No Dia Internacional da Mulher, 08/03, o Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, foi convidado a participar do Seminário “Relações de gênero e seus impactos no Município de São Leopoldo”, que teve a participação da Ms. Clair Ribeiro Ziebell, da coordenadora do ObservaSinos, Dra. Marilene Maia e da Dra. Mariléia Sell. O evento foi realizado no Plenário da Câmara de Vereadores de São Leopoldo, que teve sua capacidade máxima preenchida e seguiu-se com uma caminhada com a temática “Todas Juntas por Nenhum Direito a Menos”.
Durante o seminário, a Coordenadora do ObservaSinos, Marilene Maia e o graduando em Ciências Econômicas na Unisinos, João Conceição, que também faz parte do Observatório, apresentaram o trabalho desenvolvido pelo IHU, bem como o realizado no ObservaSinos. João apresentou dados relacionados às mulheres, que foram sistematizados e podem ser vistos neste link.
Durante sua fala, Marilene falou sobre o objetivo de reunir dados e informações e a partir disso, promover o debate sobre a realidade e como incidir contexto. “Estar aqui é um presente. Para nós seguirmos em frente como mulheres e homens, comprometidos em construir o futuro da nação, temos que ver a totalidade dos dados para que possamos fazer uma análise e dizer o que nós queremos. O que queremos dessa nação?”
Marilene também destacou o site do IHU como uma espaço para se tematizar os grandes eixos do Instituto e promover questionamentos e debates. “No site do IHU nós reunimos tudo o que nós realizamos, desde notícias diárias até grandes reportagens e entrevistas. Com isso, encontramos muitos números e dados que nos fazem pensar: Estamos vivendo mesmo esta realidade? Nós construímos essa realidade ou não? Qual é a realidade que queremos? Quais políticas públicas estão sendo implementadas para fazer enfrentamento a estas realidades ou que políticas públicas estão sendo construídas para garantir os direitos das mulheres?”.
A coordenadora do ObservaSinos também trouxe conceitos de Paulo Freire, afirmando que em seus estudos ele apontava que muito mais do que dados e números é fundamental que nós possamos ouvir o que as pessoas vivem sobre a realidade e só assim pode se construir políticas públicas efetivas para uma transformação de realidade. “Nós mulheres, na construção de políticas públicas para as mulheres vamos ter que criar interlocução com as diferentes políticas, como a de proteção social, saúde, trabalho, desenvolvimento econômico, se não vamos ficar capengas”, disse. Ela também apresentou conhecimentos do sociólogo Jessé Souza, que dizia que a realidade muitas vezes é invisível aos olhos. Que é preciso enxergar o que está por trás do que vem sendo informado. “Nós temos que ter muitos conhecimentos e muitos conceitos, mas também ficar atento e muito ágil para entender o que a realidade revela, para nós construirmos a realidade conforme desejamos”, finaliza.
Em sua explanação, Mariléia Sell utilizou o espaço para abordar as questões de gênero na sua interface com a linguagem e também expondo conceitos sobre gênero, sexo e sexualidade. De acordo com com Mariléia as três definições são diferentes, mas estão completamente interligados: “Sexo é a nossa realidade biológica. Gênero é toda construção social que é feita em cima do nosso corpo biológico. Um construto social que acontece em milênios de trajetória e sexualidade é como eu uso o meu corpo para as minhas expressões eróticas e afetivas, como homoafetivas, heterossexuais, bissexuais e assexuais”.
Explicando sobre o funcionamento dessa construção social, Mariléia disse: “Como transformamos um corpo em masculino ou feminino? Incidindo sobre esse corpo através da cultura com os mais diferentes discursos. Fazemos sem nos dar conta, o tempo todo. Educamos as nossas meninas diferente dos meninos, para corresponder às expectativas sociais”.
Ela também alerta para que as diferenças sejam respeitadas e que as mulheres deixem de ser narradas através de estereótipos. “Como as mulheres vêm sendo narradas durante a história? Quem sempre teve o direito de contar a história da mulher? Temos sidos narradas há milênios por algumas estruturas de uma forma muito desfavorável, que perpetuam os estereótipos”.
Clair Ribeiro fez um apanhado histórico dos grupos que batalharam pelos direitos das mulheres na cidade de São Leopoldo e avaliou as relações de gênero e quais foram os impactos no município. “Nós buscamos até hoje esse empoderamento para que a gente rompesse essa desigualdade que se expressa nos dados que o IHU trouxe pra gente. Isso serve também para buscar o equilíbrio entre homens e mulheres, a igualdade onde existe a diferença, considerar e incluir o interesse de ambos no trabalho, nos bens de consumo e serviços, democratizar a economia e incidir nas políticas públicas”.
Para Clair, o fato de realizar o evento é uma forma de quebrar os preconceitos postos e afirmar o protagonismo das mulheres. “O evento é um marco na trajetória no protagonismo das mulheres em São Leopoldo. O ideal é que as mulheres conquistem os espaços públicos e que cresçam ainda mais”.