Dá para entender por que Netanyahu e os ministros do pior governo da história do Estado judeu querem aniquilar o Haaretz. Por muitas razões, uma das quais é fechar a voz da consciência crítica de Israel: Gideon Levy.
A reportagem é de Umberto De Giovannangeli, publicada por l'Unità, 03-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma consciência que não dá descontos, que não tranquiliza, mas que confronta um país com verdades incômodas.
Levy escreve: “Todos os israelenses que se sentem insultados, chocados ou alarmados pela emissão de mandados de prisão contra o primeiro-ministro Netanyahu e o ex-ministro da Defesa Gallant não são aptos para testemunhar. Todos os israelenses que mancham o Tribunal Penal Internacional em não podem testemunhar. Todos os israelenses que gritam 'antissemitismo' são proibidos de testemunhar. Na realidade, quase todos os israelenses não podem testemunhar. Afinal de contas, o que viram de Gaza no último ano? Que ideia têm do que está sendo feito lá em seu nome? A quanta destruição foram expostos e quantos corpos de crianças destruídos viram?”
"Quantas vezes viram hospitais arrasados e escolas demolidas que se tornaram abrigos, para depois serem bombardeados? Por acaso viram o rosto de uma criança faminta, os comboios de transferência, as cadeiras de rodas e os amputados que se arrastam pela areia? Que ideia têm dos crimes que estão ocorrendo lá? Não se pode assumir uma posição chocada sem ver o que Israel fez em Gaza. Os israelenses não viram nada e não quiseram ver. É por isso que eles não têm o direito de julgar os mandados de prisão”. Eles também não viram por causa das mídias cooptadas pela guerra de Netanyahu.
Levy observa: “Na hora mais patética de todos os tempos, as mídias israelenses os ajudou a não ver nada, não saber nada e não ouvir nada, e é por isso que os israelenses não podem testemunhar. O que sabem sobre Gaza é semelhante ao que sabiam sobre Ruanda na época, e é por isso que não podem expressar nenhum juízo moral. Depois de tantos anos de lavagem cerebral e desumanização dos palestinos, não se pode confiar na capacidade de julgamento nos israelenses. Isso deveria ser deixado para os juízes de Haia, que sabem melhor do que os israelenses o que é permitido e o que é proibido, mesmo para Israel, mesmo para os judeus após o Holocausto, mesmo para os israelenses após o 7 de outubro. As pessoas que duvidam da justiça do tribunal e pedem para enfraquecê-lo são como aquelas que procuram perpetrar um golpe judiciário em Israel, tentando subverter seu sistema judiciário. O juiz não é um idiota. Nem o ministério público. Eles estão simplesmente cumprindo seu papel”.
Levy vai ao cerne da questão: “Quando Israel condena por unanimidade a decisão do tribunal, de Itamar Ben-Gvir a Yair Golan, passando pelo líder da oposição Yair Lapid, isso mostra mais uma vez como os israelenses sofreram uma lavagem cerebral e não estão aptos a testemunhar.
Os únicos que sabem o que aconteceu em Gaza são os soldados. Eles são decididamente desqualificados. A maioria deles está orgulhosa do que fez, conforme evidenciado pelos vídeos revoltantes que publicam.
Os outros estão convencidos de que não havia escolha a não ser participar dessa campanha punitiva bárbara. Assistem à limpeza étnica e vivem em paz com ela, convencidos de que a destruição seja ordenada pelos céus, que a culpa é dos palestinos e que toda a Gaza é o 7 de outubro”.
Essa é a situação. O governo em que os ministros competem para ver quem é mais fascista também conseguiu desumanizar a instituição na qual o país inteiro sempre se reconheceu: o exército.
Levy escreve: “Leiam as palavras de um reservista, publicadas no Haaretz em 22 de novembro: ‘Os únicos que se agitam por qualquer coisa aqui são os animais’, escreve ele. Quase nenhum soldado se recusou a obedecer a uma ordem. Não os pilotos que bombardeavam sem piedade e indiscriminadamente, não as forças de artilharia, não as unidades de infantaria ou de tanques. Eles se acostumaram rapidamente com o que estavam fazendo, com o que viam, e depois o normalizaram e justificaram.
Certamente não podem ser testemunhas a serviço da causa da justiça. O Primeiro-Ministro e o ex-Ministro da Defesa foram processados pelo mundo, porque o mundo viu e não pôde se calar. Se o tivesse feito, o Tribunal de Haia teria falhado em seu dever.
O que deveria ter feito diante de tamanha escala de limpeza étnica, fome e assassinatos em massa de crianças? Não emitir mandados de prisão? Os fatos clamam do solo manchado de sangue da Faixa de Gaza em ruína e alguém deve ser chamado a responder. O primeiro-ministro e o ex-ministro da Defesa são um bom começo. Essas coisas são difíceis de digerir para os israelenses, que vivem em uma realidade ilusória. Isso foi bem definido pelo professor Rashid Khalidi em uma entrevista concedida ao suplemento de fim de semana em hebraico do Haaretz na última sexta-feira. ‘Pelo amor de Deus, vocês acham que não sabem ler hebraico?’, perguntou alguém que conhece a mentalidade israelense mendaz melhor do que a maioria dos israelenses.
Quem vive em uma realidade mendaz não pode testemunhar. O coração se enche de vergonha e tristeza.
Não pelos mandados de prisão, mas pelo que fizemos”, conclui Levy.
Agora vocês entendem por que querem aniquilar o Haaretz.
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