29 Outubro 2024
Embora inicialmente atribuída a um grupo de trabalho externo, a questão do diaconato feminino ressurgiu várias vezes durante a segunda sessão do Sínodo, que concluiu em 27 de outubro em Roma. Em seu texto final, a assembleia deixou a porta “aberta” sobre esse assunto sensível.
A reportagem é de Malo Tresca e Mikael Corre, publicada por La Croix International, 28-10-2024.
É um sinal inegável da “tenacidade das mulheres no sínodo, que não desistiram de seu esforço para serem mais reconhecidas”. As palavras, tingidas de admiração, foram de um especialista sinodal no dia seguinte ao encerramento de uma sessão de trabalho, que ele acreditava ter conseguido “mover limites” na delicada questão do papel das mulheres na igreja. Dentro desse contexto, a possibilidade de abrir o diaconato feminino estava notavelmente sujeita a reversões significativas.
Depois que o Papa Francisco o atribuiu a um grupo de trabalho externo em março, o tópico estava ausente do rascunho inicial apresentado em 21 de outubro no Salão Paulo VI, onde as trocas ocorreram. Mas ele reapareceu no texto final — prontamente aprovado pelo Papa Francisco, em um gesto raro — que mencionou que a reflexão sobre esse tópico permanecia “aberta” e exigia “discernimento mais profundo”.
“Esta não é a resposta que muitos esperavam, mas também não é a resposta que muitos temiam”, observou uma voz progressista no sínodo. Refletindo as divisões que ele provocou, o parágrafo — número 60, que foi fortemente alterado — recebeu a maior oposição na votação da assembleia, com 97 votos “contra” de 356. “Não há razão ou impedimento que deva impedir as mulheres de desempenhar papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espirito Santo não pode ser interrompido”, afirmou o artigo, sem detalhar a natureza desses papéis. Mais acima, lamenta que as mulheres “continuem a encontrar obstáculos para obter um reconhecimento mais completo de seus carismas, vocação e papéis” na Igreja.
“A decisão sobre o diaconato não está madura”, alertou o cardeal Victor Manuel Fernandez, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, na noite de 24 de outubro durante uma reunião com cerca de cem participantes. Após sua notável ausência em um evento alguns dias antes ter despertado a ira da assembleia, o Vaticano decidiu divulgar a gravação desta reunião — um movimento incomum para um sínodo realizado a portas fechadas. Este encontro teve como objetivo reunir as sugestões dos participantes e fornecer uma atualização sobre o trabalho do “Grupo #5”, responsável por refletir sobre o papel das mulheres na igreja.
A ocasião serviu principalmente como um lembrete de que, para Roma, a questão do diaconato feminino é menos prioritária do que avançar outros “passos mais concretos”, como aumentar o “reconhecimento e o valor das mulheres” em áreas como direção espiritual e teologia. Embora o tópico tenha despertado grandes expectativas em algumas igrejas ocidentais e latino-americanas, “a maioria (das mulheres) não está pedindo e não quer um diaconato feminino”, enfatizou o cardeal argentino.
Seus comentários foram recebidos com reações mistas dentro da assembleia, onde alguns não hesitaram em falar. “Ele tentou contornar a questão sem abordar profundamente a essência de assuntos como as Escrituras e a natureza da ordenação”, criticou um especialista, que viu a abordagem geral como ainda muito “patriarcal”. “Enquanto ele também enfrentava defensores do diaconato, senti uma escuta genuína e preocupação com o diálogo franco e sincero”, rebateu um pai sinodal, movido pelo “sofrimento das mulheres” expresso ao longo da sessão.
O que nos espera? Nos próximos meses, a Comissão de Estudo sobre o Diaconato Feminino, que foi estabelecida em 2020 e liderada pelo Cardeal Giuseppe Petrocchi de Aquila, deve “retomar seu trabalho com maior vigor”, particularmente incorporando propostas do sínodo, observou o Cardeal Fernandez. As conclusões de seu grupo de trabalho são esperadas para junho próximo.
O áudio da reunião do Cardeal Fernandez com mais de 100 participantes do sínodo, sobre a questão do diaconato das mulheres pode ser ouvido, em italiano e em inglês, aqui.
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Sínodo: Como a questão do diaconato feminino voltou à mesa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU