26 Novembro 2024
"É o expediente de normalizar o terrorismo, como fazem os que não pensam no que estão dizendo ou procuram esconder o que realmente pensam e desejam", escreve Álvaro Costa e Silva, jornalista, atuou como repórter e editor. É autor de "Dicionário Amoroso do Rio de Janeiro", em artigo publicado por Folha de S. Paulo e reproduzido por André Vallias no Facebook, 22-11-2024.
Eis o artigo.
"O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira", projetam-se os kids pretos, uma força especial de militares do Exército preparados para atuar em missões de alto risco e sigilo, terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de fuga e evasão, resistência, sabotagem. Na cartilha falta incluir a tentativa de matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, ensejando um golpe de Estado após a eleição presidencial.
O general Mário Fernandes, que está preso, organizou a operação como um "evento disparador". Por isso mesmo de resultados imprevisíveis, podendo estimular a eliminação de centenas de adversários políticos ou mergulhar o país em uma guerra civil. Contudo o plano, até onde se sabe, era tosco. Abortada com militares já posicionados, havia uma data definida para a execução de Moraes: 15 de dezembro de 2022. Jeca e Joca, codinomes de Lula e Alckmin, seriam vítimas de envenenamento, como se estivéssemos na Rússia de Putin ou em um romance de Agatha Christie.
A ligação de Bolsonaro com os kids pretos é antiga. Era seu grupamento preferido nas Forças Armadas. Tentou ingressar nele duas vezes e não conseguiu.
Ressentido e com extremismo correndo nas veias, o capitão planejou um atentado a bomba no sistema de água do Rio e foi afastado do Exército. Em seus tempos de deputado chinfrim, espumava na televisão: "O voto não vai mudar nada no Brasil. Só vai mudar quando partirmos para a guerra civil, fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil, começando com FHC". Parece o anúncio do que tentou fazer o bando de oficiais fanatizados.
Os filhos de Bolsonaro apressaram-se em minimizar a trama golpista, discutida na casa do general Braga Netto. "Pensar em matar alguém não é crime", disse o 01, e as redes do ódio adotaram a estupidez.
É o expediente de normalizar o terrorismo, como fazem os que não pensam no que estão dizendo ou procuram esconder o que realmente pensam e desejam. Vão seguir o mesmo caminho agora que Bolsonaro foi indiciado pela tentativa de golpe de Estado.
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