CEBs: utopia da Igreja em saída. 16º Encontro Estadual das CEBs, São Leopoldo, RS

Com fé na caminhada e a opção pereferencial pelos pobres, as CEBs realizam o seu 16º Encontro Estadual em São Leopoldo, de 19 a 21 de abril de 2024

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

Por: Gabriel Vilardi e Cristina Guerini | 19 Abril 2024

“A Igreja é como a água: se a água não corre no rio, fica estagnada e adoece”, assim Francisco exortou os participantes do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs para trilhar a estrada de uma Igreja em saída, porque, conforme o pontífice, quando “a Igreja sai, caminha, se sente mais forte”.

 

Como atesta o livro do Êxodo (Êx. 3,7-8b), Deus atua na história da humanidade como o Libertador, que vê e ouve a miséria e as angústias de seu povo escravizado, libertando-o de toda a opressão. Na esteira da melhor tradição bíblica, um novo modo de ser Igreja se constituiu na América Latina: “uma Igreja pobre e para os pobres”.

Essa “Igreja pobre e para os pobres” é configurada como a Igreja do Povo de Deus, aquela que se coloca à caminho e que trabalha em mutirão, na busca da vida em abundância para todos e todas, conforme o projeto do Reino de Jesus de Nazaré.

Assim, fundadas na Palavra de Deus e alimentadas por uma espiritualidade profética, as CEBs trazem, no seu mais profundo, a opção pelos pobres e marginalizados, concretizando-se no compromisso com as transformações estruturais da sociedade. Entre as madres e padres da Igreja de base, ressoa com força o testemunho do Profeta do Araguaia, Pedro Casaldáliga, na ocasião em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp:

“Aqui falamos de uma utopia. Dessa utopia, vocês todos, companheiras e companheiros de caminhada, participam comigo e com milhões de pessoas que nos precederam, dando até o sangue e também repartem com milhões que, hoje, vivem, lutam, caminham e cantam. Essa utopia está em construção. Somos operários e operárias dessa utopia em construção. Nós a proclamamos e a realizamos. É dom de Deus e, ao mesmo tempo, é conquista nossa. [...] Não só fazemos caminho andando: somos caminho. [...] Até que alcancemos a estatura do humano perfeito, conforme a medida daquele que, para os poderes religiosos, econômicos e imperiais, fracassou e foi excluído como maldito subversivo ‘fora da cidade’ em uma cruz. No entanto, é o Ressuscitado que ‘faz novas todas as coisas’, revolucionando todas as consequências e todas as estruturas da própria morte. [...] Cremos na Páscoa. Somos Páscoa.”

Ao lado dos marginalizados, no caminho da Igreja em saída e na utopia de um tempo melhor, as CEBs do Rio Grande do Sul reúnem-se em seu 16º Encontro Estadual das CEBs, em São Leopoldo, de 19 a 21 de abril de 2024. Veja aqui a programação completa

Memória das CEBs

As Comunidades Eclesiais de Base – CEBs surgem como uma primavera na Igreja do Brasil, antecedendo mas sendo fortalecidas pela efervescência do Concílio Vaticano II, que acabara de ocorrer.

Estamos na década de 1960 e mergulhados em um mundo – e uma Igreja – em ebulição.

No globo, a década ficou marcada pela chegada do homem à lua, a Guerra Fria, a Crise dos Mísseis, o movimento de Maio de 1968 e o apartheid africano. No Brasil, os militares preparavam – e concretizaram – o golpe civil-militar de 1964.

Em Roma, ocorria um dos mais importantes movimentos da história da Igreja Católica, o Concílio Vaticano II. Convocada pelo Papa João XXIII, a reunião começou em 11-10-1962 e terminou em 08-12-1965, já conduzida pelo Papa Paulo VI.

O Vaticano II culminou em um processo de modernização da Igreja que segue se desdobrando até hoje, apesar das resistências dos dois últimos pontificados. Em um duplo movimento, a Igreja se abriu para os novos tempos e voltou às fontes dos primeiros séculos, recuperando um cristianismo mais original.

Imbuída pelo espírito de transformação desse kairós, a Igreja caminhava para um processo de renovação por meio das Comunidades de Base, que emergiram como alternativa às centralizadas paróquias. Neste tempo, é criado um Plano de Pastoral de Conjunto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e ocorre a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Medellín, (1968), que culmina na realização do 1º Encontro Intereclesial, em 1975.

A partir de então ocorre um processo de construção de comunidades inclusivistas, as CEBs, que se espalham pelo Brasil e pela América Latina. À época, eram grupos reunidos pela proximidade territorial das classes populares que tinham como objetivo ler a Bíblia em consonância com a vida, a realidade política e social e com as misérias cotidianas da vida comunitária.

Nos longos anos dos papados de João Paulo II e Bento XVI, viveu-se um inverno eclesial, com freios e retrocessos às mudanças e renovações conciliares. A Teologia da Libertação, produzida na América Latina, não era bem vista nos palácios vaticanos. Para alguns, calcada numa visão eurocêntrica, faltava à Cúria Romana compreender o contexto histórico de exploração a que estava submetido o continente. Isso gerou perseguições a grandes teólogos e teólogas, tais como os brasileiros Leonardo Boff e Ivone Gebara.

Com a eleição do primeiro papa latino-americano, houve uma grande viragem eclesial-teológico-pastoral. O pontífice, que veio do fim do mundo, sabia que era fundamental ter um olhar especial para as periferias geográficas e existenciais. Filho do Vaticano II, entendeu que não caberia discutir o Concílio, mas colocá-lo em prática.

A partir do início do seu pontificado, Jorge Mario Bergoglio defendeu uma Igreja em saída e samaritana, que não tenha medo de se aproximar dos feridos pelo caminho e se tornar um acolhedor “hospital de campanha”.

Verdadeiros espaços de resistência, ainda que minoritárias e sem apoio ou entusiasmo de padres e bispos na maioria dos lugares, as Comunidades Eclesiais de Base ganharam um novo impulso e vêm assumindo com coragem as provocações do papa jesuíta.

Desde o 13º Intereclesial, em 2014, até o 15º Encontro, em 2023, Francisco tem feito questão de enviar mensagens especiais e apoio financeiro. Sua proximidade e legitimação do movimento são correspondidos pelo carinho dessas pequenas comunidades que teimam em viver uma fé encarnada, partilhada em uma estrutura menos hierarquizada e mais circular, com uma leitura crítica da realidade.

Por muito tempo e ainda em alguns redutos, as CEBs implicaram numa experiência de Igreja com forte protagonismo laical, em que os leigos e as leigas são bem formados e agem com autonomia nas mais variadas frentes pastorais. Um modelo em que não há oportunidade para o clericalismo e o autoritarismo, males tão frequentemente criticados pelo Papa Francisco.

Para viver como Igreja de base, é preciso alargar o espaço da tenda, conforme o relatório da etapa continental do Sínodo sobre Sinodalidade. Afinal, a Igreja é um “lugar para todos – todos, todos, todos”, conclamou o pontífice argentino durante a Jornada Mundial da Juventude – JMJ em Portugal, no ano passado. Isso deve ser traduzido em uma Igreja que se preocupa com inclusão e diversidade, as migrações, os gritos das mulheres, da Terra e das juventudes periféricas e excluídas, bem como com uma comunicação transmissora de vida e que possa Encantar a Política novamente.

Só assim, com um olhar amplo e questionador da realidade (ver), será possível fazer uma análise crítica aprofundada (julgar), para tomar decisões que levem à ações comprometidas com a transformação da sociedade (agir).

Trilha para refletir

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Inclusão e Diversidade

Quem sou eu para julgar?”, interpelou Jorge Mario Bergoglio na volta da sua viagem à JMJ, no Rio de Janeiro, ainda em 2013. Contudo, quando o Dicastério para a Doutrina da Fé, no documento Fiducia Supplicans, reconheceu que não se nega a bênção às pessoas LGBTIAQP+, inúmeras vozes de cardeais, bispos e padres conservadores se levantaram iradas. Se pudessem, atirariam pedras naqueles cristãos e cristãs que não vivem uma relação heterossexual, negando a face misericordiosa de Deus.

Mesmo que isso ainda seja tão incompreendido pela própria hierarquia, que não cansa de opor obstáculos à graça do Senhor, o papa tem insistido que a Igreja precisa avançar. Com passos tímidos e insuficientes, que continuam reforçando a dor da exclusão para alguns, enquanto que para outros trata-se da lógica do possível em meio a tantas pressões contrárias. Nesses termos foi publicada a declaração vaticana Dignitas Infinita, que, se ainda incorre em velhos chavões inaceitáveis, como, por exemplo, condenando a ideologia de gênero, pelo menos possui uma evidente e importante conquista ao condenar qualquer tipo de criminalização da orientação sexual.

Em carta ao padre jesuíta estadunidense James Martin, que desenvolve um profícuo apostolado com as pessoas LGBT+, Francisco foi claro ao sublinhar a necessidade de manter as portas da Igreja sempre abertas: “encorajo-vos a continuar trabalhando na cultura do encontro, que encurta distâncias e nos enriquece com as diferenças, tal como fez Jesus, que se aproximou de todos”.

Assim como as CEBs sempre se constituíram como espaços de liberdade e resistência às condenações hierárquicas, no Brasil também surgiram grupos pastorais de católicos LGBTs. Tolerados ou ignorados na maioria das dioceses, a partir das margens da institucionalidade mas sem perder sua identidade cristã, formaram a Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTs.

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Migrações

Recordes são quebrados a cada ano, em uma sequência aterrorizante de números explosivos de refugiados e deslocados. Os dados mais recentes falam de mais de 110 milhões de pessoas que precisaram fugir de seus lares em razão de algum tipo de perseguição ou conflito. Migrantes submetidos às condições mais atrozes de travessia para encontrar um lugar em que possam ficar em segurança. O Mar Mediterrâneo virou um cemitério, o deserto de Darién um calvário, gangues e quadrilhas internacionais lucram centenas de milhões de dólares a partir do desespero e da vulnerabilidade de quem busca o sonho de uma vida melhor.

O mundo vive uma Terceira Guerra Mundial em pedaços, como repete com insistência Francisco, que não tem permitido à Igreja permanecer indiferente a esta realidade. Com conflitos se multiplicando em todo o globo, este tem sido um tema recorrente de seu pontificado, abordado com lucidez e profecia. Síria, Sudão do Sul, Iêmen e Haiti são também guerras que significam morte, medo e dor por toda a parte...

A guerra russo-ucraniana ameaça arrastar a Europa para uma escalada militar sem precedente, inclusive com uma catastrófica ameaça atômica. Na Faixa de Gaza o planeta que já acompanha uma população sitiada há décadas, cercada por muros e barreiras humilhantes, agora constata atônito um genocídio impiedoso pela destruição e pela fome…

O Brasil, que é pátria de muitos povos migrantes que aqui chegaram nos últimos séculos, continua recebendo pessoas em busca de condições mais dignas de vida. E a Igreja, por meio de suas pastorais, serviços e comunidades, tem procurado responder a este chamado de “acolher, proteger, promover e integrar” os irmãos e irmãs migrantes e refugiados.

Da fronteira venezuelana com Pacaraima, em Roraima, continuam entrando centenas de milhares de migrantes todos os anos permitindo à Igreja local vivenciar uma profunda experiência samaritana, com inúmeras ações e projetos de acolhida, envolvendo organizações de todo o país. Entre os migrantes mais vulneráveis se encontram os Povos Indígenas, como os Warao, que nem sempre são compreendidos em suas especificidades culturais e acabam empurrados para uma dupla situação de marginalidade.

Para ler mais sobre migrantes e refugiados

Trilhas para refletir

Terra

A história dos Povos Indígenas no Brasil é marcada por exploração, massacres e extermínio. Depois dos últimos anos de um governo anti-indígena e com promessas de que haveria uma ruptura com aquela política indigenista de morte, o país continua acompanhando a barbárie do genocídio Yanomami em razão do garimpo ilegal.

Mesmo depois de uma longa batalha jurídica no Supremo Tribunal Federal, que declarou a inconstitucionalidade da tese do Marco Temporal, o Congresso declarou guerra aos direitos indígenas ressuscitando a absurda e acintosa interpretação restritiva. Novamente a questão está parada nos escaninhos da Suprema Corte, enquanto seguem travadas as demarcações de Terras Indígenas.

Nessa situação de indignidade e vulnerabilidade permanecem centenas de comunidades que ainda não tiveram seus direitos reconhecidos (mais de 500 TIs não viram nem sequer iniciado o seu processo demarcatório), como manda o art. 231 da Constituição Federal. Quantas pessoas mais terão que morrer em luta pelos territórios ancestrais?

Formada desde a colonização por grandes latifúndios, a injusta concentração de terras nas mãos de poucas famílias, no Brasil, pouco mudou nos últimos séculos. Afinal, isso nunca foi prioridade de governo algum. Atenta a essa realidade de exclusão, a Igreja se colocou ao lado dos pequenos agricultores e dos trabalhadores rurais sem-terra por meio da Pastoral da Terra. Todos os anos a Comissão Pastoral da Terra compila e publica o importante Caderno dos Conflitos do Campo, documento fundamental para denunciar e exigir do Estado as necessárias políticas públicas.

Esse imprescindível trabalho de conscientização e organização deu origem ao maior movimento social da América Latina e um dos maiores do mundo, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra - MST. Em 2024, o MST completou 40 anos de existência, convicto de que a reforma agrária só acontecerá mediante a pressão social das massas excluídas. E para isso cada vez mais tem se reconhecido o imprescindível protagonismo das mulheres nessa luta.

Trilha para refletir

Para ler sobre a luta indígena e a luta pela terra

Mulheres

Esse reconhecimento, apesar de importantes gestos do Papa Francisco nos últimos anos ao aumentar o número de mulheres em posições de decisão na Cúria Romana, não vem se concretizando em maiores e mais que inadiáveis avanços. No ensejo de aprofundar as reformas necessárias, o pontífice convocou o Sínodo sobre Sinodalidade para discernir sobre múltiplas questões. Entre estas está a questão do não lugar das mulheres na Igreja, que vivem uma histórica e escandalosa situação de marginalização.

Para que se possa desmasculinizar e despatriarcalizar a Igreja, como pediu recentemente o papa, algumas mudanças vão ser necessárias. Devem-se aprofundar a teologia dos ministérios e a possibilidade de ordenação de diáconas, como já acontecia nos primeiros séculos do cristianismo. O exercício da autoridade na Igreja, assim como vem ocorrendo na sociedade, precisa ser urgentemente reconfigurado. Sob pena de se terminar em uma estrutura caduca e completamente ultrapassada, que nada ou pouco fala para as pessoas de hoje.

Mas talvez a principal delas seja uma profunda transformação na mentalidade da hierarquia, começando por uma corajosa reforma na formação do clero. As estruturas dos seminários e das próprias paróquias precisam ser repensadas para favorecer uma verdadeira Igreja sinodal, em que todos se sintam corresponsáveis. E certamente que as mulheres não podem mais, depois de tantos séculos de silenciamento, ser mantidas do lado de fora desses espaços.

Ignorar tais apelos da Divina Ruah [sopro de vida] por mais tempo pode levar ao perigo de que essas injustiças acabem maculando a própria credibilidade dos seguidores e das seguidoras da Boa Nova de Jesus de Nazaré.

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Para ler mais sobre o papel das mulheres na igreja

Juventude

Se rigorismos e moralismos enrijecem a Igreja e afastam o frescor da juventude, não podemos esquecer que “Deus é jovem”. Por ocasião do Sínodo dos Jovens, em 2018, Francisco publicou um livro-entrevista sob esse título, preocupado em manter sempre aberto o diálogo com os mais jovens. Em comunidades cada vez mais envelhecidas a escuta e o acompanhamento das novas gerações é fundamental não só para o futuro, mas para a vitalidade do presente da Igreja.

Com taxas de abandono que permanecem elevadas, para muitos jovens a incoerência e o contratestemunho dos escândalos dos abusos e de uma moral sexual que perdeu sentido levam-nos ao afastamento da comunidade de fé. Por outro lado, uma Igreja autorreferencial, intimista e fechada em suas sacristias leva à perda de relevância do espaço comunitário-eclesial. Contra essas situações, o Papa tem conclamado a juventude a se insurgir e fazer barulho na construção de uma Igreja mais acolhedora e que se preocupa com as injustiças do mundo.

Nessa missão vem trabalhando a Pastoral da Juventude há mais de 50 anos, não sem muitas incompreensões e resistências da própria hierarquia. Por isso, em mensagem à PJ em 2023, Francisco exortou os jovens a seguirem com coragem, ousadia e criatividade, sem desanimar nem deixar que lhes roubem a esperança.

Entre as figuras inspiradoras, que dedicou grande parte de sua vida a acompanhar a juventude, está o padre jesuíta Hilário Dick, que muito contribuiu com lucidez e profecia na caminhada da pastoral ao longo de décadas.

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Para ler mais sobre juventude

Comunicação

Em um mundo em que os extremismos e a desinformação assumem cada vez mais espaço, a Igreja não foi poupada desses ataques de ódio e divisões virulentas. Minoritários mas bem articulados e fortemente financiados, esses grupos conservadores promovem suas cruzadas virtuais contra os infiéis que elegem combater. Nem mesmo o papa escapou dessa fúria, sendo comumente acusado de “comunista” e “herético”.

No universo das redes sociais o fenômeno dos influenciadores digitais católicos cresce com uma força impressionante. E o excelente estudo publicado sobre o tema, Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas, constatou a necessidade de se enfrentar com seriedade essa situação. Afinal, esses missionários no ambiente digital parecem estar mais a serviço de seus interesses pessoais do que propriamente de uma ação evangelizadora ou uma comunicação para o amor.

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Encantar a política

Fundamental ainda que nestes tempos conturbados a fé cristã traga uma palavra de paz e de vida em abundância para todos e todas. Apesar dos riscos de virar uma Igreja autocentrada e circunscrita a um punhado de ritos, as Comunidades Eclesiais de Base encarnam em si uma fé inserida no coração da humanidade ferida. E isso implica discernir criticamente a realidade e tomar posição, comprometendo-se com a Boa Política, como aponta a encíclica Fratelli Tutti.

Preocupada com a violência política e com o neofascismo que perverte a fé, a CNBB adotou como tema da Campanha da Fraternidade de 2024 a amizade social, para superar essa mentalidade de sócios em constante disputa de interesses. É dever de todo cristão se posicionar sempre a favor dos empobrecidos e marginalizados por esta economia que mata e está baseada na cultura do descarte. Com a criminalização da política vista nos últimos anos, bem como o crescimento de posturas que flertam com o autoritarismo, encantar a política é missão mais do que necessária.

Como é próprio da fé cristã, fazer memória dos 60 anos do golpe civil-militar significa também resistir ao totalitarismo de hoje. Nesse sentido, a Igreja da Libertação combateu corajosamente a ditadura, assumindo uma postura de profecia e defesa da liberdade e dos direitos humanos. Impossível não se lembrar dos pastores que se colocaram ao lado do povo humilhado e foram contrários aos generais dos anos de chumbo. Dom Dom Hélder Câmara: um ex-integralista nos altares. Artigo de Luís Corrêa Lima, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Tomás Balduíno, Dom Luciano Mendes de Almeida e tantos outros que não se calaram ante às arbitrariedades…

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Para ler mais sobre o caderno Encantar a política

Mártires da Caminhada

Junto aos Mártires da Caminhada que testemunharam com o próprio sangue a fidelidade ao Reino de Justiça, as CEBs possam permanecer atentas e firmes ao chamado de serem espaços de partilha fraterna da Palavra que questiona e de resistência do Evangelho da Vida que convoca à ação libertadora. No centro está Jesus, que ensina que aquele que não ama seus irmãos, não ama a Deus. Que esse convite tome carne nos rostos dos oprimidos e a fé cristã seja assim revolucionária no amor!

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