23 Mai 2024
"Simplesmente daremos as mãos e caminharemos com leveza, dizendo coisas sem sentido, estúpidas e queridas", escreve Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por em Il Sole 24 Ore, 19-05-2024. A Tradução de Luisa Rabolini.
Anos atrás foram os “namorados” do cartunista francês Raymond Peynet, falecido em 1999, que criaram ternura, precisamente pela sua delicadeza, simplicidade e até pobreza. É a esse período que também pertencem essas poucas palavras, mas também capazes de “pintar” um quadro: foram escritas por Dino Buzzati (1906-1972), o inesquecível autor de Deserto dos Tártaros.
Infelizmente hoje é raro ver dois apaixonados passear simplesmente de mãos dadas, sorrindo e conversando sobre coisas que para os outros (e até em si mesmos) podem ser “sem sentido e estúpidas", mas que na linguagem pessoal do amor são "queridas".
Agora, porém, as relações são imediatas, superficiais, muitas vezes gritadas, até porque talvez ocorrem dentro de uma discoteca onde o fortíssimo domina e o frenesi regula o movimento. É a extinção progressiva da ternura, do sussurrar palavras “queridas”, da comunicação de sentimentos e não apenas instintos.
Todos precisamos redescobrir o prazer de estar com os outros conversando, até mesmo de escrever uma verdadeira carta e não apenas recorrer à gramática apressada do celular ou do e-mail, de passear juntos, de redescobrir a beleza da tranquilidade e da simplicidade. E até a capacidade de estar juntos em silêncio, olhando-se nos olhos, segundo uma linguagem mais eloquente que as próprias palavras.