Nicarágua. Jornalistas e padres, perseguidos e criminalizados por Ortega-Murillo

Daniel Ortega (Foto: Wikimedia Commons)

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06 Agosto 2024

  • "Os poucos jornalistas que permanecem no país trabalham de forma muito discreta, quase fazendo jornalismo clandestino"

  • "Desde 12 de julho, ninguém tem comunicação com Fabiola Tercero Castro, nem com sua família, e o regime também não fornece informações sobre seu paradeiro"

  • "Na Nicarágua, está no poder uma versão de Bolsonaro ou talvez de um Milei, mas com máscara de esquerda"

  • "A mesma agressão que vive o jornalismo independente está sendo vivida pelos padres das dioceses de Matagalpa e Estelí"

A reportagem é de Cristhian Josué Alvarenga López, publicada por Religión Digital, 03-08-2024.

Julho foi um mês nefasto para a imprensa independente da Nicarágua, a ditadura criminosa de Daniel Ortega e Rosario Murillo não cessa sua perseguição ao jornalismo e hoje, 03 de agosto, a perseguição é novamente vivida pela Igreja Católica.

Os poucos jornalistas que permanecem no país trabalham muito discretamente, quase fazendo jornalismo clandestino. Trabalhar com uma câmera de vídeo ou fotográfica em locais públicos coloca em perigo a pessoa que a usa e geralmente é confiscada, com a pessoa sendo submetida a investigações cruéis.

Em meu país, há um jornalista preso político, Víctor Ticay, detido desde abril de 2023 por informar, e recentemente não se sabe do paradeiro da jornalista, gestora cultural e feminista Fabiola Tercero Castro. Conheci Fabi fazendo jornalismo, trocando livros e tirando fotos, seja com seu celular ou com uma câmera analógica, a filóloga que vem de uma família lutadora e que estudou com grande sacrifício na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua - UNAN-Manágua está desaparecida, pois desde 12 de julho, ninguém tem contato com ela, nem com sua família, e o regime também não fornece informações sobre seu paradeiro.

A Nicarágua, que viveu uma revolução que se supunha jamais veria novamente uma ditadura, hoje vive outra ditadura criminosa, familiar e pior do que a somocista.

Na Nicarágua, está no poder uma versão de Bolsonaro ou talvez de um Milei, mas com máscara de esquerda. Além disso, com controle absoluto sobre o Exército, Polícia, Suprema Corte de Justiça, Parlamento, Municípios, Universidades, Movimento Estudantil, Sindicatos e com a liderança mais visível da oposição desnacionalizada no exílio e com lideranças comunitárias na prisão, das quais 19 são mulheres, submetidas a tratamentos cruéis e desumanos nas prisões.

Nos últimos anos, a ditadura de Ortega-Murillo usou diferentes táticas para silenciar a imprensa, desde a compra de meios de comunicação, o fechamento de meios locais e cortes na publicidade estatal até agressões físicas, discursos públicos de ódio à imprensa e detenções arbitrárias.

O regime de Ortega se tornou tão hostil aos meios de comunicação independentes que pelo menos 263 jornalistas nicaraguenses foram expulsos de seu país ou fugiram por temer por sua segurança desde abril de 2018, segundo dados da Fundação para a Liberdade de Expressão e Democracia (FLED).

Embora a jornalista Fabiola Tercero Castro não esteja enfrentando acusações formais, por que ela não aparece? É urgente exigir que o Estado da Nicarágua forneça informações sobre o paradeiro da jornalista.

Agosto começa com perseguição a padres

A mesma agressão que os jornalistas independentes enfrentam está sendo vivida pelos padres das dioceses de Matagalpa e Estelí, onde entre 01 e 03 de agosto quatro padres foram detidos: o Vigário Judicial, monsenhor Ulises Vega, monsenhor Edgar Sacasa, Vigário da Pastoral, os padres Jairo Pravia e Víctor Godoy, a quem confiscaram computadores, telefones e outros dispositivos digitais para espionar suas comunicações.

O mais cruel foi o sequestro do padre Fruto Valle, de oitenta anos, que administrava "Ad Omnia" na diocese de Estelí, homens à paisana o retiraram de sua casa paroquial. Assim opera a ditadura criminosa dos Ortega-Murillo.

E a perseguição continua. Até a redação deste texto, pelo menos 10 padres estavam sendo transferidos para a Direção de Auxílio Judicial de Manágua, conhecido como "El Chipote", o centro de tortura do regime.

É evidente que esse regime nutre um profundo ódio pela fé e pela verdade. O contexto na América Central nos convida a apostar na solidariedade internacional e denunciar violações de direitos humanos para que em países como Nicarágua, Honduras, El Salvador, Guatemala e o resto da América Latina nunca mais existam ditaduras, nunca mais se silencie alguém por pensar diferente ou exercer sua profissão, nunca mais haja ódio visceral do poder, e nunca mais se persiga pessoas por sua fé, porque, como muitos outros milhares, eu quero uma Pátria Livre para Viver.

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