25 Fevereiro 2025
"Dez anos se passaram, o thriller de Harris é um filme que, em poucos dias, estará acumulando estatuetas na noite do Oscar. E é extremamente instrutivo: 'É um Conclave!', afirma o reitor, Cardeal Lawrence, 'Não, é uma guerra', responde o Cardeal Bellini, interpretado por Stanley Tucci. Aí está, uma guerra", escreve Maria Antonietta Calabrò, jornalista italiana, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 22-02-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O telefonema, do escritor best-seller Robert Harris, chegou ao Vaticano de repente: “É um romance, mas o meu projeto é extremamente sério, podem me ajudar?” Era o final de agosto de 2015 e Harris pedia uma visita ao local no início de setembro, de manhã cedo, quando os turistas e peregrinos ainda não invadem os Muros Sagrados. Ele queria visitar a Domus Santa Marta (onde o Papa Francisco mora e os cardeais se hospedam durante o Conclave), os gabinetes de alguns cardeais, incluindo aqueles do Decano do Sagrado Colégio, do Secretário de Estado, a Basílica de São Pedro, os jardins do Vaticano e, é claro, a Capela Sistina.
Lembro-me de ter ficado muito surpresa com o tema de sua pesquisa - o Conclave - já que Francisco havia sido eleito Papa há pouco mais de dois anos, embora o próprio Francisco havia dito que seu pontificado seria curto, de três a cinco anos no máximo. Já dez anos atrás, em suma, os rumores em todo o mundo já davam como certo que Francisco estava muito doente e provavelmente iria morrer em breve. Mas um antigo provérbio italiano diz que se você deseja a morte de alguém, você prolonga sua vida. Assim, quando o romance de Harris foi publicado em 2016, uma nota do autor esclareceu que “apesar de algumas semelhanças superficiais”, o falecido Santo Padre descrito em Conclave “não pretendia ser um retrato do Papa atual”.
A desinformação de um Papa à beira da morte ou se simplesmente não está à beira da morte, mas, de qualquer forma, pronto para renunciar, atingiu o Papa Francisco ao longo dos anos de seu pontificado, começando com a divulgação do escândalo do Vatileaks 2. E voltou novamente a soprar furiosamente nos últimos dias. Foi o próprio Francisco quem a trouxe à pauta quando revelou à primeira-ministra Giorgia Meloni, em uma visita ao Hospital Gemelli: “Algumas pessoas rezaram para que eu morresse, mas o senhor da messe me deixou aqui”. As especulações sobre a saúde de Francisco, depois de atingirem o auge em 2015, voltaram a crescer desde o verão de 2021 (junto com os escândalos financeiros do Vaticano) e agora que o Papa está hospitalizado, com as graves tensões com o novo governo Trump, após a nomeação no final de dezembro de um embaixador para a Santa Sé, Brian Burch, presidente da Catholic Vote, que apoia a direita episcopal estadunidense, abertamente hostil a Francisco e que, entrevistado pelo New York Times, enfatizou que o pontífice, agora com 88 anos, não ficaria no cargo por muito tempo e que o próximo papa teria que “esclarecer a confusão da era Francisco”.
Antes que sua saúde piorasse, Francisco tomou uma iniciativa sem precedentes de uma carta aos bispos estadunidenses na qual ele os apoia contra as políticas de imigração de Trump, acrescentando uma extraordinária repreensão ao vice-presidente dos EUA, JD Vance, um católico “da Igreja da Resistência” abençoada pelo arcebispo cismático Carlo Maria Viganò. A intervenção papal desencadeou a fúria da Casa Branca, levantando a perspectiva de uma batalha de sucessão altamente politizada caso Francisco viesse a morrer ou renunciar. Pronto para usar a direita curial, liderada pelo cardeal alemão Müller, que se manifestou abertamente no Corriere della Sera em apoio a Trump e Vance.
Um confronto tão clamoroso entre “o Trono e o Altar” tem apenas um precedente: aquele entre João Paulo II e a União Soviética, no século XX. Terminou com um atentado e a queda do Muro. Agora, o flautista mágico da desinformação voltou a tocar em alto e bom som. Dez anos se passaram, o thriller de Harris é um filme que, em poucos dias, estará acumulando estatuetas na noite do Oscar. E é extremamente instrutivo: “É um Conclave!”, afirma Cardeal Lawrence, “Não, é uma guerra”, responde o Cardeal Bellini, interpretado por Stanley Tucci. Aí está, uma guerra.