22 Fevereiro 2025
“Francisco é um homem de 88 anos que teve um problema sério, mas agora está em fase de tratamento. Não é um tratamento fácil, é claro, que levará tempo. Há uma grande atenção, como é natural, é evidente que a situação é delicada, mas não me parece ter percebido nenhuma forma de alarmismo”. O padre Antonio Spadaro, de 58 anos, por doze anos diretor da revista jesuíta La Civiltà Cattolica, é subsecretário do Dicastério para a cultura e um dos homens que melhor conhece seu coirmão Jorge Mario Bergoglio.
“Ele tem uma energia vital extraordinária. Ele não é uma pessoa que se abate, não é um homem resignado. E isso é um elemento muito positivo, já vimos isso no passado”.
A entrevista é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 19-02-25. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como o senhor vê a situação, padre?
Falou-se de uma infecção respiratória polimicrobiana que exigiu maiores investigações, agora se informa que foi detectado a incidência de pneumonia. Parece-me, entretanto, que foi encontrado o foco do problema. Francisco está em boas mãos, acredito e espero que a direção positiva tenha sido tomada. Depois disso, é claro que, na idade dele, a situação é sempre delicada e ele precisa de algum tempo...
Duas ou três semanas?
Sim, é mais ou menos isso. Antes da hospitalização, ele se expôs, estava visivelmente afetado. O importante é que agora ele fique o tempo necessário em um ambiente protegido.
Mas ele parecia um pouco impaciente, não é verdade?
É claro que ele acha difícil ficar trancado em um espaço asséptico. Ele nunca se poupou. Mas ele sabe que tem de seguir as orientações dos médicos, o próprio Inácio de Loyola escreveu isso nas Constituições da Companhia de Jesus: 'No tempo da enfermidade, deve-se não apenas observar a mais pura obediência para com os superiores espirituais, para que possam governar a alma, mas também, com igual humildade, para com os médicos do corpo e os enfermeiros, para que eles possam governar o corpo'.
Eles prescreveram repouso absoluto para ele. Isso é difícil.
Na verdade, ele nunca se concedeu repouso absoluto, não tira férias desde a década de 1970. Talvez reserva alguns dias para se afastar um pouco, mas mesmo durante esses períodos ele continua a ver pessoas, a tratar de alguma coisa. Ele segue o que os médicos dizem e tenta ser atento, mas, na medida do possível, faz o que pode. E isso é essencial.
Em que sentido?
Mesmo nestes últimos dias ele lê os jornais, trabalha um pouco, faz ligações telefônicas. Como sempre, ele demonstra sempre uma energia vital extraordinária. Afinal, é típico de um jesuíta viver e trabalhar e também morrer na trincheira.
Ele não se poupa.
Ele não quer se poupar, nunca. Somado a isso está o fato de que ele não tem problemas em mostrar sua fraqueza. Quando celebrou na praça e já não estava bem, não achou estranho ler apenas parte da homilia. Poderia tê-la encurtado, mas preferiu dizer que não conseguia continuar e a entregou para ler. Ele vive a limitação física com muita tranquilidade. Ao mesmo tempo, não deixa de trabalhar o máximo que pode, pois isso faz parte de seu caráter, além de sua espiritualidade. Também no passado, quando teve problemas de saúde, fez o mesmo.
Se tudo correr bem, poderíamos pensar em uma renúncia como a de Bento XVI?
Ele está ciente, como já disse no passado, de que se governa com a cabeça e não com as pernas. É claro que também é uma questão de avaliar as energias que podem ser despendidas. O Papa é uma pessoa que, se percebesse não ter mais as forças para levar a Igreja adiante, renunciaria. Mas enquanto sentir que as energias existem, um problema de saúde temporário não o impedirá. Bento XVI abriu a possibilidade e Francisco nunca descartou a possibilidade de renunciar. Mas, como norma, ele explicou, o ministério do papa é vitalício.