A semana foi marcada pelo Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, que trouxe dados globais estarrecedores. Continuamos repercutindo o plano do golpe e as eleições nos Estados Unidos. Anunciamos também que vamos começar o Tempo do Advento, um tempo para esperançar um futuro melhor. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana do IHU.
Confira os destaques na versão em áudio.
Por ocasião do Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, a ONU publicou um relatório que dá o tom da dimensão do problema: a cada 10 minutos uma mulher no mundo morre vítima de feminicídio. Em 2023 a ONU contabilizou 85 mil mulheres ou meninas assassinadas por um parceiro ou familiar. Vítimas dentro de suas casas, que sofrem abusos, assédios e estão ao nosso lado, em silêncio. Trazer esses números à tona é uma forma de buscar um futuro em que a violência de gênero não exista mais. No artigo “A violência submersa. Homens e mulheres, a coragem de ver”, três jornalistas apontam que parte do problema está na normalização do assédio:
“[...] E aí está, o maior erro: normalizar comportamentos que não são normais. Há violência mesmo que não haja crime e, na maioria dos casos, de qualquer forma, trata-se de crime. Há violência em tudo que fere a dimensão íntima de uma mulher, que uma mulher sofre contra sua vontade e que limita ou condiciona sua liberdade. E mais: no espaço escavado por essa violência cotidiana - sorrateira, subestimada, muitas vezes mantida em segredo por medo, humilhação, vergonha – encontram raízes o ódio e a maldade que, como gêiseres, muitas vezes explodem no horror absoluto dos abusos, dos espancamentos e dos feminicídios. É a ‘cultura do estupro’ que resiste e degrada a nossa sociedade, minando desde as profundezas o jogo da igual dignidade entre homens e mulheres” [...]. Para quem acredita que esta é uma realidade distante, cabe lembrar, por exemplo, que o Rio Grande do Sul já registrou 53 feminicídios esse ano e mais de 40 mil casos de violência contra a mulher.
(Fonte: Governo do RS)
Nosso sistema social patriarcal é outro vilão da violência contra às mulheres. Ele existe, nem sempre é percebido e é uma longa guerra entre modelos culturais. “O patriarcado não é uma ideologia que pode ser varrida com um golpe de galho. É o simbólico que nos molda a partir da medula, o hábito habitado que, tendo-se tornado um habitus mental e existencial, embora nossos pensamentos e visão e extingue nossa imaginação”, sintetizou Anita Prati. Um machismo que permeia todos os campos. "É cúmplice, portanto, continuar a classificar a violência masculina como um fenômeno residual e em via de extinção, como um fraco legado de um passado que está fisiologicamente destinado a acabar. Inclusive porque o número de feminicídios não mostra sinais de diminuição", alerta Vinzia Fiorino.
Enquanto uma menina até 14 anos é estuprada a cada seis minutos no Brasil, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados deseja colocar fim ao direito ao aborto legal, dando prosseguimento a PEC que proíbe o aborto legal. Na Birmânia, a violência sexual é também arma de guerra. São relatos de estupros coletivos repetidos e generalizados, inclusive de mulheres grávidas e garotas adolescentes. No Líbano, a guerra expôs as feridas das mulheres migrantes escravizadas, agora abandonadas à própria sorte durante os bombardeios israelenses. No Irã, nascer mulher é quase um crime. O movimento Mulher, Vida e Liberdade ainda não encontrou eco no Ocidente e o país promove “uma caça às bruxas contra a mulher livre, emancipada, que luta pelos últimos, pela justiça social e pela paz. A resistência não violenta das mulheres está criando problema para o regime islâmico do Irã, mas muitas vezes resulta estranha à política e à cultura do Ocidente”.
Seguem os desdobramentos do plano de Golpe e assassinato planejado pelos militares e a extrema-direita, com o ex-presidente conduzindo a organização criminosa. Mais ainda, planejaram criar campos de concentração aos moldes nazista. Para pôr fim a “crise” na caserna, Manuel Domingos Neto propõe uma reforma do Exército. O primeiro aspecto a ser alterado é “a distinção constitucional da função militar. As Forças Armadas devem servir para combater o inimigo externo. A Constituição precisa proibir que empunhem armas contra quem lhe sustenta, o povo brasileiro. Não cabe ao militar manter Lei e Ordem. Isso deve ficar com outras instituições”. Camila Rocha vê o episódio como oportunidade para acabar com a tutela dos militares, que sempre saíram impunes dos crimes que cometeram.
Eles estavam planejando criar um campo de concentração aos moldes de Auschwitz.😳
— Bruno Brezenski (@bbbrezenski) November 29, 2024
E tem gente que não entendeu qual a ideologia dessa gente.
O Brasil precisa tirar a limpo a presença e influência de alemães pós guerra, principalmente em SC.pic.twitter.com/T9q5d7RscF
“Trump é como uma doença, um problema que abre caminho para o garimpo ilegal nas terras indígenas”, disparou o xamã indígena Davi Kopenawa. Sobre os apóstolos que vão ajudar a conduzir o governo do Estados Unidos, Elon Musk certamente é o que detém o maior poder de afundar o mundo em uma catástrofe ainda maior. Trump e Musk acreditam no “anti-humanismo descomplexado, gerido pela inteligência artificial e ‘esvaziado de seus corpos’”. Cabe lembrar o papel das redes sociais no projeto da extrema-direita, como fez Rodrigo Nunes em entrevista essa semana. Já os migrantes que moram nos EUA estão apreensivos com a promessa trumpista de deportação em massa. Mas, ao que parece, nem o Pentágono está levando fé na insanidade.
A visão de um Museu do Pesadelo no futuro, imaginado pelo vaticanista Marco Politi, não é distópica, mas um retrato fiel dos horrores perpetrados por Israel em Gaza. A voz dissidente ao cenário, que continua a clamar por justiça e paz, é o Papa Francisco. Após pedir uma investigação de genocídio, lembrou que “somos todos irmãos e os esforços para promover a reconciliação, a harmonia e a paz sempre valerão o nosso tempo e esforço. E, claro, nunca perca o senso de humor, essa alegria saudável! pela alegria que ajuda a ver as melhores coisas”.
No Líbano, um acordo de cessar-fogo articulado por Joe Biden com Emmanuel Macron forçou Israel a assinar uma trégua negociando com o Hezbollah. Ainda não é a paz, salientou o patriarca de Jerusalém, Pierbattista Pizzaballa, que também destacou que em Gaza a situação não deve mudar. Para promover o acordo, no entanto, o presidente francês, apesar de signatário do Tribunal Penal Internacional, alterou a posição francesa em relação mandado de detenção do Tribunal Penal Internacional, garantindo imunidade a Netanyahu. Nesse mundo convulsionado, em plena crise de normas, “as reações de espanto e indignação ao mandado de prisão do TPI para Netanyahu e Gallant nos dizem que o direito ainda existe, mas os poderosos não estão dispostos a tolerá-lo", pontua Luigi Ferrajoli.
O disparo russo de um míssil intercontinental fez a Europa ressuscitar um dos seus fantasmas mais assustadores: medo. Putin ainda reforçou o conflito realizando ataques com drones que deixaram a Ucrânia no escuro. Como preparação para um possível ataque à Europa, Berlim está divulgando uma lista de bunkers onde se refugiar. No momento são cerca de quinhentos, e cujo número aumentará disponibilizando instalações públicas, como escolas.
A COP29 mal acabou e já estamos mirando o ano que vem, a COP30 em Belém, que precisa ser mais assertiva para minimizar os danos da crise climática. Enquanto esperamos as próximas negociações climáticas, uma discussão na Coreia do Sul visa a implantação de um Tratado sobre Plásticos para reduzir a poluição plástica, em especial nos Oceanos.
O Tempo do Advento começa neste 1º de Dezembro, época em que os cristãos se preparam para o Natal do Menino Jesus, especialmente por meio de orações e reflexões. A espera do anúncio da Boa Nova renova as esperanças de um futuro de justiça, fé e caridade. Por falar em esperança, lembremos que 2025 será o ano do Jubileu. Em sua mensagem para o ano jubilar, Francisco invocou a esperança como dom no Jubileu para um mundo marcado pelo conflito de armas, morte, destruição, ódio contra o próximo, fome, dívida ecológica e baixa taxa de natalidade. A esperança é o bálsamo que Francisco quer derramar sobre as feridas de uma humanidade oprimida pela "brutalidade da violência" ou que se encontra nas garras de um crescimento exponencial da pobreza. "Spes non confundit", a esperança não decepciona, contou o Vatican News em maio passado. Fazemos memória que o Jubileu aparece como um termo hebraico no Primeiro Testamento, em que fica determinado o descanso ao sétimo dia e o descanso da Terra durante um ano inteiro. Será que hoje não seria o caso de retomarmos essa ideia para caminharmos em direção a um futuro realmente promissor?