11 Mai 2024
"Na consciência pessoal, que se celebra um abraço entre o nosso limite e o eterno divino: o oximoro adotado por Emily é maravilhoso, a alma é 'finita infinidade'", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 28-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Há uma solidão do espaço / Uma solidão do mar / Uma solidão da morte, mas / Tudo parecerá movimentado / Se comparado a esse local profundo / Essa privacidade polar / De uma alma diante de si mesma / Finita infinidade....
Seu microcosmo era o jardim da casa paterna em Amherst, Massachusetts, onde morreu aos 56 anos, em 1886. Sua existência se desenrolou na solidão de seu quarto, mas a sua poesia alcançou as alturas do mistério e os abismos da vida. Fizemos sua voz ressoar nos versos citados, poucas linhas que valem um tratado de antropologia: estamos falando de Emily Dickinson, uma das poetisas modernos mais emocionantes, capazes de antecipar emoções que hoje atravessam a nossa sociedade, apesar de ter visto publicados apenas sete dos 1775 poemas escritos. A lírica que propomos é uma viagem ao segredo absoluto da alma. Trata-se de um horizonte exclusivo no qual se expressava uma solidão incomparável em relação aos silêncios do espaço, do mar e da morte. Infelizmente, a incessante tempestade das palavras, dos acontecimentos, dos encontros exteriores apaga a nossa capacidade e vontade de penetrar onde o nosso eu pulsa de forma secreta.
É lá embaixo, na consciência pessoal, que se celebra um abraço entre o nosso limite e o eterno divino: o oximoro adotado por Emily é maravilhoso, a alma é “finita infinidade”. Por isso ela pode confessar (e são versos para meditar em silêncio): “Nunca vi um campo de urzes Nunca vi o mar ... Nunca falei com Deus / Nem visitei o céu / Mas estou certa de que existe esse lugar / Como se tivesse um mapa nas mãos".
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#finita infinidade. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU