Para analisar a realidade dos trabalhadores, do trabalho, do emprego e da renda no Vale do Sinos, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, reuniu os dados dos vínculos ativos no ano de 2015 da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS e fez-se a comparação com a movimentação do mercado de trabalho no Vale dos Sinos durante o ano de 2016 do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED.
Trabalho e escolaridade do trabalhador em 2015
Do total de 363.933 trabalhadores formais do Vale dos Sinos em 2015, 40,1% estavam no setor de serviços, 34,2% estava na indústria, 21% estavam no comércio, 4,5% na construção civil e 0,2% no agropecuário, extrativo vegetal, da caça e pesca. Ao traçar o perfil setorial dos vínculos, o setor agropecuário apresentou o menor percentual de trabalhadores com ensino médio completo, sendo que quase 70% destes tem até o ensino médio incompleto; indústria e construção civil se concentraram relativamente mais nos graus de instrução ensino fundamental completo e ensino médio completo.
O comércio mostrou o maior percentual de trabalhadores com ensino médio completo no Vale dos Sinos, igual a 52,6%, e também a maior participação do médio incompleto (12,9%); e o setor que tem quatro em cada 10 trabalhadores, o de serviços, mostrou o principal percentual daqueles com ensino superior incompleto, de 22,3%, além de 1,1% com mestrado e 0,5% com doutorado. Logo, esses dois setores foram os que mais englobaram trabalhadores com graus de instrução mais elevados.
Nos cinco grandes setores da economia segmentados em graus de instrução, observou-se que em 2015 no Vale dos Sinos, 39,9% dos trabalhadores tinham até o ensino médio incompleto e 40,8% tinham o ensino médio completo, concentrando os graus juntos aproximadamente 80% do total de trabalhadores. Apenas 6,5% dos trabalhadores foram registrados com ensino superior incompleto, 12,2% com superior completo, 0,5% com mestrado e 0,2% com doutorado.
Canoas, em 2015, teve as mais baixas taxas de trabalhadores com escolaridade até ensino médio incompleto do Conselho Regional de Desenvolvimento – COREDE – contra 48% de trabalhadores com ensino médio completo, e Esteio teve a segunda menor participação de 6º a 9º do fundamental no mercado de trabalho e a segunda maior participação daqueles com ensino médio completo, de 47,5%.
Nova Hartz corresponde como município com a maior taxa de trabalhadores com até ensino médio incompleto (mais de 65% do total) e, tem, assim, as menores taxas do Vale dos Sinos em ensino médio completo, superior incompleto e completo. Inversamente, São Leopoldo apresenta-se como o município com a maior escolaridade dos trabalhadores, tendo os maiores percentuais observados a partir do ensino superior incompleto (22,6%), e ainda, 1,4% com mestrado e 1% no doutorado; e, ainda, Sapucaia do Sul figurou com a maior taxa de trabalhadores com ensino superior completo (16%).
Trabalho e remuneração do trabalhador em 2015
Pelo lado das faixas salariais de remuneração média dos trabalhadores por grande setor, com exceção dos serviços (69,1%), todos os outros concentraram mais de três quartos dos trabalhadores na faixa de até 3,0 salários mínimos. Assim, na indústria foi igual a 75,2%, na construção civil foi 80,7%, no comércio foi 87,5% e no agropecuário foram 91,9%. O setor do comércio apresentou a maior participação da faixa salarial até 1,5 salários mínimos, significando 36,6% dos trabalhadores do setor, e a construção civil a maior para a faixa de 1,51 a 3,0 salários mínimos, com 62,2%.
Nos serviços e na indústria do Vale dos Sinos em 2015 foi observada a maior incidência das faixas salariais mais elevadas: 14,1% dos trabalhadores dos serviços recebiam acima de 5,0 salários mínimos e, na indústria, esse percentual foi de 10,1%. Interessante destacar os três maiores municípios do COREDE: 52,2% dos trabalhadores de Canoas estão nos serviços e 18,3% na indústria; em Novo Hamburgo 41,3% estão nos serviços e 32,8% na indústria; e em São Leopoldo 45,1% estão nos serviços e 31,6% estão na indústria.
Se analisada a totalidade de trabalhadores do Vale dos Sinos, no mesmo ano, três em cada quatro recebia até 3,0 salários mínimos, equivalente a até R$2.364,00 de acordo com o vigente em 2015.
O comércio, em 2015, representava 39,6% dos estabelecimentos do Vale dos Sinos, os serviços 33,5% e a indústria 20,6%. Em média, 54,6% dos estabelecimentos tinham entre um e quatro empregados, 14,8% tinham entre cinco e nove empregados e 13,3% não tinham nenhum empregado registrado formalmente.
Movimentação em 2016: instrução maior e salário menor
Apenas o grande setor da Agropecuária, extrativo vegetal, caça e pesca teve saldo geral positivo, de 43 postos. Na Indústria, houve queda de 2.330 no número de postos de trabalho, na Construção Civil de 1.261, no Comércio de 472 e nos Servi-ços de 54.
O setor que mais atraiu trabalhadores com ensino médio completo foi o de serviços, com 938 postos criados; o de comércio, com 811 postos criados; e o industrial, com 269 postos criados. O comércio também foi o único de saldo positivo para trabalhadores com ensino superior incompleto ou completo, totalizando 211 postos adicionais em 2016. Por outro lado, o setor industrial é o principal responsável pelo significativo encolhimento de vagas para trabalhadores com fundamental completo (-990) e com 6º a 9º ano do fundamental (-797) seguido do comércio, que, respectivamente, fechou 622 postos na primeira instrução e 487 na última. Nos serviços, houve redução de 422 postos para trabalhadores com escolaridade a partir do ensino superior incompleto, e na indústria, onde esse número foi de 404. Na construção civil todas as escolaridades apresentaram saldos negativos, com destaque para aqueles com ensino fundamental completo (-356) e de 6ª a 9ª do fundamental (-292).
No resultado dos cinco setores da economia, trabalhadores com ensino fundamental completo perderam 2.250 postos e com 6º a 9º ano do fundamental perderam 1.968 postos. Aqueles com ensino superior completo aparecem em seguida com a redução em 632, depois os com ensino médio incompleto (-501) e os com o 5º ano do fundamental completo (-425). Trabalhadores com os menores graus de instrução também perderam postos: nos com até o 5º do fundamental completo a redução foi de 42 e para os analfabetos 11 postos de trabalho a menos. Criação de postos foi observada apenas para trabalhadores com ensino médio completo, com 1.753, e 2 de ensino superior completo.
Em Campo Bom, criaram-se 386 postos na indústria e em Nova Hartz, criaram-se 284 postos. Em Nova Santa Rita, criaram-se 186 postos no setor de serviços e, no setor de construção civil, a criação de postos de trabalho mais expressiva deu-se em Sapiranga, com acréscimo de 144. São Leopoldo foi o que mais criou vagas nos serviços (+228), Canoas e Estância Velha também se destacaram nos setores de comércio e serviços: Canoas criou 149 vagas no comércio e 181 nos serviços; e Estância Velha criou 137 vagas no comércio e 209 nos serviços.
Pelo lado do rendimento do trabalhador, os setores que apresentaram criação de postos de trabalho com média de até 1,5 salários mínimos foram a Indústria, com 3.404; o comércio, com 1.998; os serviços, com 2.701; e o agropecuário, extrativo vegetal, caça e pesca, com 73, totalizando um saldo de 8.022 postos criados ao longo de 2016 na faixa salarial de até 1,5 salários mínimos mensais.
O único setor que apresentou perda de empregos em todas as faixas salariais foi a construção civil. Para todas as faixas salariais a partir de 1,51 salários mínimos houve perda de empregos em todos os grandes setores da economia, sendo mais intensa na faixa de 1,51 a 3,0 salários mínimos, com perda de 8.187 postos no total, e depois de 3,01 a 5,0 salários mínimos, com perda de 2.280 postos no total do Vale do Sinos em 2016.
No contexto inseguro da contração do mercado de trabalho, o perfil dos trabalhadores que ainda conseguem ser inseridos é de maiores graus de escolaridade, submetidos a rendimentos médios nas faixas salariais mais baixas. Se faz necessário pensar sobre alternativas de renda e de seguridade social para além do trabalho, contraditoriamente nos tempos em que programas de assistência social de todos os níveis estão sendo enxugados como instrumento de corte de gastos federais.