Oito meses de genocídio: Israel continua a atacar Gaza e a Cisjordânia

Foto: OMS

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07 Junho 2024

Durante a noite de 6 de junho, o exército israelense continuou a bombardear o centro da Faixa de Gaza. O prefeito de Nuseirat e sua família estão entre as vítimas dos últimos ataques.

A reportagem é publicada por El Salto, 07-06-2024.

Ontem, após um novo ataque a uma escola da UNRWA no campo de refugiados de Nuseirat, que resultou na morte de 40 pessoas - de acordo com os últimos números das autoridades de Gaza - Israel enfrentou críticas por mais uma agressão a uma infraestrutura das Nações Unidas, alegando que se tratava de um "ataque preciso contra um complexo do Hamas". Vários meios de comunicação revelaram o uso de armamento americano no ataque.

Os ataques do exército de ocupação não cessaram durante a noite, destruindo um prédio residencial no campo de refugiados de Maghazi, onde pelo menos quatro pessoas teriam morrido, conforme relatado pela Al Jazeera. Outro prédio residencial em Deir el-Balah foi atacado durante o dia de ontem, resultando na morte de pelo menos três pessoas. Uma ofensiva contra um prédio municipal no centro de Gaza resultou na morte de pelo menos cinco pessoas, incluindo o prefeito de Nuseirat, Iyad al-Maghari, e sua família. Al-Maghari não é o primeiro prefeito morto pelo exército de ocupação; Marwan Hamad, prefeito de Al-Zahra, e Hatem Al-Ghamri, prefeito do campo de refugiados de Maghazi, também foram vítimas do exército de ocupação.

Os constantes ataques israelenses ao centro de Gaza levaram ao colapso do único hospital ainda em funcionamento na área, o hospital Al-Aqsa, sobrecarregado pelo constante influxo de feridos. "Os pacientes que chegam ao Al-Aqsa em estado crítico permanecem no Al-Aqsa e morrem no Al-Aqsa. E ainda assim, a equipe médica diz 'não vamos abandonar nossos pacientes', e eu testemunho isso com certeza. Só não tenho certeza por quanto tempo será possível", explicou Karin Huster, responsável médica do Médicos Sem Fronteiras em Gaza, em um comunicado da organização presente no hospital, denunciando a insustentabilidade da situação.

Os hospitais na faixa têm sido um alvo recorrente do exército sionista; a OMS relatou ter documentado 464 ataques a infraestruturas de saúde na faixa desde o início da ofensiva contra Gaza. Oito meses após o início, os números do ministério da saúde de Gaza contabilizam 36.654 mortes e mais de 83.300 feridos, com milhares de pessoas ainda desaparecidas sob os escombros.

Sem acesso à saúde na Cisjordânia

Mas as violações do direito à saúde dos palestinos não se limitam à castigada Faixa de Gaza. Segundo um estudo da Médicos do Mundo, as restrições ao movimento de pessoas na Cisjordânia desde 7 de outubro passado têm dificultado gravemente o acesso à assistência médica da população.

Em seu relatório Saúde bloqueada: como as barreiras militares israelenses estrangulam o acesso à saúde em uma vila da Palestina, a organização se concentra no caso da vila palestina de Al Walaja como exemplo do declínio dos serviços de saúde como consequência da ocupação, obrigando os palestinos a atravessar uma barreira militar israelense para acessar os serviços de saúde nesta localidade, cercada pelo muro que separa a Cisjordânia.

"As pessoas se sentem como se estivessem vivendo em uma prisão porque não podem sair da vila sem passar por vários postos de controle israelenses", relata o testemunho de um médico no relatório. Pacientes crônicos e psiquiátricos abandonados sem tratamento, crianças e mulheres grávidas privadas de cuidados médicos são casos encontrados pela organização durante esta pesquisa realizada nos primeiros meses de 2024.

Além das dificuldades de acesso à saúde, Israel continua a atacar equipes de paramédicos que socorrem vítimas dos contínuos ataques à população na Cisjordânia. A última denúncia da Cruz Vermelha palestina remonta a ontem, quinta-feira, quando as forças israelenses abriram fogo contra uma ambulância que tentava recuperar os corpos das vítimas de uma incursão do exército de ocupação em Jenin, onde três pessoas morreram.

Expulsões e apropriação

Enquanto os ataques do exército continuam a causar vítimas em Gaza e na Cisjordânia, a violência contra os palestinos no restante do território não cessa. Segundo relatos do The Guardian, o exército israelense estaria constantemente desmantelando acampamentos beduínos no deserto de Negev, em uma campanha que visa a expulsão de uma população de cerca de 500 beduínos que vivem há décadas em Wadi al-Khalil, a cerca de 20 quilômetros de Gaza.

No início de maio, Israel demolia dezenas de casas dessas famílias, deixando centenas de crianças sem abrigo. Desde então, as famílias afetadas têm erguido barracas para abrigar suas famílias, tendas e barracos que o exército israelense destrói novamente a cada poucos dias, segundo denunciado pelo grupo afetado ao The Guardian. Há muito tempo, as autoridades israelenses planejam expulsar essa população para expandir uma rodovia.

Itamar Ben-Gvir, o ministro ultra-direitista da segurança nacional, considera a demolição dessas casas, às quais chama de "ilegais", como "um passo importante". Segundo a organização Adalah, antes da criação do Estado de Israel, cerca de 92.000 beduínos palestinos viviam no deserto de Negev, restando apenas 11.000 após a Nakba.

Ben-Gvir também recentemente protagonizou um vídeo no qual afirmava "Jerusalém é nossa, a mesquita de Al Aqsa é nossa". Por sua vez, o ministro das finanças Bezalel Smotrich expressou sua intenção de reconstruir Kfar Daro, um dos assentamentos presentes na Faixa antes da saída dos colonos em 2005.

Segundo relatado pela agência Associated Press, uma das objeções para assinar a última proposta de cessar-fogo dos Estados Unidos é precisamente que o rascunho comprometeria Israel a não alterar demograficamente ou territorialmente a Faixa, ou seja, a não avançar em seu projeto de restabelecer assentamentos no território. Enquanto isso, os Estados Unidos, junto com 16 estados, publicaram ontem um comunicado pressionando Hamas e Israel a assinar a resolução patrocinada por Biden.

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