27 Junho 2024
Danilo Feliciangeli é o operador da Caritas Italiana encarregado da coordenação dos projetos de ajuda às populações do Oriente Médio. De volta da Jordânia e prestes a iniciar uma nova missão em Jerusalém – onde ele acompanhará o diretor, padre Marco Pagniello – nós o lhe fizemos algumas perguntas sobre a situação e o estado dos socorros à população de Gaza.
A reportagem é de Giordano Cavallari, publicada por Settimana News, 25-06-2024.
Querido Danilo, imagino que você esteve na Jordânia tanto para ajudar a população jordaniana quanto em função de Gaza.
Exatamente. O vínculo entre a Jordânia e Gaza é muito forte. A Jordânia é o único país da região que até hoje não conheceu envolvimento direto em guerra. Mas a população palestina da Jordânia – a maioria – está claramente emocionalmente envolvida e muito afetada, em geral, pelo que está acontecendo em Gaza e na Cisjordânia.
Qualquer manifestação festiva foi interrompida. A música desapareceu dos locais e até das casas, substituída por luto e solidariedade aos irmãos palestinos de Gaza e da Cisjordânia. Isso me impressionou muito.
Embora não tenha havido consequências diretas, houve muitas consequências indiretas, incluindo as econômicas, que são realmente graves. Devido à guerra, a Jordânia está pagando um alto preço, especialmente com a queda do turismo que afeta a economia local. A Jordânia também é Terra Santa. As peregrinações e viagens para a Jordânia praticamente cessaram. Um dos projetos discutidos com a Caritas Jordânia, juntamente com outros, prevê, graças às parcerias que estamos estabelecendo com algumas regiões italianas, a retomada das visitas e peregrinações à Jordânia. Quando possível, o melhor caminho da caridade é sempre aquele que passa pela normalidade da vida, uma vida boa, na fraternidade.
Agora, na Jordânia, há também a necessidade contínua de assistência básica para satisfazer as necessidades primárias dos muitos pobres. Mas estamos tentando, juntos, olhar um pouco mais adiante – além da guerra – para condições em que projetos como pequenas artesãs ou produção de culturas locais típicas possam ser revitalizados.
E em relação a Gaza?
Como talvez você se lembre, ajuda é enviada da Jordânia para Gaza em forma de itens essenciais: seja por terra, através de Israel e do cruzamento de Kerem Shalom, seja por via aérea, com escala em Rafah; mas isso só ocorre quando é possível, ou seja, quando as operações militares permitem e os trânsitos são autorizados. Embora seja uma operação valiosa para as pessoas na Faixa de Gaza, ainda é um tipo de ajuda que está muito aquém das necessidades atuais.
Quem sustenta essa ponte de ajuda da Jordânia para Gaza?
A fundação ligada à Casa Real da Jordânia, que está conectada a várias ONGs, incluindo a Caritas Jordânia, apoiada também pela Caritas Italiana.
Você tem contatos com pessoas dentro da Faixa de Gaza?
Como eu mencionei em março, desde 07-10-2023, a entrada e saída de trabalhadores humanitários de Gaza é praticamente impossível. Mas a Caritas Jerusalém está presente em Gaza desde muito antes de 7 de outubro e mantém cerca de 80 trabalhadores gazenses que têm feito e continuam a fazer um trabalho imenso, em condições extremamente difíceis.
Um mês atrás, em meados de maio, ocorreu a primeira visita desde 7 de outubro do cardeal Pizzaballa aos cristãos das duas paróquias – católica e ortodoxa – de Gaza. Com ele, o pároco padre Romanelli pôde retornar, após um longo período de espera fora da Faixa. Nossos contatos com Gaza passam, portanto, por essas pessoas mencionadas, amigos e colegas da Caritas Jerusalém, que fazem a ponte de Gaza a partir de Jerusalém.
Onde estão e o que os operadores da Caritas podem fazer em Gaza?
Os operadores da Caritas estão em Gaza City – nas duas paróquias católica e ortodoxa – onde reativaram o complexo de assistência médica e psicológica após o desmantelamento da clínica que já operava na cidade. E também estão próximos a Rafah – entre Rafah e Khan Yunis especificamente – onde reativaram rapidamente a clínica médica anteriormente ativa para campos de deslocados em Rafah, após a intervenção militar terrestre israelense.
Eles realizam primeiros socorros e intervenções médicas básicas, além de assistência psicológica, especialmente para crianças traumatizadas. Eles fazem tudo o que podem, com evidentes limitações de pessoal em relação ao número de pessoas que precisam de ajuda; além disso, enfrentam limitações de espaço e equipamentos disponíveis. Procedimentos médicos complexos e especializados não conseguem realizar.
Dos dois complexos – ou locais operacionais assim localizados – irradiam também atividades de assistência social aos mais pobres, utilizando vouchers e cartões de crédito recarregáveis para compras autônomas pelas famílias: aquelas que ainda são possíveis.
Naturalmente, a Caritas também realiza atividades diretas de ajuda humanitária, distribuindo itens de primeira necessidade. No entanto, o foco sempre é olhar um pouco além, para algo mais e melhor, caso contrário, facilmente se cai no assistencialismo sem propósito.
O que poderia ser o "melhor" possível?
Desde 7 de outubro, a entrada de bens comerciais na Faixa está bloqueada. Até os envios de ajuda humanitária estão sujeitos a rigorosos controles: portanto, são limitados e racionados.
Seria suficiente reabrir parcialmente o que foi fechado para tornar a vida da população de Gaza um pouco mais fácil, pelo menos em termos de subsistência.
Os beneficiários dos vouchers da Caritas ainda conseguem comprar algo?
Sim, ainda é possível comprar algo, mas a preços muito altos. A disponibilidade de produtos é o fator limitante. Repito: seria suficiente reabrir, pelo menos parcialmente, os passagens comerciais para ajudar a população.
Em março – você mencionou – os cruzamentos pelos quais os comboios humanitários passam estavam todos praticamente fechados. Depois – parece – foram parcialmente reabertos em Rafah e Kerem Shalom. Enquanto isso, o cais foi ativado pelos Estados Unidos para desembarcar ajuda. Agora, qual é a situação?
A ajuda lançada do céu ou desembarcada pelo mar pode ser espetacular – e muito cara – mas tem pouco a ver com o benefício da realidade. A via eficaz é a terrestre: as estradas terrestres – no plural – que funcionavam antes de 7 de outubro. Agora, em comparação com março, os cruzamentos estão mais operacionais, mas ainda de forma intermitente – devido às operações militares em curso – e sempre com controles rigorosos que resultam em atrasos significativos e restrições consideráveis.
Como funciona a distribuição de ajuda de acordo com o direito internacional?
A distribuição deve ocorrer, obviamente, de forma segura para todos: militares, operadores e população.
O exército tem o direito de verificar que, com a ajuda, não passam armas ou pessoas com intenções de combate. E, como "exército ocupante", tem a responsabilidade, segundo o direito internacional, de garantir a segurança dos trabalhadores da distribuição e da população.
Os comboios humanitários passam por Rafah e Kerem Shalom. Ambos os cruzamentos estão no sul da Faixa, então precisam seguir para o norte. Isso explica por que, neste momento, o norte da Faixa, com Gaza City, enfrenta as maiores dificuldades de abastecimento.
O segundo fator crítico – após passar pelos cruzamentos – é o que pode ocorrer ao longo da rota. Mais de uma vez, os comboios humanitários se viram no meio de conflitos ou bombardeios. O exército comunica aos operadores quais deveriam ser as rotas seguras: mas, como infelizmente vimos, nem sempre são seguras de fato, seja por vários erros, seja pela imprevisibilidade que parece ser a única norma em tempos de guerra.
Deve-se considerar também o fator da desesperança das pessoas que, quando têm fome, atacam os comboios. Isso também acontece – com mortes e feridos – em tempos de guerra.
Pode descrever a situação de "fome" com alguns dados?
Comida, junto com água potável, é o principal problema geral para as pessoas de Gaza hoje. Noventa por cento da população está em uma condição de insuficiência alimentar. Há casos documentados de morte por desnutrição: 31% das crianças com menos de 2 anos apresentam sinais evidentes. Cinquenta mil crianças menores de 5 anos estão em sério risco de infecção.
Quanto aos medicamentos, a situação não é tão dramática: havia e ainda há estoques. Mas o limitante não é a disponibilidade de medicamentos, e sim as estruturas de saúde que os doentes podem acessar e, naturalmente, o número de pessoal disponível.
A saúde em toda Gaza está à beira do colapso. As instalações de saúde foram alvo de 458 ataques, resultando em perda de pessoal e pacientes, equipamentos e edifícios: menos da metade dos 36 hospitais pré-existentes ainda está operacional. Em resumo, a situação é "catastrófica", no sentido técnico da palavra, não no sentido literário. Agora e nos próximos meses, o pesadelo do calor extremo está se aproximando, com o potencial de espalhar infecções.
Mesmo no complexo da Caritas – nas paróquias – vocês enfrentam a mesma situação de necessidade?
Lá também vivemos e compartilhamos a situação de toda Gaza. Passamos semanas muito difíceis, com escassez de comida e o temor de que as reservas se esgotem de um dia para o outro. Ainda não chegamos a esse ponto. O mínimo essencial foi garantido até agora. Mas tudo está sempre em risco, por causa da guerra.
As paróquias também foram alvo de ataques durante a guerra?
Isso aconteceu depois de 7 de outubro de 2023: a paróquia ortodoxa foi atingida e houve duas mortes; a paróquia católica foi alvo de atiradores de elite. Mas desde então não aconteceu mais.
A população cristã de Gaza diminuiu?
Estima-se que a população cristã de Gaza City tenha diminuído em um terço. Atualmente, há cerca de 500 pessoas vivendo nas duas paróquias, católica e ortodoxa. Dois terços, portanto, permanecem firmemente ancorados às suas comunidades cristãs. Juntos, eles se fortalecem e se ajudam. E isso é muito importante: o estilo Caritas – o estilo da caridade – depende da força da comunidade.
Há relatos diretos das paróquias de Gaza?
Recomendo assistir a uma reportagem sobre a visita do padre Pizzaballa, realmente emocionante, e duas reportagens da Caritas Jerusalém, com testemunhos de vários operadores.
Com que intenção você retornará a Jerusalém em breve, junto com padre Marco?
Primeiro, iremos visitar, fazer-nos presentes junto aos nossos amigos, ou seja, os "próximos", especialmente nestes tempos. Depois, temos várias coisas a verificar, como a situação na Cisjordânia, onde estamos reativando uma de nossas clínicas em Taibe.
Então, tentaremos pensar, junto com nossos irmãos e irmãs lá, em um futuro diferente e melhor, apesar de tudo. Especificamente, além de garantir a continuidade dos recursos para a intervenção humanitária de socorro em andamento, começaremos a pensar em um primeiro plano de reconstrução para Gaza e, sobretudo, em uma série de iniciativas de reconciliação entre a população palestina e israelense: coisas que, aliás, sempre buscamos fazer. É indubitável que, especialmente com esta guerra, a verdadeira paz só pode vir de corações reconciliados entre si.
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Gaza e sua população. Entrevista com Danilo Feliciangeli - Instituto Humanitas Unisinos - IHU