26 Março 2020
Uma combinação de causas, não sem implicações políticas e interesses econômicos, está colocando seriamente em risco os povos indígenas do Brasil. Com a extrema possibilidade da sua extinção, não só por causa do vírus, mas também de uma orquestração sub-reptícia que os põe na mira.
A reportagem é de Settimana News, 25-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Deve-se registrar um primeiro posicionamento por parte do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil: “O sistema de saúde brasileiro é, em geral, extremamente precário (...). A situação é muito pior para os povos indígenas, pois eles vivem em regiões onde faltam as infraestruturas mais básicas (...). Enquanto permanecerem nos seus territórios, eles poderão estar, de algum modo, seguros. Mas essas regiões devem ser fechadas ao acesso de todas as pessoas não indígenas” (A. E. Oliveira, secretário executivo do Cimi).
Os missionários e as missionárias católicos já adotaram essa medida, com diferentes consequências para as comunidades cristãs indígenas, dependendo da sua atual organização interna.
Em algumas regiões, isso não é um problema para a vida cristã cotidiana, porque as comunidades locais podem contar com seus próprios catequistas, lideranças locais e, às vezes, até com um clero indígena. Para outras, a situação certamente é mais precária e incerta.
Por outro lado, um bloqueio total das comunicações com o restante do Brasil, incluindo a entrada de bens de primeira necessidade, colocaria em grande risco a possibilidade de suprimento, expondo as populações indígenas a uma lenta extinção na falta deles.
Também é preciso levar em conta a atitude assumida pelos grupos evangélicos presentes no país, que vai exatamente na direção oposta: ou seja, continuar as penetrações nos territórios indígenas e o contato com as populações que ali residem.
O lema é que todos os serviços eclesiais de qualquer tipo devem seguir em frente como sempre, minimizando extremamente as consequências da pandemia.
Além disso, as atividades “clandestinas” das indústrias madeireira, de mineração e agrícola continuam aproveitando a situação de emergência sanitária.
O governo mantém uma posição ambígua: por um lado, decretou o fechamento total dos territórios indígenas (com as possíveis repercussões sobre o suprimento os bens de primeira necessidade mencionados acima); por outro, manteve o acesso a essas regiões “para atividades que sejam essenciais à sobrevivência” dos povos indígenas que ali vivem. Cláusula interpretada com amplas margens de liberalidade pelo departamento do governo para os povos indígenas, gerido nos seus papéis-chave por “evangélicos fundamentais” (A. E. Oliveira).
Não se deve esquecer da situação anterior em relação a muitas disputas sobre os territórios indígenas em curso entre as populações locais, por um lado, e o governo ou grupos de agricultores, por outro. Há a preocupação de que “pessoas que têm interesses (econômicos e exploratórios) nos territórios indígenas possam tirar vantagem do caos causado pela pandemia” (A. E. Oliveira).
É interessante notar, nessa passagem, que a região amazônica de Brasil é atualmente a mais capaz de enfrentar a situação e de levar em frente a batalha pelo reconhecimento dos seus direitos.
Como ressalta Dom Adriano Ciocca Vasino, bispo de São Félix do Araguaia, “a proteção contra intromissões indevidas e potencialmente perigosas nos territórios neste momento pode ser implementada pelas lideranças indígenas locais (...). A organização dos grupos indígenas é capaz de implementar medidas que impeçam a entrada de pessoas externas aos territórios”.
E é precisamente nas regiões amazônicas do país que a vivência da comunidade cristã pode continuar, em situação de emergência, como sempre, dispondo em seu próprio interior de todas aquelas figuras pastorais que permitem a vida cotidiana da fé.
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Brasil: rumo à extinção dos povos indígenas? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU