25 Novembro 2024
Os quatro homens queimados vivos são a joia da coroa do Museu das Vitórias, que deveria inaugurado em breve no bairro governamental israelense. Quatro moradores de Gaza queimando lentamente, gritando porque não há um fio de água, não há nada para apagar o fogo ateado nas barracas de plástico por um bombardeio.
A opinião é de Marco Politi, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 23-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Obviamente, o salão de honra é dedicado aos 44 mil palestinos de Gaza pacientemente eliminados pelo exército israelense ao longo de um ano.
Nas paredes estão suas fotos, uma a uma. Dois terços são de mulheres e crianças. Aqui e ali, quadrados vazios com bordas pretas podem ser vistos na parede: são para as vítimas sem nome que ainda estão enterradas sob os escombros.
Dez mil crianças mortas é um número notável.
Colocados lado a lado, seus caixões cortariam ao meio o centro de Milão. Roma é maior: a coluna de corpos poderia começar na Piazza del Popolo, chegar ao Altare della Patria, ir até o Coliseu, passar pelas Termas de Caracalla e se perder na estrada para EUR. Eles seriam “pedras de tropeço”, um memorial a ser cruzado com prudência.
As regras de comportamento que o exército estabeleceu para si mesmo são simples e claras: matar os membros do Hamas, matar qualquer um que se pareça com um membro do Hamas, matar qualquer um suspeito de pertencer ao Hamas, matar qualquer um que poderia pertencer ao Hamas, matar de qualquer forma e depois se verá.
No museu, as crianças, atingidas no coração e no peito por tiros direcionados, são rotuladas como “danos colaterais”.
Também faz parte da exposição a foto de uma criança de Gaza sem braços, os tocos arredondados saindo de seu peito. Ele sorri com a invencível vontade de viver característica das crianças. Abaixo da foto está escrito “Quem poderia imaginar?”.
O museu preserva cuidadosamente a lista de adultos e pequenos, homens e mulheres operados sem anestesia, porque de Israel não chegam suprimentos de medicamentos, energia e combustível.
A pergunta retórica do embaixador palestino na ONU: “Israel tem o direito de matar e nós o único direito de sermos mortos?”
O Salão Arquiteturas exibe maravilhosas fotografias de mesquitas, hospitais e escolas reduzidas a escombros. Pequenos aparelhos de televisão mostram o que é cuidadosamente projetado nos canais de TV internacionais: um retângulo acinzentado no qual não se vê absolutamente nada, no meio do qual se destaca uma cruzinha preta acompanhada das palavras “Base de terroristas”. Instrutivo.
Em um canto, é feita uma homenagem aos profissionais da saúde, aos voluntários e aos jornalistas que - absolutamente reconhecíveis, longe das zonas de combate, às vezes partidos com informações explícitas ou consentimento das autoridades israelenses - foram cuidadosamente metralhados e enviados para o além.
O espaço que reúne o maior número de espectadores é o Grande Hall dos Rebanhos: em telas gigantes, é possível ver o movimento desordenado, lento e imparável de dezenas de milhares de habitantes de Gaza, empurrados sem trégua por ordens superiores. “Ir para o norte, ir para o sul, ir para o leste, voltar para o sul, concentrar-se nas Zonas Seguras, deixar as Zonas Seguras, dirigir-se para as Zonas Refúgio”.
Ver nos telões as massas se movendo como rebanhos enlouquecidos é particularmente fascinante, o espetáculo se torna ainda mais saboroso pelo bombardeio sem aviso prévio das zonas refúgio e de segurança.
Um punhado de panfletos destinados a alertar a população sobre um iminente bombardeio completa a decoração do salão. Quando não há aviso, isso significa que a culpa é da imprudência das pessoas.
Cartazes nas paredes explicam que o trabalho artístico em Gaza não pode ser perturbado pela imprensa. É por isso que as mídias internacionais não têm acesso à Faixa, e a Al Jazeera está proibida de operar em Israel e na Cisjordânia.
Um lugar de honra no museu está reservado para o caminhão que levou suprimentos para Gaza em meados de outubro, após semanas de fronteiras hermeticamente fechadas. Um alívio para uma população de dois milhões e duzentos mil habitantes, que, antes da guerra, assistia à entrada de 700 caminhões por dia.
O tour termina com a Sala do Paradoxo, onde estão em exposição equipes de colonos israelenses na Cisjordânia, muitas vezes descendentes de ancestrais afetados pelos pogroms da Europa oriental, e que há um ano se dedicam a pogroms contra beduínos e palestinos: casas incendiadas, colheitas destruídas, rebanhos massacrados, pessoas aterrorizadas em meio ao agito de panfletos nos quais está escrito “Vão embora”. Os mortos já somam mais de quinhentos, 170 deles menores de idade. Um verdadeiro sucesso.
A visão do museu é distópica. Um pesadelo. Mas cada elemento é dramaticamente verdadeiro. Nesse pano de fundo, eleva-se a voz do Papa Francisco, que tenazmente fala de paz para a Palestina e Israel.
É a maneira de deixar claro que o projeto de anexação da Cisjordânia e de Gaza, que representa o verdadeiro motivo da ação do governo de Netanyahu - mesmo com os ataques no Líbano - só pode levar a violências sem fim. De um lado e de outro.
Quando o papa pede para “investigar” se os eventos em Gaza podem ser definidos como genocídio, soa um alarme para que Israel pare. Só há uma solução: o nascimento do Estado da Palestina por meio de um pacto de cooperação e segurança com Israel. Há um único caminho, indicado pelo abraço de Bergoglio com um pai palestino e um pai israelense, que se reconciliaram. Como aconteceu em maio passado em Verona.
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Papa Francisco soa o alarme para que Israel pare. A alternativa? Um museu de pesadelo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU