16 Janeiro 2024
"Esse é o pecado que a poetisa confessa por seu dia vazio, e é o que nem sequer é percebido por quem deixa passar dias e dias como se fossem apenas grãos áridos de areia na ampulheta do tempo, sem nunca os tornar uma semente que escorre das mãos e fecunda a terra", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 14-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ontem me comportei mal no universo. Vivi o dia inteiro sem indagar nada, sem estranhar nada.
Quando recebeu o Prêmio Nobel em 1996, poucos haviam lido alguma poesia da polonesa Wislawa Szymborska, que morreu com quase noventa anos em 2012. No entanto, os seus versos, por vezes melancólicos, muitas vezes irônicos, simples e, no entanto, muitas vezes vertiginosos, poderiam se tornar - para usar uma imagem bíblica (Eclesiastes 12,11) - "como aguilhões e como pregos bem afixados" no cérebro, no coração e na alma do leitor. O mesmo acontece com as palavras que citamos. Lançam uma estocada contra uma doença muito difundida nos nossos dias, que pode receber várias denominações: indiferença, superficialidade, vazio, banalidade, inconsciência, vulgaridade.
É precisamente “viver o dia inteiro” sem um sobressalto do espírito ou da consciência, sem o estímulo de uma pergunta (uma das primeiras coletâneas poéticas de Szymborska intitulava-se Perguntas dirigidas a si mesma), sem um pingo de assombro, sem a emoção de um sentimento profundo.
Outro escritor famoso, o inglês Gilbert K. Chesterton, não hesitava em declarar que “a humanidade perecerá não por falta de maravilhas, mas por falta de admiração”.
Esse é o pecado que a poetisa confessa por seu dia vazio, e é o que nem sequer é percebido por quem deixa passar dias e dias como se fossem apenas grãos áridos de areia na ampulheta do tempo, sem nunca os tornar uma semente que escorre das mãos e fecunda a terra.
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#Perguntas. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU