12 Junho 2024
"O cuidado frenético do corpo - que nos nossos dias depende de um consumo, impressionante ao limite do desperdiço, de medicamentos ou de cirurgias estéticas, de fitness e assim por diante - não consegue bloquear as ramificações sutis de doenças letais. A mortalidade é a nossa comum carteira de identidade e é necessário encaminhar-se de olhos abertos para aquela fronteira. Pelo contrário, muitas vezes pouco cuidado é reservado à alma", escreve Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, em artigo publicado por Il Sole 24 Ore, 09-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Todos gostariam de se curar dos males do corpo, mas não podem. Todos gostariam de se curar dos males da alma, mas não querem.
No currículo escolar do passado era um nome que todos conheciam por uma obra que na realidade não era sua.
Estamos falando de Annibal Caro (1507-1566), escritor lembrado quase exclusivamente por sua famosa tradução da Eneida, de Virgílio, uma versão fascinante, mas muitas vezes demasiado livre e até arbitrária, tanto que foi chamada de “a bela infiel”. A reflexão que propomos, extraída de uma das oitocentas cartas que nos chegaram, capta em profundidade uma verdade nua e crua que quase dispensa comentários.
O cuidado frenético do corpo - que nos nossos dias depende de um consumo, impressionante ao limite do desperdiço, de medicamentos ou de cirurgias estéticas, de fitness e assim por diante - não consegue bloquear as ramificações sutis de doenças letais. A mortalidade é a nossa comum carteira de identidade e é necessário encaminhar-se de olhos abertos para aquela fronteira. Pelo contrário, muitas vezes pouco cuidado é reservado à alma. É deixada murchar sem saciar a sua sede; as suas doenças, que são vícios, não nos preocupam muito; deixa-se faltar aquele alimento que a faz viver, como dizia Santa Catarina de Siena: “A alma é uma árvore feita para o amor e por isso não pode viver de outra coisa senão do amor”. E os crentes autênticos como a santa podem confirmar a confissão do diário do escritor francês Julien Green (1990-1998): “A alma humana é como um abismo que atrai Deus, e Deus se joga nele”.