A marca de Francisco no conclave de 2025. Artigo de Alberto Melloni

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15 Dezembro 2025

"Levará tempo para identificar contribuições e diretrizes inspiradoras das encíclicas do Papa Bergoglio e dos demais atos de seu magistério ordinário; e, para tanto, será preciso examinar a abordagem de Bergoglio às relações internacionais com uma lógica de finalidade que, por um lado, tornava irrelevantes para ele os conteúdos dos documentos, eventualmente exigentes, que assinava e, por outro, o levou a superar hesitações pontifícias de longa data, mas sem por isso derivar todas as consequências."

O artigo é de Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, publicado por Avvenire de 12-12-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis o artigo. 

Aquele de Jorge Mario Bergoglio não foi o pontificado "breve" que ele esperava na primeira de suas muitas entrevistas. Ele durou — para dar alguns exemplos recentes — mais tempo do que Pio X, Bento XV, João XXIII, João Paulo I e Bento XVI. Foi um papado que merecerá muitas reflexões e estudos para entendermos raízes e limites de ações que, como sempre na história do papado, têm formas poliédricas, intenções complexas e resultados contraditórios.

Valerá a pena estudá-lo porque Francisco deu plena, consistente e inflexível adesão ao mandato do conclave que agregou a maioria em torno de duas premissas diagnosticadas pela desordem sistêmica que assolou o final do papado de Ratzinger não infundadas nem demonstráveis (os males são italianos, os males são curiais) e ele modelou sobre eles uma ação que se manteve consistente ao longo da transição da Itália de Ruini para Zuppi, da cúria de Bertone para a de Fernández.

Teremos que entender a fisionomia da minoria "protobergogliana" que, naquele conclave de 2013, agregou dois terços dos votos para o Arcebispo de Buenos Aires: núcleo hábil e eficaz quanto aqueles que elegeram papas Luciani e Prevost, e sobre o qual recaiu o mais clássico não reconhecimento papal, como demonstra a não-carreira do Cardeal Giuseppe Bertello, preso ao cargo de governador do Estado da Cidade do Vaticano, apesar de seu papel na eleição de Francisco.

Precisarão ser estudadas, aprofundando-se na formação e no ambiente do jovem Bergoglio, mais do que faziam os slogans cortesãos, a origem e a persistência de uma autenticidade cristã que animou Francisco e lhe permitiu realizar gestos que, se realizados por qualquer outro bispo, teriam parecido ridículos ou, pior, piegas.

Será necessário examinar, dissecar e analisar a matriz e o limite do aporte doutrinal do papa argentino: um aporte sistemático, nunca teologicamente elaborado, mas certamente não secundário, como por exemplo, no processo que rapidamente recuperou os terrenos da moral sexual e conjugal, inundados de prescrições derrubadas pelo desuso.

Ao mesmo tempo, será necessário estudar as formas e razões pelas quais o primeiro papa jesuíta assumiu as polêmicas de seu predecessor contra certas filosofias de gênero, elevando-as à categoria de "teoria" a ser combatida — a ponto de ignorar o fato de que uma teologia de gênero sempre existiu, ainda que desativada pela pressão de uma sociedade centrada no masculino, numa fé segundo a qual o corpo masculino de Jesus ressuscitado traz a salvação a judeus e gentios, homens e mulheres, e é confessado "como verdadeiro Deus e verdadeiro homem", considerando que toda a condição humana, e não apenas a do seu sexo, está implícita na condição masculina.

Ou as formas e razões pelas quais ele endureceu a pregação católica romana contra o aborto, descrevendo como contratação de um sicário a prática que João Paulo II havia definido, no único ato magisterial que invocou a infalibilidade papal desde 1870, como uma "grave desordem moral", escolhendo assim uma linguagem não menos incisiva, mas muito menos cruel do que aquela tão apreciada pelo fundamentalismo pró-vida.

Levará tempo para identificar contribuições e diretrizes inspiradoras das encíclicas do Papa Bergoglio e dos demais atos de seu magistério ordinário; e, para tanto, será preciso examinar a abordagem de Bergoglio às relações internacionais com uma lógica de finalidade que, por um lado, tornava irrelevantes para ele os conteúdos dos documentos, eventualmente exigentes, que assinava e, por outro, o levou a superar hesitações pontifícias de longa data, mas sem por isso derivar todas as consequências.

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