Conclave, ou seja: escolher o Papa e ver Jesus. Artigo de Alberto Melloni

Concílio Vaticano II. | Foto: CNS/Catholic Press Photo

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06 Mai 2025

"Tanto aqueles que listam as inconsistências objetivas do governo bergogliano quanto aqueles que pensam que a prioridade é construir um monumento à profecia não cumprida do Papa Francisco, no fundo compartilham a ideia de que é hora de a igreja dar uma parada. Alguns chamam ousadamente essa parada de 'unidade', esquecendo-se de que a unidade é aquilo que é feito ao redor de Pedro, e não à maioria que o elege", escreve Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, em artigo publicado por Corriere della Sera, de 04-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Eis o artigo.

Há uma característica distintiva profunda deste terceiro conclave do século XXI: parece estar ocorrendo dentro de uma bolha, na qual não entra nada que venha da Igreja. Na transição entre um século e o outro, de um papado ao outro, a Igreja corre o risco de parecer o espelho de um mundo sangrento fragmentado e, em outros sentidos, sedado.

Uma situação que lembra a passagem do Evangelho sobre a tempestade debelada por Jesus que, depois de enviar os discípulos em um barco para atravessar o Mar de Tiberíades, os alcança caminhando sobre as águas tempestuosas. Em mares muito agitados e em um barco no qual não queriam entrar (“ele ordenou”, Mateus 14,22), também os cardeais parecem os discípulos navegando sozinhos. E no pequeno espaço em que se movem, estão expostos ao risco de uma polarização que é devastadora, porque é falsa: uma polarização que contrapõe dois extremos, que, em vez disso, em sua essência, são idênticos.

Tanto aqueles que listam as inconsistências objetivas do governo bergogliano quanto aqueles que pensam que a prioridade é construir um monumento à profecia não cumprida do Papa Francisco, no fundo compartilham a ideia de que é hora de a igreja dar uma parada. Alguns chamam ousadamente essa parada de “unidade”, esquecendo-se de que a unidade é aquilo que é feito ao redor de Pedro, e não à maioria que o elege.

Os outros a chamam de “fidelidade”, como se não fosse verdade (o Cardeal Versaldi disse isso com muita pertinência) que, mesmo que por um absurdo Bergoglio estivesse no conclave hoje, ele não faria novamente todas as coisas que Francisco fez.

O conclave é necessário porque todos os problemas que Bergoglio trouxe à tona e todos aqueles que gerou não se resolvem levando o barco da Igreja de volta à costa e desobedecendo à orientação do Mestre de atravessar o mar. Eles se resolvem lançando a Jesus o louco desafio da fé de Pedro: “Senhor, se és tu, manda-me ir ter contigo por cima das águas”; e pedindo-lhe a salvação contra o medo que faria afundar até mesmo um candidato de cortiça.

Em suma, não é verdade que os cardeais devem escolher entre um papado de revanche e um papado de celebração, nem são obrigados a um compromisso tanto mais amplo quanto mais pardo. Eles têm que escolher entre voltar ao porto e perder o encontro com o objeto e o autor da fé que vem ao seu encontro no mar tempestuoso. Ou seguir em frente, não por cega fidelidade a Francisco, mas por fidelidade ao concílio que indicou em sua passagem mais importante que a pobreza de Cristo é a vocação da Igreja, “chamada a seguir este caminho, tornando-se um sacramento universal de salvação”.

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