabalhadores formais do Vale do Sinos, seguido de indústria com 36%, comércio com 20%, construção civil com 6%, e agropecuária com 0,2%. De uma contração média de 2,4% ao ano para o total dos setores, o número de vínculos na construção civil mostrou a maior queda média, de 9,2% ao ano, seguido da indústria, com 3,8% ao ano.

Assim como na construção civil e na indústria, nos demais setores também houve contração do mercado de trabalho: no comércio foi de 1,2% ao ano em média, na agropecuária foi de 0,8% e nos serviços foi de 0,7%. O setor de serviços foi o que mais conquistou espaço no período, em detrimento da participação da indústria e também da construção civil.

Ao longo dos meses de 2016, foram criados apenas 30% dos vínculos ativos no ano. No primeiro trimestre foram criados 7,2% dos vínculos do ano, no segundo 6,9% destes e no terceiro o percentual criado foi de 7,8%. No último trimestre foram criados 8,03% ou 28.448 vínculos no Vale do Sinos. Pensando em semestres, o primeiro totalizou 14,1% e o segundo 15,8%. Os meses que mais registraram admissões em 2016 foram outubro, com 10.644, agosto, com 10.079 e novembro, com 9.983.

 



Arte: Nadine Steffen

Os municípios com percentual de não admitidos no ano superior ao do Conselho Regional de Desenvolvimento - COREDE (70,1%) foram São Leopoldo, Portão, Esteio, Ivoti e Sapucaia do Sul. Dois Irmãos apresentou a maior taxa: de pelo menos três a cada quatro vínculos ativos em 2016, as admissões ocorreram em anos anteriores (75%). Em sentido oposto, Araricá apresentou a maior taxa de admitidos no ano, de 34% do total de vínculos ativos.

Face da dimensão dos estabelecimentos: número de empregados

Em 2016, o Vale do Sinos tinha registrados 32.839 estabelecimentos, número 2% abaixo do ano anterior e 2,7% abaixo do número de estabelecimentos em 2013. Tal apontamento evidencia que, com a recente insegurança e inadimplência, acentuou-se o número de estabelecimentos fechados, que, no período analisado, mostrou crescimento apenas de 2013 para 2014, ainda que sutil.



(Arte: Nadine Steffen)

No último ano, a participação do número de estabelecimentos por tamanho dos mesmos seguiu semelhante à dos anos anteriores: 11,4% não tinham empregados, 54,9% tinham de um a quatro empregados, 15,7% tinham de cinco a nove empregados, 9,7% tinham de 10 a 19 empregados, 5,4% tinham de 20 a 49 empregados, e 1,6% tinham de 50 a 99 empregados. Apenas 1,3% dos estabelecimentos do Vale dos Sinos tinham acima de 100 empregados.

Mercado e perfil dos trabalhadores em 2016

Em meio aos 14 municípios do Vale do Sinos, Canoas tinha, formalizados, 22,4% dos trabalhadores. Novo Hamburgo tinha o percentual de 21,4%, São Leopoldo de 16,2%, Sapiranga de 6,8% e Campo Bom de 6,3%.

No ano, 55% dos trabalhadores formais do Vale do Sinos eram homens e 45% eram mulheres, seguindo igual a participação de cada sexo em 2015. Em comparação com 2013, o primeiro percentual era de 55,8% e o segundo, de 44,2%, ficando evidente o crescimento perto de um ponto percentual da participação feminina no trabalho.

Em Nova Santa Rita, 72% da força de trabalho continuou sendo masculina, seguido de Portão, onde o percentual foi de 60%. Apenas em Dois Irmãos e Nova Hartz o percentual de homens foi inferior ao de mulheres, igual a 49% em ambos os municípios.

As faixas etárias com mais participação no mercado de trabalho ainda em 2016 foram as de 40 a 64 anos, com 37,7% dos trabalhadores; de 18 a 29 anos, com 30,4% dos trabalhadores; e de 30 a 39 anos, com 29,3% dos trabalhadores. A faixa de 18 a 29 anos tem sofrido trajetória de queda de participação, sendo que em 2013 era de 33% do total de trabalhadores, ao contrário da faixa de 30 a 39 anos, que em 2013 era de 28,3%, e da faixa de 40 a 64 anos, que era de 35,8%. Assim, pode-se dizer que a participação de trabalhadores com idades superiores a 30 anos aumentou no Vale do Sinos nos últimos anos, passando de 64,8% em 2013 para 68% em 2016.

Por fim, a remuneração dos trabalhadores formais no Vale do Sinos foi se concentrando ao longo dos anos mais na faixa até três salários mínimos ou R$ 2.640,00 mensais. Em 2016, 29,8% dos trabalhadores recebiam até 1,5 salários mínimos (ou R$ 1.320) e 47,5% recebiam entre 1,51 e 3,0 salários mínimos; faixas salariais superiores tiveram nesse ano a menor participação do período analisado.

No ano, em Nova Hartz, 61,9% dos trabalhadores recebiam até 1,5 salários mínimos mensais e em Sapiranga, 46,3%, verificando-se assim os dois municípios com a menor remuneração do trabalho formal no Vale do Sinos. O contrário é o exemplo de Nova Santa Rita, onde apenas 19,5% dos trabalhadores recebiam a menor faixa salarial, podendo-se dizer que quatro em cada cinco trabalhadores recebiam a partir de um salário mínimo e meio.

Ampliando para a faixa de até três salários mínimos mensais, essa remuneração era recebida por 89% dos trabalhadores de Araricá e de Sapiranga e por 91% dos de Nova Hartz. São Leopoldo apresentou a menor participação na faixa, de 71,8%, seguido de Canoas e Sapucaia do Sul, ambos com 72%; equivale dizer que nos três municípios pelo menos 28% dos trabalhadores recebiam, em 2016, remuneração superior a três salários mínimos.

Os Observatórios têm grande protagonismo na busca e no fomento da democratização da informação. Em tempos de crise, como vive atualmente o Brasil, fica evidente que o acesso ao conhecimento é fundamental para que a sociedade possa refletir sobre o que está acontecendo e se posicione para onde deseja ir.

Neste contexto, enquanto ferramentas de acesso e publicização da informação, os Observatórios servem de apoio à sociedade. Com os trabalhos de divulgação e análise de pesquisas, indicadores e dados, eles colaboram com o processo de dar vistas às diferentes realidades da população. Com a apropriação deste conhecimento, é possível utilizá-lo para intervir nos problemas que atingem os municípios, os estados, o país e seus cidadãos.

Para dar continuidade ao fortalecimento destes trabalhos, a Rede de Observatórios, na qual também está inserido o Observatório das realidades e políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu o VII Seminário de Observatórios, com o tema “Pesquisas, instituições e sociedade nas tramas de crise”.

O evento, que ocorreu nos dias 30 e 31 de outubro, teve seu início com uma roda de conversa entre os representantes dos Observatórios e outros participantes da atividade. Partiu-se das realidades dos vividos para analisar o contexto dos Observatórios e suas relações com as pesquisas, as instituições e a sociedade.

Durante o VII Seminário de Observatórios, também foram apresentadas publicações dos participantes da Rede, que já completa cinco anos. O Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida - OLMA fez o lançamento semestral de guias de estudos sobre áreas da Justiça Socioambiental. O Observatório da Cidade de Porto Alegre - ObservaPOA divulgou o e-book Democracia na América Latina: casos e contribuições para o debate. O Observatório da Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas - Obteia fez o lançamento do livro “Campo, Floresta e Águas – Práticas e Saberes em Saúde”.

Para finalizar o primeiro dia de atividades, foi realizado o painel “A Sociedade nas tramas das crises contemporâneas”, com os painelistas: Prof. Dr. Carlos Paiva, da Fundação de Economia e Estatística - FEE, o Bel. Cezar Miola, do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul - TCE-RS e o Prof. Dr. Paulo Roberto Rodrigues Soares, do Observatório das Metrópoles.

O Prof. Dr. Carlos Paiva apresentou um apanhado histórico da crise, revelando alguns dos motivos que fizeram com que o Brasil chegasse aonde está hoje. Uma das críticas que Paiva faz é do não fortalecimento de produtos variados, que poderiam ser exportados e, consequentemente, elevar o poder financeiro do país. Ele usa de exemplo o setor calçadista do Vale do Sinos, que possui expertise, pessoas aptas para trabalhar e produto de qualidade, mas a falta de exportação faz com que o país fique refém de produtos que os outros países tenham interesse de receber.

 



Carlos Paiva abre o painel de debates do Seminário de Observatórios (Foto: Lucas Schardong/IHU)

Conforme Paiva, o uso das bases de dados e o acesso a este tipo de informação é muito importante para se utilizar no combate à crise, mas é preciso tomar cuidado em contextualizar as realidades de forma correta, para que não se passem conhecimentos errôneos para a população ou gestores.

O conselheiro-ouvidor do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul - TCE-RS, Cezar Miola, abordou o tema da transparência e controle na gestão pública. Citando o artigo 1º da Constituição, que diz que todo o poder emana do povo, Miola trabalhou sua explicação dentro dessa dimensão e com essa perspectiva.

Ele citou que, no Brasil, antes da lei de acesso à informação, que está para completar seis anos, já havia leis que garantiam este tipo de acessibilidade. Mas também afirmou que, mesmo com a implantação dessas leis, existem dificuldades para usufruir do acesso às bases de dados. Miola também acredita que o acesso à informação é uma das características das nações do mundo que atingiram níveis elevados de aperfeiçoamento no processo democrático, de controle e transparência.

O Prof. Dr. Paulo Roberto finalizou o painel de debates, alertando sobre a nova onda ultraconservadora que está tomando o Brasil. Ele afirma que é preciso ter cuidado, pois apesar de as pessoas que seguem estes dogmas se afirmarem liberais no sentido econômico, elas são extremamente reacionárias quanto aos costumes da sociedade. Ele também alerta para a normatização do “homem-empreendedor”, que se afirma através do processo de uma razão competitiva.

Estes pontos citados por Paulo acabam repercutindo nas metrópoles e nas crises que se instauram nelas. Ele cita como exemplo a violência urbana e a formação de uma sociedade violenta. Também aponta o desemprego e a precarização do trabalho como um dos problemas que aparecem nos centros urbanos e nos municípios em geral.

O VII Seminário de Observatórios também recebeu pela segunda vez o Observatório Social de Políticas Públicas da Região do Comperj, que é do Rio de Janeiro. Conforme o bolsista Leandro Augusto, a participação é importante para buscar informação para dar andamento nos projetos do observatório. “Como nós estamos em processo de desenvolvimento de projeto, estamos buscando o máximo de informação e experiência adquirida por outros observatórios; nesta perspectiva fomos convidados a participar do evento”, afirma.

complexo Petroquímico do Rio de Janeiro possuía o objetivo de aumentar a capacidade da derivação de petróleo, mas em 2014 ele entrou em crise. As obras pararam e 30 mil empregos de dentro e de fora do estado foram perdidos. Em 2015, o Observatório Social de Políticas Públicas da Região do Comperj iniciou um projeto para coletar dados e informações, buscando a contribuição de outros pesquisadores que têm interesse em participar do debate sobre o acesso de políticas públicas da população.

O Comperj promoveu mudanças drásticas na população, e uma delas foi o aumento dos preços dos imóveis locais. O objetivo do Observatório, que fica na cidade de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, é de levar para a população do leste fluminense, e em especial do Itaboraí, conhecimentos sobre os impactos do empreendimento e, além do mais, levar informação sobre educação, saúde e segurança à região.

O segundo dia do VII Seminário de Observatórios teve seu início com a apresentação dos trabalhos desenvolvidos por acadêmicos, pesquisadores e membros de observatórios. Os objetivos gerais dos trabalhos deveriam analisar transdisciplinarmente os desafios e as potencialidades dos observatórios, em meio às relações com a pesquisa, com as instituições e com a sociedade no contexto das tramas das crises contemporâneas. Ao todo nove trabalhos foram selecionados e apresentados durante a exposição. A junção deles será feita para compor o e-book do VII Seminário de Observatórios.



Nove trabalhos foram selecionados para a exposição do Seminário (Foto: Lucas Schardong/IHU)

A segunda parte do dia se estendeu com o painel “Observatórios e suas relações com pesquisas, instituições e sociedade”. Em um primeiro momento, representantes do Observatório da Governança das Águas - OGA BRASIL, Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos do RS - SATED-RSObservatório da Cultura de Porto Alegre e Observatório Socioambiental em Segurança Alimentar e Nutricional - OBSSAN/UFRGS, expuseram seus trabalhos realizados durante as pesquisas e análises de suas áreas de foco. 

O painel teve continuidade com as explanações do Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (Fiocruz), Orçamento Participativo e ObservaPOA (PMPA)Observatório das Metrópoles e Observatório da Segurança de São Leopoldo, que tematizaram as suas experiências, dificuldades e medidas tomadas para contornar o momento de crise e seguir trabalhando com a democratização do acesso à informação.

O fechamento do VII Seminário de Observatórios:Pesquisas, instituições e sociedade nas tramas de crise” se deu com a análise das perspectivas atuais dos observatórios e encaminhamentos para o ano de 2018. Tendo em vista que o ano será de eleições e suas consequências para as realidades da sociedade e das políticas públicas, a Rede acredita que é de suma importância dar continuidade ao Seminário de Observatórios, que chegará a sua oitava edição.



O painel Observatórios e suas relações com pesquisas, instituições e sociedade finalizou o segundo dia do Seminário (Foto: Lucas Schardong/IHU)

Também foi levantado um manifesto dos observatórios sociais que se coloca em defesa da Fundação de Economia e Estatística - FEE como órgão público produtor de estatísticas, pesquisa e análises da realidade socioeconômica gaúcha e tem papel fundamental para os acessos às bases de dados e trabalhos em parceria com os observatórios.

O Laboratório do curso de Gastronomia da Unisinos foi responsável por sediar mais uma oficina da Ecofeira “Ervas e plantas alimentícias não convencionais na gastronomia”. Esta foi a última oficina do ano e teve o propósito de debater e estudar na prática a importância das plantas medicinais, assim como o uso das Plantas Alimentícias Não-Convencionais - PANCS. A oficina foi realizada pela bióloga Denise Schnorr e ministrada pela estudante de gastronomia Marcia Ávila.

Vegetariana há dez anos e chef executiva do restaurante vegetariano Prato Verde, em Porto Alegre, a ex-professora de yoga buscou na gastronomia a necessidade de se reinventar profissionalmente. Hoje, Marcia conta que se sente muito feliz em aprofundar os conhecimentos na área e de alguma forma contribuir para uma gastronomia mais sustentável.

Acrescentou afirmando que as oficinas promovidas na Ecofeira e ministradas por Denise contribuíram para sua formação, para o trabalho e para a vida. “Através dessa atividade, viu-se que com técnicas culinárias, ensinamentos, aprendizados e trocas de experiências é possível alimentar-se de uma forma saudável e saborosa, fazendo uso das plantas medicinais, utilizando alimentos frescos, orgânicos e sazonais.” 

Ela conta que a vivência na cozinha proporcionou a experiência de sentir que, muito além de uma refeição, a alimentação é envolvida por sensações e emoções que tornam o momento único e especial. “É uma profunda entrega, no ato de dar e receber, acolher afetuosamente, entreter e despedir-se, transformando o ato de se alimentar num momento em que o grupo se une e compartilha a experiência gastronômica.”



Receita risoto de ora-pro-nóbis e tomate cereja pronta (Foto: Thais Ramirez)

Com os olhos atentos e a interação do público presente, a oficineira preparou um risoto de ora-pro-nóbis e tomate cereja.  Elaborado com ingredientes orgânicos, colhidos na horta da Unisinos, no centro E02, e com um mix de temperos feitos por ela e distribuídos para os participantes, o risoto foi servido com folhas verdes acompanhadas de elogios dos espectadores.

Curioso para provar o risoto? Confira a receita e o passo a passo no vídeo, clicando aqui.


Risoto de ora-pro-nóbis e tomate cereja                

Ingredientes:

  • 100 g de alho-poró ou cebola (uma unidade);
  • 30 ml de azeite de oliva;
  • 30 ml de vinho branco;
  • 200 g de arroz arbóreo;  
  • 1,5 litro de caldo de legumes (elaborado com cebola, cenoura, aipo, legumes, vegetais e ervas frescas);
  • 200 g de folhas de ora-pro-nóbis;
  • 150 g de tomatinhos;
  •  50 g de manteiga;
  •  50 g queijo parmesão.

Modo de Preparo:

  • Cortar o alho poró em pequenos cubos, as folhas de ora-pro-nóbis em tiras de 2 cm, partir os tomatinhos ao meio e aquecer o caldo de legumes;
  • Aquecer metade da manteiga e dourar o alho poró. Adicionar o arroz e fritar por 2 min, ou até perceber o miolo do grão branco, misturar o vinho branco e deixar evaporar;
  • Adicionar o caldo de legumes aos poucos, mexendo sempre. Próximo da finalização, aproximadamente 15 min, agregar as folhas e os tomates, envolvendo bem os elementos. Finalizar com o restante da manteiga e o parmesão. O risoto deve estar al dente e cremoso.

Os Observatórios, entidades, trabalhadores/as e pesquisadores/as das áreas de Administração, Cultura, Ciências Econômicas, Ciências Sociais, Ciências Políticas, Comunicação Social, Direito, Economia, Educação, Serviço Social e áreas afins participantes da Rede de Observatórios Sociais reunidos no VII Seminário Observatórios – pesquisas, instituições e sociedade nas tramas de crise, em Porto Alegre, nos dias 30 e 31 de outubro de 2017, manifestam-se na defesa da Fundação de Economia e Estatística (FEE) como órgão público produtor de estatísticas, pesquisa e análises da realidade socioeconômica gaúcha, alicerçada na transparência, na diversidade de pensamento, com a preocupação de construir um espaço de reflexão sobre as políticas públicas de combate à desigualdade, bem como medição e monitoramento das condições reais de vida da população gaúcha.

A FEE é um patrimônio vivo da sociedade, construída nos últimos 44 anos por técnicos de diferentes áreas de conhecimento, funcionários administrativos, gestores e governos com matizes de amplo espectro ideológico. A marca FEE, construída junto à sociedade civil, está alicerçada em análises, estudos, pesquisas, livros, artigos, opiniões, séries estatísticas, transparentes e de qualidade, referendadas pelo uso no planejamento estatal, privado, na academia e pelos mais diferentes segmentos da sociedade civil.

Nós aqui reunidos manifestamos total solidariedade à FEE e conclamamos a todos os gaúchos a dar guarida, apoio e continuidade a este patrimônio público, assim como às demais fundações e empresas estatais em processo de extinção conduzido pelo governo estadual.

Tendo a Proteção Social como uma de suas áreas de investigação, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promoveu a oficina Sistemas de (des)Proteção Social. A atividade foi realizada no dia 10 de outubro e ministrada pela mestra em Serviço Social, Marlene Oliveira Fiorotti, assistente social na Prefeitura de Viamão, e pelo sociólogo e servidor da prefeitura de Viamão, Rodrigo Truyllio.

Com o objetivo de apresentar os sistemas de proteção social dos municípios e região do Vale do Sinos, a oficina recebeu um público diversificado em relação às suas localidades, mas que possuem em comum a militância pela qualificação nos processos de proteção social e a importância dos seus impactos nas políticas públicas.

O evento teve seu início com um apanhado histórico realizado pela mestra em Serviço Social, Marlene Oliveira Fiorotti. De acordo com Marlene, a Proteção Social pode ser definida como “um conjunto de iniciativas públicas ou estatais, que são reguladas para a provisão de serviços e benefícios sociais, visando enfrentar situações de risco social ou privações sociais”. Ela acredita que estas iniciativas servem de estratégias essenciais para o alívio da pobreza e outras vulnerabilidades, como a redução da exclusão social, por exemplo.

Marlene ressalta que a proteção social não é somente uma área da assistência social e que a política social é a primeira a enfrentar a vulnerabilidade. Ela explica que o sistema nasceu para o mundo do trabalho e está ligado a quem possui emprego, mas pondera que “os direitos sociais devem ir para além do bem-estar econômico”.

A assistente social também afirma que os sistemas de proteção não são apenas respostas automáticas às necessidades. Para exemplificar este conceito, ela cita os autores Silva, Yasbek e Giovanni, que trazem o significado de proteção social: “São formas históricas de consenso político, de sucessivas e intermináveis pactuações que buscam, incessantemente, responder a pelo menos três questões: Quem será protegido? Como será protegido? Quanto de proteção?”.

Em tempos de austeridade e com a instalação da crise econômica no Brasil, muitos dos sistemas de proteção social sofreram diversos ataques, bem como os direitos dos trabalhadores e também da população brasileira em geral. Com estas constantes mudanças propostas pelo atual governo e a instabilidade política e econômica em que se encontra o país, o que se pode perceber é o crescente aumento da desigualdade.

Nesse sentido, Marlene aponta os dados da concentração de renda no país, destacando que o grupo de pessoas mais ricas do Brasil, formada por 1% da população, tem cerca de 1,4 milhão de pessoas, com renda anual a partir de R$ 287 mil. Ela também coloca em evidência o fato de que 0,1% dos brasileiros (cerca de 140 mil pessoas) recebem uma renda mínima de R$ 1,4 milhão, enquanto a renda média anual de toda a população é de R$ 35 mil.

A partir disso, ela critica a estrutura do capitalismo, pois quando os países se encontram em crise, os governos atacam as políticas sociais sob o pretexto de “ajuste”. Por isso é possível perceber que os gastos e cortes somente são feitos em ações que afetam as populações carentes. Ela usa de exemplo a tributação de fortunas, que fica próximo a 5%, enquanto os mais pobres pagam ao menos 30% de sua renda via impostos indiretos sobre luz e alimentação.

Ela também evidencia a problemática nos cortes do Sistema Único de Assistência Social - SUAS e do Fundo Nacional de Assistência Social - FNAS, que chegam a 98,05% para o orçamento do Brasil em 2018. A assistente social aponta que, na prática, isso vai acabar com estes sistemas, para que o atual governo invista em programas que não são tão eficazes quanto os sistemas de proteção atuais.

Como forma de combater estes ataques e lutar pelos direitos, acredita que a população deve ser unir para analisar o que está sendo perdido no campo da proteção social, agir coletivamente para refletir e divulgar as informações e dimensionar o fazer profissional, para atingir as organizações.

Para complementar, o servidor da prefeitura de Viamão Rodrigo Truyllio apresentou ferramentas informacionais oferecidas pelo Ministério do Desenvolvimento Social - MDS, que podem auxiliar no planejamento de ações. Elas são utilizadas para mapear as vulnerabilidades, riscos e potencialidades de um determinado território.

Conforme o sociólogo, o uso destas ferramentas e suas informações devem subsidiar as ações de gestão local das Políticas de Assistência Social e fazer com que os técnicos da gestão (Vigilância Socioassistencial) e demais trabalhadores da assistência se apropriem dessas informações. Para tal, ele cita o catálogo das ferramentas desenvolvidas pela Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação - SAGI. Além de sistemas para organização e integração de dados do Cadastro Único e de outras fontes de informação, a SAGI elabora aplicações com mapas, imagens de satélites e informações textuais para boletins automatizados.

“É preciso debater e lutar pelos direitos de moradia”. A frase, apresentada na segunda etapa do Ciclo de Debates: Gentrificação, Direitos Humanos e as cidades, ocorrido na terça (24/10), na Unisinos Campus Porto Alegre, foi o ponto de partida para a conversa. Organizado pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em parceria com o Centro de Direitos Econômicos e Sociais - CDES e com a ONG Acesso, o evento contou com as contribuições do mestre em Direito, Jacques Távora Alfonsin, da ONG Acesso Cidadania e Direitos Humanos, e Ezequiel Morais, integrante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia Ocupa Prefeitura de Porto Alegre - MNLM

Cristiano Muller, do Centro de Direitos Econômicos e Sociais, deu seguimento aos debates com o tema dos direitos às cidades. “A última discussão foi sobre gentrificação, tema esse que até então não era muito debatido e acabou sendo muito bem discutido entre nós,” comentou. O segundo tema proposto diz respeito à garantia dos direitos de moradia, trazendo para a conversa os assuntos relacionados a situações emergentes, despejos forçados e disputas de território

Alfonsin conduziu a conversa com questionamentos trazidos por ele, entre os quais a moradia de áreas irregulares: “A dificuldade de acesso à terra regular para habitação é uma das maiores responsáveis pelo aumento de favelas e loteamentos irregulares nas periferias das cidades”. Segundo o mestre em Direito, o Censo de 2010 mostrou que 13% da população urbana no Brasil está morando em favelas e em áreas de risco.

A relação entre propriedade, poder político e poder econômico também entrou em questão. “A terra continua a se situar no centro do convívio social, mas de forma renovada. Alimenta profunda desigualdade, ainda que haja recente pedido de distribuição de renda.” O Estatuto da Cidade, de acordo com a Lei 10.257, de 10 de julho de 2001, foi criado por haver cidades marcadas por uma profunda desigualdade, fruto do crescimento desordenado. Essas áreas precárias, desenvolvidas fora do traçado original e desprovidas de condições para o atendimento das necessidades mais básicas de seus moradores, provocam o agravamento do quadro de exclusão social, tornando mais evidentes a marginalização e a violência urbana, o que tem sido motivo de grande apreensão do Estatuto.

Retratando suas experiências na ONG Acesso, Cidadania e Direitos Humanos, Alfonsin revelou as principais demandas que os movimentos sociais possuem em relação às temáticas urbanas. “O acesso aos serviços públicos é a grande bandeira dos movimentos populares e sociais. O Movimento Nacional de Luta pela Moradia, do qual Ezequiel é uma liderança, constitui-se exemplo. Para ele, a moradia envolve toda a população, todo o entorno dela, o que afeta diretamente a vida da comunidade.”

A cidade que queremos construir e deixar para o futuro



Ezequiel explica como seria a cidade utópica (Foto: Lucas Schardong/IHU)

Na luta pelos direitos de moradia, Ezequiel Morais enfatizou que as relações humanas compõem os direitos à habitação. “Depois do direito social conquistado, temos que trabalhar as relações de quem reside nestes meios.” Como forma de provocar percepções, Morais trouxe a imagem da cidade utópica, que reflete a perspectiva de construção da cidade “ideal”. A insegurança que mantém os moradores atrás das grades de suas casas é um dos pontos trabalhados pelo militante, que realiza intervenções como forma de propor relações interpessoais.

Em 2005 o Movimento refletiu que a luta era para além da ocupação e se começou a aprofundar mais a questão da reforma urbana. As vivências acumuladas na última década do movimento trouxeram elementos a mais, frutos de experiências atuais das novas gerações. “O movimento tem se aproximado dos artistas de rua, para realizar a interação com as crianças das comunidades, criando assim um diálogo e propondo brincadeiras para gerar um maior envolvimento delas. A partir daí acontece um processo de aproximação e comunicação com a gurizada”.

Clique aqui para conferir o vídeo da transmissão do evento, realizado no canal do Youtube do IHU.

Em tempos de crise em que se evidenciam a fragilização aos direitos e à democracia ainda inconclusa no Brasil, inúmeros são os desafios postos à sua afirmação. Entre as lutas dos processos de democratização do Estado e da Sociedade brasileira está a informação e a formação para o exercício da cidadania. 

Esta cidadania que se apresenta como um desafio histórico posto especialmente à população destituída de seus direitos civis, políticos, econômicos, sociais e ambientais. A classe trabalhadora e todas "minorias" são as mais afetadas por esta realidade de destituição dos direitos, que revela de forma evidente a crise da democracia.

Os observatórios foram criados em meio aos processos de democratização das diferentes esferas da sociedade e do Estado. Eles se constituíram como ferramentas para a socializar as informações, para potencializar a participação e a decisão da população nos diferentes territórios, temas, políticas.

Por exemplo, Observatório das Realidades e Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, que analisa, sistematiza e publiciza os dados e informações dos municípios do Vale do Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre. Com estas informações o ObservaSinos trabalha para a qualificação dos processos de cidadania no campo regional das organizações, políticas e projetos sociais, destas áreas.  

Pensando numa forma de potencializar os trabalhos e as articulações dos Observatórios, a Rede de Observatórios, que conta com observatórios do estado e país, organizou o Seminário de Observatórios, que se encontra em sua sétima edição. O evento tem como objetivo reunir trabalhos e pesquisas de acadêmicos e especialistas nos temas pautados durante os Seminários. 

Neste ano de 2017 o tema norteador é “pesquisas, instituições e sociedade nas tramas de crise”, que dá sequência aos temas de atuação no campo social comprometidos com a organização e democratização das informações, assim como com a afirmação de políticas públicas no contexto da sociedade contemporânea. O evento também tem como objetivo propor o aprofundamento teórico-prático sobre o protagonismo dos Observatórios, como ferramentas de informação, formação e controle social.

Com os trabalhos apresentados e os seus temas debatidos durante o VII Seminário de Observatórios, será possível analisar as áreas em que os Observatórios são desafiados e também as possibilidades existentes para o enfrentamento das tramas das crises contemporâneas

O fortalecimento das Redes de Observatórios

A troca de informações e experiências é de extrema importância para que seja possível avaliar e conhecer as mais diversas realidades e problemas. Com essa ideia em mente, a partir do III Seminário Observatórios: “Metodologias e Impactos nas Políticas Públicas: Estado, Sociedade, Democracia e Transparência”, se constitui a “Rede de Observatórios”.

Composta por 16 observatórios e também por programas de pesquisa a Rede busca analisar de forma crítica e propositiva os métodos de busca e publicização da informação, bem como os diagnósticos podem colaborar na transformação das práticas e das políticas e outros fatores envolvidos no desenvolvimento de distintas realidades sociais.

O poder dos Observatórios está diretamente ligado ao exercício do controle social, ou seja, a participação do cidadão na gestão pública. Os Observatórios se tornam primordiais no processo de análise e fortalecimento da democracia.

VII Seminário de Observatórios

VII Seminário Observatórios: pesquisas, instituições e sociedade nas tramas de crise ocorrerá nos dias 30 e 31 de outubro de 2017. Além da apresentação de trabalhos, o evento conta com painéis de debate para discutir o tema vigente. As atividades ocorrerão na Unisinos Campus Porto Alegre. Clique aqui para obter mais informações.

No atual contexto de insegurança sistêmica, a contração do mercado de trabalho reflete no perfil dos trabalhadores, que ainda conseguem se inserir têm maiores graus de escolaridade, submetendo-os a rendimentos médios nas faixas salariais mais baixas. Nesse sentido, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, reuniu dados do Portal da Transparência da Controladoria Geral da União – CGU e da síntese Dataprev, da Previdência Social, sobre as alternativas de renda além do trabalho existentes no Brasil.

“Durante décadas muitas pessoas acharam que chegaríamos a jornadas mais curtas. John Maynard Keynes não foi o único. Nos anos setenta, a maioria dos economistas e sociólogos estavam convencidos disso. Mas nos anos oitenta a coisa mudou, e começamos a trabalhar muito mais. Hoje estamos atolados de trabalho. Há dois motivos para isso. Primeiramente, o consumismo: compramos coisas de que não temos necessidade para impressionar pessoas das quais não gostamos. O problema dessa explicação é que a maior parte das coisas que compramos sem necessidade são produzidas por robôs e no Terceiro Mundo, o que faz com que a maioria de nós trabalhe no setor de serviços. E isso nos leva ao outro motivo, ou seja, que nos últimos 30 anos temos visto um crescimento absurdo do nível de trabalhos lixo ou aquele trabalho considerado inútil pela pessoa que o exerce”, disse o historiador Rutger Bregman em entrevista republicada pela Revista IHU On-line.

A partir desta realidade, a renda básica de cidadania constitui-se como medida garantidora de proteção social universal da população. Como preconizado por alguns, a renda básica é incondicional, ricos e pobres receberiam, significando o estágio inicial da distribuição. Não é um gasto, mas sim um investimento. A experiência mostra que é mais fácil erradicar a pobreza do que combater os sintomas que ela causa. 

Com esta política de renda poderia haver a garantia à vida e, por consequência, as pessoas poderiam recusar trabalhos que não quisessem realmente fazer, aceitando-os apenas pelo salário que ele paga.

No exemplo brasileiro, as diferentes políticas de redistribuição monetária e seguridade social não foram concebidas na perspectiva da renda mínima. São identificados três dispositivos diferentes nessa tentativa de proteção social: o sistema de aposentadorias, o sistema de seguro-desemprego e os repasses monetários de assistência social, que reúnem o Benefício de Prestação Continuada – BPC e o Programa Bolsa Família.

Contudo, pela expressão do baixo valor real das transferências de renda enquanto assistencialismo aos pobres, os programas se mostram incapazes de tirá-los da miséria e a única solução de sustento é o acesso ao trabalho pelo emprego. No contraditório Brasil de hoje assistimos o poder dominante atuando na imposição de políticas que flexibilizam o trabalho, além da tentativa de equilibrar as contas públicas através do corte de gastos em todas as instâncias, inclusive na implementação de políticas sociais. 

Bem se sabe que a camada mais prejudicada e privada de direitos é justamente a mais vulnerável. Tal a desigualdade do país, então é grande o desafio de reinventar os diferentes dispositivos – aposentadorias, seguro-desemprego e assistência social – numa renda básica, condicionada a uma dimensão progressista, ou seja, começando pelos mais pobres.

A concentração de renda e riqueza é uma ameaça à estabilidade social. Os ricos estão ficando cada vez mais ricos nas economias desenvolvidas, ilustrado pela renda per capita do 1% mais rico da população que cresceu três vezes mais rápido do que a renda per capita dos 99% da base da pirâmide social, segundo dados do Fiscal Monitor do Fundo Monetário Internacional – FMI em abril de 2017.

Outra pressão é estabelecida pela Quarta Revolução Industrial através do novo perfil do trabalho e dos trabalhadores, que aponta novos mecanismos e relações no mundo do trabalho, capazes de gerar outras riquezas. Se é impossível negar as transformações, uma das alternativas seria praticar impostos sobre a utilização de robôs, então tal condição poderia viabilizar a distribuição de uma renda básica universal. Tanto por meio da socialização dos rendimentos da acumulação capitalista quanto por uma estrutura tributária progressiva teríamos instrumentos mais potentes de redistribuição de renda.

Sistema de aposentadorias: o caso do Vale dos Sinos

Os benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social – INSS incluem aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de contribuição e aposentadoria por invalidez, além de outros benefícios como auxílio doença, auxílio acidente, auxílio reclusão, pensão por morte, salário família e salário maternidade.

 Entre 2005 e 2015 o número de benefícios cresceu 39,3% no total dos quatorze municípios, enquanto no Brasil essa taxa foi de 36,5%. Em 2005, o salário mínimo nominal era de R$300,00, passando para R$788,00 em 2015, apontando uma elevação média de 163%. Em comparação, a média mensal por benefício do Vale dos Sinos cresceu 100,6%, portanto foi inferior a taxa de crescimento do salário mínimo no período, e no último ano aproximadamente 20% habitantes eram beneficiários da Previdência Social.
 

Poucos municípios ficaram com a média mensal por benefício acima da média observada para o Conselho Regional de Desenvolvimento – COREDE, em ambos os anos: Esteio, seguido de Canoas, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Já Araricá, menor município do Vale dos Sinos, ficou com a média mais baixa, seguido de Nova Hartz.

Repasses monetários de assistência social

Os repasses monetários de assistência social incluem o Benefício de Prestação Continuada e o Bolsa Família. Assim como os outros sistemas que compõe a tentativa de renda mínima no Brasil, o rigor sobre a concessão ou renovação de benefícios aumentou nos últimos anos, ameaçando a continuidade dos programas de transferência de renda ao nível de tamanha desigualdade do país.

O Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social, direito garantido pela Constituição Federal de 1988, regulamentado pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei nº 8.742/93 e pelas Leis nº:12.435/2011 e nº 12.470/2011, que alteram dispositivos da LOAS; e pelos Decretos nº 6.214/2007, nº 6.564/2008 e nº 7.617/2011, assegura um salário mínimo mensal ao idoso com idade de 65 anos ou mais, e à pessoa com deficiência de qualquer idade, com impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, que comprove não possuir meios de garantir o próprio sustento, nem tê-lo provido por sua família. Em ambos os casos, é necessário que a renda mensal bruta familiar per capita seja inferior a um quarto do salário mínimo vigente, o que atualmente seriam R$234,25.
 

De 2005 a 2015 o número de beneficiários do BPC aumentou 217,4%, e, nominalmente, os recursos pagos aumentaram pelo menos seis vezes no Vale dos Sinos, sendo que no primeiro ano a média mensal recebida pelo beneficiário era de R$274,61 e no último, de R$770,92.

Canoas, São Leopoldo e Novo Hamburgo apresentaram mais de 60% dos recursos pagos pelo programa no Vale dos Sinos em 2015, e o total dos municípios atingiu 9,07% dos recursos destinados ao estado do Rio Grande do Sul. No período, aumentou a participação de pessoas com deficiência no montante de benefícios: de 49,8% para 55,2%

Outra alternativa é o Programa Bolsa Família, implantado em 2004, como programa de transferência direta de renda direcionado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país, de modo que estas consigam superar a situação de vulnerabilidade e pobreza. O programa busca garantir a essas famílias o direito à alimentação e o acesso à educação e à saúde, mediante o cumprimento de algumas condicionalidades.


Em 2005 eram 55.848 beneficiários e, em 2015, eram 49.413, caindo o número em 11,5%, e os recursos pagos tiveram um aumento nominal de 153,8%. Repete-se a situação anterior, os três maiores municípios juntos têm 65% dos beneficiários do Vale dos Sinos. A maior média mensal por beneficiário foi observada no município de menor população do Vale dos Sinos, Araricá, com R$181,37, e a menor média em Ivoti, com R$94,86.

Para analisar a realidade dos trabalhadores, do trabalho, do emprego e da renda no Vale do Sinos, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU,  reuniu os dados dos vínculos ativos no ano de 2015 da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e fez-se a comparação com a movimentação do mercado de trabalho no Vale dos Sinos durante o ano de 2016 do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED.

Trabalho e escolaridade do trabalhador em 2015

Do total de 363.933 trabalhadores formais do Vale dos Sinos em 2015, 40,1% estavam no setor de serviços, 34,2% estava na indústria, 21% estavam no comércio, 4,5% na construção civil e 0,2% no agropecuário, extrativo vegetal, da caça e pesca. Ao traçar o perfil setorial dos vínculos, o setor agropecuário apresentou o menor percentual de trabalhadores com ensino médio completo, sendo que quase 70% destes tem até o ensino médio incompleto; indústria e construção civil se concentraram relativamente mais nos graus de instrução ensino fundamental completo e ensino médio completo.

comércio mostrou o maior percentual de trabalhadores com ensino médio completo no Vale dos Sinos, igual a 52,6%, e também a maior participação do médio incompleto (12,9%); e o setor que tem quatro em cada 10 trabalhadores, o de serviços, mostrou o principal percentual daqueles com ensino superior incompleto, de 22,3%, além de 1,1% com mestrado e 0,5% com doutorado. Logo, esses dois setores foram os que mais englobaram trabalhadores com graus de instrução mais elevados.

Nos cinco grandes setores da economia segmentados em graus de instrução, observou-se que em 2015 no Vale dos Sinos, 39,9% dos trabalhadores tinham até o ensino médio incompleto e 40,8% tinham o ensino médio completo, concentrando os graus juntos aproximadamente 80% do total de trabalhadores. Apenas 6,5% dos trabalhadores foram registrados com ensino superior incompleto, 12,2% com superior completo, 0,5% com mestrado e 0,2% com doutorado.

Canoas, em 2015, teve as mais baixas taxas de trabalhadores com escolaridade até ensino médio incompleto do Conselho Regional de Desenvolvimento – COREDE – contra 48% de trabalhadores com ensino médio completo, e Esteio teve a segunda menor participação de 6º a 9º do fundamental no mercado de trabalho e a segunda maior participação daqueles com ensino médio completo, de 47,5%.

Nova Hartz corresponde como município com a maior taxa de trabalhadores com até ensino médio incompleto (mais de 65% do total) e, tem, assim, as menores taxas do Vale dos Sinos em ensino médio completo, superior incompleto e completo. Inversamente, São Leopoldo apresenta-se como o município com a maior escolaridade dos trabalhadores, tendo os maiores percentuais observados a partir do ensino superior incompleto (22,6%), e ainda, 1,4% com mestrado e 1% no doutorado; e, ainda, Sapucaia do Sul figurou com a maior taxa de trabalhadores com ensino superior completo (16%). 

Trabalho e remuneração do trabalhador em 2015

Pelo lado das faixas salariais de remuneração média dos trabalhadores por grande setor, com exceção dos serviços (69,1%), todos os outros concentraram mais de três quartos dos trabalhadores na faixa de até 3,0 salários mínimos. Assim, na indústria foi igual a 75,2%, na construção civil foi 80,7%, no comércio foi 87,5% e no agropecuário foram 91,9%. O setor do comércio apresentou a maior participação da faixa salarial até 1,5 salários mínimos, significando 36,6% dos trabalhadores do setor, e a construção civil a maior para a faixa de 1,51 a 3,0 salários mínimos, com 62,2%.

Nos serviços e na indústria do Vale dos Sinos em 2015 foi observada a maior incidência das faixas salariais mais elevadas: 14,1% dos trabalhadores dos serviços recebiam acima de 5,0 salários mínimos e, na indústria, esse percentual foi de 10,1%. Interessante destacar os três maiores municípios do COREDE: 52,2% dos trabalhadores de Canoas estão nos serviços e 18,3% na indústria; em Novo Hamburgo 41,3% estão nos serviços e 32,8% na indústria; e em São Leopoldo 45,1% estão nos serviços e 31,6% estão na indústria.

Se analisada a totalidade de trabalhadores do Vale dos Sinos, no mesmo ano, três em cada quatro recebia até 3,0 salários mínimos, equivalente a até R$2.364,00 de acordo com o vigente em 2015.

O comércio, em 2015, representava 39,6% dos estabelecimentos do Vale dos Sinos, os serviços 33,5% e a indústria 20,6%. Em média, 54,6% dos estabelecimentos tinham entre um e quatro empregados, 14,8% tinham entre cinco e nove empregados e 13,3% não tinham nenhum empregado registrado formalmente.

Movimentação em 2016: instrução maior e salário menor

Apenas o grande setor da Agropecuária, extrativo vegetal, caça e pesca teve saldo geral positivo, de 43 postos. Na Indústria, houve queda de 2.330 no número de postos de trabalho, na Construção Civil de 1.261, no Comércio de 472 e nos Servi-ços de 54.

O setor que mais atraiu trabalhadores com ensino médio completo foi o de serviços, com 938 postos criados; o de comércio, com 811 postos criados; e o industrial, com 269 postos criados. O comércio também foi o único de saldo positivo para trabalhadores com ensino superior incompleto ou completo, totalizando 211 postos adicionais em 2016. Por outro lado, o setor industrial é o principal responsável pelo significativo encolhimento de vagas para trabalhadores com fundamental completo (-990) e com 6º a 9º ano do fundamental (-797) seguido do comércio, que, respectivamente, fechou 622 postos na primeira instrução e 487 na última. Nos serviços, houve redução de 422 postos para trabalhadores com escolaridade a partir do ensino superior incompleto, e na indústria, onde esse número foi de 404. Na construção civil todas as escolaridades apresentaram saldos negativos, com destaque para aqueles com ensino fundamental completo (-356) e de 6ª a 9ª do fundamental (-292).

No resultado dos cinco setores da economia, trabalhadores com ensino fundamental completo perderam 2.250 postos e com 6º a 9º ano do fundamental perderam 1.968 postos. Aqueles com ensino superior completo aparecem em seguida com a redução em 632, depois os com ensino médio incompleto (-501) e os com o 5º ano do fundamental completo (-425). Trabalhadores com os menores graus de instrução também perderam postos: nos com até o 5º do fundamental completo a redução foi de 42 e para os analfabetos 11 postos de trabalho a menos. Criação de postos foi observada apenas para trabalhadores com ensino médio completo, com 1.753, e 2 de ensino superior completo.

Em Campo Bom, criaram-se 386 postos na indústria e em Nova Hartz, criaram-se 284 postos. Em Nova Santa Rita, criaram-se 186 postos no setor de serviços e, no setor de construção civil, a criação de postos de trabalho mais expressiva deu-se em Sapiranga, com acréscimo de 144. São Leopoldo foi o que mais criou vagas nos serviços (+228), Canoas e Estância Velha também se destacaram nos setores de comércio e serviços: Canoas criou 149 vagas no comércio e 181 nos serviços; e Estância Velha criou 137 vagas no comércio e 209 nos serviços.

Pelo lado do rendimento do trabalhador, os setores que apresentaram criação de postos de trabalho com média de até 1,5 salários mínimos foram a Indústria, com 3.404; o comércio, com 1.998; os serviços, com 2.701; e o agropecuário, extrativo vegetal, caça e pesca, com 73, totalizando um saldo de 8.022 postos criados ao longo de 2016 na faixa salarial de até 1,5 salários mínimos mensais.

O único setor que apresentou perda de empregos em todas as faixas salariais foi a construção civil. Para todas as faixas salariais a partir de 1,51 salários mínimos houve perda de empregos em todos os grandes setores da economia, sendo mais intensa na faixa de 1,51 a 3,0 salários mínimos, com perda de 8.187 postos no total, e depois de 3,01 a 5,0 salários mínimos, com perda de 2.280 postos no total do Vale do Sinos em 2016.

No contexto inseguro da contração do mercado de trabalho, o perfil dos trabalhadores que ainda conseguem ser inseridos é de maiores graus de escolaridade, submetidos a rendimentos médios nas faixas salariais mais baixas. Se faz necessário pensar sobre alternativas de renda e de seguridade social para além do trabalho, contraditoriamente nos tempos em que programas de assistência social de todos os níveis estão sendo enxugados como instrumento de corte de gastos federais.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, comprometido com o debate das realidades e das políticas públicas considera indispensável reunirmos conhecimentos para a análise dos limites impostos à garantia dos direitos e da proteção social no Brasil. Nesta perspectiva apresentamos aqui o artigo publicado pelo Secretário Adjunto de Desenvolvimento Social de São Leopoldo, Rio Grande do SulMilitante dos Direitos Humanos, Rodrigo de Mello Castilhos.

Eis o texto

Os cortes anunciados pelo governo Temer, de 98% dos recursos da assistência social destinados a serviços programas e projetos para o orçamento da União em 2018, significam na prática a extinção do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Sem garantir estes recursos o Governo Federal lava as mãos quanto à responsabilidade de garantir os Direitos Sociais da população que é mais vulnerável. O impacto desta medida é de que 30.000 crianças e adolescente, 36.000 mil idosos, 20.000 adultos e famílias ficarão sem proteção social. Estes que dependem do Estado para serem protegidos, por terem sido abandonados, serem vulneráveis ou que estão em situação de rua ou risco social, não serão mais devidamente atendidos e acolhidos nas instituições de proteção social. Ora as trinta milhões de pessoas que são atendidas nos 8.000 Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), Centros Referência Especializada (CREAS), Centros de Referência para População em Situação de Rua (CENTRO POP) estarão sem assistência, proteção e apoio mínimos em todo o Brasil. O corte de 11% nos recursos do Bolsa Família, já previsto, significa no curto prazo a perda deste benefício para dois milhões de famílias hoje atendidas.

A Constituição de 1988 trouxe um grande avanço jurídico e conceitual que firmou direitos num pacto social na sociedade brasileira, onde se estabeleceu o princípio da proteção social não contributiva para todos os brasileiros e criava as condições para a efetivação dos Direitos Sociais. A partir desta base uma série de legislações como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA 1990) e a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS 1993) foi seguindo numa linha ascendente aprimorando e garantindo a efetivação destes princípios Constitucionais até 2016. O resultado desta longa trajetória foi a diminuição da desigualdade e a melhoria real das condições de vida de milhões de famílias e de indivíduos em grande vulnerabilidade social. Isto ocorreu de forma marcante nos últimos 15 anos. Um exemplo disso foi a retirada do Brasil do mapa da fome no mundo, após décadas de notícias de óbitos pela fome e miséria no país. 

corte de recursos pelo governo Temer, não é apenas uma medida de contenção de gastos, mas uma opção política calcada em uma concepção de que o sistema de proteção social constituído deve deixar de existir e deixa de ser prioridade, pois seus efeitos positivos não são necessários e custa muito financeiramente (a clássica posição fiscalista dos neoliberais). O corte de 98% dos recursos inviabilizará a existência real das ações de proteção. Estas políticas inclusivas e suas medidas protetivas então se manterão em pé apenas em tese. E estas políticas e programas passam assim a ser anuladas em seus efeitos e importância, porque sem orçamento que as sustente se configura como meras intenções e discursos vazios e cuja efetividade é quase nula, devido à redução de recursos.   

A diminuição dos recursos investidos no Bolsa Família gera uma queda no efeito multiplicador do investimento (Keynes) que deixa de ser aplicado em milhares de pequenos comércios nas comunidades e agrava mais ainda a crise econômica e o desemprego. Em uma conjuntura onde temos a retomada do crescimento das desigualdades e um avanço a olhos vistos da pobreza e do desemprego, políticas e programas compensatórios de transferência de renda (Bolsa Família) e proteção social são esvaziados e perdem sua capacidade de minimizar estes impactos nefastos na população mais vulnerável.

A quebra deste pacto social e federativo pelo governo Temer e a ausência dos estados coloca quase toda a pressão e responsabilidade sobre estas demandas sociais exclusivamente nos municípios porque estão mais perto da população de forma visível e terão a tarefa impossível de manter sozinhos as estruturas de proteção social existentes gerando um desgaste crônico com segmentos sociais cujos direitos estão sendo violados e que precisam acessar a assistência social.  

O resultado destas ações é um retrocesso gigantesco nas políticas públicas onde o Estado se retira e se ausenta do seu papel de efetivar os direitos sociais da população e voltamos ao modelo caritativo onde indivíduos com bom coração, empresas privadas, organizações sociais e alguns municípios têm de prover esta demanda social de forma fragmentada e inconstante.  

A grande tarefa neste momento é de dar visibilidade a este debate com a população de forma a denunciar e tentar evitar o desmonte do SUAS pelo governo Temer porque as suas duras consequências serão sentidas em todo o Brasil nos próximos dias meses e anos de forma grave!