15 Fevereiro 2025
Artigo do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, publicado em Il Sole 24 Ore, 09-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi comemorado o aniversário de um homem muito modesto. Somente no final da festa é que se percebeu que alguém não havia sido convidado: o aniversariante. Há uma ambiguidade semântica na palavra “modéstia” e em seu adjetivo “modesto”. Por um lado, pode designar uma pessoa humilde, sóbria, reservada ou recatada; por outro lado, pode se referir a uma figura medíocre, baixa e limitada.
Na passagem irônica que retiramos de um dos textos do extraordinário escritor russo Anton Chekhov - que morreu com apenas 44 anos em 1904, deixando um grande legado literário - não é fácil escolher entre os dois significados. Aquela pessoa era tão modesta a ponto de resultar totalmente insignificante, ou era um homem esquivo, humilde e fiel ao seu empenho oculto?
Em nossa reflexão, optamos por esse segundo perfil. Em volta dele, de fato, agitam-se os colegas que, tendo que comemorar seu aniversário, como se faz no escritório para todo mundo, preocupam-se apenas com a tarefa concreta, sem nenhum entusiasmo especial.
Depois de cumprir esse compromisso, eles percebem a gafe retumbante. Esse é o destino de muitas pessoas simples, aliás, da maioria daqueles que cumprem seu dever diário, sem exigir nada, cumprindo aquela poderosa frase do Evangelho: “Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lucas 17,10).
É a virtude um prêmio em si mesma, contra a imprudência daqueles que exigem reconfirmação ou reconhecimento por cada ato que realizam. Esta é, por outro lado, mais uma legião de insolentes, descarados e vaidosos que, aos empurrões, infelizmente sempre conseguem estar no palco da vida.
Sugeriria, no entanto, para encerrar, meditar sobre um aforismo do escritor moralista francês do século XVI, Jean La Bruyère: “A modéstia é para o mérito o que as sombras são para um quadro. Dão-lhe forma e relevo”.