09 Mai 2024
“Na sexta-feira, 26 de abril, às 13h, um grupo de colonos invadiu a parte sul da aldeia de Madama [ao sul de Nablus] e partiu logo depois”, relata o Departamento de Assuntos de Negociação [criado em 1994] da Organização para a Libertação da Palestina em seu site. Relata também que no mesmo dia, às 11h45, “um grupo de colonos entrou nas terras agrícolas da área de Al-Khalayel, na aldeia de Al-Mughayyir [a nordeste de Ramallah] e disparou contra vários agricultores. Às 14h55, um grupo de colonos invadiu a área de Ein al-Hilwa, no norte do vale do Jordão, e destruiu uma tenda residencial pertencente à família D., na tentativa de expulsá-los da área”.
A reportagem é de Amira Hass, publicada originalmente por Haaretz e reproduzida por A L’Encontre, 06-05-2024. A tradução é do Cepat.
Em hora desconhecida, “um grupo de colonos entrou nas terras da aldeia Kisan [sudeste de Belém] e tentou roubar uma caixa d’água acoplada a um trator e alguns equipamentos agrícolas, mas as pessoas conseguiram deter o grupo e impedir que se apoderassem” de seus bens. Também nesse dia, em hora desconhecida, um grupo de colonos invadiu a área de Ein al-Hawaya, a oeste da aldeia de Hussan, localizada a oeste de Belém, e ali realizou um serviço religioso (oração). Outro grupo de colonos invadiu a aldeia de Carmel, a leste de Yatta, e realizou orações na área arqueológica da aldeia.
De acordo com o citado site, no dia 25 de abril, “às 13h05, um grupo de colonos roubou um transformador elétrico ligado a um sistema de produção de energia solar pertencente a uma família da região de Khirbet a-Dir, no norte do vale do Jordão. Também arrancou e destruiu tendas e um gerador de energia pertencente a outra família. Às 13h25, um grupo de colonos ergueu várias tendas na área de Al-Khalayel, em terras ao sul de Al-Mughayyir, com o objetivo de erguer um novo posto avançado [de um assentamento] ilegal. E às 13h45, um grupo de colonos parou na estrada secundária perto do assentamento de Yitzhar e jogou pedras nos carros”.
“Às 14h, um grupo de colonos extremistas liderados pelo ministro extremista Itamar Ben-Gvir, sob a proteção das forças de ocupação, visitou o túmulo de Otoniel [de acordo com a Torá, Otoniel foi o primeiro juiz a assumir o comando do povo judeu depois da morte de Josué], situado na rua Bir a-Saba', em Hebron [na parte controlada pelos palestinos]. À tarde, um grupo de colonos confrontou uma família que cultivava as suas terras na aldeia de Jawrat a-Sham'a, a sudeste de Belém, e impediu-a de continuar o seu trabalho. Às 16h50, um grupo de colonos incendiou as plantações pertencentes a residentes da área de A-Diraat, a leste de Yatta”.
O Departamento de Assuntos de Negociação, que de qualquer forma não tem mais nada a fazer, publica um relatório diário sobre os acontecimentos relacionados com a ocupação do dia anterior, classificados de acordo com diferentes categorias, incluindo uma que é: “ataques de colonos”. As outras categorias incluem pessoas mortas e feridas por soldados, ataques militares, prisões, bloqueios de estradas e atrasos em postos de controle e propriedades vandalizadas. Estas informações concisas, formuladas de maneira concisa, que remontam a 2001, dão a qualquer pessoa interessada uma ideia da intensa violência com que a vida está sendo pisoteada, minuto a minuto, sob o calcanhar de Israel, naquele que deveria ser o Estado Palestino – isto é, na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza.
Desde 7 de outubro, o número de palestinos mortos e feridos disparou, assim como o número de ataques e detenções. O número de ataques a colonos continua aumentando em comparação com o que era antes da guerra. Cento e oito ataques foram registrados em janeiro, 145 em fevereiro e 141 em março.
No entanto, o Departamento de Assuntos de Negociação não consegue rastrear todos os ataques. Em 26 de abril, por exemplo, um grupo de WhatsApp chamado “Documentando Ataques de Colonos” relatou que três jovens das colinas estavam cortando um encanamento de água usado para ovelhas em Ein Samiya, a leste de Al-Mughayyir. Outro relatório, recebido na quinta-feira da aldeia de Karawat Bani Hassan, no distrito de Salfit [no centro da Cisjordânia], relata que “colonos arrancaram e roubaram cerca de 70 oliveiras, vinhas, figueiras e amendoeiras com cerca de três anos”.
É impossível saber quantos ataques e invasões relativamente “moderados” ocorreram em locais onde os palestinos desistiram de denunciá-los ou fugiram sob a pressão da violência exercida. Estes são atos rotineiros cometidos por supremacistas judeus, seguros de si, que semeiam medo e desamparo entre as vítimas dos seus ataques e causam danos econômicos consideráveis. A qualquer momento, um grupo de colonos pode fazer outro ataque a uma determinada aldeia, em obediência às ordens do comando local ou regional, com vista a apoderar-se de outro pedaço de terra agrícola que o exército fechará aos palestinos “com a finalidade de evitar atritos”.
A qualquer momento, centenas de milhares de aldeões palestinos estão expostos a agressões desenfreadas, muitas vezes perpetradas por judeus em trajes religiosos, armados com espingardas ou revólveres, porretes, pedras ou o que quer que seja necessário para provocar um incêndio criminoso. Tudo isto acontece com a proteção e o incentivo do governo, sob a proteção do exército e com a indiferença da maioria dos israelenses.
Não é de surpreender que os filhos daqueles que são atacados queiram abandonar as suas aldeias e que os seus pais considerem a possibilidade de emigrar para outro país. Os “emissários do Senhor” nesta “guerra santa judaica” não são loucos. Estão convencidos de que o assédio constante que realizam produzirá o resultado esperado: ou a “emigração voluntária” [fórmula usada pelo ministro da Fazenda Bezalel Smotric e pelo da Segurança Nacional Itamar Ben Gvir], ou a expulsão “punitiva” em massa. Ou ambos.
* * *
[De acordo com o Washington Post, “o exército israelense ordenou na segunda-feira, 6 de maio, que cerca de 100.000 civis que viviam em algumas partes de Rafah evacuassem ‘imediatamente’ para uma zona chamada humanitária, com a alegação de que operaria com ‘força extrema’ nestas áreas”. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) tuitou no dia 6 de maio: “Uma ofensiva israelense em Rafah significaria mais sofrimento e mortes entre os civis. […] A agência manterá presença em Rafah pelo maior tempo possível e continuará a prestar assistência vital às pessoas”. Esta nova fase do ataque genocida do exército israelense faz parte de uma segunda Nakba, como ilustra Amira Hass, acima, para a Cisjordânia. – Red. A L’Encontre]
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cisjordânia. Exército de colonos pressiona pela expulsão em massa de palestinos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU