08 Janeiro 2024
"Atualmente restam 14 cardeais eleitores da Itália, ainda o grupo nacional mais forte num hipotético conclave, mas ainda assim reduzido em comparação com o passado; basta pensar que só os estadunidenses são 11 e os espanhóis 8. Mas talvez, quem sabe, justamente essa condição de fraqueza objetiva da Igreja italiana (também claramente visível no último Sínodo e em geral no debate que hoje cruza o catolicismo entre impulsos reformistas e tradicionalismo), poderia torná-la uma possível referência pela sua capacidade de mediação entre diferentes personalidades e correntes", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 06-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na passagem entre 2023 e 2024 há muitas novidades em relação à composição do colégio cardinalício em vista de um possível, futuro, conclave. Porque, se por um lado, é verdade que o Papa não tem intenção de deixar o seu cargo por agora, é ao mesmo tempo um fato que Francisco atingiu os 87 anos de idade e, portanto, as limitações a uma atividade tão intensa como aquela do chefe da Igreja universal estão começando a se manifestar.
Além disso, não se pode excluir que Bergoglio decida voltar a mexer na composição do colégio cardinalício com novas nomeações, se considerarmos que durante 2024 haverá 13 cardeais que completarão 80 anos e deixarão a lista dos votantes em um possível conclave.
Entre eles estão pelo menos três personalidades de destaque: o jesuíta espanhol Luis Ladaria, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o canadense Marc Ouellet, ex-chefe da dicastério dos bispos, e o estadunidense Sean Patrick O'Malley, arcebispo de Boston e ainda hoje na condução da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores (bergogliano, mas também capaz de criticar o Papa). Os dois últimos foram considerados entre os candidatos elegíveis do último conclave, aquele que elegeu Francisco.
Até o fim de 2024, o número de cardeais eleitores cairá para 119, um a menos do limite mínimo (mas indicativo), estabelecido por Paulo VI, de 120.
Mas é no grupo dos cardeais italianos que se registram as maiores novidades. Em 2023, de fato, 5 cardeais ultrapassaram o limite que os exclui do conclave: Angelo Bagnasco, ex-presidente da CEI, Crescenzio Sepe, ex-prefeito da Congregação de Propaganda Fide (além de organizador da Grande Jubileu de 2000 pelo lado do Vaticano), Domenico Calcagno, ex-prefeito da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA), Giuseppe Versaldi, ex-presidente da prefeitura de assuntos econômicos (órgão que hoje não existe mais) e ex-prefeito de Congregação para a Educação Católica; Angelo Comastri, ex-presidente da Fábrica de São Pedro e ex-vigário papal para a Cidade do Vaticano.
Na verdade, pode-se dizer que uma época chegou ao fim: aquela dos cardeais de alinhamento bertoniano em contraposição àqueles próximos ao Cardeal Ruini, e dos conflitos entre a CEI e a Secretaria de Estado; uma temporada que marcou profundamente o pontificado de Bento XVI e contribuiu para orientar os cardeais em 2013 para escolher um bispo de Roma que não tivesse nada a ver com as lutas internas de poder da Igreja italiana.
Portanto, o peso dos italianos foi reduzido pelo Papa Francisco também dentro do sagrado colégio, em consonância por um lado com a escolha de valorizar as periferias do mundo, por outro com a intenção de moderar as ambições do episcopado italiano que sempre desfrutou de uma espécie de privilégio não escrito na relação especial que se estabelecia com a Santa Sé. Atualmente restam 14 cardeais eleitores da Itália, ainda o grupo nacional mais forte num hipotético conclave, mas ainda assim reduzido em comparação com o passado; basta pensar que só os estadunidenses são 11 e os espanhóis 8. Mas talvez, quem sabe, justamente essa condição de fraqueza objetiva da Igreja italiana (também claramente visível no último Sínodo e em geral no debate que hoje cruza o catolicismo entre impulsos reformistas e tradicionalismo), poderia torná-la uma possível referência pela sua capacidade de mediação entre diferentes personalidades e correntes.
Nesse contexto deve-se ainda recordar que entre os não eleitores consta o nome do card. Giovanni Becciu, recentemente condenado pelo tribunal do Vaticano.
Seja como for, vários nomes que merecem atenção se destacam entre os cardeais eleitores italianos. No grupo encontramos o secretário de Estado, Pietro Parolin, diplomata de longa data cujas capacidades são reconhecidas internacionalmente. Depois há o líder dos bispos italianos, Matteo Zuppi que, além de ter sido envolvido pelo Papa na obra de mediação entre a Rússia e a Ucrânia, desfruta do apoio da Comunidade de Santo Egídio.
Depois Claudio Gugerotti, também da escola diplomática, hoje prefeito do dicastério para as Igrejas Orientais, anteriormente núncio na Ucrânia e na Grã-Bretanha. Juntamente com ele, deve-se recordar o patriarca latino de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa (que, na realidade, eleva para 15 o número de eleitores italianos), que possui uma longa experiência na Terra Santa e cujo papel está crescendo também na dramática crise em curso. Além disso, poderia desfrutar de um consenso bastante transversal.
Num segundo grupo, estão outros dois expoentes da diplomacia vaticana: Fernando Filoni, ex-prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, como diplomata ocupou cargos em sedes importantes, do Brasil a Hong Kong; poderia ser o candidato de um conservadorismo mais moderado. Com ele, deve-se recordar o núncio na Síria, Mario Zenari, que geriu a longa, complexa e sangrenta crise síria para a Santa Sé.
Depois deles devem ser registrados os nomes dos cardeais Francesco Montenegro, verdadeiro bergogliano, comprometido com o acolhimento dos migrantes, ex-arcebispo de Agrigento, nomeado pelo Papa em junho passado como administrador apostólico da sede vacante da eparquia de Piana degli Albanesi. Depois os cardeais Paolo Lojudice, arcebispo de Siena e, a partir de 1º de janeiro de 2024, nomeado por Francisco juiz do Tribunal de Cassação do Estado da Cidade do Vaticano. Finalmente, o card. Giuseppe Betori, arcebispo de Florença, ex-secretário da CEI sob a presidência de Camillo Ruini.
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Os cardeais italianos estão se movendo em vista ao pós-Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU