08 Novembro 2023
O Papa Francisco quer que o seu sucessor também seja eleito por mulheres. Verdadeiro ou falso? Chovem desmentidas da Santa Sé e dos colaboradores diretos de Bergoglio, a ala tradicionalista inflama-se. Não por acaso, pois é das suas fileiras que nas últimas horas disparou a indiscrição, destinada, para além do seu verdadeiro fundamento, a agitar o debate numa Igreja altamente polarizada e a dificultar o caminho das reformas caras aos bergoglianos, ainda mais do que para Francisco.
A reportagem é de Giovanni Panettiere, publicada por Quotidiano nazionale (Qn), 04-11-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Segundo os blogs da direita católica, Messa in Latino, The Remnant e o respeitado The Pillar, o Papa estaria trabalhando na reforma da constituição apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por João Paulo II em 1996 para disciplinar o Conclave. Em particular, as modificações se concentrariam em dois aspectos: por um lado, as congregações gerais – as reuniões de discussão que precedem a votação não contariam mais com a participação dos cardeais com mais de 80 anos e seriam articuladas em pequenos grupos de trabalho como no recente Sínodo no lugar das clássicas intervenções em plenário; por outro, os cardeais eleitores – dos quais atualmente 72% foram nomeados pelo próprio Francisco – expressariam apenas 75% dos votos, deixando os restantes 25% para leigos e religiosos, incluindo mulheres. Estes últimos seriam nomeados por Bergoglio antes da sede vacante.
No que diz respeito ao voto, a reforma se reconectaria com as origens da Igreja, quando o Pontífice – Papa, por ser bispo de Roma, e não o contrário – era eleito por todo o povo, sem distinções de sexo. Nicolau II (1059-1061) restringiu o círculo apenas aos cardeais-bispos; cem anos depois, o Terceiro Concílio de Latrão conferiu o eleitorado ativo a todo o colégio cardinalício. Enquanto seria preciso esperar até 1274 e Gregório X para ter o conclave. Instituição pleonástica, se já tivesse existido, para a impiedosa senatrix Marózia que “governou” Roma (e não só) no século X, graças também à sua “presença” nos aposentos papais.
A exclusão dos cardeais com mais de 80 anos, no entanto, seria mais um passo para a sua eliminação depois de Paulo VI os ter excluído da votação na Capela Sistina, por estarem em desacordo com os cardeais italianos da Cúria.
Mas esse é outro assunto, outra história. Voltando aos rumores sobre a modificação da Universi Dominici Gregis, os tradicionalistas apontam que Bergoglio teria confiado a tarefa ao canonista Gianfranco Ghirlanda. Por sua vez, porém, o colaborador do Papa na elaboração da reforma da Cúria nega-o. “É mentira – insiste o cardeal –, nego definitivamente que esteja trabalhando com o Papa em qualquer reforma do Conclave. Não sei nada a respeito e, de qualquer forma, não tenho nada a ver com isso.” Por outro lado, o próprio Francisco, no recente livro de entrevistas Non sei solo, destaca o quanto seja fundamental ser bispo para a eleição do Papa, excluindo então a hipótese das mulheres-eleitoras, por não poderem ser padres.
Em suma, há o suficiente para confirmar as suspeitas dos liberais sobre mais uma manobra dos tradicionalistas. O alvo seria a sinodalidade – a participação de todos os fiéis nas decisões da Igreja que “entraria” no Conclave. E é do Sínodo, previsto a se encerrar em 2024, que poderiam chegar as propostas sobre o celibato facultativo para os padres e sobre o diaconato feminino. Tudo inaceitável para os tradicionalistas.
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Ataque dos tradicionalistas: “Também as mulheres no conclave. Será a reforma Bergoglio” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU