03 Setembro 2022
Sobre o pontificado de 33 dias, foi lançado agora o livro “Albino Luciani Giovanni Paolo I. Una biografia” (Ed. Morcelliana), de Ettore Malnati e Marco Roncalli.
A reportagem é de Maria Antonieta Calabrò, publicada em L’HuffingtonPost.it, 25-08-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Não, não foi apenas um sorriso. Em um conclave-relâmpago de apenas dois dias em pleno agosto, nos dias 25 e 26, há 44 anos, foi eleito o Papa Albino Luciani. Ele assumiu o nome dos seus dois antecessores João (XXIII) e Paulo (VI). Um nome de conexão e entrelaçamento, que já fazia alusão a uma sequência.
De fato, na Capela Sistina, depois de ouvir o nome escolhido pela boca do novo pontífice, o cardeal Siri acrescentou o “primeiro”, o “I”, o número de série que nunca é usado para um pontífice que inaugura um novo nome. Tanto que Bergoglio-Francisco não se chama Francisco I.
Para compreender por que aquele papa não foi um parêntese, apesar de ter sido papa por apenas 33 dias, e por que no dia 4 de setembro ele será beatificado na Basílica de São Pedro diante de todos os cardeais do mundo chamados ao consistório por Francisco, é útil o livro de Ettore Malnati e Marco Roncalli, intitulado “Albino Luciani Giovanni Paolo I. Una biografia” (Ed. Morcelliana).
Escrito com delicadeza, mas sem omitir nada. Por exemplo, é poderosa a reconstrução da oposição a Dom Paul Marcinkus, presidente do IOR na época em que Luciani era patriarca de Veneza, não por uma questão de bancos ou de poder, mas pelo modo como Luciani entendia o uso do dinheiro pela Igreja.
Páginas que permitem vir à tona, como o reflexo da luz sobre a água, os misteriosos fios de uma vida que se entrelaçam com os dos seus antecessores e sucessores. Até hoje. Tanto que o milagre que é reconhecido pela Igreja e pelo qual ele será declarado bem-aventurado salvou uma menina de Buenos Aires.
Trinta e três dias ao todo, para um homem doente que foi fisicamente esmagado pelo cargo de sucessor de Pedro, a ponto de morrer por causa disso.
As tramas daqueles poucos dias são as da doutrina, da catequese, da humildade e da proximidade aos últimos, aos pecadores, são as das reformas a serem feitas na Cúria Romana (na sua morte, circulava uma piada que diz muito sobre o cinismo imperante: “O Espírito Santo voltou de férias”).
Até às relações com o Patriarcado de Moscou, muito melhores naquela época do que agora, unido pelo destino – compartilhado em poucos dias com a sua própria morte – com o metropolita ortodoxo Nicodim de Leningrado, que morreu de infarto praticamente entre os braços de João Paulo I no Vaticano. Com Luciani que não hesitou em lhe dar sua absolvição.
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Apenas um sorriso? João Paulo I e a história de meio século de papado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU