02 Novembro 2024
"Em nossos dias, o inimigo da verdade não é apenas a ignorância obtusa, é também aquela que é chamada de 'pós-verdade'", escreve Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 27-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Sou ignorante, mas isso não significa que a verdade não exista.
Essa é uma declaração clara de um grande buscador da verdade, como o escritor Franz Kafka. É a afirmação da “objetividade” da verdade que existe em si mesma, precede e excede a própria busca humana. Poderosa é a imagem que Platão apresenta em seu diálogo Fedro quando descreve a corrida da carruagem da alma pela “planície da verdade”. Ela nos revela panoramas sempre novos e inéditos.
Para tornar a verdade pessoal e “subjetiva”, são necessários o conhecimento e a pesquisa, e é por isso que o próprio filósofo, em outra de suas obras, Apologia de Sócrates, colocou uma espécie de testamento moral na boca de seu mestre: “Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida”. É, portanto, a ignorância presunçosa que se opõe à verdade. Não é tanto o não conhecimento que pode ser superado e se tornar sabedoria, mas a arrogância do ignorante que está convencido de que tem conhecimento e saber suficientes e, a partir de seu perímetro muitas vezes torto e limitado, exclui todo outro espaço de verdade.
Em nossos dias, o inimigo da verdade não é apenas a ignorância obtusa, é também aquela que é chamada de “pós-verdade”. Dela despudoradamente se ornam e vangloriam homens políticos, especialmente quando são poderosos e acreditam que podem moldar livremente a realidade e criar alternativas à verdade a seu bel-prazer. Exemplar é a definição de “pós-verdade” na edição de 2016 do Oxford English Dictionary: “Um termo que denota circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos influentes do que as crenças pessoais e são um apelo às emoções a fim de influenciar a opinião pública”.
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#ignorante. Artigo de Gianfranco Ravasi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU