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No Dia Internacional da Mulher, 08/03, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, foi convidado a participar do Seminário “Relações de gênero e seus impactos no Município de São Leopoldo”, que teve a participação da Ms. Clair Ribeiro Ziebell, da coordenadora do ObservaSinos, Dra. Marilene Maia e da Dra. Mariléia Sell. O evento foi realizado no Plenário da Câmara de Vereadores de São Leopoldo, que teve sua capacidade máxima preenchida e seguiu-se com uma caminhada com a temática “Todas Juntas por Nenhum Direito a Menos”.

Durante o seminário, a Coordenadora do ObservaSinos, Marilene Maia e o graduando em Ciências Econômicas na Unisinos, João Conceição, que também faz parte do Observatório, apresentaram o trabalho desenvolvido pelo IHU, bem como o realizado no ObservaSinos. João apresentou dados relacionados às mulheres, que foram sistematizados e podem ser vistos neste link

Durante sua fala, Marilene falou sobre o objetivo de reunir dados e informações e a partir disso, promover o debate sobre a realidade e como incidir contexto. “Estar aqui é um presente. Para nós seguirmos em frente como mulheres e homens, comprometidos em construir o futuro da nação, temos que ver a totalidade dos dados para que possamos fazer uma análise e dizer o que nós queremos. O que queremos dessa nação?”

Marilene também destacou o site do IHU como uma espaço para se tematizar os grandes eixos do Instituto e promover questionamentos e debates. “No site do IHU nós reunimos tudo o que nós realizamos, desde notícias diárias até grandes reportagens e entrevistas. Com isso, encontramos muitos números e dados que nos fazem pensar: Estamos vivendo mesmo esta realidade? Nós construímos essa realidade ou não? Qual é a realidade que queremos? Quais políticas públicas estão sendo implementadas para fazer enfrentamento a estas realidades ou que políticas públicas estão sendo construídas para garantir os direitos das mulheres?”.

A coordenadora do ObservaSinos também trouxe conceitos de Paulo Freire, afirmando que em seus estudos ele apontava que muito mais do que dados e números é fundamental que nós possamos ouvir o que as pessoas vivem sobre a realidade e só assim pode se construir políticas públicas efetivas para uma transformação de realidade. “Nós mulheres, na construção de políticas públicas para as mulheres vamos ter que criar interlocução com as diferentes políticas, como a de proteção social, saúde, trabalho, desenvolvimento econômico, se não vamos ficar capengas”, disse. Ela também apresentou conhecimentos do sociólogo Jessé Souza, que dizia que a realidade muitas vezes é invisível aos olhos. Que é preciso enxergar o que está por trás do que vem sendo informado. “Nós temos que ter muitos conhecimentos e muitos conceitos, mas também ficar atento e muito ágil para entender o que a realidade revela, para nós construirmos a realidade conforme desejamos”, finaliza.

Em sua explanação, Mariléia Sell utilizou o espaço para abordar as questões de gênero na sua interface com a linguagem e também expondo conceitos sobre gênero, sexo e sexualidade. De acordo com com Mariléia as três definições são  diferentes, mas estão completamente interligados: “Sexo é a nossa realidade biológica. Gênero é toda construção social que é feita em cima do nosso corpo biológico. Um construto social que acontece em milênios de trajetória e sexualidade é como eu uso o meu corpo para as minhas expressões eróticas e afetivas, como homoafetivas, heterossexuais, bissexuais e assexuais”.

Explicando sobre o funcionamento dessa construção social, Mariléia disse: “Como transformamos um corpo em masculino ou feminino? Incidindo sobre esse corpo através da cultura com os mais diferentes discursos. Fazemos sem nos dar conta, o tempo todo. Educamos as nossas meninas diferente dos meninos, para corresponder às expectativas sociais”.

Ela também alerta para que as diferenças sejam respeitadas e que as mulheres deixem de ser narradas através de estereótipos. “Como as mulheres vêm sendo narradas durante a história? Quem sempre teve o direito de contar a história da mulher? Temos sidos narradas há milênios por algumas estruturas de uma forma muito desfavorável, que perpetuam os estereótipos”.

Clair Ribeiro fez um apanhado histórico dos grupos que batalharam pelos direitos das mulheres na cidade de São Leopoldo e avaliou as relações de gênero e quais foram os impactos no município. “Nós buscamos até hoje esse empoderamento para que a gente rompesse essa desigualdade que se expressa nos dados que o IHU trouxe pra gente. Isso serve também para buscar o equilíbrio entre homens e mulheres, a igualdade onde existe a diferença, considerar e incluir o interesse de ambos no trabalho, nos bens de consumo e serviços, democratizar a economia e incidir nas políticas públicas”.

Para Clair, o fato de realizar o evento é uma forma de quebrar os preconceitos postos e afirmar o protagonismo das mulheres. “O evento é um marco na trajetória no protagonismo das mulheres em São Leopoldo. O ideal é que as mulheres conquistem os espaços públicos e que cresçam ainda mais”.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, ao longo do mês de março acessou os dados reveladores das realidades das mulheres nos municípios do Vale do Sinos. Seguem aqui apresentados os indicadores da violência, vulnerabilidade social, emprego e previdência social, saúde e participação das mulheres na política.

Violência

As estatísticas mostram que o combate à violência contra as mulheres precisa avançar muito no Brasil, mesmo após quase onze anos de promulgação da Lei Maria da Penha. O levantamento realizado pelo Mapa da Violência: Homicídio de Mulheres no Brasil averiguou que o país acumulou mais de 4,8 mil homicídios de mulheres no ano de 2013. O Rio Grande do Sul somou 210 casos nesse mesmo período, enquanto na Região do Vale do Rio dos Sinos foram 24 casos.

Esses números podem ser justificados pela possibilidade do direito à denúncia, especialmente por meio do Disque 180 para denunciar agressões. Em 2006, época de promulgação da Lei, foram recebidas quase 3 milhões de ligações. Os especialistas na temática analisam esse aumento como resultado da implementação de um conjunto de políticas públicas que contribuíram para o empoderamento das mulheres, possibilitando que elas criassem coragem para denunciar os casos de violência.

A tabela abaixo sistematiza os dados sobre o número de homicídios de mulheres no Vale do Sinos. O primeiro município da região a aparecer no levantamento é Canoas, com 42 homicídios de mulheres, seguido por São Leopoldo com 39 e Novo Hamburgo com 35. Entretanto, cabe destacar que os três municípios são os que mais possuem habitantes na região. Araricá e Ivoti são os únicos municípios do Vale do Sinos que, de 2009 a 2013, não tiveram nenhum homicídio contra as mulheres. Os municípios de Portão e Nova Hartz apresentaram um caso de homicídio.

A tabela 02 apresenta as notificações de violências registradas pelas mulheres através da Lei Maria da Penha. O Vale do Sinos registrou, somente no ano de 2016, 8.435 casos de violência às mulheres, como ameaça, lesão corporal, estupro, femicídio consumado e tentado.

Canoas é o município líder em casos de violência contra as mulheres, concentrando 2.164 notificações. Entre os diversos tipos de violência apresentados na tabela abaixo, o município só não possui a maioria no femicídio consumado, que apresentou o maior número de casos no município de Novo Hamburgo. A ameaça às mulheres segue sendo o tipo de notificação da Lei Maria da Penha mais notificado (5.053), seguido de lesão corporal (2.832) e estupro (488). O ObservaSinos publicou no ano passado uma nota com dados de anos anteriores. A nota pode ser acessada aqui.

Vulnerabilidade social

Outra vulnerabilidade social é o número de mães chefes de família sem ensino fundamental no Vale do Sinos. A partir dos dados do Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, o Atlas da Vulnerabilidade Social identificou que, em 2000, 13,37% das mães chefes de família não tinham ensino fundamental e possuíam filhos menores de idade; já no segundo Censo Demográfico realizado, o percentual no Vale do Sinos passou para 19,62%.

Emprego e Previdência Social

A pesquisa realizada pela Fundação de Economia e Estatística - FEE destaca que na última década a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho foi interrompida na Região Metropolitana de Porto Alegre – RMPA. O primeiro fator foi que as taxa de desigualdades de desemprego total das mulheres e de homens passou de 0,7 pontos percentuais para 1,0 entre 2015 e 2016. O segundo fator que também revela a interrupção foi o rendimento médio real/hora. A proporção entre o rendimento/hora das mulheres em relação aos homens diminui 88,0% em 2015 para 86,3% em 2016. A pesquisa justifica essa mudança pelo seguinte motivo: a jornada de trabalho das mulheres aumentou 1 hora, passando para 40 horas semanais, enquanto a masculina permaneceu estável em 43 horas.

A pesquisa também faz um debate sobre a relação entre mulheres e a Previdência Social. Os dados revelam que as mulheres contribuíram mais para previdência do que os homens. Do total dos trabalhadores brasileiros que não contribuíram para previdência social no ano de 2016, cerca de 17,50% foram homens e 16,20% foram mulheres. Outro fato destacado é que, desse percentual de mulheres que não contribuíram, 51,60% possuem idade acima dos 40 anos de idade. Além dessas constatações, a pesquisa aponta que mais de 12,10% das mulheres brasileiras vivem sem pensão, aposentadoria e ocupação. Outros números também são bastante alarmantes: 53,30% das mulheres que trabalham como autônomas não contribuem para previdência. Quando se trata do emprego doméstico, setor composto majoritariamente por mulheres, 40,6% não contribuem para previdência. O ObservaSinos compartilhou na íntegra a pesquisa publicada pela FEE.

Saúde

O Vale do Sinos atingiu o menor número de óbitos por morte de Vírus da Imunodeficiência Humana – HIV no ano de 2014, segundo os dados obtidos pelo Sistema de Informações de Mortalidade – SIM do Ministério da Saúde. Ainda assim, os dados sobre HIV na região são preocupantes, pois houve um óbito a cada dois dias no ano de 2014. Os municípios de Araricá e Nova Hartz não tiveram casos de mortes por HIV no ano de 2014, enquanto os demais municípios do Vale do Sinos registraram 191 mortes por caso de HIV.

Das 191 mortes por HIV na região, 130 (68,06%) foram do sexo masculino e 61 (31,94%) do sexo feminino. Não há nenhum município do Vale do Sinos em que os óbitos do sexo feminino tenham sido superiores aos do sexo masculino. Os municípios de Esteio e Sapiranga apresentaram o mesmo número de casos. Já Dois Irmãos, Estância Velha e Nova Santa Rita não tiveram nenhum óbito de mulheres por HIV.

Política

Os desafios das mulheres na política ainda são grandes. Os baixos percentuais de vagas nos cargos eletivos na Câmara, Senado e Assembleias Legislativas refletem, por consequência, nas Câmaras de Vereadores. No Vale do Sinos, segundo os dados do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul – TSE/RS, 576 mulheres foram candidatas e 1.201 homens concorreram à Câmara de Vereadores dos 14 municípios da região. Os dados apontam, portanto, que 67,59% dos candidatos foram do sexo masculino e 32,41% do sexo feminino. Apenas 14 mulheres conseguiram se eleger, ou seja, 2,7% das candidatas.

Na contramão da queda da representatividade das mulheres na política brasileira e gaúcha, o Vale do Sinos elegeu seis mulheres para comandar as prefeituras dos seus municípios a partir de 2017. Em relação ao pleito de 2012, o número de mulheres eleitas foi de quatro.

Estas realidades das mulheres apontam a necessidade de análise para intervenções. Os dados expostos contribuem para o planejamento, monitoramento, avaliação e controle social das políticas públicas, que devem ser assumidos pelos governos e sociedade civil. Participar é preciso e necessário.

No dia 28 de março de 2017, aconteceu na Unisinos a Oficina de acesso à base de dados do IBGE com ênfase na plataforma Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, que reúne tabelas estatísticas e permite aos usuários e profissionais elaborar tabelas e fazer o cruzamento de dados de acordo com as variáveis disponíveis. A atividade foi ministrada pelo Supervisor de Informações da Unidade Estadual do IBGE, Ademir Barbosa Koucher.

A Oficina - Base de Dados do IBGE/SIDRA é uma atividade ofertada pelo Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE com o objetivo de disseminar informação e formar profissionais, estudantes e demais interessados, que sejam capazes de utilizar os recursos e dados públicos disponibilizados pelo sítio do IBGE. Em uma das atividades anteriores, a oficina foi transmitida ao vivo pelo canal do IHUComunica no Youtube, e pode ser acessada neste link Oficina: Realidades e Bases de Dados do IBGE (Ademir Koucher). Também é possível assistir a gravação da oficina "Oficina Retratos da Realidade: acesso às bases de dados públicas", ministrada pela coordenadora do curso de Ciência Econômicas da Unisinos, Gisele Spricigo e que  teve o intuito de oportunizar o conhecimento acerca das principais bases de dados públicas, a fim de promover a formação e a informação crítica sobre as realidades dos diferentes municípios do Vale do Sinos e da Região Metropolitana de Porto Alegre

O palestrante destacou a nova versão da plataforma SIDRA, implementada recentemente. Em um breve momento inicial, Ademir apresentou os três grandes grupos de pesquisas que propiciam a sustentação para o trabalho da autarquia, quais sejam: estatísticas econômicas; estatísticas de população e domicílio; e estatísticas secundárias. O representante da instituição também relata algumas dificuldades e mudanças que vêm se colocando para o IBGE e para o futuro do trabalho desta, como é o caso dos altos custos para a realização dos censos populacionais a domicílio; uma reorientação nos questionários, tornando-os mais sucintos. Este último é alvo de uma polêmica, principalmente com relação ao corte de questões referentes à agricultura familiar e dos agrotóxicos do censo rural. Explica Ademir que, anteriormente, os questionários continham perguntas que abordavam o uso de agrotóxicos nas propriedades rurais, bem como a ocorrência de algum acidente de trabalho relacionado ao uso destes, mas que atualmente apenas questiona-se sobre o uso ou não de produtos agrotóxicos. As reorientações promovidas na instituição foram causadas pelo corte de gastos promovido pelo Governo Federal.

Nesse sentido, as pesquisas e os levantamentos de dados realizados pela instituição expressam importante contribuição para o conhecimento das realidades do país, e permitem subsidiar a elaboração de políticas públicas que sejam adequadas às realidades locais e nacional, objetivando uma busca efetiva para as demandas que se apresentam. Contudo, segundo o Supervisor de Informações da Unidade Estadual do IBGE do Rio Grande do Sul, o futuro das estatísticas e dos dados aponta para o terceiro grupo de estatísticas, chamado de secundárias, ou seja, para o uso de dados e levantamentos, não realizados pelo IBGE, mas por outras empresas deste ramo.

Programação ObservaSinos

A próxima oficina oferecida pelo ObservaSinos será realizada no dia 06 de abril, das 14h às 17h. Com o nome de “Painel – Diagnóstico socioterritorial e os desafios às políticas públicas”, a atividade busca promover um espaço para ampliar a discussão sobre os dados e as realidades do Vale do Sinos a partir do surgimento e implantação de diagnósticos socioterritoriais na região como instrumentos para o controle, avaliação e monitoramento das políticas públicas. O evento ocorrerá na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros e será ministrado pelo Bel. Paulo Crochemore da Silva, da Secretaria de Desenvolvimento Social de São Leopoldo.

Para realizar a inscrição, basta clicar aqui.

 

As informações divulgadas pela Fundação de Economia e Estatística – FEE por meio da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre – PED/RMPA mostram que para o mês de fevereiro a taxa de desemprego total se manteve novamente estável. 

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, compartilha a pesquisa publicada pela FEE.

Eis o texto:

De janeiro a fevereiro, a taxa passou de 10,6% para 10,8% da População Economicamente Ativa (PEA), com uma estimativa de 198 mil pessoas desempregadas, 3 mil a mais em relação ao mês anterior. De acordo com os pesquisadores, esses números ocorrem porque a redução da ocupação (menos 11 mil, ou -0,7%) foi superior à variação negativa da PEA (menos 8 mil, ou -0,4%). A taxa de participação diminuiu levemente de 51,9% para 51,6%, no período em análise. “É a menor taxa de participação da série histórica da Pesquisa, iniciada em junho de 1992”, sinaliza a economista da FEE Iracema Castelo Branco. Em fevereiro, a queda do nível ocupacional, na RMPA, foi de 0,7%, tendo sido estimado um contingente de 1.638 mil ocupados. “São 19 meses de queda contínua na ocupação, o que indica que o mercado de trabalho segue com parâmetros negativos. A taxa de desemprego só não aumenta pela saída das pessoas do mercado e não porque esteja ocorrendo geração de vagas”, explica Iracema.

Com referência aos setores de atividade, houve redução nos serviços (menos 25 mil ocupados, ou -2,7%), parcialmente compensada pelo acréscimo no comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (mais 8 mil ocupados, ou 2,5%) e na construção (mais 4 mil ocupados, ou 3,4%). A indústria de transformação também se manteve relativamente estável (mais 1 mil ocupados, ou 0,3%).

Entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, a massa de rendimentos reais apresentou redução para os ocupados (-5,0%) e para os assalariados (-2,1%). Em ambos os casos, esse comportamento deveu-se à retração do rendimento médio real e do nível de ocupação. Iracema avalia que essa contínua retração da massa de rendimentos torna ainda mais difícil uma recuperação do consumo das famílias que dependem dos rendimentos do trabalho. “E isso, acaba se refletindo no desempenho negativo da economia, principalmente no setor de serviços que ainda segue fechando postos de trabalho”, alerta.

Acesse pesquisa completa aqui.

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, publica a Carta do Mercado de Trabalho, dos meses de janeiro e fevereiro que é produzida pelo Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. A Carta mostra o movimento do trabalho no Brasil, no Rio Grande do Sul, na Região Metropolitana de Porto Alegre e no município de Canoas.

Segundo a Carta do Mercado de Trabalho do mês de janeiro, mercado de trabalho formal brasileiro registrou, entre admissões e demissões, saldo negativo no mês de janeiro de 2107, com 40.864 postos de trabalho com carteira assinada o que representa uma queda de 0,11% sobre o estoque de empregos do mês anterior. O setor da Indústria de Transformação (17.501) foi à atividade que mais abriu postos de trabalho. Já o setor de Serviços (60.075) foi o que mais fechou postos de trabalho.

Confira o conteúdo completo da Carta do Mercado de Trabalho de janeiro.

Dentro os destaques da Carta do Mercado de Trabalho do mês de fevereiro, é possível apontar que mercado de trabalho formal na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) no mês de fevereiro 2017 apresentou um acréscimo de 1.802 postos de trabalho com carteira assinada, uma ampliação de 0,16% sobre o estoque de empregos do mês anterior. O setor da Indústria de Transformação (1.982) foi o que mais ampliou os postos de trabalho ao mesmo tempo em que o Comércio (421) no mês foi o setor que mais fechou postos de trabalho com carteira assinada. No ano foram abertas 2.072 vagas de trabalho com carteira assinada.

Confira o conteúdo completo da Carta do Mercado de Trabalho de fevereiro.

Imagine que você precisa ir ao supermercado fazer as compras dos produtos básicos para poder passar o mês. Uma situação comum, que é vivida por grande parte da população de todo o mundo. Agora pense: será que você vai lembrar de todos os itens que precisa ou vai acabar esquecendo aquele produto essencial? Melhor fazer uma lista, não? Você pega um papel, escreve tudo o que precisa comprar e pronto. Tudo certo, você joga fora a folha que usou para anotar.

Talvez você não tenha se dado conta, mas ao descartar esse papel, se ele não for para o lugar certo, ele pode ficar de três a seis meses na natureza até se decompor. Seis meses é quase o tempo completo que leva a gestação de um ser humano, e aquele pequeno pedaço de papel continuou ocupando um espaço sem ter uma real utilidade.

Para que o papel possa retornar para as prateleiras e ser utilizado novamente, é preciso que ele seja reciclado. Por isso é importante estarmos atentos à destinação correta dos resíduos sólidos e, também, conhecermos mais sobre o caminho que este material percorre até chegar de novo às nossas mãos. O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, comprometido com a sistematização, análise e o debate sobre as realidades e as políticas públicas na região do Vale do Sinos, fez a aproximação com as cooperativas de catadores, com o propósito de dar vistas ao seu protagonismo nos processos de garantia ambiental e das políticas na cidade de São Leopoldo.

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, lançada em 2010 através da Lei nº 12.305/10, cada município deve implementar o seu próprio Plano Municipal de Resíduos Sólidos - PMRS e, a partir disso, colocar a operação da coleta seletiva na mão, preferencialmente, das cooperativas de catadores. Isto ficou definido pelo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR como Coleta Seletiva Solidária. Mas, conforme dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento - SNIS, apenas 33% das cidades do Brasil haviam elaborado o próprio PMRS até o ano de 2014.

Um entrave que também acontece com a desvalorização do trabalho de coleta dos catadores individuais. Existe a necessidade de conscientizá-los e inseri-los nas cooperativas, mas de uma maneira inclusiva e gradativa. Essa é uma das afirmativas e das lutas a que se propõe o membro do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis - MNCR, Alex Cardoso. Em entrevista concedida ao IHU, ele revela a problemática dos catadores de Porto Alegre e tenta fomentar uma discussão mais aberta entre os interessados e a prefeitura.

Já no município de São Leopoldo existem sete cooperativas que realizam a coleta seletiva. Elas são formadas por grupos de colaboradores que se dividem em diversas funções dentro do ambiente da associação. O princípio de tudo se dá através da ida do caminhão da coleta até os endereços em que cada associação é responsável. Esse roteiro é dividido por bairros para facilitar o atendimento ao público. Os resíduos sólidos do bairro Centro e também das empresas que se cadastraram para fazer parte da coleta seletiva são recolhidos por todas as cooperativas, em dias intercalados e com o rodízio organizados por eles, já que o volume de material é muito grande e assim fica mais justo para que todos possam aproveitar esse material eventualmente.

Contagem dos municípios brasileiros que possuem coleta seletiva (Arte: SNIS/Ministério das Cidades)

Depois de recolhido, o material é levado para os galpões das cooperativas e entregue para os trabalhadores que farão a triagem do material. Eles devem selecionar aquilo que é possível ser vendido em grande escala, já que nem todos os resíduos recolhidos irão realmente para a reciclagem. Para a analista de Ação Social do Programa Tecnosociais/CCIAS, da Unisinos, Renata Hahn, é importante salientar que nem todo o material consegue ser aproveitado pelos catadores. “O material que tem serventia para eles é somente aquele que é possível comercializar, infelizmente. Tem coisas que eles não têm como estocar e materiais que eles não têm o maquinário para transformar de um modo que possa ser vendido. Isso acaba se tornando rejeito e indo parar no aterro sanitário”.

Renata é uma das responsáveis pelo Programa Tecnosociais da Unisinos, que funciona como incubadora de empreendimentos econômicos solidários de geração de trabalho e renda. A equipe trabalha para auxiliar na criação e apoio desses tipos de organizações, que sozinhos não teriam uma assessoria especializada e não conseguiriam formalizar assuntos mais técnicos, como a transição de associação para cooperativa, por exemplo. Sobre a formação das cooperativas de catadores, Renata explica: “Os empreendimentos de economia solidária, principalmente no segmento de reciclagem, são geralmente formados por pessoas que não conseguiram se inserir no mercado de trabalho formal e acabaram ingressando na reciclagem”.

A segunda etapa da operação da coleta seletiva acontece após a triagem do material e consiste em aglutinar os resíduos iguais em grandes sacolas e levar para a prensa. Esses recipientes são chamados de “big bags” e é preciso cinco deles para fazer um fardo de 150 kg de garrafa pet ou três para fazer um fardo de 130 kg de plástico comum, por exemplo. Somente depois de prensado e separado corretamente é que o material será estocado para a venda posterior.

Segundo a explicação da especialista em Gestão Ambiental e Social, Joice P. Maciel e da socióloga e especialista em Políticas Públicas, Kellen Pasqualeto, que representam o coletivo de técnicas que atuam em atividades no segmento ambiental e social, Apoena Socioambiental, o papel do catador era desvalorizado e limitado ao trabalho de coleta irregular e triagem em 2005. A remuneração vinha somente do pouco material que eles coletavam individualmente e conseguiam fazer a comercialização na época. No mesmo ano, a prefeitura de São Leopoldo deu início à coleta seletiva, mas deixou o serviço prestado por conta de uma empresa privada.

Durante o ano de 2005, os coletores individuais que se organizaram em associações ou cooperativas começaram a receber um valor trimestral de R$ 4.500,00. A partir de 2009, eles passaram a adquirir os resíduos reutilizáveis e recicláveis por uma empresa privada contratada pelo município de São Leopoldo. De acordo com as representantes da Apoena Socioambiental, há apenas três anos o trabalho da coleta seletiva passou totalmente para as cooperativas e, a partir disso, o valor recebido pelo trabalho prestado à prefeitura aumentou. “Somente a partir da proposta da implantação do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS, em 2012, é que passaram a ser sete cooperativas de reciclagem conveniadas, as mesmas que a partir de 2014 e até o momento são contratadas para o serviço de coleta seletiva. Cada uma recebe em torno de R$ 24.000,00 mensais pelo serviço prestado”. Esse valor é referente ao contrato estabelecido com a prefeitura de São Leopoldo para que as cooperativas realizem o trabalho da coleta seletiva no município.

Quantidade de lixo produzido por pessoa em relação ao número de catadores (Arte: SNIS/ Ministério das Cidades)

Segundo a analista de Ação Social, Renata Hahn, essa quantia, atualmente, serve apenas para que as organizações consigam cobrir suas despesas com os gastos operacionais, e o dinheiro que eles conseguem obter como lucro é vindo da venda do resto do material separado para atravessadores. “O que as cooperativas estão lutando hoje é para que recebam também pelo material triado nas esteiras. Assim aumentaria o valor recebido e seria mais justo com os trabalhadores”, afirma Renata.

É isto o que acontece na CooperFeitoria, uma das cooperativas visitadas pelo ObservaSinos. Funcionando formalmente como uma cooperativa desde 2012, mas já existindo há 15 anos, ela possui 10 trabalhadores divididos entre os setores da coleta. É responsável pelo atendimento dos bairros Feitoria e Jardim América, em São Leopoldo. Como nas outras cooperativas, ela segue o modelo de autogestão, onde os próprios participantes da organização elegem um presidente para representá-los, mas todos têm influência nas decisões administrativas. O atual presidente da CooperFeitoria, Josué Carvalho, explica como o modelo funciona: “A cooperativa funciona assim: todos somos donos, mas todos temos que ter responsabilidades, tanto de funcionário como a de chefe. Cada um deve saber o seu papel e como executá-lo, sem esperar que outra pessoa fale. Temos que ter muito cuidado na disciplina e isso é um avanço que estamos fazendo”.

Josué foi catador individual por 15 anos e afirma que cada pessoa tem conhecimento do seu setor, da sua função e também do funcionamento da cooperativa como um todo. A partir disso, reuniões são programadas para que eles possam opinar e sugerir melhorias nos locais de trabalho. Perguntado sobre a importância do seu trabalho para o meio ambiente, ele responde de forma enfática: “Eu me preocupo em fazer um bom trabalho. A consequência dele é que vai ajudar a natureza e isso é muito importante para o meio ambiente, faz a diferença no nosso contexto. Mas infelizmente é muito pouco, é quase paliativo perto do todo”.

Mesmo assim, segundo as representantes da Apoena Socioambiental, Joice Maciel e Kellen Pasqualeto, depois da inclusão dos catadores na PMGIRS, algumas modificações na coleta puderam ser percebidas. Elas afirmam que a efetivação dos contratos de prestação de serviço trouxe um grande diferencial, pois além de garantir a execução da coleta pelos catadores, possibilitou ampliar o número de postos de trabalho em 40%, e a renda em 23%. “Esses dados também se revertem em benefícios ambientais. Aproximadamente sete mil toneladas que seriam enterradas no aterro sanitário, gerando um passivo ambiental e lucro para a empresa privada contratada, retornaram para a cadeia produtiva, revertendo-se em remuneração para os catadores e menos impactos negativos ao meio ambiente”, revelam.

Joice e Kellen também propõem uma análise mais aprofundada desses dados. Em entrevista concedida a elas pela Secretaria de Serviços Públicos de São Leopoldo no ano passado, os resultados dos resíduos encaminhados à reciclagem, no período de 2014 a 2016, de 7 mil toneladas, apontam um baixo impacto em relação ao montante de resíduos domiciliares que foram encaminhados ao aterro no mesmo período, que somaram 120 mil toneladas. Elas afirmam que, apesar dos números terem baixa influência no todo dos resíduos domiciliares, a importância da coleta é extremamente alta. “Porém, o impacto socioambiental torna-se significante, uma vez que atualmente essa política beneficia cerca de 90 famílias entre as sete cooperativas de catadores, que passam a ter melhores condições de trabalho e de remuneração; benefícios que se estendem para aproximadamente outros 340 beneficiários indiretos, familiares desses trabalhadores”.

Também é importante frisar a participação das cooperativas na educação ambiental, direta ou indiretamente, através da coleta e destinação dos resíduos recicláveis. “Muitas cooperativas possuem ótimo relacionamento com a comunidade do entorno onde operam, bem como realizam palestras em escolas municipais e participam de eventos relacionados aos temas ambientais da cidade”, afirmam Joice e Kellen.

Conforme o atual diretor de resíduos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente - Semmam, Mario Celi, os catadores são os agentes principais da coleta. “Eles são os protagonistas do processo. A prefeitura dá os meios, através de convênios e contratos, e eles fazem a própria gestão”. Mario também fala da importância das cooperativas em relação ao meio ambiente e ao município. “As cooperativas são fundamentais para a melhoria da saúde do meio ambiente e também são o carro-chefe da educação ambiental. Todo esse material que não seria aproveitado, agora volta para nós com um novo uso. Isso é excelente. Além disso, com a evolução das cooperativas, teremos o fim dos aterros sanitários, o que reduzirá o custo da prefeitura em 60% a 70%”, revela.

Incêndio e recomeço na CooperFeitoria

Recentemente a CooperFeitoria sofreu um revés grande em suas instalações. Um dos galpões da cooperativa foi atingido por um incêndio em novembro de 2016, afetando o galpão que funcionava para receber o material e também onde ficava o escritório administrativo. De acordo com Josué, o local recebia em média 30 toneladas de material por mês. Mesmo assim, ele e os companheiros de cooperativa não se deixaram abater e continuaram trabalhando no outro galpão disponível. “Com a destruição do outro local, nós aproveitamos o momento de tragédia para organizar esse galpão e centralizar o trabalho. Agora vamos avançar no beneficiamento do material. Também pretendo construir uma horta comunitária no terreno onde pegou fogo para compartilhar com a comunidade do bairro Feitoria”.

O beneficiamento de material é uma das melhores técnicas disponíveis no mercado e é utilizada para transformar os resíduos sólidos de uma forma que eles possam ser reutilizados. Para realizar essa atividade, é necessário um equipamento diferente do que as cooperativas já possuem e o custo de compra é elevado. A CooperFeitoria conseguiu adquirir o equipamento através de um projeto em parceria com outras empresas e já em 2017 pretende começar a trabalhar nesta nova etapa. “O que nós fazemos hoje não é reciclagem. A gente faz coleta, triagem e fardamento. Reciclagem é transformar. A partir do beneficiamento do material é que isso vai acontecer”, afirma Josué.

Galpão de coleta e triagem da CooperFeitoria. Balança de pesagem no detalhe e ao fundo as "big bags" (Foto: Lucas Schardong)

Com este avanço na tecnologia da cooperativa, os materiais coletados pela CooperFeitoria serão vendidos diretamente para as empresas que têm interesse, ao invés de fazer isso para um atravessador ou para cooperativas de fora do município, como funciona atualmente. Assim, o valor do material se elevará, trazendo diversos benefícios para todos os trabalhadores. Hoje, uma embalagem simples de arroz é vendida a R$ 0,30 o quilo, por exemplo. Após o beneficiamento do material, ele poderá ser vendido diretamente para um comprador por até R$ 2,70, dependendo da qualidade do material. Isso daria um aumento de quase 800% no valor inicial, sendo que possibilitaria pagar os custos de operação e sobraria ainda 63% do valor final da venda para dividir entre os trabalhadores.

Mas apesar de todo o trabalho realizado pelas cooperativas, Josué afirma que muita coisa precisa ser melhorada. “Hoje, a CooperFeitoria, nos setores que ela faz, ela atinge mais de 12 mil pessoas por semana. Ela não tira 5% do material reciclável que é produzido pela população”, revela. Isso se deve, conforme o presidente da CooperFeitoria, à falta de estrutura que as cooperativas possuem. Assim, elas não conseguem aumentar a produção e manter o processo com qualidade. Ele também afirma que não bastaria só melhorar os equipamentos e os locais de trabalho, mas também é necessário se preocupar com a qualificação das pessoas que trabalham na reciclagem. “É preciso profissionalizar as cooperativas. Elas precisam ser vistas como empresas e funcionar como tais. Com o apoio do governo, que precisa cobrar resultados em contrapartida. Assim o sistema se tornaria melhor e mais eficiente”, explica.

O trabalho é uma das cinco grandes áreas orientadoras de reflexão e ação do Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Como um programa do Instituto, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos também se pauta nesta orientação. Preocupado com a saúde e a segurança do trabalhador, o Observatório promoverá, juntamente com outras entidades, a 3ª Edição do Ciclo de Estudos de Saúde e Segurança no Trabalho do Vale do Rio dos Sinos.

A 3ª Edição do Ciclo de Estudos terá início na próxima segunda-feira, 27 de março, sendo direcionada, principalmente, para os trabalhadores do ramo metalúrgico que fazem parte das Comissões Internas de Prevenção de Acidente - CIPAs. Além disso, pesquisadores e outros trabalhadores que estejam envolvidos com saúde e segurança também fazem parte do público-alvo do Ciclo de Estudos.

O evento é realizado com a parceria do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e região, da Confederação Nacional dos Metalúrgicos – CNM e do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador Região do Vale do Rio dos Sinos e Canoas – CEREST. Além do aprofundamento sobre as realidades do trabalho, são analisadas as regulações garantidoras da saúde e da segurança do/a trabalhador/a. Soma-se a isso o desafio da construção do Mapa de Saúde e Segurança das empresas e dos municípios. O curso oferecerá certificação aos participantes como atividade de extensão.

Para a coordenadora do CEREST Canoas-Vale dos Sinos, Marta Boeck, o Ciclo de Estudos possibilita outro olhar sobre a saúde do trabalhador através do encontro de trabalhadores e membros de CIPA. “O Ciclo agrega a reflexão sobre o mundo do trabalho e a relação que as CIPAS podem ter com a interinstitucionalização, não só na área da segurança, mas também da saúde, educação e outros”.

Marta também revela a necessidade de compreender as dificuldades de gestão na segurança e na saúde do trabalhador e afirma que isso é decisivo para o sucesso de qualquer ação. Ela ressalta a participação do CEREST no Ciclo, já que o Centro tem o compromisso de ser um polo irradiador de processos e fazeres que contemplem a promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde dos trabalhadores. “Neste contexto o CEREST tem contribuído na medida em que agrega formas e práticas de intervenção no mundo do trabalho, e socializa estas práticas com os participantes, oportunizando processos de reflexão”, afirma.

Outro parceiro do evento, o Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e região, também trabalha com a ideia, não só de responsabilidade social, mas também de preocupação com a saúde do trabalhador. Conforme o metalúrgico e dirigente sindical Genilson Vargas da Rosa, o Ciclo de Estudos é importante para que se mude o caminho da segurança do trabalho no Vale dos Sinos e para que se firme uma cultura de prevenção e cuidado com a segurança e a saúde de todos os trabalhadores. “Com o trabalho que desenvolvemos através do Ciclo de Estudos, nós trazemos essa precaução do trabalhador para com eles mesmos. No momento que eles começarem a se preocupar com isso, se criará uma cultura de conscientização, melhorando a vida do trabalhador dentro das indústrias”, afirma.

O Ciclo tem como encaminhamento para os seus participantes a elaboração de projetos que possam favorecer a garantia da saúde e da segurança no trabalho. Um dos resultados das atividades propostas foi a realização do trabalho do metalúrgico, membro de CIPA e estudante de Direito da Unisinos, Lucas Fogaça. Trabalhador da empresa Taurus Armas e Acessórios, ele chegou ao Ciclo de Estudos através de um convite feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo.

Após os estudos realizados no Ciclo e também buscando outras formas de conhecimento, ele elaborou um projeto de prevenção à saúde e segurança do trabalhador da sua empresa. “O trabalho que eu desenvolvi foi um projeto para prevenção. Após uma série de mudanças no layout da fábrica, avaliei que o impacto de altas temperaturas na saúde do trabalhador aumentaria dentro dos ambientes de trabalho durante o período do verão”.

Sobre o Ciclo de Estudos, Lucas afirma que a iniciativa é válida, pois o tema da segurança e saúde do trabalhador é muito complexo e precisa ser estudado e aprimorado cada vez mais. “A abordagem do Ciclo é muito boa, pois desenvolve a capacidade técnica e de conhecimento do trabalhador, algo fundamental para qualquer Cipeiro. Não é possível fazer um bom trabalho na CIPA sem saber legislação, sem saber os direitos e o que as pessoas que estudam os temas estão falando. O Cipeiro que quiser fazer um bom mandato de CIPA precisa estudar e o Ciclo abre a oportunidade de dar um conteúdo maior do que as empresas dão nos cursos de CIPA, por exemplo”.

Lucas também valorizou a troca de experiências com trabalhadores de outras empresas. “Outra coisa muito legal e que para mim foi muito importante é a conversa com pessoas de outras empresas. Tu começa a ter uma visão mais geral dos problemas e necessidades do tema segurança e saúde do trabalho, troca experiências, conhece as especificidades de outras empresas e aprende com as semelhanças e também com as diferenças. Isso torna uma experiência mais completa”.

Perguntado sobre a sua expectativa para o futuro enquanto estudante do assunto, Lucas respondeu: “Estudar a saúde e a segurança do trabalhador é algo que dá sentido à minha vida. Poder estudar e me focar nisso, em vários momentos da minha vida, é recompensador. Pretendo continuar focando nesse assunto e aliar isso com a minha graduação em Direito. Também espero que o Ciclo de Estudos continue, já que muita coisa precisa ser melhorada, e para que as coisas mudem nós temos que investir no trabalhador”.

Confira abaixo a programação da 3ª Edição do Ciclo de Estudos de Saúde e Segurança no Trabalho do Vale do Rio dos Sinos:

Programação

27 de março – Encontro presencial

  • 8h30min – Abertura
  • 9h – Concepções e realidades da Saúde e da Segurança no Trabalho no país, no estado e na região do Vale do Sinos
  • 10h30min - Debate
  • 11h - Intervalo
  • 11h30min – Os Mapas de Risco e os Mapas da Saúde e da Segurança no trabalho como estratégias de aproximação e intervenção nas realidades
  • 12h - Trabalho em Grupos
  • 12h30 - Almoço
  • 13h30min – Painel: Redes Munícipais das Políticas Públicas e de Atenção à Saúde
  • 15h - Intervalo
  • 15h15min – Legislações, regulações e serviços garantidores da Saúde e da Segurança das empresas e dos(as) trabalhadores(as)
  • 15h45min - Debate
  • 16h – Projetos para elaboração dos mapas de saúde e segurança das empresas e municípios pelos participantes do Ciclo
  • 16h30 - Trabalho em grupos para a elaboração dos projetos e feitura da avaliação do encontro.
  • 17h - Socialização dos resultados dos grupos
  • 17h30min – Encerramento

10 de abril – Encontro presencial

Monitoramento do processo de sistematização dos mapas de saúde e segurança das empresas e dos municípios. (Horário a confirmar com os participantes do Ciclo)

18 de abril – Encontro presencial

  • 14 às 16h – Roda de conversa dos trabalhadores com prof. José Dari Krein
  • 17 às 19h - Conferência – Os desafios do trabalho no mundo contemporâneo – Prof. Dr. José Dari Krein
  • 19 às 20h - Cerimônia de encerramento do Ciclo de Estudos e entrega de certificados

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED do Ministério do Trabalho – MT divulgou recentemente a movimentação no mercado formal de trabalho no mês de dezembro de 2016. Os dados indicam uma redução de 3.884 postos de emprego no último mês do ano no Vale do Sinos. O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou a base de dados do MT para verificar essa movimentação na região do Vale do Sinos.

A tabela 1 mostra que o saldo negativo de admitidos e desligados em emprego formal no mês de dezembro foi de 3.884. A redução nos postos de trabalho culminou em um saldo acumulado de 4.074 no ano de 2016. Os dados do CAGED ainda revelam que, quando se compara com o ano anterior, a situação é um pouco melhor. No ano de 2015, o saldo acumulado foi de menos 5.952 postos de trabalho. Entretanto, apesar desse fator “positivo”, é necessário destacar que tanto em dezembro de 2015 quanto em dezembro de 2016 nenhum município do Vale do Sinos teve saldo positivo entre admitidos e desligados. Outro elemento importante é a elevação do desemprego no mês de dezembro de 2016. No mês anterior, ou seja, em novembro, o saldo negativo entre admitidos e desligados foi de 1.141.

Já a tabela 2 apresenta a movimentação no mercado de trabalho formal no Vale do Sinos em dezembro de 2016 por setor econômico. Somente o setor da indústria de transformação foi responsável pela redução de 2.183 postos de trabalho. Ao analisar os oito setores econômicos definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, apenas o setor de extrativa mineral apresentou saldo positivo entre admitidos e desligados. O setor apresentou um saldo de 21 postos de trabalho. Essa situação foi impulsionada pelo município de Canoas, que obteve um saldo positivo de 18 admitidos no setor. Entretanto, na construção civil o município contribuiu para que o saldo negativo fosse de 509 postos de trabalho. A mesma situação aconteceu com Novo Hamburgo no setor de serviços.

Desde o fim de 2014 há uma redução acentuada de postos de emprego formais no Vale do Sinos. Os dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre – PED-RMPA mostra que no ano de 2016 o nível na retração ocupacional foi o maior desde 1993. Além de aumentar a taxa de desemprego, este cenário aumenta a informalidade. É o que pode ter acontecido no mês de dezembro. O número de desempregados aumentou substancialmente de novembro para dezembro, exatamente quando se ampliam as vagas temporárias no mercado de trabalho.

A Fundação de Economia e Estatística apresentou mais uma edição do Boletim Especial - Mulher e Trabalho. A edição desse mês evidencia indicadores da evolução do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA entre homens e mulheres. A pesquisa destaca que na última década a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho foi interrompida pela taxa de desemprego e pelo rendimento médio real por hora trabalhada. A pesquisa também faz um debate sobre a relação entre mulheres e a Previdência Social. 

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, compartilha a pesquisa publicada pela FEE.

Eis o texto:

A desigualdade entre as taxas de desemprego total feminina e masculina passou de 0,7 pontos percentuais em 2015 – menor patamar da série PED-RMPA – para 1,0 p.p. em 2016, interrompendo-se a trajetória de declínio iniciada em 2004.

Outro indicador também revela que a trajetória da última década pode ter iniciado uma inflexão negativa. O rendimento médio real hora, considerado a análise mais precisa da diferença de renda entre mulheres e homens porque considera a jornada de trabalho, mostra que a proporção do rendimento/hora das mulheres em relação aos homens diminui de 88,0% em 2015 para 86,3% em 2016, isso porque a jornada feminina aumentou em uma hora, passando para 40h semanais enquanto a jornada masculina permaneceu estável (43h).

O informe mostra que houve redução do rendimento médio real dos ocupados em todos os setores de atividade econômica para ambos os sexos, mas em 2016, a retração do rendimento médio real na indústria de transformação e no comércio foi mais intensa para as mulheres, enquanto para os homens o setor de serviços foi mais acentuado. Comportamento diferente do que ocorreu em 2015, ano em que todos os setores tiveram redução mais intensa para os homens.

A pesquisadora da FEE Iracema Castelo Branco explica que as mudanças dificilmente são bruscas, mas que os indicadores começam a se corroer por dentro. “Verificou-se interrupção na trajetória de redução das desigualdades na taxa de desemprego total e no rendimento médio real por hora, aumentando a diferença do rendimento por hora entre os sexos. Embora o rendimento médio real mensal tenha se reduzido para ambos, a jornada de trabalho da mulher teve um aumento de uma hora enquanto a dos homens ficou estável, então a mulher passou a ganhar menos por hora. Se analisarmos o rendimento mensal, sem controle de jornada do trabalho, a tendência ainda é de redução do diferencial de renda”. Segundo os rendimentos por setores, em dois importantes a queda foi mais intensa para mulheres do que para homens (indústria e comércio). “Então, a projeção possível, conforme a literatura registra, é que em momentos de crise aqueles que tradicionalmente são mais vulneráveis, como mulheres e jovens, são os primeiros a serem prejudicados”, pondera. Mas a economista enfatiza que as transformações ocorrem de modo mais sútil. “Estamos diante de algumas pistas que demonstram que as características e a continuidade da recessão tendem a repercutir nas mulheres”, prevê.

Outros dados capturados pelo Informe mostram que a taxa de participação das mulheres diminuiu de 47,2% para 45,8% da PIA feminina, o inverso do que ocorreu no ano anterior, mas retoma a tendência de queda registrada de 2009 a 2014. Em 2016, o contingente de desempregadas foi estimado em 98 mil mulheres, acréscimo de 16 mil em relação ao ano anterior. Esse resultado deveu-se ao fato de que a redução na ocupação feminina (menos 38 mil ocupadas, ou -4,7%) foi superior à saída delas do mercado de trabalho (menos 22 mil pessoas, ou -2,4%). Em 2016, o nível ocupacional apresentou retração de 4,7% para ambos os sexos. O contingente de mulheres ocupadas foi estimado em 779 mil, sendo 38 mil a menos do que no ano anterior. Segundo a Pesquisadora da FEE, Patrícia Biasoli, o desempenho desfavorável do nível ocupacional das mulheres não foi pior, pois o setor mais impactado, com redução de 11,6%, foi a indústria, tradicionalmente com mão de obra masculina. A queda do nível ocupacional revelou-se desfavorável à formalização das relações de trabalho diante da intensa redução do emprego assalariado feminino (-7,2%) e masculino (-6,0%). Para as mulheres, observou-se redução tanto do emprego com carteira assinada (-7,6%) quanto do sem carteira (-2,9%).

Mulher e Previdência

O Informe Especial ainda fez um levantamento específico relacionando questões das mulheres e da Previdência Social para colaborar com o debate sobre possíveis reformas. Os dados revelam que em 2016 o percentual de mulheres que contribui para a previdência é maior que o dos homens.  Do universo de trabalhadores que não contribuem para a previdência, 17,5 % são homens e 16,2%, mulheres. Desse total de mulheres que não contribui, 51,6% têm mais de 40 anos. “Logo esse contingente vai se deparar com a falta de proteção social, com a impossibilidade de se aposentar”, pondera a economista Iracema Castelo Branco.  12,1% do total de mulheres com mais de 60 anos (55 mil) vivem sem ocupação, sem pensão e sem aposentadoria. “E se as mudanças previstas forem implementadas, esse contingente vai aumentar ainda mais”, prevê Iracema. Outros números complementam um cenário preocupante: 52,3% das mulheres com emprego autônomo não contribuem para a previdência. Com relação ao emprego doméstico, uma atividade em que o maior contingente é composto por mulheres, 40,6% não contribuem para previdência.

Acesse a pesquisa completa aqui.

 

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, publica a "Carta Especial Mulheres no Mercado de Trabalho", que é produzida pelo Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. A edição de 2017 traz pesquisas que buscam saber onde esta localizada a força de trabalho feminina, qual a sua participação proporcional, bem como informações sobre a sua remuneração. Dos dados apresentados destaca-se, por exemplo, que 43,6% dos vínculos no mercado de trabalho formal foram ocupados por mulheres em 2016 e que o mercado de trabalho feminino cresce cerca de 10 pontos percentuais mais que o total do mercado de trabalho.

Para  que a elaboração da Carta Especial Mulheres no Mercado de Trabalho possa ser elaborada, o Observatório Unilasalle recorre a categorização ao nível de seção da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE. O material é elaborado a partir dos dados disponibilizados pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, por meio da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS.

As informações dizem respeito aos anos de 2006 e 2016, últimos dados divulgados. Como recorte metodológico selecionou-se quatro regiões geográficas (Brasil, Rio Grande do Sul, Região Metropolitana de Porto Alegre e o município de Canoas) para realizar a pesquisa. Espera-se com material visualizar o papel das mulheres no mercado de trabalho formal no sentido de problematizar a contribuição da força de trabalho feminina.

Clique aqui para acessar a publicação completa.