26 Agosto 2023
Na Nicarágua, continua a agressão injustificada contra os Jesuítas num contexto geral de repressão. A Província Centro-Americana da Companhia de Jesus deplora a medida com que o governo presidido por Daniel Ortega revogou o seu estatuto jurídico e fala de uma repressão sistemática qualificada como crime contra a humanidade com o objetivo de um pleno estabelecimento de um regime totalitário
A reportagem é de Paolo Ondarza, publicada por Vatican News, 24-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
A Província Centro-Americana dos Jesuítas expressa a sua dura condenação à medida com que as autoridades nicaraguenses revogaram o estatuto jurídico da Companhia de Jesus. Num comunicado, de 23 de agosto de 2023, os Jesuítas deploram a “nova agressão” contra a ordem religiosa fundada por Santo Inácio de Loyola, um ato que se insere numa política de terror contra a população nicaraguense e “na mais sistemática repressão que em nível nacional” o governo Ortega está realizando e que um grupo de especialistas criado na Nicarágua pela ONU já qualificou como “crimes contra a humanidade”.
Segundo a Província Centro-Americana da Companhia de Jesus, a medida visa “o pleno estabelecimento de um regime totalitário” do qual são responsáveis o presidente e a vice-presidente da Nicarágua, culpados de dificultar “a independência e a neutralidade do poder judiciário". O comunicado de imprensa convida os líderes do país a cessarem a repressão em curso e a favorecerem uma “solução razoável em que prevaleçam a verdade, a justiça, o diálogo, o respeito pelos direitos humanos e pelo Estado de direito”.
Além disso, pede-se o pleno respeito pela liberdade e identidade dos Jesuítas e das pessoas que com eles colaboram. A Companhia de Jesus da Nicarágua afirma estar em comunhão com os “milhares de vítimas nicaraguenses que aguardam justiça e reparação pelos danos causados pelo atual governo” e expressa “gratidão pelas inúmeras expressões de reconhecimento, apoio e solidariedade recebidas” em resposta aos crescentes ultrajes.
A medida governamental 105-2023 estabelece que os bens imóveis e móveis da Companhia de Jesus no país sejam transferidos para o Estado. Da mesma forma que para os restantes casos de cancelamento de registo jurídico estabelecidos pelo regime desde 2018, a decisão foi tomada sem terem sido concluídos os procedimentos administrativos previstos na lei. Aos jesuítas não foi dada a possibilidade de recorrer a um juiz imparcial.
Antes desta última medida repressiva, há cerca de uma semana o governo Ortega, sob o pretexto da luta contra o terrorismo, já havia confiscado a Universidade Centro-Americana da Nicarágua (UCA), fundada pelos Jesuítas, e a residência da Companhia de Jesus em Manágua sem conceder aos que ali moravam a possibilidade de recolher e retirar os seus pertences pessoais. Há apenas cinco dias, no dia 19 de agosto, completou-se o primeiro ano da prisão de monsenhor Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa e administrador apostólico de Estelí, condenado a 26 anos de prisão sem julgamento sob a acusação de conspiração contra a integridade nacional e de propagação de notícias falsas. Desde então, as perseguições contra a Igreja Católica aumentaram no país.
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Nicarágua. Revogado o estatuto jurídico dos Jesuítas: terror e repressão no país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU