"Do outro lado, está o duvidoso radical que tenta minar toda certeza de verdade que lhe aparece, obscurecendo cada vislumbre de luz com objeções porque quer evitar todo empenho de adesão e de envolvimento pessoal em relação às exigências da verdade. O primeiro questiona-se porque quer a verdade; o segundo se fecha porque teme que a verdade exista. Alessandro Manzoni, no entanto, tem uma fórmula ainda mais fulgurante na Storia della colonna infame", escreve o cardeal italiano Gianfranco Ravasi, em artigo publicado em Il Sole 24 Ore, 14-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Quem faz perguntas quer a verdade. Enquanto quem duvida quer ouvir que a verdade não existe.

Morreu nonagenário em 2023 e foi uma espécie de patriarca da literatura estadunidense, o herdeiro ideal dos grandes Faulkner, Melville, Caldwell. É Cormac McCarthy quem nos propõe hoje uma reflexão que entrelaça pergunta-resposta-verdade-dúvida, e o faz com o seu famoso texto teatral intitulado Sunset Limited. É uma longa conversa entre dois protagonistas de nomes emblemáticos, Black, um afro-americano que crê em Deus e é solidário com os marginalizados, e White, um professor ateu branco, salvo de uma tentativa de suicídio justamente por Black. Na realidade, o desenrolar da trama revelará uma grande reviravolta em que White se revela um anjo negro tentador que semeia a dúvida e leva Black à beira de um precipício.

No entanto, interessa-nos agora a afirmação lapidar que citamos e que distingue duas categorias de pessoas. De um lado, há quem está em busca e por isso se questiona, sabe que não possui plenamente a verdade e é, portanto, um peregrino do absoluto, um pedinte de sentido. Do outro lado, está o duvidoso radical que tenta minar toda certeza de verdade que lhe aparece, obscurecendo cada vislumbre de luz com objeções porque quer evitar todo empenho de adesão e de envolvimento pessoal em relação às exigências da verdade. O primeiro questiona-se porque quer a verdade; o segundo se fecha porque teme que a verdade exista. Alessandro Manzoni, no entanto, tem uma fórmula ainda mais fulgurante na Storia della colonna infame: "É menos pior agitar-se na dúvida do que descansar no erro”.

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