12 Março 2024
"As regras atuais estabelecem que haja quatro votações por dia no conclave: duas pela manhã e duas à tarde. De fato, portanto, os cardeais não têm muito tempo para se conhecerem; porém, querendo chegar rapidamente à eleição, talvez escolham um candidato que, uma vez eleito, talvez os decepcione", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 11-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pode parecer inoportuno falar de conclave enquanto se celebram onze anos desde que, em 13 de março de 2013, os cardeais elegeram o arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, bispo de Roma, que escolheu o nome de Francisco. Mas as perguntas correm soltas.
As perguntas correm soltas; e precisamente induzidas pelo input que o pontífice deu à “sinodalidade” que, no nosso caso, significaria inserir na Capela Sistina, além dos cardeais, todos os bispos e também leigos, homens e mulheres.
Em 1º de março de 2024, eram duzentos e trinta cardeais: deles, cento e dez estão acima dos oitenta anos e, portanto, excluídos do conclave.
Portanto os cardeais “eleitores” são cento e vinte e nove, mas até o final do ano nove vão chegar à idade de “vencimento”, sendo de 1944. A data limite de idade, antes inexistente, foi introduzida por Paulo VI e mantida até agora; além disso, fixou o número máximo de "eleitores" em cento e vinte.
Outra inovação decisiva foi introduzida em 1996 por João Paulo II. Ele manteve a regra dos dois terços dos votos para ser eleito papa, mas afirmou: no caso de um conclave dilacerado por "alinhamentos" contrapostos, após trinta e três votações inconclusivas era possível recorrer a um segundo turno entre os dois cardeais mais votados.
Quem obtinha pelo menos 51% dos votos vencia.
Essa inovação não agradou a Bento XVI: ele aceitou a hipótese de um segundo turno, mas, especificou, em qualquer caso, que a cota dos dois terços permanecia inalterada.
Uma regra que mesmo então suscitou severas críticas por parte dos canonistas. De fato, se pouco mais de cinquenta cardeais decidissem apoiar um “candidato” mesmo que perdedor, o outro nunca conseguiria obter dois terços dos votos: portanto o conclave duraria talvez meses, causando um terremoto na Igreja romana.
As regras atuais estabelecem que haja quatro votações por dia no conclave: duas pela manhã e duas à tarde. De fato, portanto, os cardeais não têm muito tempo para se conhecerem; porém, querendo chegar rapidamente à eleição, talvez escolham um candidato que, uma vez eleito, talvez os decepcione.
Por essas razões, nos últimos dias o historiador Alberto Melloni sugeriu que seria mais oportuno que no conclave se votasse apenas uma vez por dia, para dar aos eleitores a oportunidade de se conhecerem melhor. Que mal haveria, então, se essas novas regras fizessem com que o conclave durasse até mais de uma semana? Outro problema - embora não canônico - são as tecnologias atuais, como a Inteligência Artificial, com as quais um potencial “papável” poderia ser levado a confessar culpas gravíssimas (como violências sexuais) que, na realidade, o infeliz jamais cometeu ou revelou, mas que não teria mais tempo para desmentir. E sua candidatura seria, de qualquer forma, destruída.
Além dessas questões, parece a muitos que a dominar a cena seja a “pergunta das perguntas”: será possível, no terceiro milênio, aceitar que as mulheres estejam ausentes na Capela Sistina? Se assim fosse, estaria provado que, para o Vaticano, a “outra metade da Igreja” é de segunda classe.
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As regras do Conclave (apenas masculino). Artigo de Luigi Sandri - Instituto Humanitas Unisinos - IHU