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“Estamos em um momento extremamente crítico, pois não há uma crise conjuntural, e sim uma crise estrutural. É um momento novo do capitalismo, que é abrangente e alcança todos nós e atinge as relações de trabalho”. A frase dita pela economista e coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE, Lúcia dos Santos Garcia, reflete sua exposição sobre as políticas públicas de trabalho, realizada durante uma oficina promovida pelo Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

O evento foi realizado na quinta-feira, 01/06, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros e trouxe para o debate as realidades do trabalho, emprego e desemprego no contexto da crise econômica capitalista vivida no Brasil há mais de 40 anos. Lúcia Garcia também expôs a trajetória das políticas públicas de trabalho e trouxe uma reflexão sobre o desmanche que vem ocorrendo sobre os direitos e políticas do trabalho. Sobre isso, ela apresentou o conjunto de políticas na área econômica, sendo que boa parte delas incide sobre o volume de emprego e a qualidade de emprego, mas há um corpo de políticas especializadas para a área do trabalho.

Ao iniciar sua apresentação, Lúcia destacou a importância de se conhecer as diferenças entre as políticas públicas de mercado de trabalho e aquelas com incidência no nível de emprego. As políticas públicas com incidência no nível de emprego, de acordo com Lúcia, podem ser divididas entre: Gestão macroeconômica (monetária, cambial, fiscal), Políticas Sociais (saúde, educação, assistência social), Políticas de Renda e Tributárias, que são ferramentas que não se encontram ao alcance dos governos municipais e estaduais, mas em nível nacional. 

Segundo a economista, as políticas públicas de mercado de trabalho incidem diretamente nos espaços de trabalho. “No conjunto da política pública de uma maneira geral, há um segmento de políticas muito especializado, que são políticas de mercado de trabalho. Efetivamente, o alcance dessas políticas se faz no espaço de oferta e demanda de Força de Trabalho. Elas são capazes de influenciar, de uma maneira geral, as outras políticas, mas elas são políticas clássicas de ação direta sobre o trabalho”, revela. A exemplo destas políticas que são limitadas ao mercado de trabalho, Lúcia cita: Estabelecimento de remuneração básica (Salário Mínimo), Previdência Social, Legislação trabalhista, Sistema de Relações de Trabalho e o Sistema Público de Emprego.

Entre as políticas públicas voltadas ao trabalho, Lúcia apontou um subconjunto, que historicamente denomina e conforma o sistema público de emprego. “O sistema público de emprego é baseado em três ações fundamentais, embora possa ter associação com outras políticas que são transitórias, complementares ou utópicas. As três ações são: seguro-desemprego, que tem como objetivo a proteção do trabalhador; a intermediação, que tem como função a reabsorção rápida de desempregados; e a qualificação profissional, que serve como fomento à qualificação continuada”.

Lúcia também apresentou a evolução do capitalismo no mundo, com a intenção de demonstrar como a economia chegou ao ponto em que estamos. “Compreendo que, para entender os limites das políticas públicas na área do trabalho, é preciso percorrer e olhar de uma maneira mais ampla essa organização capitalista. O capitalismo é muito recente, não é uma forma natural de organização social, é uma forma datada historicamente, que iniciou por volta de 1780 e teve seu crescimento a partir da primeira e da segunda revolução industrial”.

De acordo com a economista, as crises capitalistas não são de escassez, e sim de abundância de mercadorias. Ela exemplifica isso através da grande crise que ocorreu em 1875 e da depressão que marcou a década de 1930. “Quando faltar comida não vai ter crise capitalista. Quando faltar habitação não vai ter crise capitalista. Só vai haver crise capitalista quando tu tiveres um mar de mercadorias e uma inexistência de mercado para absorvê-las. Quando a crise não tem solução, ela pode ser extremamente disruptiva do modelo social”, ressalta.

A economista do DIEESE afirmou que a grande crise que desencadeou a Primeira e a Segunda Guerra foi percebida por todos os envolvidos, direta ou indiretamente, e, partir disso, começou a se desconstituir uma ideia de liberalismo econômico que estava imposta e se colocando um conceito de fortalecimento da regulação das relações contratuais. “A própria crise econômica leva a um colapso tal, que você tem que começar a abandonar a economia e a ideia de que o mercado resolve tudo e botar uma mesa de negociação no meio disso. A grande mesa de negociação constituída neste processo foi a própria Organização Nacional do Trabalho - OIT. Ela surge regulando o tamanho da jornada de trabalho, a necessidade de ter agências públicas de emprego e de haver um sistema de seguridade da renda para os trabalhadores, a regulação do trabalho noturno para homens, mulheres e jovens e a proteção para a maternidade”.

A partir disso, bem como de outros fatores, começou a se constituir a Sociedade Salarial entre o pós-guerra e com seu auge nos anos 1970. Dentre as medidas tomadas para as políticas do trabalho, Lúcia destaca a Convenção nº 88 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, que ocorreu em 1948 e que definiu que todos os Estados devem dar atenção intersetorial das políticas para o mercado de trabalho. “A sociedade salarial está baseada em um grande acordo, que tem três grandes linhas: legislação das condições básicas de contratação da força de trabalho, políticas públicas de proteção social e do trabalho e direito de representação, organização e de pacto pela democracia”. Segundo Lúcia, o momento atual demonstra que estas regras do acordo não estão sendo seguidas. “Se eu faço um acordo deste com uma pessoa e ele se rompe, o que acontece? A pessoa vai embora e não volta mais. O que acontece hoje é a desvalorização da sociedade do trabalho e a desconstituição deste acordo. Como eu trabalho com isso, e, principalmente, como eu trabalho com isso se eu não me pergunto como esses acordos se deram e como eles se desmancharam ao longo do tempo?”, indaga.

No Brasil, conforme Lúcia, os sinais da crise do modelo de desenvolvimento capitalista aparecem desde os anos 1970, com o esgotamento do sistema de regulação do trabalho no núcleo produtivo, onde os acordos anteriores não satisfazem, com queda do consumo e aumento da insegurança produtiva e desvalorização do trabalho, através da redução do emprego e da participação dos salários no produto social. “Com as crises, começa a haver menos emprego, menos trabalho. As empresas passam a ter menos lucro e o Estado recolhe menos impostos. Toda vez que o sistema começa a ter esse esgarçamento, o governo começa a fugir para a forma mais líquida da riqueza: o dinheiro”. Essa fuga para o dinheiro, de acordo com Lúcia, é a forma mais segura utilizada pelos governos e a moeda começa a existir em abundância, criando produtos financeiros e uma complexidade do mercado financeiro. Essa crise, que vem se prolongando há 40 anos, é reeditada em 2008, acompanhada da redução do espaço produtivo, esmagamento da lucratividade e financeirização.

Para Lúcia, a financeirização é alimentada pela desvalorização do trabalho, pois requer a restrição das políticas sociais e de proteção social, redução da liberdade de organização, presença sindical e dos espaços democráticos. Isso faz com que a sociedade viva uma realidade do trabalho com muitas alterações do Sistema Público de Emprego, trazendo para a população um diagnóstico conservador, a responsabilização do trabalhador pelo desemprego, reinserção do trabalhador em condições desfavoráveis e precárias. Essas novas modalidades vêm para substituir o emprego padronizado, na tentativa de se moldar rapidamente à instabilidade econômica.

Isto pode ser percebido através do fomento da auto-ocupação, nos casos de empreendimentos. Para Lúcia, esse modelo pode provocar uma reflexão sobre o trabalho independente em duas vertentes. “Um lado desse trabalho não se dá, necessariamente, sobre a organização produtiva de matriz capitalista e de matriz de reprodução das relações de poder dentro da fábrica. Há uma tendência a isso, vindo à linha da matriz de economia solidária. Mas pelo outro lado nós também temos uma saída bastante despolitizada, isenta de uma discussão de caminho de futuro econômico”. Ela acredita que ações, como feiras de economia solidária, por exemplo, necessitam estar articuladas com um projeto societário de desenvolvimento.

Ainda no mercado de trabalho brasileiro atual, desde 2011 até hoje, temos um conflito distributivo deflagrado. Lúcia afirma que a partir de 2014 existe um ataque muito forte do financeirismo ao resultado eleitoral do Brasil. Com isso ocorre crescimento do desemprego e destruição de postos de trabalho, declínio dos empregos protegidos/formais, elevação do tempo de desemprego e queda nas rendas do trabalho e massa de rendimentos. “Vivemos um processo da economia brasileira que vem de modo exógeno. Ela estava em um processo de estagnação, mas, após esse ataque de 2014, chegamos às situações em que nos encontramos hoje. O tamanho do mercado de trabalho no Brasil está bastante estabilizado, mas o emprego, a ocupação, está caindo. Ou seja, as taxas de desemprego estão aumentando – por exemplo, os dados do emprego em Porto Alegre, no mês de abril, caíram 5,5%. O maior problema disso é que essa queda vem de uma outra queda, de 7,3%, que ocorreu em 2016. Outra coisa que estamos vendo é que o desemprego vem crescendo de uma maneira muito larga, ou seja, ele está se tornando de longa duração e, se isso acontece, o desemprego é avassalador”, revela.

A economista do DIEESE também afirmou que as crises são extremamente prejudiciais às mulheres, pois é onde se perde mais o espaço que foi conquistado. Isso foi evidenciado através da análise Mulheres e Trabalho: evidências da desigualdade no Vale do Sinos, que apontou números reveladores em relação aos dilemas históricos e contemporâneos da desigualdade de gênero presentes na sociedade. Ela trouxe, ainda, a discussão sobre as reformas previdenciária e trabalhista, que compõem o quadro atual da política brasileira e apontam a ruptura com as políticas locais de trabalho e desenvolvimento.

Clique aqui para assistir o vídeo completo da oficina Trabalho e as Políticas Públicas, que foi transmitida ao vivo e gravada no canal do Youtube do Instituto Humanitas Unisinos. Recentemente o ObservaSinos também produziu notas sobre as diferentes realidades do Vale do Sinos, como a "Transparência de dados governamentais", "São Leopoldo e Vale do Sinos têm saldo positivo no mercado de trabalho formal em março" e "As realidades das mulheres no Vale do Sinos".

A Fundação de Economia e Estatística - FEE divulgou quarta-feira, 31/05, o informe da Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre para o mês de abril de 2017. Os dados apresentados mostram que o rendimento médio referente ao mês de março aumentou para o total de ocupados e assalariados e diminuiu para os autônomos. Os  dados ainda mostram que após seis meses de relativa estabilidade, a taxa de desemprego da População Economicamente Ativa - PEA, saiu de 10,8% para 11,3%, entre março e abril.

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, compartilha a Pesquisa de Emprego e Desemprego.

Eis o texto

A economista da FEE, Iracema Castelo Branco, explica que esse resultado se deve à redução da ocupação em -2,1%, com menos 34 mil vagas, um número superior à saída da PEA (menos 28 mil, ou -1,5%). “A taxa de participação diminuiu de 51,3 % para 50,5% no período em análise, atingindo o menor patamar da série histórica”, alerta. Houve redução na indústria de transformação (menos 38 mil ocupados, ou -13,6%) e aumento nos serviços (mais 8 mil ocupados, ou 0,9%). Os setores de comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (menos 1 mil ocupados, ou -0,3%) e construção (menos 1 mil ocupados, ou -0,8%) se mantiveram estáveis.

Para a Coordenadora Nacional do Sistema PED, Lúcia Garcia, o RS e mais especificamente a Região Metropolitana de Porto Alegre têm um comportamento de sentinela no mercado de trabalho. “O que acontece na Região Metropolitana de Porto Alegre é o que ocorre cerca de três meses depois em outras Regiões Metropolitanas brasileiras. Isso é preocupante porque tínhamos a expectativa da estabilidade na taxa de desemprego, mas essa piora coloca não só o RS mas o país também em um momento de grande dificuldade”, avalia.

Os assalariados tiveram redução na ocupação (menos 38 mil, ou -3,3%), tanto no setor privado (menos 32 mil, ou -3,3%) quanto no setor público (menos 5 mil, ou -2,8%). O emprego com carteira assinada teve redução de 3,8% (menos 33 mil) e o emprego sem carteira se manteve relativamente estável (mais 1 mil, ou 1,1%). Mas outros segmentos fornecem pistas para compreender um quadro deterioração do mercado de trabalho, de acordo com a economista Iracema Castelo Branco. “Constatou-se aumento entre os trabalhadores autônomos (mais 8 mil, ou 3,6%) e empregados domésticos (mais 3 mil, ou 2,9%). E foi justamente para os trabalhadores autônomos que ocorreu redução do rendimento médio real em -3,4% (ao redor de R$ 1.578). Ou seja , há mais trabalhadores autônomos disputando renda, como alternativa ao desemprego, mas seus ganhos estão sendo reduzidos”, avalia.

Entre fevereiro e março de 2017, o rendimento médio real aumentou para o total de ocupados  (0,5%) e assalariados (1,5%). Em termos monetários, esses rendimentos passaram a corresponder a R$ 1.850 e R$ 1.867 respectivamente.

Acesse aqui a pesquisa completa.

O Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul – TCE-RS divulgou recentemente os resultados da Avaliação da Transparência na Internet. O estudo visa mostrar de maneira global a situação da transparência nos sites institucionais dos órgãos do Poder Executivo e Poder Legislativo dos municípios do Rio Grande do Sul. O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, acessou no sítio do  TCE-RS o estudo e apresenta a seguir alguns destaques sobre a transparência no Rio Grande do Sul e na Região do Vale do Rio dos Sinos

Realidade da transparência no RS

O Índice Nacional de Transparência do Ministério Público Federal – MPF apontou uma nota de 5,21 em uma escala de 0 a 10 pontos no ano de 2016. O Índice avaliou 5,5 mil portais de municípios, 26 Estados e o Distrito Federal. Em 2015, segundo o MPF, essa nota foi de 3,92. A evolução entre 2015 e 2016 se deu porque os 26 dos 27 Estados tiveram evolução nas médias municipais. Outro fato que possibilitou elevação na nota foram os documentos da Ditadura Militar do Brasil que vieram à tona. 

A evolução da transparência dos órgãos do estado do Rio Grande do Sul passou a ser monitorada pelo TCE-RS desde 2012. Ao longo dos anos esse acompanhamento tem sido ampliado. A Análise Quanto ao Atendimento às Exigências da Lei de Acesso à Informação de 2016 foi concluída no final da semana passada e apontou avanços na transparência nos dados governamentais do Rio Grande do Sul. Aproximadamente 95% das gestões dos municípios com população acima de 10 mil publicaram as suas receitas e despesas na internet, 89% mantiveram os serviços de atendimento virtual dos cidadãos e 84% divulgaram o histórico dos contratos. 

O Tribunal destaca que o cenário mudou muito desde a implementação da Lei de Acesso à Informação criada em 2012. A Lei diz que é dever do Estado garantir o direito ao acesso à informação de forma objetiva, ágil e transparente. Os órgãos públicos devem manter os sites atualizados, detalhados e de fácil acesso aos usuários. O cidadão pode solicitar a quaisquer órgãos públicos dados sem necessidade de justificativa. O prazo de resposta da solicitação deve ser em 20 dias, sendo que pode ser prorrogado por mais 10 dias.  

Outro ponto positivo é que todas as Prefeituras e Câmaras de Vereadores municipais do Rio Grande do Sul contam com páginas na internet. Em 2013, cerca de 63% dos legislativos possuíam sites. Ainda existem muitos desafios a serem melhorados na transparência dos municípios gaúchos. Apenas 13% dessas gestões disponibilizaram dados de programas, ações, projetos e obras para o acompanhamento. No que se refere aos dados sobre repasses ou transferências contábeis, são disponibilizados 35,8%. A maior deficiência de informações nas Câmaras de Vereadores é referente aos dados de nomes e salários, que estavam disponíveis em apenas 50% dos legislativos. 

A transparência na região do Vale do Sinos

O TCE optou por não realizar o ranking da transparência como de costume em outros anos, embora esteja disponível no site do Tribunal o desempenho dos 497 municípios do Rio Grande do Sul. O ObservaSinos acessou o estudo do TCE-RS e sistematizou as informações sobre a transparência dos municípios do Vale do Sinos.

Os dados mostram que todos os 14 municípios do Vale do Sinos divulgaram no ano passado os noves itens de registros de despesas nos sites do Poder Executivo. A mesma situação aconteceu com os sete itens de registro de receitas. Já os seis itens do relatório de transparência da gestão fiscal foi cumprida por 69,4% das prefeituras dos municípios do Vale do Sinos. Apenas o município de Esteio cumpriu integralmente todos os itens. 

Entre os itens da gestão fiscal está a prestação de contas do ano anterior e o respectivo parecer prévio. Tal item não é atendido por mais da metade dos municípios: Araricá, Canoas, Ivoti, Nova Hartz, Nova Santa Rita, Portão, Sapiranga e Sapucaia do Sul. A divulgação do Plano Plurianual – PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias – LDO e a Lei Orçamentária Anual – LOA não foi encontrada apenas na prefeitura de Araricá. A existência de informações atualizadas e o histórico de atualização não existem em Araricá e Sapiranga.

As informações detalhadas acima podem ser acessadas aqui.

Os dados para as Câmaras de Vereadores são mais restritos, pois o Poder Legislativo não possui fontes de receitas. O único item analisado, portanto, são os registros das despesas. A média de declaração dos nove itens entre os 14 municípios foi de 88,9%. O município de Sapiranga foi o único a não especificar o número e o valor de empenho, liquidação e pagamento de despesas. Já a classificação orçamentária, especificando a unidade orçamentária, a função, a subfunção, a natureza da despesa e a fonte dos recursos só não foram atendidas em São Leopoldo. O item de procedimento licitatório, bem como a sua dispensa ou inexigibilidade, não foi atendido novamente em São Leopoldo. Deve-se destacar que o município é o único a atender dois dos noves critério para o Poder Legislativo. A explicitação de se foi pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento foi atendida em todos os municípios do Vale do Sinos.

As informações detalhadas acima podem ser acessadas aqui.

A apresentação e análise deste estudo se constitui como um instrumento de avaliação dos governos e legislativos municipais, tanto pelas instâncias estatais como pela sociedade civil. Estas informações podem se constituir em instrumento de formação para a cidadania, potencializada especialmente pelo planejamento, monitoramento, avaliação e controle social das políticas públicas.

A Fundação de Economia e Estatística - FEE divulgou nesta quinta-feira, 25/05, o desempenho da construção civil na Região Metropolitana de Porto Alegre, trazendo dados sobre perfil do trabalhador do setor, inserção ocupacional, rendimentos, jornada de trabalho e contribuição para a Previdência Social em 2016. Os dados mostram que 44,1% dos trabalhadores do setor não completaram o ensino fundamental, além de revelar que mais de 50% desses possuíam 40 anos de idade ou mais. Os trabalhadores assalariados representaram 46% e os trabalhadores autônomos 45,4%.

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, compartilha o estudo realizado pela FEE. 

Eis o texto:

O setor da construção

Os dados indicam que a participação dos ocupados na construção em relação à ocupação total foi de 7,1% em 2016 e 6,9% em 2015. Entre 2011 e 2016, não se observaram grandes flutuações na participação desse segmento. “A estabilidade na participação dos ocupados na construção na ocupação total tende a estar associada à relevância do setor da construção na atividade econômica da RMPA, que correspondeu a aproximadamente 24% do valor adicionado total da Região, em 2016”, explica Iracema.

Em 2016, houve uma queda de 2 mil ocupados no setor da construção na RMPA, o menor número de ocupados desde 2011. Essa redução foi menor do que a observada em 2015, quando houve uma queda de 4 mil postos de trabalho.

A distribuição dos ocupados na construção apresentou em 2016 aumento da participação da divisão de Construção e Incorporação de Edifícios e redução na participação da divisão de Serviços Especializados para a Construção. A economista Iracema pondera que esse comportamento reflete uma mudança no padrão observado entre 2011 e 2015, quando foi registrado crescimento da divisão de serviços especializados e redução da divisão de construção e incorporação de edifícios. Já a redução na participação da divisão de Obras de Infraestrutura está relacionada com o  fim do ciclo de obras em infraestrutura na RMPA, como a conclusão da BR-448 em dezembro de 2013 e o final das obras vinculadas a realização da Copa do Mundo, pode ter induzido a redução da participação dessa atividade econômica no total de ocupados”, pondera. A pesquisadora também considera que as dificuldades fiscais observadas no setor público nacional e estadual também colaboraram na redução das atividades em obras de infraestrutura.

Perfil do trabalhador da construção

Os dados indicam que 95,4% são do sexo masculino em 2016, proporção que tem se mantido estável desde 2011. Em relação à faixa etária dos trabalhadores da construção, verifica-se a diminuição da participação dos jovens, o que segundo os pesquisadores que analisaram os dados pode ser reflexo do processo de transição demográfica e fatores socioeconômicos, como o adiamento do ingresso no mercado de trabalho e o direcionamento profissional para outras atividades.

O perfil indica que mais da metade (54,1%) possui 40 anos e mais e a parcela daqueles com 60 anos está aumentando, tendo alcançado cerca de 10% em 2016. “Isso é um indicativo de que a experiência profissional é valorizada nessa atividade. Mas o aumento da presença de idosos na construção que, via de regra, exige força física e certas habilidades que diminuem com o avanço da idade, pode estar relacionado com a dificuldade de migração para outras atividades devido à baixa escolaridade e/ou a falta de acesso à aposentadoria, em função do elevado índice de não contribuição à previdência social”, pondera Iracema.

Em relação à escolaridade, 44,1% não havia terminado o ensino fundamental em 2016 e apenas 24% tinha o ensino médio completo ou superior incompleto. Os números revelam uma concentração maior de trabalhadores com baixa escolaridade no setor da construção, já que se compararmos aos dados gerais da população ocupada na RMPA, 44,3% tem ensino médio completou ou superior incompleto e 18,2% não completou o ensino fundamental.

Outra característica do setor da construção é que mais de 2/3 dos ocupados (69,1%) no setor estão na condição de chefe na família. Para fins de comparação, esse dado é de 50,6% no total de ocupados e de 49,1% para os demais setores.

Inserção ocupacional

Em 2016, o total de ocupados na construção estava distribuído em 46,8% como assalariados e 45,4% como trabalhadores autônomos. Esse cenário é distinto da estrutura do total de ocupados, em que 13,7% são autônomos e 70,2% são assalariados. Esses dados apontam que, apesar do aumento significativo da formalização entre 2004 e 2014, o setor da construção permanece com menor patamar de registro formal entre os demais setores de atividade econômica. “Analisando os trabalhadores assalariados que não possuem carteira assinada, chama atenção a precarização do setor da construção, já que ele apresenta os maiores patamares dentre os setores”, acrescenta a economista do DIEESE Virgínia Donoso.

Rendimentos e jornada de trabalho

O rendimento médio real dos ocupados da construção registrou queda pelo segundo ano consecutivo. Em 2016, a retração foi de 6%, menos intensa do que a de 2015 que havia sido de 9,8%. Tanto para assalariados quanto para autônomos, houve redução do ritmo de queda dos rendimentos médios reais em comparação ao ano de 2015.

A jornada de trabalho dos ocupados na construção em 2016 foi de 41 horas semanais. Isso representa aumento de uma hora em relação a 2015.

Previdência Social

Em 2016, a proporção de ocupados na construção que contribuiu para a Previdência Social foi de 56,8%, tendo uma cobertura previdenciária menor do que os demais setores econômicos em que esse dado é de 85,1%. “A proporção dos trabalhadores que não têm acesso ao sistema previdenciário é muito mais elevada para o setor da construção do que para os demais setores da economia”, pontua Iracema Castelo Branco. Até 2015, estava diminuindo a proporção de trabalhadores que não contribuía para a Previdência, mas com a persistência da crise econômica, essa parcela de trabalhadores desprotegidos voltou a crescer. “A elevada parcela de trabalhadores que não contribui para a Previdência Social é bastante preocupante ao considerar as mudanças previstas na reforma da previdência em tramitação no Congresso Nacional, pois os trabalhadores da construção já possuem uma idade média de 41 anos, são de baixa escolaridade e mais de 2/3 são chefes de família”.

Em meio aos ataques à democracia, ainda se apresentam resistências à sua materialização no território brasileiro. As lutas das mulheres podem ser destacadas neste cenário, que neste ano apresenta uma agenda em torno da Saúde da Mulher, com a realização de conferências municipais, estaduais e nacional. Com o tema central “Saúde das mulheres: Desafios para a integralidade com equidade”, a conferência tem como objetivo propor diretrizes para a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres. 

Neste contexto de afirmação da democracia, foi realizada a I Conferência Municipal da Saúde das Mulheres de São Leopoldo. O evento ocorreu no sábado, dia 20/05, no auditório da Faculdades EST e reuniu cerca de 200 pessoas, sendo 85% do público composto por mulheres.

O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, participou do evento por meio da estagiária voluntária, Elis Daiane Casagrande e da assistente social, Fátima Machado, que atua na Liga de Combate ao Câncer de São Leopoldo, contribuindo no Grupo de Trabalho que tematizou “O mundo do trabalho e suas consequências na vida e na saúde das mulheres”. Para subsidiar este debate, o ObservaSinos sistematizou e deu vistas à sua produção que investiga a realidade das mulheres no mercado de trabalho nos municípios do Vale do Sinos.

Destaca-se a última análise produzida pelo Observatório intitulada Mulheres e trabalho: evidências da desigualdade no Vale do Sinos, quando ficam identificadas as desigualdades salariais, que persistem ao longo dos anos. O infográfico a seguir dá vistas a esta realidade no Vale do Sinos, que exige análise e políticas para o seu enfrentamento.

Um pouco mais sobre a I Conferência

A Conferência reuniu profissionais da área de saúde, especialistas, representantes da sociedade civil e comunidade para refletir e buscar afirmativas sobre os desafios para a saúde da mulher com integralidade e equidade. Além disso, o evento proporcionou uma observação mais detalhada da situação da saúde da mulher no município de São Leopoldo.

Foram também debatidos outros quatro temas, além do GT sobre Trabalho: 

  • I – Situação da saúde das mulheres e os determinantes econômicos, sociais e ambientais que levam ao seu adoecimento;
  • II – Políticas públicas para as mulheres e a participação social;
  • III – Vulnerabilidades e equidade na vida e na saúde das mulheres;
  • V – O papel do Estado no desenvolvimento socioeconômico e ambiental e seus reflexos na vida e na saúde das mulheres.

Durante o evento ocorreu uma palestra apresentada pela farmacêutica Jussara Cony e pela também farmacêutica e ex-presidente do Conselho Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul – CES, Célia Chaves. Focadas no tema central da Conferência, ambas trouxeram estatísticas atuais do quadro de saúde da mulher brasileira do século XXI, indicando que 70% da procura de medicação das mulheres são para adquirir remédios para depressão/stress, enxaqueca e ansiedade. De acordo com Jussara, esse fato se dá pela tripla jornada de trabalho realizada pelas mulheres.

Outra questão levantada foi a necessidade de uma reformulação da gestão pública de saúde, a qual não fornece atendimento suficiente para as mulheres que trabalham fora de casa, além da falta de médicos especialistas na área da mulher, algo que, conforme as palestrantes, não é garantido pelo Sistema Único de Saúde - SUS. 

Alguns projetos foram apresentados nos intervalos das palestras, voltados ao direito da mulher e da igualdade de gênero, além de ofertas de cursos online gratuitos com questões de gênero na vida comunitária, produzidos em parceria pela Faculdades EST e Instituto Sustentabilidade América Latina e Caribe - InS.

Os resultados da Conferência Municipal deverão ser encaminhados à I Conferência Estadual de Saúde das Mulheres, que ocorrerá nos dias 9 a 11 de junho, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, em Porto Alegre. 

As conferências fazem parte de uma política elaborada pelo Conselho Nacional de Saúde, que convocou, para o mês de agosto deste ano, a 2ª Conferência Nacional da Saúde das Mulheres.

Com o objetivo de investigar a realidade das mulheres no mercado de trabalho nos municípios do Vale do Sinos, considerando os dilemas históricos e contemporâneos reveladores da desigualdade de gênero presentes na dimensão nacional e internacional, foram sistematizados os dados da Relação Anual de Informações Sociais - RAIS para os últimos quatro anos disponíveis – 2012, 2013, 2014 e 2015 –, analisando o aspecto remuneração. O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – Observasinos, programa do IHU – Instituto Humanitas Unisinos, realizou ainda a análise do saldo de admitidos e desligados no mercado formal nesse início de ano com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED e introduziu as evidências da relação entre mulheres e trabalho.

Remuneração e participação das mulheres no trabalho

Entre 2012 e 2015, a maioria das mulheres trabalhadoras nos municípios do Vale do Sinos teve remuneração de até 2,00 salários mínimos, enquanto os homens casualmente receberam até 4,00 salários mínimos (clique aqui para visualizar a tabela completa por municípios): Canoas, Esteio, Nova Santa Rita, Portão, São Leopoldo e Sapucaia do Sul são os exemplos de tal desigualdade salarial de gênero. Em 2012 e 2013, Ivoti concentrava a maioria geral dos trabalhadores na faixa entre 1,01 e 2,00 salários mínimos; contudo, em 2014 e 2015 a desigualdade apareceu e a maioria dos homens alcançou a remuneração entre 2,01 e 4,00 salários mínimos.

Em 11 dos 14 municípios do Vale dos Sinos, ainda em 2015, a quantidade de mulheres que tinha remuneração de até 2,00 salários mínimos era 15,89% superior aos homens, ao passo que a quantidade de homens que recebia acima de 2,00 salários mínimos era 81,2% superior a de mulheres, mostrando assim que as faixas de remuneração média mais elevada estão principalmente concentradas nos trabalhadores do sexo masculino.

Foi verificado no mesmo ano que homens continuam com a maior participação no mercado de trabalho no Vale dos Sinos, com um total de 199.751 homens contra 164.782 mulheres, representando, respectivamente, 54,89% e 45,11%. Em comparação, em 2014 a composição foi 54,59% de homens e 45,41% de mulheres; em 2013, de 55,83% e 44,17%; e em 2012, de 56,16% e 43,84%. Constata-se, assim, que a participação das mulheres é crescente, embora o mercado de trabalho na região tenha sofrido retração a partir de 2014 e no Rio Grande do Sul em 2015 (clique aqui para visualizar a tabela para o Vale do Sinos e estado).

O único município do Vale do Sinos no qual a desigualdade entre sexo feminino e masculino não pode ser explicada pela composição das faixas de remuneração é Nova Santa Rita, em consequência da participação média das mulheres no mercado de trabalho ser de 28,76% enquanto que a dos homens, ao longo dos quatro anos, foi de 71,24%. Criada em 1992, Nova Santa Rita faz limite com Canoas, Esteio, Portão, Montenegro, Triunfo e Sapucaia do Sul e, em 2010, tinha 22.706 habitantes; o município tem sua economia baseada na indústria pesada, sendo os principais produtos cimento (Cimpor Cimentos do Brasil LTDA), eletrônicos, como alto-falantes, móveis vergados e tecidos; na pecuária: bovinos, suínos e frangos; e, na agricultura, é a maior produtora de melão do estado, além da produção de arroz, melancia e mandioca.

Movimentação do emprego em 2017 

De acordo com o quadro abaixo, nos três primeiros meses do ano o município de Esteio apresentou mais desligados que admitidos, fazendo do seu saldo do mercado formal o mais negativo do Vale dos Sinos até então. Se aprofundada a análise por sexo, o maior número de desligamentos absolutos e também femininos foi em Canoas, com a queda nas oportunidades no comércio e serviços e crescimento das vagas na construção civil (setor majoritariamente composto por trabalhadores homens), e o de desligamentos masculinos foi em Dois Irmãos. A maior participação feminina no mercado de trabalho formal no Vale do Sinos foi observada em Dois Irmãos, Nova Hartz, Sapiranga e Campo Bom.

Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo são os municípios mais populosos do COREDE - Conselhos Regionais de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul Vale dos Sinos, com respectivamente 323.827, 238.940 e 214.087 habitantes no último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010).

No primeiro trimestre de 2017, os municípios que mais empregaram foram Sapiranga – acréscimo de 1.014 empregados –, São Leopoldo – acréscimo de 896 empregados – e Novo Hamburgo – acréscimo de 683 empregados. Percebe-se, assim, que os principais movimentos positivos no Vale do Sinos se deram nos maiores municípios. Assim como Campo Bom e Nova Hartz, Sapiranga ampliou o mercado de trabalho especialmente baseado no setor manufatureiro de pequenas e médias empresas e nos setores calçadista e têxtil. O município destaque na geração de empregos neste início de ano aposta nos incentivos ao empreendedorismo e auxílios para a participação em feiras concedidos pela administração municipal, além da privilegiada localização às margens da RS-239 ligada à capital do estado (Porto Alegre), Litoral e Serra, que abrigará o polo tecnológico industrial do município.

Rosangela Barbiani e Lizandro Lui apresentaram os dados da saúde dos adolescentes no Vale do Sinos

Preocupado com as questões que permeiam a saúde dos adolescentes, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos promoveu, juntamente com o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Unisinos e com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul – SES, nesta terça-feira 10/05, o painel “Saúde e as políticas públicas para a adolescência”. A atividade deu vistas aos principais indicadores de saúde de adolescentes no RS, às políticas e programas existentes e à realidade desse público no município de São Leopoldo.  

Participaram do painel a professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Unisinos, assistente social na Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul - SES e coordenadora da Pesquisa Indicadores de Saúde de Adolescentes no RS, Rosangela Barbiani; o sociólogo, doutorando em Sociologia na UFRGS, pesquisador colaborador do PPG/Enfermagem/Unisinos, Lizandro Lui; e a Coordenadora da Política Estadual de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes (PEAISA)/SES/RS, a enfermeira Fulvia Schuster

O evento, que ocorreu na sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, contou com a participação de mais de 50 pessoas, trabalhadores de diferentes áreas e políticas públicas voltadas para os adolescentes. Também marcaram presença no painel, diversos munícipios da Região Metropolitana de Porto Alegre, com predominância de participantes de São Leopoldo

De acordo com a professora Rosangela, faltam práticas para promover a saúde ao público adolescente e o tema precisa ser posto em pauta para que se promova a discussão e, com isso, possam surgir novas iniciativas de trabalho. “As iniciativas voltadas à promoção da saúde, à prevenção de acidentes e violências e à saúde sexual e reprodutiva do público adolescente são muito recentes no nosso país e Estado e, portanto, pouco conhecidas entre adolescentes e até mesmo na rede de serviços e de proteção”, afirma.

Em um primeiro momento, foram apresentados os dados preliminares da Pesquisa Indicadores de Saúde de Adolescentes no RS, que, segundo a professora Rosangela, foi elaborada através de um estudo ecológico e descritivo de indicadores de condições de saúde de adolescentes residentes no Rio Grande do Sul, formalizada no período de 2010 a 2016, sendo que a população adolescente (10 a 19 anos) foi classificada em subgrupos etários de 10 a 14 anos e 15 a 19 anos.

A Pesquisa elaborada veio para divulgar e complementar o trabalho da PEAISA. Ela também afirma que os dados são preliminares, pois ainda estão elaborando uma análise em relação ao que foi extraído das bases de dados. “A Política Estadual de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes existe há sete anos e já foi implementada em todos os 497 municípios do Rio Grande do Sul. Acredito que, por ser muito nova, as pessoas ainda a desconhecem. Este foi um dos motivos para dar início à Pesquisa Indicadores de Saúde de Adolescentes, pois com os indicadores poderíamos encontrar um outro meio de pensá-la”, afirma.

Conforme exposto na pesquisa, a população adolescente é classificada em subgrupos etários de 10 a 14 anos e de 15 a 19 anos, que juntos, em 2015, representavam 14,4% da população do Rio Grande do Sul e 15,5% de São Leopoldo. Dados da realidade apresentados na oficina refletem preocupação com saúde pública e segurança, visto que sobre as vítimas da violência sexual entre 2010 e 2015 no Rio Grande do Sul, 39,51% das notificações partiram de crianças de 0 a 9 anos e 44,09% de adolescentes (totalizando nesse restrito público 83,6% dos casos de violência sexual). 

Debateu-se, também, sobre o acolhimento dos adolescentes nas Unidades Básicas de Saúde, numa perspectiva de promover o atendimento integral e de disseminar informação e assistência para o público adolescente. Os adolescentes são, por vezes, retraídos e levados a agir com desconfiança por desconhecer o ambiente e os profissionais. Vislumbra-se a importância de maior parceria entre educação e saúde, onde a primeira orientaria a prevenção da gravidez na adolescência e as doenças sexualmente transmissíveis sinalizando onde encontrar informação e buscar ajuda. Assim, nessa fase tão cheia de transformações e dúvidas, é importante que os jovens se tornem bem esclarecidos, porque os adolescentes, infelizmente, podem não ter alguém com quem conversar confortavelmente, incluindo pais e amigos, sobre questões tão íntimas. 

Seguindo a temática, foram apresentados os indicadores da saúde sexual e reprodutiva, indicando que a proporção de mães adolescentes em 2015 foi de 16,24% em São Leopoldo e 14,54% no Rio Grande do Sul. Esse grupo, analisado entre 2011 e 2016, comporta 9,56% dos casos de nascidos vivos abaixo do peso (2500 g), e apenas 60,6% das gestantes realizam sete ou mais consultas de pré-natal — ao passo que para mães com mais de 20 anos esse percentual é de 74,8% —, o que pode representar descuido com a saúde da gestante e do bebê. Um exemplo são os nascimentos prematuros, em que 15,45% dos casos são de mães entre 10 e 14 anos de idade, que também indica a incidência de 2,1% de óbitos antes do primeiro ano do bebê, o dobro do que para mães acima de 20 anos de idade.

A coordenadora da PEAISA, Fulvia Schuster, afirmou que os adolescentes desconhecem os seus direitos e muitas vezes são tratados como invisíveis pela sociedade em geral e é necessário qualificar o atendimento aos adolescentes nos órgãos públicos de saúde. “A Política Estadual veio para promover a atenção integral à saúde de adolescentes, de 10 a 19 anos, considerando as questões de gênero, a orientação sexual, a raça/etnia, o meio familiar, as condições de vida, a escolaridade e o trabalho, visando à promoção da saúde, à prevenção de agravos e à redução da morbimortalidade”, revela.

Ela também abordou a importância de os municípios aderirem ao Programa Saúde na Escola (PSE), que contribui na arrecadação de recursos voltados às políticas de saúde e educação para crianças, adolescentes, jovens e adultos da educação pública. Além disso, o programa possui diversas ações que podem contribuir com o trabalho de orientação e conscientização do público jovem.

Fulvia Schuster apresenta a construção da PEAISA

Durante o último momento do painel “Saúde e as políticas públicas para a adolescência”, foi aberto um espaço de debate sobre os dados e as realidades apresentadas durante a exposição dos ministrantes. As realidades e especificidades de órgãos municipais, grupos de trabalho e entidades participantes foram expostas, com proposição de melhorias das qualidades do serviço de atendimento e revelando a importância de se amplificar os conhecimentos através dos dados discutidos. 

Uma das contribuições foi do profissional de educação física da prefeitura de São Leopoldo, Fabrício Bauermann, que afirmou: “Percebo que o que falta, no meu ponto de vista, é o ‘sentir-se seguro’, tanto para os adolescentes, quanto para os profissionais do atendimento aos adolescentes. Temos que não olhar apenas para o público jovem que será atendido, mas fazer também um serviço para quem trabalha com eles e que eles saibam como agir em todos os casos. A partir do momento que isso acontecer, os jovens vão divulgar esse trabalho diferenciado e promover isso para os outros”.

Responsável pela produção e planejamento das campanhas do Grupo Thema, que cria ações promocionais diferenciadas conforme os diferentes públicos, Jaqueline Machado afirma que os jovens não sabem que são sujeitos de direitos e que é preciso deixar de pensar tanto de forma verticalizada nas políticas públicas e mais na transformação do adolescente como protagonista do cuidado sobre si. Ela acredita que a abordagem com os jovens também precisa se transformar. “Eu sempre procuro fazer nos espaços de discussão a reflexão sobre se a abordagem que a gente utiliza hoje é a correta. Se a abordagem que o professor utiliza é a correta. A gente vê, por exemplo, a ‘ditadura da camisinha’, mas os números de HIV e gravidez evidenciam que isso não funciona. Podemos pensar em trabalhar gerenciamento de risco, trabalhar teste rápido, profilaxia pós-exposição e outras coisas”, explica.

Sobre a exposição de dados, para Jaqueline, os mesmos precisam ser pensados de forma articulada com a vida do adolescente. “Quando a gente vê os dados, eles parecem estar todos em caixinhas, como ‘dados da violência, dados de HIV, dados de sífilis. Pensando em adolescentes, nós temos que ver o quanto estes dados estão integrados. Não tem como pensar HIV hoje, sem pensar em gênero e identidade de gênero, não tem como pensar HIV sem pensar consumo de álcool e outras drogas. Podemos fazer o exercício de pensar nessa integralização dos dados e também o quanto isso pode ser integrado entre a Saúde e a Educação”.

O painel indicou a importância da continuidade do debate e da análise promovidos nos diferentes municípios, organizações, políticas e profissionais. Trata-se de um tema/questão transetorial e transdisciplinar.

A Ecofeira Unisinos é um espaço de mostra e comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar e também de outras formas de produção coletiva pautada pela sustentabilidade. Criada por um coletivo de projetos sociais, cursos e militantes ambientais da Universidade, a Ecofeira também serve como palco do Círculo Cultural. Coordenado pelo prof. Dr. Telmo Adams, neste ano, pela primeira vez o Círculo Cultural fez parte da abertura da Semana Acadêmica do Programa de Pós-Graduação – PPG em Educação da Unisinos e terá um evento especial, no dia 09 de maio, das 16h30 às 17h15, no saguão do posto da Escola de Humanidades.

De acordo com o professor Telmo, o Círculo Cultural tem uma grande diversificação de apresentações durante os eventos. "O Círculo Cultural prevê uma variada participação contemplando música, canto, poesia, contação de história, excerto de literatura, dança, teatro etc. Buscamos o protagonismo e o envolvimento das e dos estudantes, professoras e professores, bem como demais trabalhadoras e trabalhadores da Universidade e pessoas convidadas", afirma. 

Telmo também exalta a parceria com a Decana da Escola de Humanidades, Profª. Maura Corcini Lopes e avalia positivamente uma parceria com os outros PPGs. Conforme Maura, criar um ambiente cultural fora da sala de aula é bom para a universidade. “Penso que esse projeto tem potência para criar um ambiente est(ético) importante para a formação. Fazer circular a arte, a poesia, a música fora dos limites da sala de aula, é trazer para o ambiente, de forma democrática, o que ainda é de acesso de alguns", ressalta.

A proposta do Círculo Cultural é desafiar o público a participar coletivamente durante o evento. As inscrições podem ser feitas na hora. Além de outras diversas atividades promovidas pela programação da Ecofeira, o Círculo Cultural tomará o espaço com data prevista para acontecer no dia 07 de junho, das 13h às 14h, no corredor Central da Unisinos.

Na próxima terça-feira, 09 de maio, o Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos, promoverá o painel “Saúde e as políticas públicas para a adolescência”. A atividade será coordenada pela professora do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Unisinos, assistente social na Secretaria Estadual de Saúde do Rio  Grande do Sul - SES e coordenadora da Pesquisa Indicadores de Saúde de Adolescentes no RS, Rosangela Barbiani. O evento, que ocorrerá das 14h às 17hrs, na sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, foi organizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UNISINOS e a Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul.

De acordo com Rosangela Barbiani, a promoção do debate busca dar visibilidade à um público que muitas vezes não recebe atenção nas pesquisas. "O objetivo do Painel é divulgar e discutir os principais indicadores de saúde de adolescentes no RS, as políticas e programas existentes e a realidade do município de São Leopoldo. As iniciativas voltadas à promoção da saúde, à prevenção de acidentes e violências e à saúde sexual e reprodutiva do público adolescente são muito recentes no nosso país e Estado e, portanto, pouco conhecidas entre adolescentes e até mesmo na rede de serviços e de proteção. Por isso, estamos convidando gestores, conselheiros de direitos, conselheiros tutelares, profissionais da saúde e demais políticas, professores, acadêmicos e adolescentes para esse debate", afirma.

Em 2016, o ObservaSinos acessou os dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade – SIM a partir da base de dados do Tabnet, que é do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS, e constatou que, entre 2001 e 2014, 79,41% dos óbitos da população adolescente de São Leopoldo são resultados de causas externas e 67,72% na região do Vale do Sinos. O que compõe o dado das mortes por causas externas são: suicídio, homicídio e acidentes de trânsito. Também foi divulgada, pelo IHU, uma matéria afirmando que o homicídio a principal causa de morte de jovens no Brasil.

Dos números coletados pelo ObservaSinos, é possível destacar que, entre 2010 e 2014, 14,90% dos óbitos de adolescentes no Vale do Sinos ocorrem por acidentes de transporte. Afogamento e submersões acidentais foram responsáveis por 6,21% dos óbitos ao longo do período, enquanto lesões autoprovocadas voluntariamente corresponderam a 3,45% e a leucemia a 3,17%.

O painel “Saúde e as políticas públicas para a adolescência” também será composto pelas seguintes integrantes:

  • Fulvia Schuster - Coordenadora da Política Estadual de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes (PEAISA)/SES/RS;
  • Fábio Bernardo da Silva - Secretário Municipal de Saúde de São Leopoldo;
  • Lizandro Lui - Sociólogo, doutorando em Sociologia UFRGS, pesquisador colaborador PPG/Enfermagem/Unisinos.

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A oficina Trabalho e as Políticas Públicas é uma atividade do Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, ideado como um espaço de informação sobre a realidade do trabalho, dos trabalhadores e das políticas públicas dos municípios e região do Vale do Sinos.

Objetivo

Apresentar as principais bases de dados do trabalho que possibilitam acessar e analisar os dados do trabalho dos municípios e região do Vale do Sinos, em vista de qualificar os processos de planejamento, monitoramento e avaliação das políticas públicas nesta área.

Programação

  • Data: 01/06/2017 (quinta-feira)
  • Tema: Oficina: Trabalho e as políticas públicas
  • Ministrante: Lúcia dos Santos Garcia (DIEESE)
  • Horário:14h às 16h30min
  • Local: Sala Ignácio Ellacuría e Companheiros - IHU

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