Vozes de Emaús: As muitas vozes que ecoam da vida. Artigo de Claudio Ribeiro e Rose Fernandes

Arte: Laurem Palma | IHU

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01 Novembro 2025

"Esperamos que os destaques que faremos das “vozes que ecoam na conjuntura social e política e nos caminhos do pluralismo e do diálogo” sejam úteis para a vida e o trabalho de todas as pessoas que têm acompanhado a coluna e outras que possam ver nestes pontos uma colaboração importante para suas pautas e lutas nos mais diferentes setores sociais e eclesiais."

O artigo é de Claudio Ribeiro, pastor metodista e professor de Ciência da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora e Rose Fernandes, teóloga, assessora do MEL (Movimento de Juventudes e Espiritualidades Libertadoras), professora na PUC-Rio, membro da Comunidade Batismo do Senhor, Caxias, Rio.

Foto: Claudio Ribeiro e Rose Fernandes

O presente texto integra a coluna Vozes de Emaús, que conta com contribuições semanais dos membros do Grupo Emaús. Para saber mais sobre o projeto, acesse aqui

Eis o artigo. 

A coluna Vozes de Emaús completa a sua 50a. análise. Foram sete meses de reflexões sobre variados temas, especialmente interpretações da conjuntura sociopolítica, econômica e religiosa, somadas a materiais com abordagens de assuntos específicos, todos de crucial importância para os dias de hoje. O que esteve em alta neste período? O que chamou mais a atenção dos diferentes setores de nossa sociedade?

Com o intuito de oferecer um panorama deste quadro e, assim, compartilhar temas e pontos conjunturais de relevância nestes últimos meses, apresentamos alguns destaques. Dos quatro blocos de análise, que denominamos “vozes que ecoam” – a saber: nos caminhos eclesiais, nas teias teológicas da esperança, na conjuntura social e política e nos caminhos do diálogo e do pluralismo  –, optamos, devido aos limites do espaço, em comentar somente os dois últimos. Os demais, de igual importância, devem ser revisitados, com a mágica aventura dos cliques que nos fazem chegar a cada artigo da coluna. Não podemos deixar de dizer que o primeiro bloco, ‘vozes que ecoam nos caminhos eclesiais’, foi fortemente marcado pela transição do pontificado de Francisco para Leão XIV. Estimulamos, então, que sejam relidos na coluna textos de Faustino Teixeira, Frei Betto, Pedro Ribeiro, Afonso MuradMarcelo Barros sobre esse significativo momento eclesiástico e que afeta a sociedade como um todo.

Esperamos que os destaques que faremos das “vozes que ecoam na conjuntura social e política e nos caminhos do pluralismo e do diálogo” sejam úteis para a vida e o trabalho de todas as pessoas que têm acompanhado a coluna e outras que possam ver nestes pontos uma colaboração importante para suas pautas e lutas nos mais diferentes setores sociais e eclesiais.

Vamos a eles!

Vozes que ecoam na conjuntura social e política

Assim como em sua rica trajetória de cinco décadas, o grupo Emaús se dedica, também nesta coluna, a refletir sobre os aspectos mais destacados da conjuntura social e política. O ano de 2025 fez o mundo ver o aumento da desigualdade social e econômica, das catástrofes climático-ambientais e da violência em seus diferentes níveis, especialmente na Palestina, mas também nas periferias urbanas, na invasão de terras de povos originários, no feminicídio e outras situações de vulnerabilidade. Pedro Ribeiro, em “Criar esperança nesta era de trevas”, além de mostrar esses pontos, destacou como aspectos ideológicos geram e reforçam o fascínio diante do sistema econômico capitalista. A dominação política e cultural por ele exercida se “reveste de admiração dos setores dominados pelos poderosos. Como se fosse uma cascata social, os super-ricos e grandes milionários/as ocupam o topo da admiração; logo abaixo estão as pessoas famosas do mundo midiático, dos esportes ou da moda, cujo estilo se busca imitar; depois estão as classes médias e as classes empobrecidas que sonham se enriquecer nem que seja pelos jogos de apostas. Essa gente percebe que acredita em algo que certamente não se realizará, mas só lhes resta esse sonho depois que todas as certezas do passado se esfumaram”. Há esperança? Para estar atento à resposta, vale a pena revisitar o artigo.

Outros temas tratados foram "Pobreza, Genocídio e Raça no Brasil: há horizonte de esperança possível?”, por Lusmarina Garcia, “A civilização técnico-científica e o desafio do projeto tecnocrático de emancipação”, por Manfredo Araújo de Oliveira, “Tempos irracionais”, por Maurício Abdalla, no qual defende que a arte e a religião são campos eficazes para a formação de consciência crítica nos tempos irracionais em que vivemos hoje, e “Contra a fábrica de medos - ou - a esperança como potência revolucionária”, por Rose Fernandes.

Em relação à conjuntura internacional neste período, dois temas se destacam: o genocídio em Gaza e o “tarifaço” de Trump. Em relação ao primeiro, Ivo Lesbaupin, em “Em campos de concentração ontem e hoje”, faz uma constatação e uma crucial pergunta: “Hitler queria uma 'solução final', acabar com o povo judeu; Israel hoje quer a eliminação do povo palestino da face da Terra. Qual a diferença entre os nazistas de ontem e o Estado de Israel de hoje?”. De forma similar, Faustino Teixeira, em “As flotilhas da esperança”, faz a denúncia deste genocídio e realça as vozes proféticas que tem se levantado contra ele. Frei Betto, em “Acolher o estrangeiro, imperativo divino”, mostra que o modo como o atual governo do Estado de Israel ataca os palestinos em Gaza e na Cisjordânia, causando o genocídio e condenando à fome e ao desterro os demais, não encontra fundamento na Torá ou no Primeiro Testamento. Tratando dos conflitos bélicos ao redor do mundo em curso hoje, Marcelo Barros mostra que “A Guerra é contagiosa e a Paz só poderá vir de baixo”. No outro tema, Sinivaldo Tavares, contribuiu com um ponto de extrema importância para a política: o “‘Tarifaço’- imposição colonial com finalidade extrativista” e Teófilo Cavalcanti, em “Trump: tarifação ou vitimização”, apresenta um histórico das formas de dominação econômica dos EUA no contexto internacional.

São reflexões que estão na “ordem do dia” e precisam ser revistas e aprofundadas.

Vozes que ecoam nos caminhos do diálogo e do pluralismo

A diversidade religiosa e as possibilidades de diálogos têm sido um dos mais destacados desafios para a sociedade hoje. Marcelo Barros, em “Desafios e perspectivas das Teologias pluralistas da Libertação”, mostra que precisamos sedimentar as ações inter-religiosas e interespirituais com tempo e convivência. Edward Guimarães, em "Identidades abertas, de múltiplas pertenças”, realça que para que o diálogo entre alteridades se efetive é fundamental superarmos a cultura do individualismo e nos darmos conta de que na formação de nossas identidades somos atravessados pela diversidade cultural e religiosa.

O tema do pluralismo recebe abordagens diversas em “De volta ao Pluralismo Religioso”, com Claudio Ribeiro ao nos apresentar o cenário da diversidade religiosa brasileira em suas novas configurações socioculturais tanto no campo religioso, como nas interações das vivências religiosas com dimensões públicas e seculares. Nos alerta para as variadas formas de trânsito religioso, de múltipla participação e pertença religiosa, de experiências de transreligiosidade e de novas configurações religiosas, boa parte delas peculiares e inéditas.

Com Frei Betto, em “A dimensão evangélica de religiões de matriz africana”, você vai encontrar pontos de convergência entre o Evangelho e as tradições Africanas, pois estas carregam o sentido mais original da palavra ‘evangelho’: boa nova, anúncio de vida plena, comunhão com o divino e prática do amor ao próximo. Ainda neste eixo, se dedicaram Rose Fernandes, com “Diálogos intergeracionais e decolonialidade: caminhos e perspectivas” e em “Juventudes e Encruzilhadas”, Claudio Ribeiro, com “Uma palavra para riscar de nosso vocabulário: identitarismo!”, nos motivando ao diálogo intergeracional garantindo circularidade, partilha, planejamentos participativos e grupais, sempre na dimensão da ecumenicidade. Afirmam que aqui residem os processos de libertação, como encruzilhadas, espaços de discernimento e escolhas, acolhendo os desafios e sabedorias de cada tempo.

Também nos brindaram análises neste eixo, Edward Guimarães com “Processos de libertação e alguns pressupostos para o diálogo inter-religioso” e Aquino Junior, com “Novas gerações de teologias da libertação”. Ambos nos impulsionando a seguirmos fazendo teologia da libertação nos passos de Jesus, na força do Espírito, em companhia dos profetas e mártires da caminhada – sempre na fidelidade ao Deus dos pobres e os pobres da terra.

Como convidamos inicialmente, muitos outros temas estão esperando seu acesso, reflexão e reverberações em suas rodas. Agradecemos até aqui a caminhada coletiva desses sete meses e seguimos na disposição de pequenas contribuições para o cotidiano que nos interpela e no Amor Divino que nos sustenta e esperança a novas estratégias.

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