Em uma Igreja sinodal, o modo é superior ao conteúdo. Artigo de Luis Miguel Modino

A mesa da presidência do Sínodo sobre Sinodalidade. Ao centro, o cardeal Hollerich, relator geral | Foto: Vatican Media

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

11 Outubro 2024

"Um Sínodo, uma Igreja, que explica detalhadamente o que deve ser feito em cada momento, é uma Igreja do Levítico e não do Evangelho. É por isso que ainda existem aqueles que defendem a Igreja do conteúdo, da doutrina, a Igreja piramidal em que alguns dizem o que deve ser feito e outros obedecem sem reclamar", escreve Luis Miguel Modino, padre espanhol e missionário Fidei Donum.

Eis o artigo.

Um Sínodo sem novidades, monótono, sem temas concretos, que nada vai mudar... Essas e outras mensagens semelhantes chegaram nos últimos dias, sinal de que a grande maioria não entende que, da mesma forma que para Francisco o tempo é superior ao espaço, poderíamos dizer que o modo é superior ao conteúdo.

Testemunhas em vez de mestres

A história nos mostra que os essencialismos deixaram os modos de lado. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma tentativa de recuperar a importância do modo. Paulo VI, um dos papas do Concílio, diz que “o homem contemporâneo ouve mais as testemunhas do que os mestres ou, se ouve os mestres, o faz porque eles são testemunhas”. O modo como algo superior ao conteúdo, uma dinâmica que foi posteriormente relegada.

No atual pontificado, podemos dizer que Francisco deu um novo impulso à dinâmica conciliar. Ele o faz na Praedicate Evangelium, onde, no primeiro parágrafo, explicita “a missão que o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos”, que não é outra senão “anunciar o Evangelho do Filho de Deus, Cristo Senhor, e, através do mesmo, suscitar a obediência da fé em todos os povos”. Para isso, Francisco fala do caminho, não do conteúdo, e afirma: “a Igreja cumpre o seu mandato, sobretudo quando testemunha, por palavras e por obras, a misericórdia que ela própria gratuitamente recebeu”.

Gestos e ações para se envolver na vida cotidiana

O fundamental é o exemplo, colocando no texto o que Jesus fez, “lavou os pés aos seus discípulos e disse que seríamos felizes se assim fizéssemos também nós”. E, caso não tenha ficado claro, ele continua: “deste modo, ‘com obras e palavras, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo’”, explicando que, para anunciar o Evangelho, o Senhor “instou-nos a cuidar dos irmãos e irmãs mais frágeis, doentes e atribulados”.

É assim que Francisco está orientando a Igreja a responder hoje aos sinais dos tempos, com modos, com testemunho, sem doutrinação. Na meditação antes do início dos trabalhos sobre o Módulo do Instrumentum Laboris que fala dos itinerários, Pe. Radcliffe adverte sobre isso: “muitas pessoas querem que este Sínodo dê um Sim ou um Não imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis”.

A Igreja deve adotar modos

Um Sínodo, uma Igreja, que explica detalhadamente o que deve ser feito em cada momento, é uma Igreja do Levítico e não do Evangelho. É por isso que ainda existem aqueles que defendem a Igreja do conteúdo, da doutrina, a Igreja piramidal em que alguns dizem o que deve ser feito e outros obedecem sem reclamar. Com o Sínodo, Francisco quer nos levar a entender que a Igreja deve adotar modos e, quando isso for feito, o conteúdo virá em seguida.

A escuta, o diálogo, a conversa no Espírito, o discernimento comunitário são formas que ajudam a avançar o processo, um termo decisivo no Magistério do atual pontífice. Mas quando se trata de sinodalidade, parafraseando Dom Georg Bätzing, bispo de Limburg e presidente da Conferência Episcopal alemã, “é preciso muita paciência para aprendê-la”, vendo-a como “exaustiva, às vezes árdua”, mas certamente o caminho para “apreciar a diversidade na Igreja e promover a unidade”. Para isso, Bätzing também aponta o caminho: “escutar uns aos outros e levar os outros a sério”.

Leia mais