Uma delegação de líderes de ministérios femininos se encontra com o Papa Francisco no Vaticano em 30 de setembro de 2024.

A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 30-09-2024

Poucos dias antes de presidir o início da importante reunião de um mês sobre o futuro da Igreja Católica, o Papa Francisco se reuniu em 30 de setembro com uma delegação global de defensores do ministério feminino, incluindo as principais defensoras da restauração do diaconato feminino.

De acordo com Casey Stanton, codiretor do  projeto Discerning Deacons, o encontro foi organizado pela  Conferência Eclesial da Amazônia (conhecida como CEAMA) para "refletir sobre o tema do ministério feminino e trazer vozes que estão caminhando com pessoas da Amazônia de outras partes do mundo".

O encontro, que ocorreu na biblioteca do Palácio Apostólico do Vaticano, acontece poucos dias antes de Francisco abrir oficialmente a assembleia final do sínodo sobre sinodalidade, em 2 de outubro, que deve considerar a necessidade das mulheres se envolverem mais nos "processos de tomada de decisão" dentro da Igreja.

"Parte do que queríamos transmitir era nossa gratidão pelo sínodo, que criou uma maneira de sonhar juntos sobre o que é possível em nossa igreja", disse Stanton ao National Catholic Reporter em uma entrevista após se encontrar com o papa.

"Temos cultivado esse sonho de um diaconato sinodal profético", disse Stanton.

Junto com representantes de Stanton e da CEAMA, a reunião também incluiu duas mulheres indígenas do Canadá, uma irmã religiosa que atende uma comunidade aborígene remota na Austrália e um jovem ministro adulto.

"Há mulheres servindo nas periferias do mundo todo e estamos caminhando juntas neste caminho sinodal", disse Stanton, que observou que cada um de seus ministérios de serviço é diaconal por natureza. 

Segundo Stanton, o Papa agradeceu às mulheres por seus respectivos ministérios e, durante o tempo que passaram juntas, as mulheres rezaram pelo papa e pelo sínodo.

Durante seu papado, Francisco enviou mensagens confusas sobre a questão se ele consideraria restaurar o diaconato feminino.

Francisco já havia estabelecido duas comissões especiais para examinar as questões históricas que cercam a ordenação de mulheres ao diaconato, embora o trabalho de nenhuma delas tenha sido tornado público.

O relatório final da primeira sessão do sínodo sobre sinodalidade em outubro de 2023 solicitou especificamente que o trabalho das comissões papais e teológicas anteriores sobre mulheres diáconas fosse apresentado para consideração posterior na próxima assembleia do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2024. E em março de 2024, Francisco criou 10 grupos de estudo para examinar uma série de questões polêmicas do sínodo, incluindo mulheres diáconas. 

"Temos cultivado esse sonho de um diaconato sinodal e profético." — Casey Stanton, codiretor do  projeto Discerning Deacons

Mas em meio à consideração aberta dessas questões no sínodo, Francisco surpreendeu muitos quando, em uma entrevista à CBS News em maio, o papa disse que era contra mulheres diaconisas.

Mesmo assim, os defensores da causa não recuaram.

Em junho, a catequista franciscana Irmã Laura Vicuña Pereira Manso, vice-presidente da CEAMA, se encontrou com Francisco e  disse ao NCR que não acreditava que a porta estivesse totalmente fechada e que pretendia continuar a conversa.

Três meses depois, ela estava de volta ao Vaticano com outras pessoas a reboque para apresentar o papa a outras mulheres na linha de frente do serviço diaconal.

Segundo Stanton, ela acredita que isso é uma indicação da "abertura do papa em receber mulheres e seus dons".

"Ele continua aberto a essa conversa e reconhece que é realmente importante que ele continue a ter uma postura aberta e, como papa, ele modela abertura e encontro", ela continuou. "Acho que ele quer que todos os seus outros irmãos bispos façam o mesmo."

Quanto ao que vem a seguir, ela destacou o exemplo da CEAMA, uma assembleia eclesial pioneira a incluir mulheres em posições de liderança, e onde o poder é compartilhado entre o clero ordenado e o não ordenado.

"Este momento, este mês, é sobre tentar fazer com que toda a igreja tenha esse tipo de estrutura", disse Stanton.

"Esse é o convite. Podemos continuar a construir uma cultura onde isso seja a norma? Onde nossos bispos nos recebam e possamos ter uma conversa honesta", ela continuou. "Acho que quanto mais multiplicamos esses tipos de encontros, mais a possibilidade de mulheres diáconas emerge." 

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