26 Outubro 2023
O indicativo é do jornalista Octavio Enríquez: “Se observarem os periódicos, notarão duas coisas: artigos sem assinatura nem indicação de fonte. Isso revela o medo” instalado na Nicarágua do regime do déspota Daniel Ortega e Rosario Murillo. Octavio é um dos 185 jornalistas nicaraguenses que foram expulsos ou se autoexilaram, desde 2018, quando começaram os ataques do governo à imprensa local. O levantamento é de Voces del Sur, rede que defende a liberdade de imprensa.
A reportagem é de Edelberto Behs.
“Na Nicarágua está implantado um estado de terror e as pessoas não querem falar, pois têm medo”, diz Elmer Rivas, jornalista do portal Confidencial, autoexilado desde 2021. Não só as fontes que têm medo de informar, jornalistas também, tanto que alguns, entrevistados por esse portal, pediram anonimato. Mesmo atuando no exterior, mas escrevendo sobre o seu país, jornalistas têm evitado de assinar suas matérias.
Na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa a Nicarágua, que ocupava a 90ª posição caiu para a posição 158 nos últimos cinco anos. Jornalistas passaram a sofrer perseguições ou foram silenciados pelo fato de informarem sobre a repressão violenta e sistemática ocorrida nos protestos antigovernamentais de 2018 e por causa da crise sociopolítica.
Também empresas de comunicação sofreram represálias. A redação do Confidencial, em Manágua, foi ocupada pela polícia em duas ocasiões, sem ordem judicial. Numa segunda “visita” equipamentos de produção foram confiscados. O jornal La Prensa sofreu embargo governamental quanto à aquisição de papel e tinta. Teve que encerrar sua impressão em agosto de 2022.
Jornalistas exilados precisam, numa nova situação, começar do zero, reinventar-se, como comentaram três profissionais autoexilados, que informam sobre a Nicarágua a partir da Costa Rica. Todos os três apontaram o desafio de reportar sobre o país estando longe, sem vivenciar a situação.
Lugar de jornalista é a rua, entrevistar pessoas, ver, ouvir, compreender a situação, arrolou Isabel para Confidencial, usando um nome fictício para não ser identificada e evitar represálias.
O exílio, explica o portal Confidencial, “representa uma perda pessoal para jornalistas, que veem a sua vida mudar drasticamente. Com a fuga de jornalistas perde a liberdade de expressão e acontece uma escassez de fontes de informação”. Segundo a organização Repórter sem Fronteiras, na Nicarágua “praticamente não há meios de comunicação independentes devido à grande onda de repressão lançada pelo regime de Ortega contra a oposição, as organizações civis e a imprensa independente”.
Pelo menos quatro jornalistas que se exilaram para evitar a prisão foram declarados “traidores da pátria” e despojados de sua nacionalidade. Apenas os meios de comunicação online, tocados por jornalistas no exílio, denunciam os abusos governamentais.
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Daniel Ortega persegue imprensa e jornalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU