25 Setembro 2024
Em previsão do próximo Sínodo em outubro, a revista mensal publicada pelo Vaticano publica um dossiê informativo e equilibrado sobre o lugar das mulheres na Igreja Católica.
A reportagem é de Gaétan Supertino, publicada por Le Monde, 13-09-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
As mulheres deixarão a Igreja Católica? Essa é a pergunta que permeia a última edição da Donne, Chiesa, Mondo, o suplemento mensal do L'Osservatore Romano, o jornal do Vaticano. “A relação entre as mulheres e a Igreja é complicada e difícil: muitas vão embora, outras ficam, mas pedem mudanças incisivas, outras ainda permanecem criticamente 'na soleira'”, resume no editorial Rita Pinci, editora da revista mensal.
Nesse dossiê informativo e equilibrado, publicado em vista da segunda Assembleia Geral do Sínodo sobre o futuro da Igreja (de 2 a 27 de outubro), são levantados alguns argumentos tabus, desde o sacerdócio feminino até o “vocabulário masculinista” que permeia o mundo católico, sem esquecer as humilhações cotidianas sofridas pelas mulheres: exclusão das principais ações litúrgicas, dos cargos de responsabilidade, a estigmatização nos discursos de alguns padres... “Não fui eu quem levantou a questão do sacerdócio feminino”, afirma Rita Pinci. “Não fui eu quem deixou a Igreja. Foi ela que me deixou. Aliás, nunca me acolheu”, afirma Marta, 60 anos, em um artigo.
A revista romana, que tem uma versão online em francês, reporta uma pesquisa realizada na Itália: apenas 33% das mulheres italianas com menos de 30 anos se declaram católicas, em comparação com o dobro de dez anos atrás. “Esses números agora são semelhantes aos de seus pares masculinos. Até agora [as mulheres italianas] foram a 'exceção' em relação à crescente desconfiança em relação às práticas religiosas. Agora não é mais assim”, analisa a jornalista Lucia Capuzzi.
Diante do que Donne, Chiesa, Mondo descreve como um “êxodo silencioso”, muitas decidiram se colocar “na soleira” da Igreja, tentando “reformá-la a partir de dentro” e, ao mesmo tempo, “olhando para fora, compartilhando com outros a busca por um 'deus diferente'”, um “deus das mulheres”, uma presença divina que, libertada da prisão de um deus patriarcal, possa livremente pairar sobre as orlas da história, deixando novas pegadas”, escreve poeticamente a advogada Grazia Villa em um artigo.
Como mudar a situação preservando, ao mesmo tempo, a unidade da Igreja, a que muitos dos colaboradores da revista tanto prezam? O dossiê não apresenta nenhuma proposta de longo alcance. No entanto, a biblista Isabel Alfaro nos convida a olhar para a África, onde a Igreja está gradualmente “assumindo um rosto feminino”, com as mulheres assumindo cada vez mais posições de responsabilidade - muitas vezes em contraste com seu ambiente social.
Fundada em 2012, Donne, Chiesa, Mondo tem como objetivo trazer uma voz feminina para a Igreja.
Sob a autoridade da Santa Sé, o suplemento adota, como mostra este dossiê, uma certa distância crítica da instituição, embora sua independência permaneça em discussão. Como lembrete, em março de 2019 sua fundadora, Lucetta Scaraffia, e quase todo o comitê editorial renunciaram, denunciando um “clima de desconfiança e deslegitimação progressiva”, um mês após a publicação de uma investigação sobre os estupros de freiras por padres.
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O 'êxodo silencioso' das mulheres na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU