É demasiado longo e doloroso o silêncio do Vaticano, do Papa Francisco, diante dos crimes de Daniel Ortega

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29 Junho 2022

 

O ditador nicaraguense Daniel Ortega ordena o fechamento de todas as atividades de caridade das irmãs missionárias de Madre Teresa de Calcutá. Milhares de pobres, crianças, idosos e doentes deixados sem um mínimo de assistência. Um crime silencioso contra a humanidade.

 

A reportagem é publicada por Il Sismografo, 28-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

A última 'decisão surpresa' do casal ditatorial, Daniel Ortega - Rosario Murillo, marido e mulher, respectivamente presidente e vice-presidente da Nicarágua, é o fechamento de centenas de ONGs e associações territoriais de base, bem como o fechamento das obras de caridade das irmãs de Madre s. Teresa de Calcutá, depois de mais de 40 anos de serviço à caridade, religiosas imensamente amadas pelo povo nicaraguense. A maioria delas será obrigada a deixar gradualmente o país, deixando muitas crianças, idosos e doentes no abandono. Um verdadeiro crime da parte de Ortega.

 

Anteriormente houve dezenas de outras ações repressivas, assassinatos, expulsões, prisões ilegais, torturas e campanhas de ódio e morte, calúnias e mentiras, pois a lógica insensata do casal governante, que usurpou o nome do líder mais importante da nação, Augusto Cesar Sandino (1895-1934), é uma só: terra arrasada em torno de todos aqueles que não aceitam submeter-se ao governo de Ortega e seus paramilitares.

 

Em suma, uma reviravolta dramática da história: o "sandinismo" nascido para acabar com as ditaduras da dinastia Somoza que depois de algumas décadas se torna uma ditadura pior que as dos Somoza. A síntese histórica e humana dessa tragédia é o próprio Daniel Ortega que há vários anos vem perseguindo a Igreja Católica, bispos, padres, catequistas e agora também religiosas, gabando-se - com mentiras – de relações diretas privilegiadas com o Papa, ainda que em março passado tenha mandado expulsar em poucas horas, sem motivo algum, o Núncio de Francisco em Manágua.

 

O que mais surpreende nesta história, que acompanhamos e documentamos desde o início da crise em 2018, é a passividade e a fraqueza com que a Santa Sé, em particular o Pontífice, se comportou quase para não irritar ou incomodar um ditador feroz e implacável. Nos últimos anos, o Vaticano tem recebido muitos apelos para o diálogo, em busca de soluções consensuais, para a libertação de presos políticos e assim por diante... Mas Ortega nunca ouviu ninguém e sempre mentiu, como bem sabem nos escritórios da Secretaria de Estado. Entre a Sé Apostólica e os bispos da Nicarágua existe há vários anos, ainda que oculto e discreto, um conflito causado pela política vaticana do chamado método discreto, do silêncio estratégico, da amizade que domestica.

 

Na Nicarágua - mas também em outros lugares - essa maneira de agir não foi apenas um fracasso, mas custou muito ao prestígio e à autoridade da diplomacia vaticana. A credibilidade também se perdeu, como no caso do bispo auxiliar de Manágua, Mons. Silvio Báez, hoje de fato exilado em Miami, embora tenha sido transferido a mando do Papa da Nicarágua para Roma, onde nunca recebeu uma missão. Uma rocambolesca operação eclesial-diplomática em que, no final, apenas Ortega saiu vencedor. A igreja local também saiu enfraquecida ao máximo depois que o acordo de convivência pacífica foi negociado entre Ortega e o Vaticano (retirando o bispo Báez como o ditador queria).

 

A Sé Apostólica deu a impressão de que considera necessário calar ou mesmo ceder. Algo semelhante já havia sido visto - para restar apenas na América Latina - no caso das perseguições de Nicolás Maduro contra a Igreja na Venezuela.

 

Esse silêncio do Santo Padre, inexplicável e injustificável, causou e está causando graves dores à comunidade católica da Nicarágua e da América Latina. A Santa Sé deve corrigir alguns erros graves também para evitar que outros governos da região se sintam encorajados a silenciar a voz de centenas de bispos fiéis ao Magistério, ao Concílio e Aparecida.

 

É preciso reagir, confiar-se à parrésìa, ao impulso profético do Evangelho, à verdade acima de todas as coisas.

 

Diplomacia, geopolítica, geoestratégia e golpes midiáticos não são os caminhos da fé.

 

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