11 Outubro 2024
Um bispo africano tomou o microfone para defender um maior acompanhamento pastoral de casais poligâmicos. Um dia depois, um padre subiu ao palco, fazendo uma versão quase idêntica das observações do prelado, mas substituindo a palavra poligamia por LGBTQ.
A reportagem é de Christopher White, publicado por National Catholic Reporter, 10-10-2024.
Essas foram apenas duas cenas dos primeiros dias da assembleia final do Papa Francisco em Roma, parte de seu projeto de Sínodo sobre a Sinodalidade, que chega oficialmente ao fim este mês.
Vários membros confirmaram essas anedotas, mas pediram anonimato. Os delegados estão oficialmente proibidos de discutir detalhes das conversas que ocorreram dentro do Salão Sinodal.
Os membros disseram ao National Catholic Reporter que questões polêmicas estão sendo discutidas tanto dentro da sala quanto nos bastidores, embora o papa tenha direcionado que algumas das questões mais polêmicas sejam enviadas a grupos de estudo para análise adicional. Entre os temas estão o papel dos ministérios femininos e a inclusão de LGBTQ na Igreja.
O presidente do dicastério doutrinal no Vaticano disse aos delegados, em 2 de outubro, que o momento não é apropriado para discutir diáconas mulheres. Mas, em uma coletiva de imprensa de 9 de outubro o diácono belga Geert De Cubber falou que a questão ainda está sendo discutida dentro da assembleia.
Após passar um mês juntos no ano passado discutindo o futuro da Igreja Católica, cerca de 400 delegados sinodais retornaram à Cidade Eterna. Todos os membros da assembleia que entrevistei atestam que há um senso mais profundo de confiança este ano entre o corpo e que os participantes estão mais à vontade com o processo e com as pessoas que foram encarregadas de conduzir o Sínodo adiante.
Embora as esperanças sejam altas de que o encontro produza resultados concretos, os organizadores enfatizam que o foco principal do mês é aprofundar a prática da sinodalidade. As questões que estão diante deles, afirmam, são criar melhores estruturas para que a Igreja se torne mais inclusiva e mais capaz de ouvir todos os seus membros.
Talvez seja por isso que, pelo menos de acordo com dois relatos, houve uma maior sensação de convergência quando dois delegados de culturas diferentes se basearam na mesma lógica para defender algo que o outro poderia achar objetável. O bispo africano argumentou que, embora os relacionamentos poligâmicos possam não corresponder ao ideal do Evangelho, ainda há uma necessidade de acompanhar as pessoas em tais relacionamentos e incluí-las na vida da Igreja. Outro delegado fez o mesmo argumento em nome das pessoas LGBTQ.
Mesmo que questões dos católicos LGBTQ tenham sido oficialmente removidas de pauta, alguns delegados ainda estão usando o poder de convocação do sínodo para considerar como a Igreja pode ser mais acolhedora. A cinco minutos a pé do Salão Sinodal, dentro da sede global dos jesuítas, mais de 70 delegados do sínodo, funcionários do Vaticano e outras lideranças eclesiásticas se reuniram no dia 8 de outubro para um diálogo sobre a inclusão de LGBTQ na igreja. O evento, organizado pela obra jesuíta Outreach, foi fechado para a imprensa, mas, de acordo com um artigo em seu site, incluiu cinco depoimentos de católicos gays, lésbicas e bissexuais da África, Europa e América Latina.
Vários relatos de participantes e painelistas enfatizaram que as realidades dos católicos LGBTQ não são simplesmente uma questão ocidental, mas uma preocupação para a Igreja universal. Um painelista africano elogiou supostamente o apoio de Francisco à despenalização da homossexualidade, ao mesmo tempo que expressou descontentamento pelo fato de que os bispos católicos no seu continente não estão seguindo o mesmo caminho.
O público incluía tanto cardeais atuais quanto alguns dos homens nomeados no dia 8 de outubro como cardeais e que receberão o barrete vermelho de Francisco em dezembro.
De acordo com o diretor executivo do Outreach, Michael O'Loughlin, uma painelista explicou que se tornou católica após as palavras acolhedoras de Francisco e disse que, como outras pessoas LGBTQ, ela simplesmente deseja ser bem-vinda para servir sua paróquia. Outra painelista foi questionada sobre qual mensagem ela esperava que os delegados sinodais ouvissem. Sua resposta foi que "a mensagem de Jesus era uma de amor e pediu aos líderes da Igreja que vissem os católicos LGBTQ como seres humanos, em vez de como a soma de seus pecados".
E com Juan Carlos Cruz, um homem abertamente gay que é um confidente próximo de Francisco, sentado na mesa como painelista, não serão apenas os delegados do sínodo que ouvirão essa mensagem ou sobre esse evento, mas quase certamente o próprio papa.
Este artigo aparece na série de matérias sobre o Sínodo sobre a Sinodalidade. Veja a série completa clicando aqui.
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Questões LGBTQ surgem dentro e fora do Sínodo dos Bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU