22 Novembro 2024
"Ao contrário de muitos outros discursos sobre Paolo Dall'Oglio, este filme não reduz a história ao seu desconhecido final, à busca pela resposta ausente: está vivo? está morto? Ao invés disso, faz surgir a verdadeira pergunta: por que um sequestro sem reivindicação nem resgate? Por que de seu desaparecimento se quer saber apenas o fim e não os motivos?", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 19-11-2024.
Perseguidos pela fama de "cínicos resignados", muitos romanos correram na manhã de domingo para testemunhar que amam um conterrâneo, um sacerdote que para eles, como outro padre, Oscar Romero, soube desafiar tudo, até os esquadrões da morte, por amor à liberdade de tantos jovens. Essa foi a sensação que, de repente, me tomou na manhã de domingo ao ver uma multidão estranha, cada vez mais numerosa, que não conseguia entrar toda na sala onde deveria acontecer, pouco divulgada, a pré-estreia do docufilm de Fabio Segatori, "Padre Dall'Oglio".
De fato, entre os estereótipos sobre os romanos, há o do cinismo resignado. Acostumados, por séculos, a se relacionar com um poder frequentemente cínico em relação a eles, teriam se tornado também cínicos, e assim nada mais os surpreenderia. Em parte, isso pode ser verdade, mas esses romanos, esses cínicos, não se esqueceram, nem depois de onze anos de silêncio impenetrável, de Paolo Dall'Oglio.
E assim, na manhã de domingo, quando o diretor e produtor cinematográfico Fabio Segatori apresentou em primeira mão em Roma seu docufilm, coincidindo com o septuagésimo aniversário do jesuíta romano, ele deve ter ficado surpreso ao descobrir que a corrida para mudar a sala reservada no cinema Adriano, devido ao número excessivo de pedidos de presença, e pegar uma maior, foi uma escolha sábia, mas "excessivamente prudente"; ainda havia muitas outras pessoas para acomodar.
Os romanos, portanto, mesmo antes de começar a pré-estreia, um pouco atrasada devido à difícil necessidade de acomodar também os adicionais, demonstraram sua sintonia com um homem, um jesuíta, um missionário e, em primeiro lugar, um romano que era tudo, menos um cínico resignado.
Talvez porque, apesar de tanto silêncio, viram nele não apenas um romano como eles, mas talvez, justamente, um Oscar Romero da Síria? Nos olhares e na emoção do público, na minha opinião, havia algo assim. E nesta noite, terça-feira, 19 de novembro, haverá outra pré-estreia em Milão, em colaboração com a arquidiocese.
***
Graças à coprodução da Rai, que transmitirá na próxima sexta-feira, às 16h10, na RaiTre, sua obra, Fabio Segatori teve acesso a material de arquivo que faz de Dall'Oglio uma espécie de voz que acompanha o espectador na reconstrução do centro de sua vida e do documentário: Mar Musa.
É o mosteiro de Mar Musa, ou seja, de São Moisés, São Moisés da Abissínia, que Dall'Oglio descobriu em ruínas, abandonado há muito tempo, e do qual se apaixonou. A reconstrução, com a ajuda de amigos e de vários apoios, nem sempre fáceis, durou anos e, principalmente, foi bem-sucedida, e o filme explica seu sentido; que é, por sua vez, o sentido da vida deste romano, depois jesuíta, que muito antes da queda do muro se determinou a se comprometer com o que para ele seria a fronteira do amanhã, após o fim da guerra fria que ele pressentia: a fronteira do diálogo islâmico-cristão.
A história dessa empreitada, fazer daquele antigo mosteiro em ruínas há séculos o coração de uma Comunidade dedicada à amizade islâmico-cristã, é a história de um trabalho, no mínimo, ousado, que conseguiu povoar esse diálogo também de uma boa vizinhança entre a população local, em sua maioria muçulmana, e viajantes principalmente ocidentais, mas de todos os tipos: jovens atraídos pelo deserto, europeus seduzidos pelo Oriente, ex-alguma coisa agora desorientados, turistas excêntricos, filhos do tempo passado que não querem deixar desaparecer, curiosos do tempo novo que querem orientá-lo para a complexidade, desiludidos à procura de si mesmos, desiludidos à procura de algo mais, crentes à procura de uma melhor compreensão do que acreditam ou descrentes precisando descobrir em que não acreditam e, portanto, da possibilidade de serem encantados novamente.
Mas também há fugitivos, perseguidos que finalmente respiram, e muito mais. Todos esses mundos ao longo de três décadas se encontraram e se cruzaram em Mar Musa. Gian Maria Piccinelli, amigo de padre Paolo, que foi um dos primeiros a ajudá-lo a tornar transitável o terraço, quase estável um pedaço do telhado, a esvaziar de detritos o poço, resume aqueles anos de trabalho manual com Paolo e depois com muitos outros dizendo que, para ele, o diálogo é isso: "mover pedras" para tornar possível o trânsito para outros. No entanto, tudo isso é alcançado depois de contar os primeiros passos na vida do jovem romano que, depois, escolheria fazer dessa aposta a sua própria.
***
O filme de Fabio Segatori consegue a façanha de contar a vida do jovem que, do trabalho nas periferias romanas, chega à vocação, à escolha do Oriente, do Islã, da fronteira sobre a qual viverá sua vida, testemunha do amor de Jesus pelos muçulmanos por trinta anos – prosseguindo até o dramático episódio de sua imersão na revolução traída por todos, a revolução desarmada dos protagonistas, jovens e idosos, camponeses e estudantes urbanos, meninos do sul e graduados do norte: a Primavera Síria.
Assim, essa cadeia de relatos, de lembranças, de suspiros, torna-se uma trama sonora de testemunhos que se sucedem, ligando-se como uma canção que vai sendo escrita aos poucos por vários autores. Amigos que o seguem, interlocutores que o descobrem, companheiros de aventura que, entre fascínio e incompreensões, realizam com ele essa nova jornada, como o co-fundador da Comunidade monástica de Mar Musa, padre Jacques Mourad, hoje bispo de Homs.
Obviamente, também há parentes surpresos, muçulmanos gratos por tanta amizade desinteressada, ou, na verdade, muito interessada. Porque é a eles que Dall'Oglio deve testemunhar o amor de Jesus por eles. Esse fio de mil cores, essa voz feita por muitas vozes que se passam o testemunho na construção plural de um relato, o de uma vida dedicada ao viver em conjunto, acompanha o espectador em uma obra de fiel reconstrução de um percurso fascinante, sempre surpreendente, na demonstração concreta de como o mundo muda graças à boa vizinhança.
Assim, as palavras explicam a imagem de padre Paolo parado na ponte que leva ao seu mosteiro; uma ponte entre vidas, fés, culturas, que, com trabalhos comuns e espiritualidades diferentes, mantém a harmonia – assim como a estrutura deste filme cria um discurso a partir de muitos discursos.
O deserto, claro, desempenha um papel delicado, difícil, importante, introduzido magistralmente pelo teólogo muçulmano Adnane Mokrani, e, de outro lado, concluído pelo confrade padre Federico Lombardi.
A aventura de padre Paolo segue assim um esquema estabelecido com meticuloso cuidado, aquele escolhido por cerca de trinta testemunhas de sua jornada, que talvez nem se conheçam entre si, que constroem o discurso seguindo reconstruções diferentes, mas que se compõem naturalmente em um relato sem falhas – talvez com oposições, mas sem contradições.
***
Segue-se até o capítulo dramático, aquele da expulsão de Dall'Oglio da Síria pelo regime de Assad e depois do seu sequestro pelo Isis. Já nisso se percebe a síntese época e nacional dessa história: expulso por Assad e sequestrado pelo Isis, de fato, é o destino de Dall'Oglio como do povo sírio, expulso de seu país por Assad e sequestrado pelo Isis, o feroz garante da irrecuperabilidade de milhões de sírios à vida e à liberdade.
Sobre aqueles meses, padre Paolo escreveu, dirigindo-se a um hipotético jovem europeu: "Quando os europeus evocam a Síria, falam do seu destino, e não sabem o que escolher: a ausência ou a resignação." Falar de profecia é banal, mas parece tremendamente real, especialmente pensando que ele escrevia isso há doze anos.
Ao contrário de muitos outros discursos sobre Paolo Dall'Oglio, este filme não reduz a história ao seu desconhecido final, à busca pela resposta ausente: está vivo? está morto? Ao invés disso, faz surgir a verdadeira pergunta: por que um sequestro sem reivindicação nem resgate? Por que de seu desaparecimento se quer saber apenas o fim e não os motivos?
Desde o início, sentimos a necessidade de colocar um ponto final, rapidamente. Afinal, foi um terrorista que o matou, talvez haja até um nome, ou no máximo outro. Ponto e vírgula.
***
Dall'Oglio viu a "suja cloaca" – ele a chamou assim – que, no terrorismo, agregava traficantes de pessoas, de drogas, de armas, pedaços de inteligência mais ou menos desviados. Difícil que até a "sujeira cloaca" não o tenha visto.
A quietude da ilogicidade seria, então, o perfeito anestésico? Saindo da sala, repensando no deserto, na profundidade do horizonte, nas cores que se desvanecem, em Mar Musa, na fraternidade, na tragédia de um povo, na ferocidade sem limites e depois no bom vizinhança, até na escolha de ir mesmo assim, até pelo Isis, o discurso sobre a "fim oculta" me pareceu, ao menos para a "sujeira cloaca", tudo, menos ilógico.
Mas essas são suposições, o enredo do filme de Segatori não traz à tona essas suposições, mas a realidade de uma vida com mil relatos, mil cores, mil reviravoltas, e portanto escolhas irreversíveis: uma vida que estávamos deixando escapar de nossas mãos, distraidamente, enquanto tentava nos mostrar, daquele deserto, como deveríamos olhar para nos entendermos, hoje. Por isso, é necessário agradecer a quem a trouxe à tona, de forma poética e acessível a todos.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Paolo Dall'Oglio: um filme, mil relatos. Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU