01 Agosto 2019
Uma família abandonada? Vinte e quatro horas depois da conferência de imprensa dos irmãos do Padre Paolo Dall'Oglio - Francesca, Immacolata e Giovanni - o temor ou a impressão de que a família deles tenha sido abandonada é dramaticamente expresso pelo silêncio das autoridades italianas. De fato, pela primeira vez em seis anos, eles falaram bastante.
O comentário é de Riccardo Cristiano, jornalista, publicado por Articolo 21, 30-07-2019. A tradução de Luisa Rabolini.
A irmã Francesca disse, segundo o quanto relatado pelas agências: "Nunca tivemos informações confiáveis de parte das instituições. Falta a percepção de que realmente tenham atuado para encontrar Paolo. Não sabemos se nos últimos anos foi feito algum trabalho de verificação das notícias. Tivemos garantias e solidariedade, mas precisamos de transparência para afastar a sensação de que tenha sido usado para fins políticos não italianos”. O silêncio dessas horas se torna atordoante. O que foi feito por Paolo? O que foi feito por um cidadão italiano sequestrado com toda probabilidade pelo ISIS? O silêncio parece dizer uma coisa: "muito pouco". Foi doloroso ouvir a história de uma mala com os objetos pessoais de Paolo entregue na embaixada italiana em Paris e devolvida à família quatro anos depois. Doloroso, mas significativo: descuido? Desleixo? Basta a nossa tendência em ver apenas defeitos para explicar tal comportamento?
Francesca Dall'Oglio disse que soube da existência daquela mala por traduções do Raqqa Post, onde um amigo de seu irmão escreveu a respeito. Ele escreveu que a havia entregue ao consulado italiano em Gazantiep. Ao ouvir isso, ela foi perguntar, mas eles disseram que não existia. Mas, ao contrário, existia, no site Farnesina, era possível encontrar seu endereço e número de telefone. A mala então tomou outro caminho, foi levada para a embaixada italiana em Paris. Mas o que havia nela? Os telefones de Paolo foram inspecionados? E havia mais alguma coisa? Hoje ninguém pode excluí-lo ...
Mas, além disso, gostaria de deixar claro outro ponto. Quais podem ser os interesses não italianos que poderiam ter levado a não aprofundar a investigação sobre o destino de Paolo? Todos sabemos que ele foi sequestrado em Raqqa, foi visto caminhando em direção ao quartel geral do ISIS, antes que ISIS a conquistasse. Era a época da ascensão do califado. Eles capturam um padre italiano. Anunciaram seu sequestro? Não, silêncio O tempo passa, fala-se em várias partes de uma eliminação, plausível. Mas do ISIS apenas silêncio. Por quê? Caso o tivesse assassinado, o ISIS não iria se gabar disso, demonstrar que matou um "infiel"? Ou talvez temesse a indignação da opinião pública muçulmana síria, que amava Paolo? E então, se temia isso, por que eles o teriam matado? Um jornal próximo do regime sírio e ao Hezbollah deu sua versão: por engano. Muito cômodo, queridos amigos do jornal libanês al-Akhbar. O ISIS nunca cometeu tal tipo de erro. O ISIS eliminou todos os defensores de uma mudança democrática na Síria de Raqqa, de uma maneira sistemática, começando com os nomes mais conhecidos da opção civil, os adversários de Assad, aquele que expulsou Dall'Oglio da Síria.
Quem guiou o ISIS em Raqqa foi pessoalmente retirado da prisão pelo poderoso chefe dos serviços secretos da Força Aérea da Síria. A relação entre o chefe da Ísis em Raqqa, Abu Luqman e este general extremamente fiel a Assad, Adib Nemar Salamah, é conhecida, denunciada, mas sempre silenciada. Como é conhecida a denúncia, não comprovada, de que ele, o general Salamah, tivesse um escritório na sede do ISIS, já na época do sequestro de Paolo. Assim, o silêncio do ISIS sobre o sequestro e a possível eliminação de Dall'Oglio se tornam menos obscuros. Como a possibilidade de que ele não tenha sido morto, mas mantido como refém, esperando que alguém considerasse útil usá-lo. Neste contexto, como não questionar o que a inteligência italiana poderia ter pedido ao seu interlocutor sírio, aquele Ali Mamlouk foi recentemente afastado por Assad. De acordo com o jornal Le Monde, Ali Mamlouk foi inclusive hospedado secretamente em Roma pelos serviços italianos, embora não pudesse entrar na Europa porque estava incluído na lista negra da UE, por crimes gravíssimos atribuídos a ele.
Passando para outro lado, também é importante entender aqueles que hoje criticam o Papa Francisco, falando até de "linha Dall'Oglio", para a carta a Assad. Nessa carta, o papa simplesmente pede o respeito pelo Direito Humanitário Internacional em Idlib, diante de um milhão e meio de pessoas desalojadas e três milhões de civis reduzidos a condições inacreditáveis. Os críticos do papa não podem realmente pensar que os três milhões de civis, os refugiados Idlib, as crianças Idlib, os médicos Idlib, o pessoal do hospital que acaba sob os bombardeios todos os dias sejam todos terroristas.
Talvez não, mas que entre esses críticos também estejam aqueles que não aceitaram o Concílio Vaticano II não é surpreendente: talvez alguém não tenha esquecido que quando João Paulo II foi para Damasco em 2001, o jovem Assad colocou em enorme embaraço todo o Vaticano, começando obviamente pelo Papa, dirigindo publicamente aos judeus a acusação de deicídio. E entre os lefebvrianos que apoiavam Assad havia um, Philippe Tournyol de Clos, que se manifestou em Paris em novembro de 2011 contra um espetáculo do italiano Castellucci junto com seus colegas lefebvrianos, os salafistas franceses de Forsane Alizza e grupos antissionistas pró-iranianos.
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O silêncio dessas horas torna-se atordoante. O que foi feito pelo padre Dall'Oglio? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU