02 Outubro 2024
A viagem à Bélgica acabou sendo uma meia catástrofe para Francisco, que queria fazer dela um momento forte de reflexão sobre as perspectivas para a Europa, a paz e a questão ambiental. Em vez disso, primeiro o foco da visita foram os abusos de menores cometidos pelo clero, depois surgiu uma forte polêmica sobre a questão feminina na igreja.
A reportagem é de Francesco Peloso, jornalista, publicado por Domani, 01-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sem mencionar a enésima referência ao aborto feita pelo pontífice, que repetiu um conceito já expresso em várias ocasiões: os médicos que ajudam as mulheres a abortar são comparáveis a assassinos, porque de fato matam uma pessoa.
Tudo isso às vésperas de um sínodo geral da igreja programado para as próximas semanas de outubro, que corre o risco de se tornar um retrato melancólico de uma igreja que não consegue lidar com os nós não resolvidos. Sobre os abusos, na Bélgica, a instituição eclesial foi chamada ao banco dos réus pelas vítimas, bem como pelas principais instituições do país; mas se sobre o escândalo de pedofilia Bergoglio respondeu assumindo a responsabilidade pelos fatos e pedindo perdão, o confronto mais duro ocorreu sobre o papel das mulheres na igreja. Confronto, pela verdade, anunciado. Sim, porque a contestação veio da Universidade Católica de Lovanio que, de fato, dado o 600º aniversário de sua fundação (o Papa Martinho V a fundou em 1425), era a ocasião formal da visita pastoral do papa à Bélgica.
Portanto, no último sábado, Francisco se reuniu com a comunidade científica e os estudantes da universidade na Aula Magna para uma conversa sobre a crise ambiental, as desigualdades entre o norte e o sul do mundo e sobre o papel das mulheres e dos homens na sociedade e na igreja. Assim, já em antecipação à chegada do pontífice, a Reitora Françoise Smets havia dito que, no último ponto, a universidade sinalizaria sua discordância. O que foi feito pontualmente, também porque o papa, durante o encontro, simplesmente reiterou a posição já expressa repetidamente sobre o tema: ou seja, que o ministério sacerdotal não está em discussão, não pode, portanto, ser aberto às mulheres; no entanto, disse ele, trata-se de um fato “menor” em comparação com o fato de que “a mulher está no centro do evento salvífico. É a partir do 'sim' de Maria que o próprio Deus vem ao mundo. Mulher é acolhimento fecundo, cuidado, dedicação vital. Por isso, a mulher é mais importante do que o homem, mas é ruim quando a mulher quer ser homem: não, ela é mulher, e isso é importante”.
A resposta da universidade veio em um comunicado de imprensa emitido após o encontro, no qual se enfatiza como a universidade “expressa sua incompreensão e desaprovação pela posição expressa pelo Papa Francisco em relação ao lugar da mulher na igreja e na sociedade. ‘A mulher é acolhimento fecundo, cuidado, dedicação vital’, disse o pontífice. Uma posição determinista e redutiva com a qual a UC Louvain não pode deixar de expressar sua discordância”. Pelo contrário, a universidade reafirmou sua vocação de ser um centro de estudos “inclusivo”, “para que todos possam prosperar plenamente dentro dela e na sociedade, independentemente de sua origem, gênero ou orientação sexual”. Por fim, a universidade “convida a Igreja a seguir o mesmo caminho, sem qualquer forma de discriminação”.
A resposta do papa, irritada nos conteúdos, não demorou a chegar, portanto, durante a habitual coletiva de imprensa realizada no voo de Bruxelas de volta a Roma, ele afirmou: “A mulher - eu sempre digo - é mais importante do que os homens, porque a Igreja é mulher, a Igreja é esposa de Jesus. Se isso parece conservador para aquelas senhoras, eu sou Carlo Gardel. Por que não se entende... Vejo que há uma mente obtusa que não quer ouvir falar sobre isso. A mulher é igual ao homem, é igual, aliás, na vida da Igreja, a mulher é superior, porque a Igreja é mulher”.
Depois ele criticou o feminismo.
Francisco, como se não bastasse, também voltou a falar na viagem de volta sobre a figura do rei Balduíno da Bélgica, que, observou ele, fez “um ato corajoso porque, diante de uma lei de morte, ele não assinou e renunciou. É preciso coragem, é preciso um político de verdade para fazer isso”.
Balduíno, de fato, ao se recusar a assinar a lei do aborto, “transmitiu uma mensagem e o fez porque é um santo”, acrescentou o Pontífice, explicando por que deseja que o processo de beatificação do soberano, morto em 1993, vá adiante. Em resumo, uma bela jogada de Bergoglio, que parece fechar a porta de uma vez por todas para qualquer esperança de reforma da Igreja no sentido de um verdadeiro protagonismo feminino. Não só isso: as várias intervenções do papa atestam a separação entre a Santa Sé e as expectativas de mudança dos episcopados da Europa Central e do Norte, sem que, além disso, Francisco tenha conseguido mobilizar a seu favor os setores mais reacionários e tradicionalistas do catolicismo europeu.
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Mulheres na Igreja: Francisco em dificuldades na Bélgica às vésperas do Sínodo dos Bispos. Artigo de Francesco Peloso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU