26 Novembro 2024
"As mulheres, os idosos, os pobres, as guerras e os migrantes são os temas sobre os quais o papa se detém neste livro, revisitando os pronunciamentos dele e da Igreja a respeito. Não entrarei aqui nesses detalhes porque é na conclusão que se encerra este esforço de leitura apenas sobre o título do volume: 'A esperança sempre tem um rosto humano' ", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 24-11-2024.
Desejei adquirir o volume que o papa Francisco escreveu para o Jubileu, organizado por Hernán Reyes Alcalde, por causa do título: A esperança nunca decepciona. Realmente, hoje, a ideia de esperar pode inspirar essa certeza? O ponto foi imediatamente envolvente, e não porque eu não saiba que, para a Igreja e certamente para Francisco, fé, esperança e caridade são as três virtudes teologais.
Mas, então, o título poderia ser a fé nunca decepciona, ou a caridade nunca decepciona. E esses dois títulos me pareceriam mais simples, mais lógicos, mais gramaticalmente próximos ao meu modo de sentir como cidadão do presente. Basta olhar ao redor, basta abordar qualquer tema para poder sentir ou temer que esperar decepcionará: não consigo imaginar o mesmo sobre a fé ou a caridade.
Livro "A esperança nunca decepciona" de Papa Francisco
Esse título, então, me obrigou a tentar entender o que Francisco quer nos dizer às vésperas de um Jubileu, que é colocado à prova em seu sentido profundo e em suas intenções por um paradigma opressor; o mecanismo econômico-financeiro que ninguém hoje quer desafiar pode tornar este momento doloroso justamente para os pobres em Roma. Aluguéis curtos, mas com cifras muito altas para obtê-los, por um tempo cada vez mais breve; aluguel "morde e foge", portanto, cada vez mais caro, mas em pequenas doses, pesando para quem paga, mas tornando-se possível.
Esse é apenas um exemplo muito banal, que, no entanto, indica a enormidade de um título que eu precisava investigar, compreender. Certamente, o papa escreveu uma poderosíssima carta aos institutos religiosos romanos pedindo-lhes que oferecessem moradias aos pobres, demonstrando, provavelmente, que o ceticismo serve de pouco ou nada. E, como essa carta, também convence o livro dele sobre a esperança, especialmente em um tempo em que o maniqueísmo desafia todas as possibilidades de compreensão mútua. Vou tentar dizer, do meu ponto de vista, por quê.
O livro de Francisco torna viva a esperança, e não tanto porque ele parte, obviamente, da esperança cristã: "É a segurança de algo que já existe, ou seja, a nossa salvação". Isso é fascinante, mas não pode ser algo compreensível para quem está em uma condição humana diferente. Mas Francisco sabe imaginar isso também e alerta os menos atentos que a esperança não deve ser confundida com o otimismo, aquele que nos vendem em cada esquina, com uma pílula que certamente nos fará parar de engordar ou um sistema para ficarmos ricos, com certeza.
O otimismo é uma coisa; a esperança é outra. E qual? Francisco diz que "é a certeza de que seguiremos em frente". Por que certeza? Ele escreve: "Esperamos em algo que já nos foi dado, não em algo que gostaríamos que acontecesse". Citando os bispos europeus, lembra-nos que disseram que "condenada à insignificância", a vida sem esperança "se tornaria insuportável". E é assim. Não pode ser diferente se pensarmos em quem está sob as bombas, em um campo de refugiados, na prisão ou em um barco fugindo do que ninguém na outra margem pode imaginar.
A força do discurso, porém, não passa apenas por ideias, palavras e imagens; em Francisco há sempre o exemplo, a realidade. Ele nos diz que teve momentos sombrios, "em que precisei fazer esforços para confiar em Deus. Em momentos escuros desse tipo, é tentador 'agarrar-se' ao que está ao alcance das mãos, mas é preciso ter cuidado. Se nos agarramos mal, nos prendemos a coisas que não ajudam, que tiram a grandeza da esperança". A esperança, sublinha ele citando São Pedro, "sustenta o caminho de nossa vida mesmo quando se apresenta tortuoso e fatigante: abre diante de nós caminhos de futuro quando a resignação e o pessimismo querem nos aprisionar".
Mais adiante, este texto de São Pedro afirma algo decisivo para entender: a esperança "nos faz sonhar com uma nova humanidade e nos torna corajosos". Francisco, assim, nos exorta a esperar pelos tempos de Deus. Pode-se entender que não são estes, mas o papa acrescenta: "A esperança se dá no tempo". Não há, portanto, nenhuma resignação; ao contrário, há a... "esperança", que então nunca nos trairia.
Mas nós temos pressa, todos temos pressa. Pode-se entender a pressa de quem vive sob as bombas, que muitas vezes tem menos pressa do que nós; pode-se entender a pressa de quem está preso, que muitas vezes tem menos pressa do que nós; pode-se entender a pressa de quem está internado, ou "enterrado", diria eu, em um campo de refugiados, que também muitas vezes tem menos pressa do que nós. Mas nós temos pressa, uma pressa tremenda: "A paciência é colocada em fuga pela pressa, causando um grave dano às pessoas. A paciência, que vem do Espírito Santo, mantém viva a esperança e a consolida como virtude e estilo de vida. A paciência não é suportar, mas saber sofrer bem".
Isso é enorme. Não é, então, que "enquanto há vida, há esperança", o papa me parece dizer mais que "a esperança protege, preserva e faz crescer a vida". Essa é a tese que qualquer crente, assim como qualquer outro, a meu ver, pode entender e compartilhar. No entanto, tanto crentes quanto não crentes podem falhar nesse desafio e não esperar, seja pela pressa ou pela angústia de seu horizonte pessoal.
Ler nos desperta da renúncia à esperança diante da enormidade do que lemos, vemos, ouvimos. Pouco adiante, ele conclui assim o prólogo: "Porque a esperança 'não decepciona', penso nos nossos jovens, nos tantos migrantes forçados a abandonar suas terras, nas pessoas privadas de liberdade, em todos que sofrem as consequências das guerras, nos milhões de pobres no mundo que lutam para sobreviver, nas mulheres que ainda lutam em todos os lugares pela verdadeira igualdade. Em todas as pessoas que, longe de serem estatísticas, são para nós rostos reais sobre os quais irradiar a esperança. Foram elas que me inspiraram".
As mulheres, os idosos, os pobres, as guerras e os migrantes são os temas sobre os quais o papa se detém neste livro, revisitando os pronunciamentos dele e da Igreja a respeito. Não entrarei aqui nesses detalhes porque é na conclusão que se encerra este esforço de leitura apenas sobre o título do volume: "A esperança sempre tem um rosto humano".
Fala-se de uma "crise integral", na interconexão dos fatores econômicos, sociais, políticos e migratórios. É a denúncia do "paradigma socioeconômico construído sobre a avidez e a ganância", que também depredou a Terra para sustentar consumos e desperdícios. As mudanças são irreversíveis, devido à "pretensão de exercer um domínio incondicionado", como já se escrevia no Compêndio da Doutrina Social em 2004. É o paradigma tecnocrático.
João Paulo II já o percebia em 1997. Então? Então, para Francisco, são necessários peregrinos da esperança determinados a construir uma alternativa à mentalidade "utilitarista, imediatista e manipuladora". E, mais adiante, ele nos alerta que já se fala em pensamento híbrido, uma fusão das capacidades cognitivas do homem com as da máquina. É a ideia de um ser humano sem limites. Mas o progresso não deveria estar a serviço do ser humano? Assim, as novidades têm ou certamente teriam o potencial de criar um enorme desenvolvimento, ou uma tragédia sem limites. Por isso o Jubileu é apresentado como era em sua origem histórica: um ano de descanso do trabalho habitual.
Redescoberta do limite? Para mim, parece que essa é a indicação: "Somos chamados a adotar estilos de vida justos e sustentáveis". Tornar, então, as novas tecnologias compatíveis com um mundo de fraternidade e esperança – é esse o peregrinamento jubilar? Eu o entendo assim, e isso me é confirmado como o Jubileu da Fraternidade pela escolha que encerra o volume, a citação de Martin Luther King: "Nós, seres humanos, conseguimos voar como pássaros, nadar como peixes, mas não conseguimos viver como irmãos".
Essa é a esperança pela qual é inevitável ouvir ressoar o apelo, citado, de dom Tonino Bello: "Não podemos nos limitar a esperar, devemos organizar a esperança". Um dever que diz respeito a todos e que, então, se descobre que não pode decepcionar.
Quer se aceite ou não, é essa, ou seja, a fraternidade, a força profundamente evangélica deste pontificado, que tem, por sua vez, muitos aspectos que podem agradar ou não, mas aqui está a impossibilidade de resistir a ele. A força do primeiro papa que se chamou Francisco, no fim das contas, está no título de sua encíclica, no estilo com que coloca a necessidade dessa esperança imprescindível: Fratelli tutti.
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O papa e a esperança. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU