Novos cardeais trazem experiência das “periferias” para a Igreja universal

O cardeal designado Stephen Chow Sau-yan, de Hong Kong, posa para uma foto no Vaticano. (Foto: Carol Glatz | CNS)

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02 Outubro 2023

Falando aos repórteres alguns dias antes de receberem seus barretes vermelhos, muitos dos 21 novos cardeais disseram que sua introdução no Colégio Cardinalício tinha menos a ver com eles mesmos e mais com sua Igreja local e sua contribuição para a Igreja universal.

A reportagem é de Catholic News Service, 29-09-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O futuro cardeal Stephen Chow Sau-Yan, de Hong Kong, disse: “O importante é ter vozes mais diversas” no Colégio Cardinalício, e a Diocese de Hong Kong traz sua história como “uma Igreja-ponte”, com fortes laços tanto com a China quando com o Ocidente.

É também “uma ponte entre a Igreja na China e a Igreja universal, que gostaríamos de ver mais próxima”, disse o cardeal.

Chow disse estar esperançoso de que a proximidade aumente com a abordagem do Papa Francisco ao governo comunista da China e sua vontade de negociar com eles sobre a nomeação de bispos.

O acordo com o governo chinês de que dois bispos do continente possam participar da assembleia do Sínodo dos Bispos também é positivo, disse ele, e ele espera que seja um sinal de que “eles percebem que é importante que os fiéis na China tenham mais conexão com a Igreja universal e com a sé principal lá”.

“As pessoas dirão que somos ingênuos, mas sempre temos que ter algum optimismo”, disse o prelado de Hong Kong.

O futuro cardeal Stephen Brislin, 67 anos, arcebispo da Cidade do Cabo, África do Sul, disse que a razão pela qual Francisco o escolheu “é a pergunta de um milhão de dólares”, porque “foi uma grande surpresa saber que ele sabia o meu nome”.

No entanto, disse, ele acredita na experiência da Igreja na África do Sul, com sua história de “apartheid e colonialismo, e o fato de que finalmente chegamos a um acordo pacífico – ainda incompleto –, de que conseguimos superar o derramamento de sangue e a violência que foi infligida é uma mensagem de grande esperança de que a reconciliação é possível, mas é preciso muito trabalho e é preciso continuar trabalhando, mas que pode ser feito”.

“Muitos lugares no mundo precisam de reconciliação neste momento, não apenas devido à violência física, mas também à violência verbal e ao ódio que existe”, disse ele.

O futuro cardeal Luis José Rueda Aparicio, de Bogotá, Colômbia, disse ao Catholic News Service que ele vem de uma Igreja em que uma longa fila de bispos, padres, religiosos e leigos católicos tinha os pés solidamente no chão e os olhos e os corações bem abertos para as necessidades de seu povo.

Em 1900, disse ele, Bogotá tinha uma população de 200 mil habitantes e, no ano 2000, saltou para mais de 9 milhões de pessoas.

O crescimento foi “acompanhado por uma Igreja que se adaptou aos problemas, à migração de diferentes regiões, ao deslocamento de pessoas vindas de regiões do país atingidas pela violência, que chegaram e se estabeleceram em Bogotá, em busca de saúde, educação, moradia e emprego”, disse ele. “A Igreja evangelizou ao ritmo do crescimento da cidade, servindo, amando, acompanhando as pessoas não só com a catequese e a evangelização propriamente dita, mas também com um serviço holístico na educação, com os doentes, com os idosos, com os toxicodependentes, com os migrantes, buscando a paz, construindo casas, construindo bairros”.

O futuro cardeal italiano Pierbattista Pizzaballa, 58 anos, serviu durante três décadas na Terra Santa e será o primeiro patriarca latino de Jerusalém a ser elevado ao Colégio Cardinalício.

Ele disse ao CNS que trará sua experiência em Jerusalém, que é o lar de múltiplas religiões e culturas, e “onde o conceito de sacralidade também é muito importante”, e “também trarei o desejo de ser uma voz positiva de um contexto muito complicado e conflituoso”.

As comunidades não devem ter medo das muitas mudanças que acontecem à medida que se tornam multiculturais e diversas, disse ele. Mesmo em um ambiente cada vez mais secular, disse ele, o importante é não ter medo, mas sim “ter algo bonito e construtivo para dizer”.

O futuro cardeal Ángel Sixto Rossi, 65 anos, de Córdoba, Argentina, disse ao CNS que está feliz por ser um dos três argentinos que serão elevados no dia 30 de setembro; os outros são Luis Dri, 96 anos, e Víctor Manuel Fernández, 61 anos, prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé.

Ele disse que Dri, que é frade capuchinho, é um profundo “homem de Deus” e que Fernández “é um homem de grande força espiritual e intelectual” com uma “perspectiva eclesial muito valiosa”.

Rossi disse que trará sua própria experiência espiritual e pastoral, particularmente com seu extenso trabalho na assistência às pessoas pobres e vulneráveis.

O futuro cardeal Stephen Ameyu Mulla, de Juba, Sudão do Sul, disse aos repórteres: “É importante que a Igreja universal escute a Igreja local”, para que os novos cardeais da África “tragam a voz da Igreja local da África e a apresentem à Igreja universal”.

“Não somos de outro planeta. Somos todos do mesmo planeta”, e alguns dos desafios que a Igreja enfrenta são os mesmos em todos os lugares, disse ele, mas a Igreja se beneficia ao ouvir as vozes do maior número possível de pessoas e ao não marginalizá-las.

Em Lisboa, Portugal, na Jornada Mundial da Juventude, Francisco disse repetidamente que há espaço na Igreja para “todos, todos, todos”.

Como chefe do comitê organizador local, o futuro cardeal português Américo Manuel Alves Aguiar estava perto do papa enquanto ele repetia essa frase.

“Todos, todos, todos”, disse ele, é exatamente o que Francisco está fazendo com o Colégio Cardinalício, garantindo que seus membros venham dos mais diversos países, muitos dos quais têm cardeais pela primeira vez, e com uma surpreendente faixa de idades.

“Meu irmão da Mongólia e eu somos os ‘enfants terribles’, os dois mais jovens”, disse o futuro cardeal sobre si mesmo e seu colega Giorgio Marengo, de 49 anos. “É um problema que vai passar com o tempo. Vai passar em breve, e nós perderemos esse status. Mas acho que é muito importante, também com a marca registrada do papa de querer chegar aos jovens, que tenhamos também no Colégio Cardinalício alguns membros que podem ter uma sensibilidade” para com os membros mais jovens da Igreja.

O futuro cardeal José Cobo Cano, de Madri, não é tão jovem – tem 58 anos – mas está entre um grupo de arcebispos com menos de 60 anos nomeados este ano para liderar grandes arquidioceses.

“O que o papa está fazendo é nomeando uma geração de bispos novos”, disse ele aos repórteres.

Para o Colégio Cardinalício, concluiu, “o papa procura efetivamente um perfil de pessoas que tenham saído das paróquias, que tiveram uma experiência muito pastoral nas nossas dioceses e que podem dar essa contribuição a todo o conclave, a todo o grupo de cardeais”.

“Dizem que somos jovens, mas os jovens dizem que não somos tão jovens”, disse ele. “Mas é verdade que podemos contribuir com a visão da nossa geração”, que é diferente em termos de experiência pastoral e em termos de convivência e enfrentamento dos desafios da tecnologia, incluindo a inteligência artificial, por exemplo.

Dentro do Colégio Cardinalício e em um futuro conclave, disse, “há diferentes visões, diferentes gerações, e a nossa é pastoral, por um lado, para poder olhar para os problemas emergentes que talvez os mais velhos, devido à sua idade, podem não conseguir”.

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