30 Abril 2025
O artigo é de José Manuel Vidal, doutor em Ciências da Informação e licenciado em Sociologia e Teologia e diretor do Religión Digital, publicado por Religión Digital, 30-04-2025.
No jogo de xadrez do conclave, os cardeais eleitores não são os únicos que movem as peças. Por trás de cada voto está a influência dos fazedores de reis, cardeais cuja experiência, rede de contatos ou peso institucional os tornam árbitros decisivos. São cardeais que gozam de prestígio no Colégio Cardinalício, mas que, devido à idade ou outras características, não podem aspirar a figurar na lista papal. Mas seus "conselhos" e instruções podem fazer a balança pender a favor de um ou outro candidato para suceder Francisco.
Porque, no pré-conclave, alianças são forjadas, informações são divulgadas, redes de influência e poder são tecidas, nomes são lançados e até doenças são inventadas para deter o candidato considerado inadequado para os interesses dos respectivos partidos, grupos ou sensibilidades.
Estes são os nomes que influenciarão a escolha do sucessor de Francisco e seus possíveis conselhos aos eleitores:
Giovanni Battista Re (ex-prefeito dos Bispos): Embora não vote, sua homilia no funeral de Francisco foi um manifesto programático. Como decano do Colégio dos Cardeais, suas palavras sobre a "coragem reformista" do falecido Papa são um manual para os eleitores. Decano do Colégio dos Cardeais, ele é uma figura de autoridade indiscutível. Aos 91 anos, ele não participará do conclave, mas sua voz ressoa nos corredores do Vaticano. Com uma vida dedicada a servir a Igreja sob três papas, Re conhece os meandros da Cúria como poucos. Seu conselho aos eleitores seria claro: "Procurem um pastor, não um burocrata. A Igreja precisa de um Papa que cheire a ovelha, como Francisco pediu, mas com a prudência necessária para unir o rebanho."
Fernando Vérgez (80 anos, ex-presidente do Governatorato): O espanhol do C9 representa a cúria tecnocrática e pode inclinar a balança para um Papa gerencial. Seu conselho será fundamental para evitar um Papa "muito perturbador". Membro do C9 desde 2023, ele representa a continuidade da gestão do Vaticano. Como Legionário de Cristo, sua nomeação para o conselho foi surpreendente, mas sua proximidade com Francisco e seu trabalho na administração do Vaticano fazem dele um homem de respeito. Sua mensagem aos eleitores poderia ser: “Elejam alguém que entenda a complexidade de governar a Igreja universal, mas que não tenha medo de sujar as mãos nas periferias”. Vérgez, pragmático e discreto, apoiaria um Papa que combinasse visão espiritual com capacidade executiva.
Marcello Semeraro (77 anos, ex-prefeito das Causas dos Santos): Homem de confiança de Francisco, ele pode inclinar a balança para uma continuidade moderada.
Giuseppe Bertello, ex-presidente do Governatorato do Vaticano e membro do C9 até 2023, é outro veterano cuja influência persiste. Embora não seja mais eleitor, seu tempo no conselho consultivo de Francisco lhe dá uma visão global dos desafios da Igreja. Bertello poderia pedir aos cardeais que "priorizassem a colegialidade e a descentralização, mas sem perder a unidade doutrinária". Sua experiência diplomática o faz valorizar um Papa capaz de se envolver com o mundo secular sem ceder a pressões ideológicas.
Juan José Omella (79 anos, C9): Como membro do Conselho de Cardeais e ex-presidente da CEE, ele defende uma Igreja sinodal, mas sem fraturas. Sua rede de contatos na Europa e América Latina o torna indispensável nas negociações. Omella, Arcebispo de Barcelona, é um pastor próximo, forjado na escola de Francisco. Sua incorporação ao C9 em 2023 foi uma prova de sua abordagem de mente aberta e capacidade de construir pontes. O cardeal aragonês, familiarizado com as fraturas no episcopado espanhol, pode aconselhar: "Não se deixem seduzir por extremos. A Igreja precisa de um Papa que ouça a todos, dos mais progressistas aos mais tradicionais, e que tenha a coragem de avançar sem romper a comunhão." Seu perfil moderado o posiciona como um eleitor influente, capaz de mediar entre facções.
Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga (82 anos, emérito do C9): Arquiteto do "conclave de 2013", continua sendo uma referência para a ala social da Igreja. Seu conselho: "Não traia a opção pelos pobres."
Jean-Claude Hollerich (66 anos, C9): O jesuíta luxemburguês, relator do Sínodo, pressiona pela aceleração da participação leiga e da aceitação LGBTQ+. Ele sabe que, como jesuíta, não tem opções, mas seu conselho será ouvido.
Reinhard Marx (71, ex-presidente da Conferência Episcopal Alemã): Embora criticado por sua forma de lidar com abusos e pela condução do processo sinodal alemão em algumas de suas etapas, seu peso teológico e sua defesa da "descentralização" fazem dele um importante lobista para os candidatos.
Seán O'Malley (80 anos, C9): O "varredor de pedófilos" é o grande eleitor americano. Seu conselho: "Um Papa firme contra os abusos, mas misericordioso com as vítimas." Pode ser fundamental na escolha de Robert Prevost, o norte-americano com experiência em trabalho pastoral peruano.
Oswald Gracias (79 anos, C9): O Arcebispo de Bombaim, que goza de enorme influência na Ásia, pode ser decisivo para um Papa asiático como Tagle, equilibrando posições e garantindo a unidade.
Timothy Radcliffe (79 anos, ex-professor dominicano): Enormemente carismático e profético, seu prestígio intelectual e sua defesa de uma Igreja "em diálogo com o mundo" fazem dele uma referência moral.
Víctor Manuel Fernández (62 anos, Prefeito da Doutrina da Fé): Sua proximidade com Francisco e seu perfil teológico o tornam um conselheiro nato, mas sua nacionalidade argentina o distancia do papado.
Ángel Rossi (56 anos, Arcebispo de Córdoba): O "jovem Bergoglio" tem carisma, mas também é argentino. Seu conselho: "Continue a revolução da ternura."
"Procure um Papa que reforme sem dividir, como o próprio Francisco pediu em seu testamento espiritual."
"O novo Papa deve ser implacável contra os abusos, mas sem cair no puritanismo."
"Não elejam um burocrata: a Igreja precisa de um pastor que cheire a humanidade e a profecia."
"Se elegerem um europeu, que ele seja uma ponte para o Sul Global."
"Não permitam que os rigoristas sequestrem o legado sinodal."
Os fazedores de reis enfrentam um dilema: aprofundar-se no Concílio Vaticano II ou ceder à pressão dos setores que anseiam por um "retorno à normalidade pré-Francisco". Como Maradiaga alerta: "Se escolhermos por medo, trairemos o Espírito".
Enquanto isso, o povo fiel, aqueles que Francisco chamou de "santos", esperam um Papa que faça da misericórdia um programa, não um slogan. Os fazedores de reis têm a palavra, mas o movimento final é sempre do Espírito.
Em um conclave onde 80% dos eleitores foram indicados por Francisco, o legado do Papa argentino será o pano de fundo. Mas os fazedores de reis sabem que o futuro não está escrito. Sua tarefa será guiar os eleitores para um Papa que, como Francisco pediu, “vai às periferias” e faz da Igreja um “hospital de campanha” para um mundo ferido. Nas congregações gerais, suas vozes ressoarão, tecendo o destino da Igreja universal.