26 Novembro 2024
“Donald Trump fez campanha com a promessa de fazer deportações em massa e, na segunda-feira (18 de nov), disse que a sua administração usaria os militares dos EUA para realizar esta expulsão de milhões de pessoas, muitas das quais vivem nos Estados Unidos há anos ou mesmo décadas”. A reflexão é de Nick Turse, em artigo publicado orginalmente no The Intercept, e reproduzido por Voces del Mundo, 22-11-2024. A tradução é do Cepat.
Nick Turse é editor-chefe do TomDispatch e membro do Type Media Center. Seu livro mais recente é Next Time They'll Come to Count the Dead: War and Survival in South Sudan e é autor do best-seller Kill Anything That Moves.
Donald Trump fez campanha com a promessa de fazer deportações em massa e, na segunda-feira (18 de nov.), disse que a sua administração usaria os militares dos EUA para realizar esta expulsão de milhões de pessoas, muitas das quais vivem nos Estados Unidos há anos ou mesmo décadas.
Historicamente, os militares dos EUA não desempenham funções de controle da imigração e normalmente não desempenham funções policiais.
Mas quando Tom Fitton, presidente do grupo conservador Judicial Watch, publicou nas redes sociais que a próxima administração “usará recursos militares para reverter a invasão de Biden através de um programa de deportação em massa”, Trump respondeu: “Verdade!!!”.
O governador do Texas, Greg Abbott, já seguiu a estratégia legal de declarar que o fluxo de imigrantes é uma “invasão”, argumentando que o governo federal descumpriu seu dever constitucional de proteger os Estados de potências estrangeiras e que o Texas deveria ter o direito de usar a sua Guarda Nacional como força de deportação. Os deputados republicanos do Arizona fizeram a mesma afirmação. Trump também sugeriu anteriormente que recorreria a poderes de guerra para colocar o seu plano em prática.
O Pentágono rejeitou publicamente a promessa de Trump de usar os militares para fazer deportações em massa. “O Departamento não comenta hipóteses nem especula sobre o que pode ocorrer”, disse um porta-voz do Departamento de Defesa ao The Intercept.
Nos bastidores, os funcionários estavam exasperados. “É absolutamente insano”, disse um funcionário do Pentágono que pediu para não ser identificado porque não estava autorizado a falar com a imprensa sobre o assunto. “Nunca pensei que veria o dia em que esta seria uma política ‘séria’ – coloque entre aspas”. Ele disse que os obstáculos legais e logísticos seriam imensos e que a proposta era “pouco realista e pouco séria”.
Outro funcionário do Departamento de Defesa de um escritório diferente, que também não estava autorizado a falar com a imprensa, teve quase exatamente a mesma reação. “É uma loucura”, disse sobre o anúncio de Trump.
“No primeiro dia do meu mandato, lançarei o maior programa de deportação da história americana para expulsar os criminosos”, disse Trump durante um comício no Madison Square Garden, em Nova York, nos últimos dias da campanha presidencial. “Resgatarei cada uma das cidades que foram invadidas e conquistadas, e colocaremos esses criminosos cruéis e sedentos de sangue na prisão, e então os expulsaremos do nosso país o mais rápido possível”.
Num discurso de campanha anterior, Trump disse que a sua administração seguiria “o modelo Eisenhower”, referindo-se a uma campanha de 1954, cujo nome também era uma calúnia étnica, para prender e expulsar imigrantes mexicanos: “Operação Wetback”. Quase um milhão de mexicanos e inclusive alguns estadunidenses de ascendência mexicana foram deportados.
O “czar da fronteira” de Trump, Thomas Homan, que foi diretor interino do Departamento de Imigração e Alfândega de Trump durante sua primeira administração, também comentou os planos de usar tropas dos EUA durante uma aparição na segunda-feira no America Reports da Fox News. “Então já me perguntaram mil vezes: quantas pessoas você pode expulsar no primeiro ano? Bem, quantos agentes eu tenho?”, disse Homan. “Quantos ônibus eu tenho? Quanto dinheiro eu tenho para comprar aviões? Verdade? O Departamento de Defesa (DoD) pode ajudar? Porque o DoD pode tirar muitas coisas das nossas costas”.
“Gostaria de saber como ele vai pagar isso”, perguntou o primeiro funcionário do Pentágono que falou com o The Intercept. Homan não deu muitos detalhes. Quando confrontado por Cecilia Vega do programa 60 Minutes com uma estimativa de que custaria 88 bilhões de dólares deportar um milhão de pessoas por ano, Homan evitou a questão. “Não sei se é exato ou não”, respondeu. “Que preço você daria à segurança nacional?”
Estima-se que existam 13 milhões de imigrantes indocumentados vivendo nos EUA. Uma única operação de deportação em massa custaria pelo menos 315 bilhões de dólares, de acordo com uma análise recente do Conselho Americano de Imigração. Um projeto de longo prazo envolvendo prisões, processos judiciais e deportações custaria cerca de 968 bilhões de dólares ao longo de mais de 10 anos. O relatório sublinha que esta é uma estimativa “muito conservadora”. Não leva em conta a probabilidade de que esta operação para deportar 13 milhões de pessoas requer a construção e o pessoal de centros de detenção numa escala que ultrapassa o atual sistema prisional dos EUA, que abrigou 1,9 milhão de pessoas no total em 2022, para não mencionar o efeito de tirar do país de cerca de 5% da força de trabalho estadunidense, que, coletivamente, paga mais de 105 bilhões de dólares em impostos todos os anos.
Os porta-vozes de Trump não responderam ao pedido do The Intercept para obter mais detalhes sobre o custo do plano ou exatamente como os militares seriam usados no processo de deportação antes de sua publicação.
Em 2023, o principal conselheiro de política de imigração de Trump, Stephen Miller, indicou que os recursos militares seriam usados para construir “vastos centros de detenção que funcionariam como casas de passagem” para os imigrantes que aguardavam a deportação. Durante a corrida presidencial, Trump também prometeu mobilizar a Guarda Nacional para ajudar nas expulsões previstas. Os especialistas dizem que o envolvimento militar em qualquer plano de deportação marcaria uma mudança fundamental para as forças armadas, que normalmente não realizam operações de aplicação da lei no âmbito nacional.
Trump também disse que invocaria a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 para expulsar supostos membros do cartel de drogas sem o devido processo. Essa lei arcaica permite a deportação sumária de pessoas de países com os quais os Estados Unidos estão em guerra, que invadiram os Estados Unidos ou que cometeram “incursões predatórias”.
“O presidente eleito Trump terá em breve todo o poder da máquina do governo dos Estados Unidos à sua disposição para atingir e deslocar imigrantes numa escala que a nossa nação nunca experimentou”, disse Anthony D. Romero, diretor executivo da União Americana pelas Liberdades Civis, em um comunicado. “Enquanto preparamos litígios e criamos barreiras para a liberdade em todos os Estados azuis, devemos também soar o alarme de que o que está no horizonte mudará a própria natureza da vida americana para dezenas de milhões de estadunidenses”.
Durante o seu primeiro mandato, Trump deportou quase 1,5 milhão de imigrantes, segundo uma análise do Migration Policy Institute. E a administração Biden está no caminho para igualar esse número.
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“Absolutamente insano”: funcionários do Pentágono sobre o plano de Trump de usar militares na deportação de imigrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU